segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Artigo extraído do Boletim da Chapa 2, Unidade na Luta, setembro/2012
Quem representa uma verdadeira ameaça de destruição do Sindiágua-Ceará?

A diretoria do Sindiágua decidiu abrir um debate de caráter ideológico com a chapa 2 – Unidade na Luta, nos acusando de que pretendemos destruir o sindicato e atacando ferozmente o que chamam de “alguns segmentos vinculados a uma tradição revolucionária de origem Trotskista”. As posições da atual direção do sindicato, publicadas no blog da chapa 1, em 12/09, chamam atenção não só pela ignorância sobre o assunto que abordam, mas, principalmente, pelo ranço ideológico anticomunista e reacionário que exalam delas. Em respeito à categoria dos trabalhadores em saneamento básico do Ceará, cuja consciência política tem sido entorpecida ao longo de 30 anos por esses verdadeiros agentes da burguesia na direção do sindicato, é necessário que façamos inicialmente um breve esclarecimento sobre o significado do trotskismo.

Em geral, denomina-se de trotskismo as concepções políticas e ideológicas elaboradas pelo revolucionário bolchevique Leon Trotsky, complementando o marxismo como teoria revolucionária do proletariado, para que as massas exploradas possam superar a barbárie capitalista e construir uma sociedade socialista.

Diante da degeneração burocrática da URSS (União Soviética), causada pelo controle da direção stalinista sobre o Estado operário nascido da revolução bolchevique de 1917 na Rússia, o trotskismo tornou-se também uma corrente política de combate à ameaça de restauração capitalista na União Soviética e de defesa da revolução proletária mundial.

Agora, vejamos o dizem os membros da chapa 1 sobre o trotskismo. Segundo os burocratas da direção do sindicato, os trotskistas “são grupamentos agindo em torno de um único objetivo que seria a destruição total do capitalismo pela realização de uma sociedade comunista radical”. Observam ainda que os trotskistas “se opõem a todos os partidos, mesmo aqueles de esquerda, socialistas, marxistas”.

O objetivo estratégico dos marxistas revolucionários e, consequentemente, dos trotskistas, é a constituição de uma sociedade sem exploradores e explorados, a sociedade comunista. Para cumprir esse objetivo, evidentemente, é necessária a destruição do sistema de exploração capitalista. O que a burocracia sindical da CTB encastelada na direção do Sindiágua chama de “partidos de esquerda, socialistas e comunistas”, entre os quais com certeza incluem o PSB dos Ferreira Gomes e o PCdoB, são siglas eleitorais que nunca tiveram qualquer identidade com o marxismo ou organizações corrompidas, que se adaptaram ao regime da falsa democracia dos ricos, na medida em que participam da atividade política institucional, legitimando o circo eleitoral burguês, atuando no parlamento e disputando o papel de gerentes dos negócios da burguesia.

Os interesses desses partidos são absolutamente opostos aos da classes trabalhadora, não tendo também nenhum objetivo comum com os trotskistas, visto que não são partidos operários, mas sim partidos burgueses ou pequeno burgueses, que têm como único objetivo mergulhar no mar de corrupção das apodrecidas instituições do Estado burguês.

No Manifesto do Partido Comunista de 1848, Marx afirma que “o objetivo mais próximo dos comunistas é o mesmo do que o de todos os restantes partidos proletários: formação do proletariado em classe, derrubamento da dominação da burguesia, conquista do poder político pelo proletariado”. Nenhum desses chamados “partidos de esquerda” da direção do sindicato defende esses objetivos. Eis porque os trotskistas se opõem a eles.

Completamente hostil ao socialismo científico, a burocracia sindical lança mais críticas contra o trotskismo, afirmando que “para eles só existem duas classes: a burguesa e a proletária”. Dessa forma, revelam mais uma vez sua ignorância sobre a teoria de Marx, que dizia em 1948: “a nossa época, a época da burguesia, distingue-se, contudo, por ter simplificado as oposições de classes. A sociedade toda cinde-se, cada vez mais, em dois grandes campos inimigos, em duas grandes classes que diretamente se enfrentam: burguesia e proletariado”(idem).

Em defesa de sua política de colaboração de classes, a direção do sindicato afirma que a “verdadeira beleza do socialismo (parece que não compreendida por esses grupos) proclamada por Marx, Lênin e Hegel, está na sua dinâmica natural de adaptações com a evolução da humanidade”. Antes de tudo é preciso que se diga que Marx e Lênin nunca proclamaram as mesmas ideias de Hegel, nem do ponto de vista filosófico e menos ainda sobre o socialismo. Duas visões de mundo absolutamente opostas os separam. Hegel era um filósofo idealista. Já Marx e Lênin eram materialistas e militantes revolucionários.

Apesar da sua concepção filosófica idealista, Hegel não via o processo de evolução como “adaptações”, mas como resultado do choque entre forças contrárias. Quanto a Marx e Lênin, basta que recordemos o que diz o parágrafo final do Manifesto Comunista, para desmontar de vez a teoria da “dinâmica natural de adaptações” da direção do Sindiágua: “Os comunistas rejeitam dissimular as suas perspectivas e propósitos. Declaram abertamente que os seus fins só podem ser alcançados pelo derrube violento de toda a ordem social até aqui. Podem as classes dominantes tremer ante uma revolução comunista! Nela os proletários nada têm a perder a não ser as suas cadeias. Têm um mundo a ganhar”.

Além do raciocínio tacanho, a direção do Sindiágua parece que sofre também de miopia, pois para eles o mundo atual é visto como “um processo histórico contínuo de racionalidade, equilíbrio, responsabilidade, paz e perfeição cada vez maiores”. Esse mundo só existe na visão torpe da direção do sindicato. Na realidade, vivemos num mundo de exploração irracional dos recursos naturais; de desequilíbrio ecológico provocado pela irresponsabilidade e pela ganância dos grandes capitalistas; de constantes guerras de rapina movidas pelo imperialismo, que ataca covardemente países como o Afeganistão, Iraque, Líbia e agora a Síria, para saquear suas riquezas naturais, investindo cada vez mais na indústria bélica, enquanto milhões morrem de fome em todo o planeta.

Mostrando sua face reacionária, a direção do sindicato condena os trotskistas por mobilizarem as massas em protestos públicos contra os “poderes constituídos”, chamando de “atos de vandalismo” as manifestações públicas e atos de protesto das massas trabalhadoras em defesa de seus direitos, contra os baixos salários e por melhores condições de vida. É esse o verdadeiro papel que cumprem os burocratas sindicais, defender as relações de exploração, a propriedade privada capitalista e o poder instituído da burguesia. Esses “socialistas” jamais admitirão que o progresso das condições materiais de vida depende da abolição das relações de produção burguesas, o que só é possível através da revolução proletária. Para eles, que afinal defendem que “um governo burguês não se derruba, muda-se”, é necessário apenas fazer algumas melhorias administrativas que em nada alteram a relação de exploração entre o capital e trabalho assalariado.

Ao ouvirem falar que os trotskistas desejam suprimir as instituições que representam o poder político da classe capitalista, ou seja, a destruição do Estado burguês através da revolução proletária, esses lacaios da burguesia concluem que desejamos também destruir os sindicatos, uma vez que atrelam os sindicatos ao Estado e, como direção sindical, não cumprem o papel de defender as reivindicações dos trabalhadores, mas sim de servir aos interesses dos patrões. Os sindicatos são organizações criadas pela lutas espontâneas da classe trabalhadora contra a exploração capitalista e os baixos salários. Nossa tarefa não é destruí-los, mas sim livrá-los das direções traidoras, dos agentes da burguesia, esses sim a verdadeira ameaça à existência dos sindicatos como instrumentos de luta da classe trabalhadora, independentes dos patões e do governo. Por isso, somos oposição à atual diretoria do Sindiágua.