quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Editorial do Jornal Luta Operária nº 245, 1ª Quinzena de Outubro/2012
PSOL: Que espécie de “partido socialista” celebra alianças com o DEM (ex-PFL), PTB (Collor), os Tucanos e o PT?

Estamos a menos de 15 dias do segundo turno das eleições municipais. O PSOL segue na disputa pelas prefeituras de Macapá e Belém. Já em 07 de outubro havia se coligado com diversos partidos burgueses na capital do Amapá. O arco de forças patronais incluía PPS, PRTB, PMN, PTC e PV, além do PCB. Agora declararam apoio ao candidato Clécio Vieira, do PSOL, ninguém menos que o DEM, PSDB e PTB. Ao discursar no ato de adesão do DEM/PTB/PSDB a sua candidatura, Clécio inclusive lançou a candidatura de Lucas Barreto (PTB) ao governo estadual em 2014, tendo a seu lado o articulador da aliança, o senador Randolfe, eleito em 2010 pelo PSOL sob as bênçãos de Sarney. Em Belém, o ex-prefeito petista Edmilson Rodrigues, tendo ao seu lado o PCdoB, PSTU e o apoio da “ecocapitalista” Marina Silva não venceu em primeiro turno como esperava e agora enfrenta o PSDB. Acabam de declarar apoio a Edmilson o PT, PV e PPL (ex-MR-8). Como observamos, este “partido socialista” celebra alianças escandalosas que vão desde o DEM (ex-PFL), passando pelo PTB de Collor e vai até o PSDB e o PT! Não resta a menor dúvida que o “critério” que leva o PSOL a se aliar a todo arco de políticos burgueses e suas legendas venais é a conquista a qualquer preço de postos no executivo e legislativo. Mas a questão é bem mais profunda. Na medida em que os principais partidos burgueses, sejam da base do governo Dilma ou da oposição conservadora, “elegem” o PSOL como aliado, sabem perfeitamente que este é confiável do ponto de vista da gerência dos negócios da classe dominante, ou seja, se vier a assumir alguma prefeitura vai atacar duramente os trabalhadores e suas conquistas. Obviamente, não estamos afirmando nenhuma novidade, mas sem dúvida houve um salto de qualidade nas relações do PSOL com os demais partidos do regime político. O mais revelador desse processo é que apesar de sua profunda integração à democracia dos ricos, os cretinos paladinos do “socialismo com liberdade” continuam a obter apoio entusiasmado dos agrupamentos que dentro do PSOL se dizem contra as alianças burguesas, com a CST e a LSR e mesmo do PSTU, que brada ser defensor da “independência política dos trabalhadores”.

Em primeiro lugar é preciso entender que o PSOL já nasceu como um partido pequeno-burguês de carreiristas profissionais de “esquerda” que perderam espaço dentro do PT e justamente por isto formaram a legenda. Suas críticas pontuais ao lulismo nunca tiveram nenhum corte de classe proletário e mais cedo do que tarde sabia-se que o PSOL iria ingressar de “corpo e alma” no jogo eleitoral burguês. Fundado em 2004, o PSOL saiu agora do 07 de Outubro com um considerável número de vereadores nas capitais e peso político para negociar com as demais legendas burguesas, já que mostrou ter viabilidade eleitoral via votação de Edmilson, Clécio e Marcelo Freixo (30%) além de outros nomes em várias cidades importantes como Fortaleza (12%) e Florianópolis (14%). Isto significa direito a ter “acesso” a financiamento dos grandes empresários e se cacifar para as eleições presidenciais de 2014, onde o PSOL deverá estar colado ao nome de Marina Silva e seu projeto político nacional de se alçar como a mais nova aposta do imperialismo para o Brasil. O anúncio feito recentemente por Heloísa Helena que sairá do PSOL no primeiro semestre de 2013 para ajudar Marina na criação de seu “novo partido” não está em contradição com os planos do PSOL. Ao contrário, Heloísa vai ser a ponte entre ambos os lados, tanto que Marina já agora apoiou diversos candidatos do PSOL pelo Brasil afora em uma articulação costurada diretamente pela vereadora alagoana e, não por acaso, prioritariamente Edmilson e Clécio já no primeiro turno. Marina, na verdade, está apoiando vários candidatos em diversas siglas, que vão do PDT ao PPS, passando pelo próprio PT, PV e PSOL justamente para depois “cobrar” a fatura.

O que chama a atenção é que grupos que se dizem “contra as alianças burguesas” dentro do PSOL estão absolutamente centralizados pela política de sua direção, hoje controlada por Ivan Valente, os parlamentares e todo um arco de “tendências” direitistas que vai da recém-dividida APS ao MTL, passando pelo MES e setores do Enlace. CST, LSR e grupos menores como o “Reage Socialista” (Rio de Janeiro), que elegeu Paulo Eduardo Gomes para vereador em Niterói, criticam apenas para consumo interno as coligações com os partidos burgueses, mas na verdade compartilham da mesma estratégia de colaboração de classes, tanto que quando podem acabam se beneficiando “por tabela” das alianças. Um exemplo disso foi o apoio entusiasta desses três grupos a campanha de Marcelo Freixo, que apesar de não estar coligado diretamente a nenhum partido burguês, recebeu o apoio “individual” de vários políticos do PV, PSB e mesmo do PSDB! Tamanha simpatia a Freixo se deu justamente porque ele encarna a esquerda domesticada a serviço do regime político burguês, basta ver sua defesa reacionária das UPPs que ocupam as favelas do Rio de Janeiro como exemplo de luta pela “cidadania”! A chamada “esquerda” do PSOL se limita a resmungar baixinho contra as alianças, mas de fato sai às ruas freneticamente em apoio aos maiores defensores desta política canalha. O Reage Socialista-Coletivo Fundador, que chamou a votar “criticamente” tanto no PSOL como no PSTU reflete bem a política oportunista desses agrupamentos. Critica os “notáveis” do PSOL, seu pragmatismo eleitoral e até mesmo o PSTU por “seguidismo” e acomodação com relação a políticas recuadas desenvolvidas pelas correntes dominantes do PSOL, mas na hora das eleições defende um programa quase idêntico ao da ala “direita” do partido e jamais critica para amplas massas as alianças escandalosas promovidas pelos Freixo e Edmilson que dominam o PSOL.

O PSTU, com a conquista de dois vereadores de capitais via suas coligações com o PSOL, agora mais do que nunca, irá se subordinar à estratégia eleitoral deste último. A direção morenista não tem porque recuar em sua inflexão à direita, ao contrário, ingressou em um caminho sem volta. A direção do PSTU em Belém se limitou a lançar “cartas” ao PSOL reclamando de aspectos pontuais da campanha, porém nunca ventilou a possibilidade de romper com a aliança com Edmilson. Agora, no segundo turno irá fazer o mesmo, apesar do apoio a este declarado pelo PT. Estas “queixas” não passaram de uma cortina de fumaça para convencer o público interno de que o partido mantém algum grau de distância do programa de colaboração de classes da minifrente popular encabeçada pelo PSOL. A estrutura política e material alcançada pelo PSOL através dos mandatos nas capitais vai incrementar ainda mais seus apetites eleitorais e o único caminho para crescer será ampliando seu leque de alianças burguesas. A esta estratégia determinada pela direção do PSOL está necessariamente colado o PSTU, ainda que finja formalmente reclamar deste curso. Tais queixas não passam de mero ilusionismo, porque o PSOL, como se provou em Belém, pode receber recursos de empresários, coligar-se com o PCdoB e ser apoiado por Marina Silva que o PSTU não rompe a aliança se esta lhe trouxer dividendos eleitorais. Neste segundo turno, mesmo o PSOL tendo o apoio do PT, DEM, PPS, PTB e até mesmos dos tucanos, o PSTU “lamentará” tais alianças, mas continuará aliado ao PSOL esperando que em 2014 seu parceiro “carnal” lhe provenha um mandato na Câmara Federal! Tanto que no editorial do Opinião Socialista (nº 451, 15/10) que acaba de ser lançado sob o título de “Uma grande vitória no terreno do inimigo”, a direção do PSTU declara: “Não aceitamos financiamento da burguesia como o PSOL. Não concordamos com o corte do ponto dos grevistas como Marcelo Freixo. Não defendemos alianças com partidos burgueses. Não aceitamos crescer eleitoralmente à custa de incorporar as práticas que já levaram o PT ao desastre atual”... Só “esqueceram” de dizer que estão aliados ao PSOL e seguirão este caminho em 2014!

O que realmente deve-se abstrair de um balanço mais geral da conduta política da “esquerda” nestas eleições e mais particularmente do PSOL é a sua completa integração ao regime democratizante, reverenciando até suas instituições mais apodrecidas e se aliando a partidos como DEM (ex-PFL) e comandados por figuras sinistras como o PTB de Collor. Já dizia um velho ditado da sabedoria popular, diz-me com quem tu andas que eu te direi quem és... O PSOL sai destas eleições totalmente comprometido com os partidos burgueses, até mesmo de direita. Se o PSTU e seus satélites, dentro e fora do PSOL, mantêm-se colados a ele é porque compartem da mesma matriz programática, totalmente oposta ao marxismo revolucionário. O velho Marx principista e rigoroso, se vivo estivesse não hesitaria em classificar a história deste partido como a repetição de uma farsa, diante da tragédia original que representou o PT para a luta de classes. Já não temos a figura de Marx em vida, porém a LBI que reivindica a herança de seu imenso legado teórico e metodológico pode aferir o grau de oportunismo político trilhado pelo PSOL, que muito distante de uma organização revolucionária que luta contra as instituições da República dos modernos barões capitalistas, se integra a qualquer custo a seu regime político senil.