sexta-feira, 9 de março de 2012

BC reduz taxa de juros pavimentando a retomada da expansão do crédito

O COPOM decidiu por uma redução mais forte na taxa básica de juros, cortando 0,75% da SELIC e passando para um patamar de 9,75% ao ano. Com este movimento a equipe econômica do Planalto encerra temporariamente a escalada de aumento da taxa de juros iniciada logo após a posse da presidente Dilma em 2011. A decisão do novo governo em ampliar a SELIC no começo do ano passado veio acompanhada de uma drástica redução da linha de crédito, política ultramonetarista anunciada por Mantega como um objetivo de conter a alta da inflação. Na verdade a “derrama” de liquidez operada em 2010 impulsionou todos os setores da economia, levando a um crescimento de 7,5% do PIB, pressionando intensamente todas as vertentes inflacionárias. O “remédio” encontrado então pelo governo Dilma foi aplicar a velha receita recessiva do FMI e concentrar um superávit fiscal, reduzindo investimentos estatais, para o pagamento dos juros da dívida pública. Mesmo com um desempenho bastante positivo do mercado interno, apesar da diminuição das exportações de commodities, a economia nacional sofreu um “tranco” reduzindo a elevação do PIB ao patamar de 2,7% em 2011. Agora a taxa SELIC volta aos níveis praticados em 2009, ocupando apenas a casa de um dígito, sinalizando que o governo apoiado em forte lastro cambial pretende “decolar” a economia para níveis chineses.

A “guinada” palaciana longe de representar um rumo “desenvolvimentista” da frente popular, significa na verdade o atendimento das demandas expansionistas da burguesia industrial, acossada pela dura competição internacional. É neste ponto que reside o principal gargalo do PIB brasileiro, ou seja, o profundo atraso tecnológico de nosso parque industrial. Com uma indústria nacional sem condições razoáveis de produção e sucateada, o governo da frente popular não poderá encenar o espetáculo do “Brasil grande”, com passaporte de entrada carimbado no chamado primeiro mundo. Só para dar um exemplo do retardamento de nosso “complexo” fabril, o país dispõe apenas de oito refinarias de petróleo em pleno funcionamento, significando um déficit financeiro do abastecimento interno de combustíveis fósseis, apesar de todo estardalhaço da descoberta do pré-sal.

Em um país dominado politicamente pelos setores financeiros, empreiteras e agroexportadores, a burguesia industrial clama por voltar a hegemonizar o atual processo de crescimento econômico, como nos anos 50, e para concretizar este objetivo necessita de uma política oficial de juros compatíveis com os competidores estrangeiros. Com juros “negativos” nos EUA e Europa, e em níveis muito baixos na China, onde a banca é completamente estatal, o Brasil tornou-se já há algum tempo o paraíso dos rentistas internacionais, com as elevadas taxas defendidas por nossas “autoridades” monetárias. Tentando se equilibrar entre estas duas demandas, ou seja, um viés de alta (rentistas) e outro de baixa (industriais) de juros, os governos do PT vêm atuando nesta área em ziguezagues, sem definir um eixo programático

Como apesar das “queixas” de Dilma o tsunami monetário vem favorecendo o caixa do Tesouro Nacional, o BC parece estar decidido a iniciar a derrubada dos juros e aquecer o mercado de consumo, apesar do alto risco inflacionário. Os trabalhadores e pequenos poupadores não têm nada a ganhar com esta medida do BC, ao contrário, o governo já ameaça rebaixar os rendimentos da caderneta e por consequência também a rentabilidade do Fundo de garantia (FGTS). Com toda certeza a equipe econômica de Dilma “atacará” as fortes pressões inflacionárias que surgirão pela via do arrocho ainda maior da massa salarial. Este é o pano de fundo do roteiro neoliberal montado pela frente popular, aumento do consumo através da bolha de crédito e salários comprimidos historicamente.