quinta-feira, 2 de agosto de 2012


Kofi Annan, o “lobo em pele de cordeiro”,  abandona o posto de mediador do “plano de paz” da ONU na Síria e defende renúncia de Assad!

Depois de cinco meses implementando o suposto “plano de paz” da ONU para a Síria, que permitiu aos inspetores-espiões das Nações Unidas informarem com detalhes o Pentágono sobre o poder de defesa do exército nacional sírio e criar as condições políticas para apresentar o governo de Assad como suposto responsável pelo massacre de seu próprio povo, como por diversas vezes declarou o chefe da missão de “paz” no país, o ex-Secretário-Geral da ONU, Kofi Annan, anunciou nesta quinta-feira, 2 de agosto, que estava deixando o cargo de enviado especial das Nações Unidas e da Liga Árabe para a Síria. Durante a conferência de imprensa em Genebra onde anunciou que não era mais “mediador” da ONU para o conflito, Annan afirmou que “transição política significa que Assad deve partir mais tarde ou mais cedo” (Jornal de Notícias, 02/08). Não por acaso, a saída de Annan ocorreu às vésperas da votação de uma resolução na Assembleia-Geral da ONU que impõe novas e duras sanções a Síria, o que de fato significa um “sinal verde” para uma futura agressão direta da OTAN ao país, que já é alvo de ataques militares apoiados pelas potências imperialistas e seus aliados regionais (Turquia, Catar, Arábia Saudita...) através do envio de mercenários, armas e munições para derrubar o regime da oligarquia Assad e impor um títere em Damasco alinhado diretamente a Casa Branca e a União Europeia, como ocorreu na Líbia.

É preciso lembrar que o governo de Bassar Al-Assad assinou em abril um acordo com a ONU autorizando o envio de seus observadores-espiões à Síria sob a justificativa de supervisionar o cessar-fogo no país. O acordo foi mediado por Kofi Annan, representando a ONU e a Liga Árabe com o apoio da China e da Rússia, sendo aprovado por unanimidade pelo Conselho do Segurança (CS) das Nações Unidas. Mais de 300 observadores compuseram a missão. Como alertamos anteriormente, esta missão tinha como verdadeiro objetivo “monitorar” o governo sírio enquanto a debilitada oposição financiada pelo imperialismo se recompunha na fronteira do país com a Turquia, onde a OTAN montou uma base de apoio ao chamado ELS (Exército Livre da Síria), mercenários a serviço das potências abutres imperialistas. O acordo foi assinado pelo governo sírio, sob forte pressão da China e da Rússia, depois que o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, ventríloquo da Casa Branca, declarou em carta ao CS que a Síria não cumpriu suas obrigações determinadas por um “plano de paz” mediado por Annan que previa a retirada de tropas e armamentos pesados de áreas urbanas.

Segundo Kofi Annan, um lobo em pele de cordeiro, “Aceitei o risco porque acreditava ser meu dever fazer o máximo para ajudar os sírios a encontrar uma solução pacífica para o conflito sangrento. Mas, sem uma séria e unificada pressão da comunidade internacional, tornou-se impossível para mim convencer o governo sírio e a oposição a dar os passos necessários para iniciar o processo político. A transição política significa que Assad deve partir mais tarde ou mais cedo” (Jornal de Notícias, 02/08). Na verdade, enquanto Annan encenava seus “esforços de paz”, o cenário na Síria foi de avanço dos “rebeldes” pró-imperialistas, que fizeram vários atentados e foram armados até os dentes, como o apoio dos observadores-espiões da ONU. Quanto o drone da OTAN, avião não tripulado, lançou um míssil que matou o alto escalão militar do governo Assad, a ONU apenas lamentou o ocorrido e seus países membros aproveitaram o ataque para incrementar a ofensiva sobre o regime da oligarquia Assad. Neste momento, Annan mais uma vez fez o jogo do império, lavando a cara dos verdadeiros responsáveis pelo banho de sangue imposto no país a serviço da sanha colonialista das grandes potências.

Ao anunciar sua saída do cargo de “mediador” da ONU, Annan escreveu um artigo no jornal Financial Times defendendo que Assad deve deixar o governo em nome da “paz” e de uma “transição democrática”. Segundo ele “os países precisam se comprometer com uma solução política - Rússia, China e Irã de um lado e Estados Unidos, Reino Unido, França, Turquia, Arábia Saudita e Catar do outro, visando um governo de união nacional após a saída de Assad”. Agora a tendência é que os 150 observadores-espiões da ONU se retirem da Síria até o final de agosto, pois já cumpriram sua missão de facilitar o trabalho dos mercenários e as investidas dos “rebeldes” pró-imperialistas se intensifiquem, com mais ataques como vem ocorrendo em Damasco e Aleppo. Neste cenário, a pressão da Rússia e da China sobre Assad por uma “transição política” que tenha como condição sua renúncia também irá aumentar seriamente. Até o momento Rússia e China vetavam uma agressão militar direta usando como pretexto a aplicação do “plano de paz” da Annan. Agora, sem poder utilizar esse recurso político diplomático, Pequim e Moscou tentarão fechar um acordo com Washington que permita a renúncia de Assad sem a necessidade de uma intervenção militar direta da OTAN, visando assim preservar seus interesses econômicos no país. Ainda há resistência do grosso da burguesia síria e de sua base social, incluindo o Hezbollah e a resistência palestina, a essa “saída de consenso”, que abre o caminho para novas investidas do imperialismo cujo alvo principal é o Irã. Justamente por isso, a Rússia acaba de enviar mais navios de guerra para sua base militar em Tartus, na Síria, visando barganhar um acordo com a Casa Branca em melhores condições. Vale lembrar que a Síria é a principal posição para a presença russa no Oriente Médio e Damasco comprou no ano passado o equivalente a 1 bilhão de dólares em armas da Rússia ou 8 por cento do total das exportações bélicas de Moscou. Por isso, a Rússia lamentou a saída de Annan: “Ele é um mediador honesto, mas há os que o desejam tirar do jogo para desatarem suas mãos para o uso da força. Isso já está claro”, disse o vice-chanceler Gennady Gatilov.

Diferente do que apresentam a Rússia e a China e mesmo aqueles que se dizem “defensores da soberania da Síria frente à ingerência do imperialismo”, Annan nunca foi um aliado contra as investidas dos EUA e da União Europeia. Ao contrário, em nome de um fracassado “plano de paz” permitiu o incremento bélico dos “rebeldes” pró-imperialistas. Para derrotar a ofensiva política e militar das potências abutres e de seus aliados internos é preciso que o proletariado sírio em aliança com seus irmãos de classe do Oriente Médio se levante em luta contra a investida imperialista na região, travestida pela retórica de defesa dos “direitos humanos e democracia”. Neste momento é fundamental estabelecer uma clara frente única anti-imperialista com as forças populares que apoiam o regime nacionalista burguês sírio assim como com o Hezbollah para derrotar a ofensiva da OTAN e da ONU sobre o país. Combatendo nesta trincheira de luta comum, os revolucionários têm autoridade política para rechaçar inclusive as concessões feitas pelo governo de Bashar Al-Assad a esses organismos imperialistas que pretendem subjugar o país, forjando no calor do combate as condições para a construção de uma genuína alternativa revolucionária as atuais direções burguesas que via de regra tendem a buscar acordos vergonhosos com a Casa Branca.