segunda-feira, 10 de setembro de 2012



Agora é o “socialista” Hollande que anuncia o duro “ajuste” da troika contra o proletariado francês

Há menos de quatro meses ocupando a gerência geral dos negócios da burguesia imperialista francesa, o “socialista” François Hollande acaba de anunciar em rede de TV um duríssimo pacote de “ajuste”, com objetivo de reduzir o déficit estatal em 30 bilhões de Euros até o final do ano corrente. No comunicado midiático feito por Hollande não há nenhuma referência a exigências do BCE (Banco Central Europeu dirigido de fato pela Sra. Merkel) acerca do corte nas verbas ministeriais e no aumento de impostos, para a redução do déficit orçamentário em cerca de 3,0% do PIB, contra o patamar atual de 4,5% considerado inaceitável para a “troika” que comanda as finanças europeias. Seguindo a tradicional demagogia do Partido Socialista, Hollande afirmou que o ônus do “ajuste” recairá fundamentalmente nos “ombros dos mais ricos”, embora não consiga explicar como a redução dos investimentos para a proteção social e o corte nos salários da aposentadoria, os dois eixos financeiros de seu pacote neoliberal, irão afetar os milionários franceses. Mas se a demagogia “socialista” parece não ter limites, também o oportunismo revisionista, que há pouco votou em Hollande como um símbolo político anti-Merkel, agora trata de embotar a realidade difundindo a tese do colapso terminal do capitalismo europeu, para ocultar seu seguidismo ao tradeunismo mais rasteiro. Era óbvio e ululante para os marxistas que a França capitalista, sob a gerência de Sarkozy, Hollande ou Melechon, se subordinaria a dinâmica de crise da União Europeia, trilhando os passos impostos a Grécia, Itália e Espanha. A questão determinante para o momento era preparar a resistência ativa à ofensiva imperialista contra as massas e não ficar “profetizando” passivamente o armagedon do capitalismo europeu.

A crise capitalista mundial tem um caráter histórico estrutural nos seus próprios mecanismos de reprodução de valor e ao contrário do que pensam os revisionistas não começou há quatro anos com a falência do Lehman Brothers e tampouco com o posterior crash do cassino financeiro de Wall Street. Os EUA vem lentamente contornando a depressão econômica com o importante suporte da indústria armamentista e fincando sua hegemonia imperialista sobre a Europa e Japão na base de sua política guerreirista contra povos e nações. A chamada zona do Euro, que não inclui economias capitalistas importantes como a Inglaterra, não possui autonomia política e militar diante do grande recolonizador do pós-guerra, o “Big Boss” criador da OTAN. A Alemanha, principal motor econômico da UE, que com muita austeridade tem conseguido manter níveis de crescimento timidamente positivos, não passa de uma correia de transmissão financeira dos EUA, assimetricamente como a Inglaterra que abjura junto a realeza a figura do Euro. Acontece que diante de uma Alemanha arrasada pela guerra e ocupada militarmente pelo Exército Vermelho da URSS, o Tio Sam foi obrigado a descarregar muitos bilhões de dólares na reconstrução de “meia” Alemanha, para não ver a ex-pátria do nazismo se converter em nova potência socialista. Com a maior base militar ianque no mundo instalada em pleno território alemão, e agora sem o contraponto do Pacto de Varsóvia, não resta outro caminho para a gerência alemã cumprir a cartilha “teórica” monetarista elaborada pelo FED norte americano.

O governo “socialista” francês representa exatamente o papel do “apêndice do apêndice” do grande amo do norte, e sob a lógica do capitalismo não tem a menor capacidade de apontar outro caminho para o país, a não ser o mais serviçal possível à Casa Branca e seu braço armado, a OTAN. Hollande continua na Síria a sujeira que seu antecessor praticou na Líbia e no plano econômico nacional segue os mesmos passos da direita xenófoba francesa. O “ajuste” a ser aplicado neste final de ano é só um balão de ensaio que colocará a França de joelhos diante da governanta alemã, na mesma senda da Grécia e Espanha. O crescimento previsto pelo mercado para o PIB francês de 2013 deve ficar abaixo de 1%, reduzindo ainda mais a pouca soberania do governo “socialista” de Hollande frente a troika europeia.

O proletariado francês, favor não confundir com a burocracia sindical encastelada nos aparatos contrarrevolucionários do PS e PC, deve dar o primeiro passo no sentido da superação política das velhas direções traidoras. Mas não será pelo caminho de um sindicalismo economicista que a classe operária romperá suas amarras políticas com a velha socialdemocracia e o Stalinismo. As combativas greves protagonizadas contra os “ajustes” do governo Sarkozy em 2010 já demonstraram a profunda limitação do sindicalismo que não aponta o norte programático da liquidação do modo de produção capitalista, pela via da ação consciente das massas proletárias. A tarefa vigente da construção do genuíno partido trotsquista (bolchevique leninista) na França, não poderá recair sobre as mãos dos revisionistas, que ora pregam o voto “crítico” em Hollande para depois “rezarem” passivos como estúpidos pelo apocalipse do capitalismo. Somente uma plataforma de ação direta para forjar uma alternativa de poder dos trabalhadores será capaz de polarizar a atual conjuntura de ataques patronais, no verdadeiro sentido socialista e revolucionário.