segunda-feira, 23 de abril de 2012

As “quatro irmãs” e o ocaso da Delta

A construtora Delta emergiu dos “subterrâneos do mundo dos negócios”, que envolve os milionários contratos de governos municipais, estaduais e federal, para as páginas dos principais “jornalões” brasileiros depois que seus altos executivos foram flagrados em conversas com Carlinhos Cachoeira. Este, apresentado como o “grande corruptor” pela imprensa murdochiana, está preso por “contravenção” e sob investigação por participar de um poderoso esquema de fraudes em torno de obras públicas. Muito embora Cachoeira tenha inúmeros contatos com partidos da chamada “base aliada” do governo Dilma e também com os da “oposição conservadora” e até com a esquerda, as fraudes da Delta são apenas uma ponta do iceberg da podridão burguesa. Os contratos da Delta entre 2009 e 2010 chegam aos R$ 220 milhões, claro, alimentados por superfaturamentos de materiais e serviços. Apenas em uma obra, no Mato Grosso, por exemplo, na recuperação da via rodoviária federal dos R$ 39 milhões previstos o preço do serviço aumentou mais de 22% em um ano. Como a Delta tem grande participação nas obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) do governo Dilma, o esquema expõe um verdadeiro saque das máfias burguesas sobre o botim estatal. Contudo, as denúncias acerca das fraudes desta construtora cumprem um papel bastante prático: o de preservar os principais “corruptores”, ou seja, aqueles que financiaram a campanha eleitoral do governo Lula/Dilma. Entram de soslaio nesta questão as chamadas “quatro irmãs”, a Camargo Correa, Norberto Oldebrech, Andrade Gutierrez e Queiróz Galvão.

Para se ter uma ideia, somente estas quatro maiores empreiteiras concentram para si mais de R$ 138 bilhões em obras no país, entre elas Belo Monte (Pará), Rio Madeira (Roraima). Graças aos contratos multimilionários se converteram em autênticos conglomerados da infraestrutura (petróleo, energia elétrica, telecomunicações, agronegócio) e integram, ao mesmo tempo, as maiores obras do PAC, além de “ganharem” as licitações para as reformas e construção dos estádios de futebol voltados para a Copa do Mundo de 2014. Neste sentido, os “negócios” da Delta perante os das “quatro irmãs” são brincadeira de criança!

Aqui repousa a principal questão, ou seja, são as “quatro irmãs” que concentram em suas mãos todo o poder decisório das “licitações”, dos contratos das grandes obras. Determinam, portanto, quem pode entrar e aqueles que devem ficar fora dos projetos e “consórcios” por elas montados referentes à subcontratação de empresas para executar as várias etapas das obras país afora. Trata-se do “toma lá dá cá” da política burguesa, quando o governo Dilma “retribui” as gordas quantias doadas pelas empreiteiras a sua campanha eleitoral com favorecimentos econômicos. Figuras como Cachoeira, Demóstenes Torres e todos os envolvidos devem ser rifados como “peixes pequenos” em benefício das oligarquias regionais e governos que abrem os cofres para as empreiteiras saquearem. Aliás, o papel ativo como corruptores de empreiteiras não é nenhuma novidade. Há muito isto ocorre, como a “Operação Navalha” em 2007, ocasião em que se descobriu um esquema da construtora Gautama que envolvia até o governador do Maranhão e diversos empresários. Em 2009, no conhecido escândalo do DNIT, quando o ministro Anderson Adauto foi pego favorecendo a Queiroz Galvão na cobrança de dívidas contraídas desde 2002.

Assim funciona o Estado burguês, como um comitê executivo dos grandes negócios dos capitalistas. Qualquer tentativa de moralizá-lo, como fazem os deputados do PSOL e os falsos vestais do PT, significa eliminar de vez a participação ativa neste processo da classe operária e semear a ilusão de que é possível reformar o Estado. Somente o proletariado em sua ação revolucionária, através da ocupação das obras destas megaconstrutoras, da ação direta das massas com manifestações, passeatas, ocupações de fábricas e terras, rumo à estatização completa dos meios de produção, poderá por um fim à corrupção. A finalidade da ação do proletariado é a destruição completa do Estado capitalista e, sobre as suas ruínas, edificar as novas bases para um novo modo de produção.