quinta-feira, 31 de maio de 2012

Com país “encharcado” de capital, BC reduz taxa de juros ao menor nível da última década

O Banco Central, nosso FED tupiniquim, acaba de anunciar nesta última quarta-feira (30/05) mais uma redução na taxa básica de juros. Foi a sétima redução consecutiva da SELIC, que chega ao patamar de 8,5% ao ano, o menor nível desde 1999 quando os atuais critérios monetários do COPOM foram estabelecidos. A taxa de juros praticada pelo BC (SELIC) foi ao longo dos últimos trinta anos um importante instrumento das equipes econômicas governamentais para “capitalizar” o país e equalizar nossa deficitária balança de pagamentos. Por esta razão, historicamente os juros pagos pelos títulos públicos brasileiros sempre se situaram entre os mais bem remunerados do planeta, gerando um hiperaquecimento da taxa de juros na economia nacional. Os juros reais praticados pelo mercado financeiro doméstico chegam a atingir a marca de mais de 300% ao ano, para pequenos e médios credores. Agora o governo da frente popular resolveu demagogicamente impulsionar uma “cruzada cívica” contra os altos juros, utilizando a redução da SELIC como mais um elemento de pressão para o sistema financeiro nacional. Outra arma utilizada por Dilma na “guerra” contra os juros são os bancos estatais, BB e CAIXA, que aliviaram suavemente seus spreads, forçando a concorrência a enveredar na mesma direção proposta pelo governo. Mas, foi tungando a remuneração da poupança popular, que a partir desta nova taxa do BC passa a render bem menos, que a equipe econômica palaciana “convenceu” os banqueiros a embarcar na campanha midiática do “juro baixo”. Na realidade, a base concreta que vem permitindo ao governo acenar com uma pequena queda em sua estratosférica taxa de juros é a abundância de capital internacional estacionado no país, para investimentos diretos. Paradoxalmente, o crash financeiro nos centros imperialistas vem favorecendo circunstancialmente a economia brasileira, “porto seguro” para grandes corporações que apostam no potencial de nosso mercado interno. Com um cambio extremamente favorável a exportação de commodities agrominerais, em função da atual crise bursátil, o cenário econômico nacional não poderia ser mais favorável na atual conjuntura de turbulência financeira mundial, permitindo todo este espetáculo político protagonizado pela frente popular da colaboração de classes.

Por sinal, a “cruzada pelo juro baixo” vem permitindo ao governo sedimentar seu pacto social, unificando apoios nesta empreitada “cívica” desde a FIESP até o conjunto das centrais sindicais “chapa branca”. O sindicalista do PCdoB, Wagner Gomes, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), declarou ao site Vermelho que a decisão do COPOM “está no rumo certo”. Em nota emitida na noite desta quarta-feira, Gomes afirma que a medida “reorienta a política monetária e se soma às iniciativas adotadas pelo governo Dilma para fazer frente aos efeitos da crise mundial do capitalismo e reverter o processo de desaceleração da economia nacional”. Os ex-estalinistas convertidos à ordem capitalista não estão sozinhos no apoio ao engodo do governo Dilma, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) disse que o corte na taxa básica de juros (SELIC) anunciado é bem-vindo. Na mesma senda a ultrarreacionária Federação do Comércio de São Paulo (Fecomércio-SP) também considerou acertada a decisão do Banco Central de diminuir a taxa básica de juros (SELIC) para 8,5% ao ano. Os oficialistas da CUT fecham o “círculo do poder” saudando as medidas do BC e aconselhando mais reduções para “fomentar a indústria nacional”. Com um arco social bastante amplo Dilma vai consolidando sua base política de apoio popular, apesar de ser patrona da ofensiva patronal para liquidar as conquistas operárias.

Para a população trabalhadora a “cruzada” governista poderá significar perdas significativas nas reservas do Fundo de Garantia, que deverá ter seus rendimentos reduzidos neste idealizado cenário de juros mais baixos. Também é certa uma relativa retomada da escalada inflacionária, onde o incentivo ao consumo e ao crédito são os signos da atual etapa, ironicamente chamada de “neodesenvolvomentista”. Com uma política econômica neoliberal de arrochar ao máximo salários públicos, o governo Dilma espera encontrar seu superávit primário as custas do corte das verbas nos setores mais essenciais para o povo oprimido.

O proletariado que se vê empurrado a contrair dividas, principalmente pela via dos empréstimos consignados, não atravessa nenhum “ciclo virtuoso”, ao contrário da nova burguesia emergente, subsidiada pelo governo do PT. A enorme “bolha” de crédito que encobre o país cobrará seu preço mais cedo do que tarde, com a acumulação da renda concentrada em um pequeno estrato social. Romper com esta lógica do capital, impulsionando uma vigorosa jornada nacional de protestos, greves e ocupações, se coloca como tarefa imediata para a vanguarda classista que não se vergou ao “encantos” das campanhas publicitárias estatais, geridas pela frente popular para amordaçar a ação direta do movimento de massas.