quarta-feira, 14 de março de 2012


Dilma realiza “faxina” na cúpula da base parlamentar aliada, enquanto Lula agrava seu quadro clínico

Não é uma mera coincidência as mudanças que vem ocorrendo no governo Dilma e o agravamento do quadro de saúde de Lula. A cena de Lula saindo de sua mais recente internação do hospital Sírio-libanês no último domingo (11/03), magro e abatido, contrasta com a imagem vigorosa do ex-operário que chegou ao topo do Estado burguês esbanjando vitalidade política. Utilizando como pretexto a derrota de sua indicação para a ANTT no Senado, Dilma decidiu trocar a liderança do governo na casa, destituindo o “pétreo” governista Romero Jucá que ocupava a função há dez anos, desde a era FHC. Jucá fazia parte do grupo Sarneysista, que em conjunto com a troika (Renan, Eunício e Valdir Raupp) controlam o PMDB no Senado. Dilma nomeou para a nova liderança do governo o debutante senador pelo Amazonas Eduardo Braga, que encabeça uma ala de peemedebistas “descontentes” com Sarney, conhecida como G-8. No bojo da escalada de “mudanças” no congresso Dilma aproveitou para tirar a liderança na câmara do deputado Cândido Vaccarezza, do campo majoritário do PT e homem da confiança de Lula, nomeando Arlindo Chinaglia, um “dissidente” petista. A movimentação política de Dilma corresponde a tentativa de formação de uma nova cúpula institucional, mais identificada com suas aspirações pessoais e cada vez mais distante dos quadros dirigentes históricos do PT e seus aliados “tradicionais” da burguesia.

A desconfiança com as manobras de Dilma foi instalada no congresso, chegando-se a especular o não cumprimento do acordo celebrado pelo PT que levaria o PMDB a presidência da câmara dos deputados em 2013. O certo mesmo é que tanto o deputado Chinaglia, como o senador Eduardo Braga são candidatíssimos à presidência de suas respectivas casas parlamentares. As repentinas substituições feitas pelo governo não interferem somente no âmbito interno do PT e PMDB, outros partidos da base aliada também se sentiram prejudicados com as mudanças, este é o caso do PR que tem na figura de Eduardo Braga um arqui-inimigo regional. Neste curso “independente” o ex-poste Dilma mostrou sinais de querer comprar briga com a direção do PDT, bancando a indicação de Brizola Neto para ocupar o ministério do Trabalho, a revelia de Carlos Lupi e Paulinho da Força Sindical.

A pergunta que hoje toma conta dos círculos políticos da burguesia é se com sua nova postura, Dilma abandonará a própria sorte a candidatura do ex-ministro Fernando Haddad, caso Lula venha a ficar realmente impossibilitado de uma intervenção mais enérgica no processo sucessório municipal. A questão, portanto, da saúde pessoal de Lula parece ser o ponto mais nevrálgico da política nacional, na ausência do protagonismo da classe operária no cenário da luta de classes. De “barbas de molho” a velha guarda da burocracia petista inicia uma inflexão demagógica as antigas bases “socialistas”, o que deixa cada vez mais irritados e inseguros os “parceiros” burgueses da frente popular. O PSB das oligarquias nordestinas já sente o cheiro de carniça no ar, buscando viabilizar politicamente a candidatura presidencial do governador pernambucano Eduardo Campos em 2014, em uma aliança com setores do tucanato.

Ainda é bastante prematuro para realizarmos um prognóstico mais acabado da situação política, tendo em vista a falta de informações seguras acerca da evolução do câncer de Lula e de suas implicações na disputa intestina do comando da frente popular. Mas temos a convicção que atravessamos uma etapa de profunda letargia do movimento de massas em nível mundial, apesar das lutas econômicas de resistência à ofensiva imperialista. No Brasil a ausência de uma perspectiva revolucionária de poder para a classe operária, permite as classes dominantes uma margem muito grande de manobra, podendo até mesmo se dar ao “luxo” de travar uma guerra visceral pelo controle do botim estatal. A alardeada “revolução árabe” em nada contribuiu para a elevação da consciência de classe do proletariado, ao contrário, disseminou as ilusões na “contrarrevolução democrática” e na ação militar do imperialismo para se livrar de “tiranos” nacionalistas burgueses incômodos. A esquerda reformista que embarcou no conto dos “rebeldes” da OTAN, seja na Líbia ou na Síria é a mesma que aposta todas suas fichas no jogo viciado das eleições parlamentares, sonhando com o dia em que a “oposição de esquerda” possa ter um “bom” desempenho eleitoral. Para a vanguarda comunista está colocada a paciente tarefa da propaganda revolucionária, alertando ao proletariado que somente a ruptura violenta com este regime da democracia bastarda poderá trazer a verdadeira mudança social que libertará nosso povo da opressão capitalista e de seus novos “capitães do mato”.