terça-feira, 6 de março de 2012

Putin “vence” as eleições presidenciais, mas Sra. Clinton já exige uma “transição democrática” para a Rússia

O atual primeiro-ministro da Rússia, Vladimir Putin, foi eleito novamente presidente do país pelos próximos seis anos. Dados oficiais proclamaram que ele obteve 64,59% ou 39 milhões de votos no último domingo, 4 de março, em um pleito onde todo o aparato governamental foi utilizado para garantir uma vitória de Putin já no primeiro turno com o objetivo de evitar uma nova polarização eleitoral. Logo depois do anúncio do resultado protestos contra as fraudes eleitorais ocorreram em Moscou e novas manifestações estão marcadas para esse final de semana. O dirigente do Partido Comunista da Federação Rússia (PCRF), Guennadi Ziugánov, foi o segundo candidato mais votado com 17,07%. O terceiro lugar ficou com o multimilionário Mikhail Prokhorov (7,18%), diretamente ligado à Casa Branca. Com os protestos em curso, o Departamento de Estado dos EUA exigiu que a Rússia leve adiante uma investigação sobre todos os relatos de fraude nas eleições presidenciais. Hillary Clinton afirmou que Washington endossa o relatório da missão de observadores da Organização para a Segurança e para a Cooperação na Europa (OSCE) indicando que a “eleição tinha um claro vencedor com uma maioria absoluta” (G1, 05/03), mas repudiou “as condições em que foi realizada a campanha, com o uso tendencioso dos recursos governamentais e com as irregularidades nos procedimentos no dia da eleição. Pedimos ao governo russo que realize uma investigação independente e crível de todas as violações eleitorais registradas” (Idem). Tal pressão está focada no objetivo do imperialismo enfraquecer Putin e nas próximas eleições “escolher” para o comando do Kremlin um homem de sua inteira confiança através do que chamam de uma “transição democrática”, alegando que ex-agente da KGB está se tornando um “ditador” que burla a “democracia” indicando fantoches para “mandatos tampões” no seu lugar, como foi o caso do atual presidente Dmitry Medvedev.

Obama deseja se livrar do staff de ex-burocratas restauracionistas que ajudaram a Casa Branca a liquidar as bases sociais do Estado operário soviético na década de 90 e colocar no comando da Rússia figuras como Prokhorov, dono do time americano de basquete New Jersey Nets, diretor da Polyus Gold, uma das maiores mineradoras do país e presidente do grupo de investimentos globais Onexim. Por essa razão, Hillary apoia abertamente as manifestações “antifraude”, buscando criar uma base social e política para a transição principalmente entre a classe média urbana russa, bastante ocidentalizada pelo processo de recolonização advindo com a liquidação contrarrevolucionária da URSS. Vale destacar que Putin não conseguiu “conquistar” os eleitores de Moscou. Ele recebeu 47% dos votos. Em 2008, seu sucessor Dmitry Medvedev foi votado por 70% dos russos da capital. Guennadi Ziugánov, seguido de perto pelo magnata Mikhail Prokhorov, foram os preferidos de agora dos moradores de Moscou.

Está claro que essa ofensiva política contra Putin está voltada a neutralizar seu governo diante da investida da Casa Branca contra o Irã e a Síria. Ao pressionar Putin, via uma oposição interna, Hillary deseja que a Rússia recue em seu apoio militar a esses dois países, medida fundamental para que o imperialismo possa impor seus interesses na região. A Rússia tem uma base militar na Síria, porta-aviões estacionados na costa do país além de ser parceira estratégica do programa nuclear iraniano. Ademais, se opõe parcialmente à criação do sistema de defesa antimíssil para Europa controlado pela OTAN, voltado justamente para neutralizar qualquer reação militar russa a uma possível agressão imperialista. Washington também deseja livrar-se de Putin e seu séquito estrategicamente para impor a sua semicolônia uma nova fase histórica, hoje travada pelos arroubos do Kremlin, que utiliza do poderio militar russo para barganhar áreas de influência regional com o imperialismo ianque. A Casa Branca pretende fazer da Rússia um apêndice militar do Pentágono, já que do ponto de vista político desde a era Yeltsin o Kremlin vem seguindo a Casa Branca em seus passos de rapinas imperiais no planeta.

No meio a esse jogo de quadrilhas burguesas não poderíamos deixar de registrar a postura covarde do PCRF, em particular de sua atual liderança Guennadi Ziugánov. Este se limitou a reclamar que “Não vejo porque alguém deve ser parabenizando. Com esta eleição nós todos perdemos. Pés foram limpos com nossos cidadãos. Como candidato, não posso reconhecer as eleições como um ambiente limpo, justo e honesto. A máquina estatal enorme, criminosa e corrupta, tem trabalhado em favor de um candidato. As autoridades russas não podem governar como antes” (Aporrea, 05/03). Como se vê, o PCFR aceitou a derrota, apenas fazendo as reclamações de praxe e adequou-se a ser mais uma coluna de sustentação eleitoral do regime político bastardo e corrupto, encabeçando uma oposição domesticada pronta para perder, já que foi o alvo principal da fraude orquestrada pelo Kremlin. Ziugánov não denunciou o capitalismo e sua democracia burguesa incapaz de promover eleições “limpas, democráticas e honestas” porque é um sistema por si só fraudulento a serviço dos grandes grupos econômicos.

Não nutrimos a menor simpatia política pelos bandos mafiosos restauracionistas que se instalaram no poder na Rússia desde agosto de 1991 e não duvidamos que Putin tenha recorrido a fraudes para garantir sua vitória em primeiro turno nas eleições presidenciais. Porém, não apoiamos qualquer “movimento” de fachada democrática patrocinado pelo Departamento de Estado ianque que tenha como objetivo preparar as condições para defenestrar Putin pelas mãos de uma ofensiva imperialista para impor um nome ainda mais alinhado com a Casa Branca. Se as eleições presidenciais foram fraudadas, não é menos fraudulenta a bilionária operação política montada por Washington para impor um candidato à sua “imagem e semelhança” na Rússia. Frente a esse circo eleitoral mafioso, proclamamos que a verdadeira “vingança” da história deverá ser protagonizada pelo proletariado russo, colocando a frente deste combate um genuíno partido revolucionário marxista-leninista. A derrota de todos os bandos restauracionistas e dos fantoches do imperialismo se dará por meio de uma nova revolução social que faça da construção de uma nova Rússia soviética uma realidade política concreta e não um simples sonho saudosista passivo como almejam os stalinistas do PCFR e seus “camaradas” pelo mundo afora.