segunda-feira, 7 de maio de 2012

Vitória de Hollande: “socialistas” são “escolhidos” para aplicar a cartilha de “ajuste” do imperialismo europeu

Com um percentual de 51,7% François Hollande foi eleito presidente da França neste domingo (6 de maio), contra 48,3% de seu oponente Nicolas Sarkozy (UMP). Este resultado vem confirmar todos os prognósticos levantados pela LBI nos últimos meses acerca de que a vitória do PS estaria sendo gestada há pelo menos dois anos para “quebrar” o ciclo neoliberal clássico em meio à esteira da crise capitalista que arrasta países como Espanha, Portugal, Grécia e Itália. A volta ao governo dos “socialistas” não significa que a Europa esteja caminhando rumo a tendências “progressistas” em seus regimes políticos, como querem nos convencer os “marxistas” domesticados pela democracia burguesa. Ao contrário, a crise traz em seu bojo a ascensão da extrema-direita, no caso a Frente Nacional de Marine Le Pen (terceira colocada no primeiro turno das eleições). O imperialismo europeu tomou a França como um tubo de ensaio para o retorno do PS no comando do Estado capitalista com um projeto mais amplo de operar um processo de transição semelhante na Alemanha e Inglaterra, a fim de escolher seus “novos” gestores da crise capitalista à custa do sacrifício do proletariado europeu. Para tanto foi necessário eliminar figuras “indesejáveis” como Dominique Strauss Kahn e Leonel Jospin por suas passagens pela ultraesquerda “trotsquista” do defunto revisionista Lambert, credenciais que não lhes conferiram “salvo-conduto” para assumir o governo da V República.

Hollande em seu primeiro discurso como novo presidente já mostrou a que veio: “Prometo ser o presidente de todos”, ou seja, dispor seus serviços ao capital financeiro internacional (os rentistas), à burguesia industrial, banqueiros etc. Convicto acerca do papel que cumpre na atual conjuntura, acrescenta: “Hoje mesmo, responsável pelo futuro do nosso país, estou ciente de que toda a Europa nos observa” (France Press, 6/05). Como deixara claro desde o início, seu governo “para todos” inclui manter a parceria com a Alemanha de Angela Merkel, quem “declarou que irá receber Hollande de ‘braços abertos’, garantindo que vai trabalhar de perto com ele” (Le Monde, 7/05), uma vez que este país ao lado da França são os marcos de sustentabilidade do Euro e da União Europeia. Precisamente por isso, Hollande procurará Merkel para “renegociar” acordos nos marcos draconianos do Euro, ou seja, dando continuidade aos planos de austeridade de Sarkozy contra as conquistas históricas da classe trabalhadora francesa, só que agora com a aquiescência das direções sindicais encabeçadas pelo PCF que apoiaram entusiasticamente o novo presidente: “Quero felicitar François Hollande por sua eleição. As mulheres e os homens que se aglutinaram em torno de sua candidatura para infligir a Nicolas Sarkozy a derrota que ele merecia abriram uma nova esperança na França e na Europa”, afirmou em nota (6/05) o secretário nacional do Partido Comunista Francês, Pierre Laurent, “de olho” em algum cargo ministerial do futuro governo do PS.

Os marxistas revolucionários não defenderam o voto em nenhum candidato nestas eleições, muito menos chamaram a apoiar “criticamente” o PS no segundo turno. Postura que não teve a esquerda revisionista, uma vez que em nenhum momento apresentou uma caracterização programática clara diante da anunciada vitória do PS. O PTS argentino, por exemplo, não defendeu o voto nulo no segundo turno buscando assim manter suas boas relações com o NPA, partido que chamou voto em Hollande como “mal menor”. Desta forma o PTS Argentino e sua fictícia “corrente comunista revolucionária do NPA” acabaram por se centralizar pela política da direção do NPA. Já A LIT nem sequer se pronunciou ou elaborou uma declaração sobre as eleições francesas, se abstendo covardemente neste importante processo político de implicância mundial. A posição do Partido Operário de Altamira foi ainda mais esdrúxula e delirante. Em seu balanço do primeiro turno fez todo um malabarismo catastrofista para demonstrar que o crescimento da extrema-direita foi “desprezível” e que a vitória do PS e o “crescimento” da esquerda apontam uma “tendência à esquerda” das massas (site PO, 26/4), situação que, segundo PO, pode conduzir a “uma débâcle do regime político” (idem). Para o PO o “fim do mundo” sempre está muito próximo quando ocorre alguma mudança eleitoral no regime burguês, mas enquanto o “armagedon” não chega vão mesmo praticando seu cretinismo parlamentar e apoiando em silêncio e com muita discrição a velha social democracia europeia. Como os “melhores” oportunistas, não emitiram posição eleitoral pelo voto nulo no segundo turno... para o bom entendedor meia palavra basta!

Está claro para o marxismo revolucionário que as tendências fascistizantes do regime político somente poderão ser derrotadas através da ação consciente das massas, pela superação das direções sindicais cooptadas pelo Estado imperialista, numa frente única operária de ação para combater os novos ataques que virão dirigidos pelo “socialista” Hollande, representante-mor do partido que deu início aos primeiros pacotes neoliberais a partir da década de 80 patrocinados pelo também “socialista” Mitterrand. Ou seja, a resistência aos planos de austeridade antioperários que se avizinham não deve se limitar aos lobbies parlamentares como apregoa grande parte da esquerda mundial, a qual assinala desde já a importância das próximas eleições legislativas. A via eleitoral, neste sentido, é o caminho mais curto para as derrotas do proletariado francês e europeu. É preciso ir mais longe! A tarefa primordial para o momento é organizar os trabalhadores com total independência dos setores “progressistas” da burguesia para derrotar o regime político imposto pela União Europeia, pela via revolucionaria, em oposição ao programa de ajuste fiscal da “Troika”, no qual o PS francês está completamente integrado.