segunda-feira, 11 de junho de 2012

O PT resolve “bombardear” as candidaturas a prefeito do próprio PT

Em uma conjuntura política abertamente favorável ao governo Dilma, que alcança excelentes índices de popularidade superando inclusive a do ex-presidente Lula, contraditoriamente o PT parece que caminha para o cadafalso nas próximas eleições municipais. Não se trata de uma crise no “projeto de poder” da frente popular, baseado na colaboração de classes e estabilidade institucional do regime político, mas sim da luta autofágica das camarilhas internas do partido dos trabalhadores que deverá beneficiar diretamente os partidos aliados da base de apoio do governo Dilma e até mesmo da oposição Demo-tucana. A disputa intestina que hoje “sangra” o PT está diretamente relacionada ao debilitamento físico da figura dirigente de Lula e do crescimento dos apetites vorazes da reeleição da ex-presidente “poste” Dilma Rousseff. A burguesia apóia descaradamente a iniciativa do grupo petista pró-Dilma em se livrar definitivamente da influência hegemônica da entourage de José Dirceu nas decisões partidárias . Com a repentina doença de Lula abriu- se a oportunidade de se consolidar uma nova maioria no PT (derrotando a antiga tendência “Articulação”), visando não as eleições municipais, mas a própria sucessão presidencial de 2014. Com a proximidade do julgamento do chamado esquema do “mensalão” pelo STF, Dilma passou a atuar ofensivamente pela condenação dos mensaleiros, passando por cima inclusive da vontade política do ex-padrinho em defender incondicionalmente seus “bons companheiros”. Com sua liderança abalada, Lula foi entregue às “feras” sendo atacado pela figura mais impopular da república, o ministro do STF Gilmar Mendes. Sem mostrar nenhum poder de fogo contra o odiado Gilmar, quem acredita que Lula poderá agora alavancar suas candidaturas “preferenciais”, como a de Haddad em São Paulo. Na sequência destes acontecimentos o setor planaltista não-alinhado com Dirceu partiu para defenestrar as candidaturas próprias do PT, não só em São Paulo, mas também em Recife, Fortaleza, BH, tendo a senadora Marta Suplicy como paladina desta “causa”.

Atentos a esta crise, os partidos da chamada base aliada já trabalham em coordenação direta com o planalto para sabotar as candidaturas próprias do PT. O PSB, representante das oligarquias “socialistas” nordestinas, saliva inviabilizar as candidaturas petistas em Fortaleza e Recife, além de impor a submissão do PT em BH. O PDT e o PMDB planejam realizar a mesma operação política em outras cidades e o PSDB paulistano já declarou que só teme a presença de Dilma na campanha de Haddad, já que Lula não teria mais a força de catapultar seus “afilhados” na disputa municipal. No Rio de Janeiro, o aliado Cabral impôs o apoio do PT à reeleição de Paes, o antigo carrasco dos mensaleiros na CPI de 2005. Em síntese, as tendências da situação apontam para um fiasco do PT em 2012, preparado domesticamente, para melhor postular a recondução de Dilma ao Planalto e “romper” diplomaticamente a cláusula da “renovação democrática”.

A operação de “desmanche” das candidaturas do PT vem provocando a reação da chamada esquerda petista e de alguns “caciques” preteridos pela sanha liquidacionista dos neopetistas, agrupados pelas generosas verbas estatais. Este é o caso do atual prefeito de recife, João da Costa, que praticamente teve seu mandato cassado pelos próprios correligionários. Para não perder o norte de um programa revolucionário, em primeiro lugar é necessário afirmar que tanto os membros do “campo majoritário” de Dirceu e Lula, como os neopetistas “planaltistas” são farinha do mesmo saco, ou seja, defensores da ordem burguesa e gestores estatais da crise estrutural do capitalismo. Chega a soar ridícula a tese levantada pelo revisionismo, como OT e EM, que ainda permanecem na frondosa sombra das “oportunidades” do PT. Os poucos seguidores de Alan Woods no Brasil, diante do impasse atravessado pelo PT afirmam que: “Os marxistas do PT devem ampliar a discussão da resistência contra esta política liquidadora em todo o partido de forma firme e ampla. A situação nacional e internacional exige a unidade dos petistas que desejam manter-se fiéis a sua classe para que se articulem nacionalmente lutando para que o Partido dos Trabalhadores vire à esquerda e reate com a luta pelo socialismo”. A única coisa que realmente pode virar a esquerda no interior do lamaçal petista é o próprio carro Land Rover de mais de cem mil dólares recentemente adquirido por Dirceu a título de honorários de consultoria política.

Os genuínos marxistas revolucionários não disseminam a menor ilusão em uma suposta recuperação do PT para o socialismo, depois de dez anos de governo servindo ao capital financeiro e aos trustes imperialistas. Tampouco cabe bancar os “conselheiros de esquerda” da presidente Dilma, como faz sistematicamente a oposição de esquerda (PSOL e PSTU), lembram- se da campanha “veta tudo Dilma”? A chave para superar a paralisia do movimento de massas passa bem longe das próximas eleições municipais, mais uma etapa do engodo burguês para “distrair” o proletariado. É necessário concentrar o acumulo de forças da classe operária na perspectiva da construção de uma alternativa revolucionaria de poder, agrupando os comunistas em uma frente única para impulsionar a ação direta das massas, para além dos estreitos limites institucionais do regime burguês.