sexta-feira, 18 de maio de 2012

Na CPI do Cachoeira todo o mundo político tem o “rabo preso”, o remédio foi o indulto geral da “esquerda para a direita”

A CPI do bicheiro Carlos Cachoeira mal começou e já teve seu fim “decretado” por antecipação. Em sua sessão plenária de ontem (17/05) a CPI deliberou por não convocar os principais protagonistas da nutrida teia de corrupção estatal, que tem na figura do bicheiro goiano apenas um ponto de intercessão. Não foram aprovadas as convocações dos três governadores publicamente implicados (RJ, GO e DF), tampouco o “dono” da empreiteira Delta e o editor da revista VEJA terão que comparecer a comissão de inquérito do congresso. Até aí nenhuma grande surpresa, pois até o próprio Cachoeira pode se livrar de prestar depoimento, protegido por uma chicana jurídica de seu poderoso advogado, o ex-ministro do governo Lula, Márcio Thomaz Bastos. Convocado somente a “raia miúda” a CPI vai cumprindo seu papel midiático distracionista, enquanto os tubarões da política burguesa vão “reposicionando” seus negócios com a venda da empreiteira Delta a um forte grupo econômico, curiosamente do ramo alimentício. Na verdade somente muito tolos poderiam crer que o foco do escândalo em torno da relação entre o bicheiro e o senador Demóstenes Torres fosse em função das “gorjetas” distribuídas com a arrecadação do jogo do bicho em Goiás.

Como a relação com as empreiteiras é o principal negócio contratado pelo estado brasileiro há muito tempo, a Delta rapidamente transformou- se em propriedade de um consórcio nacional de políticos burgueses, onde Fernando Cavendish era apenas um sócio gerente. Por isso mesmo sabe- se muito bem que não são apenas os “três patetas” governadores que tem ligação com as operações da Delta, a lista é muito maior e atinge até mesmo Dilma e seu primeiro escalão governamental . A suspensão dos contratos das obras da Delta pelo país afora foi uma exigência direta da própria presidência, para tentar “limpar” a empresa e repassá-la a outro proprietário formal enquanto baixa a poeira do escândalo. Potenciada com as obras da copa do mundo e olimpíadas, a Delta configurou- se como o “caixa dois” preferencial da política burguesa nacional e de outras empreiteiras menores, envolvendo até mesmo o “probo” PSOL, através do vereador Elias Vaz de Goiânia e o dirigente nacional Martiniano Cavalcante, dono de uma pequena construtora “parceira” da Delta na mesma cidade.
Outro embate que deve ser evitado a todo custo nos holofotes da CPI é a atual queda de braço entre a fração estatal que pretende “rifar” o ex-ministro José Dirceu e sua antourage petista e os neófitos da ex-presidente poste Dilma, que sonha com a “independência” política diante do aparelho Lulista. Como o Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, está encarregado de pedir a “cabeça” de Dirceu no julgamento do STF que se aproxima, o círculo petista do “campo majoritário” tratou logo de vincular a imagem de Gurgel com o suborno recebido para “arquivar” as investigações da Polícia Federal sobre a “ramificação” Cachoeira. A tendência política predominante nesta disputa inter-burguesa, que tem na CPI apenas a ponta do icebergue, é de mais um acordo geral entre as frações dominantes comprometidas até a medula com a corrupção estatal, podendo ser oferecida como “cachimbo da paz” a cabeça do enfraquecido Dirceu.

Desde a LBI fomos logo no início a única corrente comunista a denunciar o engodo distracionista da CPI, enquanto o bloco da “oposição de esquerda” fazia demagogia “ética”, estando também emporcalhados com a sujeira da Delta e do bicheiro Cachoeira. Agora diante da frustação é possível que muitos entusiastas da CPI venham a dizer que esta se transformou em um organismo “chapa branca”, para proteger as figuras mais sinistras deste regime da democracia dos ricos. O movimento operário mais avançado deve abstrair todas as lições da panaceia da institucionalidade burguesa, e romper com esta esquerda revisionista que defende a “moralidade” de um estado burguês decomposto que não pode ser reformado, como pretendem estes senhores, e sim demolido violentamente pela ação consciente e revolucionária do proletariado. Em resposta a decadência da burguesia e seu “deus” mercado inexoravelmente corrupto, levantamos o programa da planificação econômica central e a defesa da ditadura do proletariado como alternativas a barbárie capitalista.