domingo, 25 de novembro de 2012


A cumplicidade e o silêncio da direção do Sindiágua diante das denúncias de fraude no contrato da Cagece com a Allsan

A estreita relação de parceria entre a direção do Sindiágua e a diretoria da Cagece nunca foi nenhuma novidade para qualquer trabalhador da empresa. Uma clara demonstração dessa associação de interesses comuns ocorreu na assembleia do dia 31/05, quando a direção do sindicato deu um golpe na categoria e declarou aprovada a proposta da diretoria da Cagece e do governo Cid Gomes, contra a vontade da maioria absoluta dos trabalhadores. A cumplicidade da direção do Sindiágua com a diretoria da Cagece e o governo da oligarquia dos Ferreira Gomes, vai além da política de colaboração de classes, comum a quase todos os sindicatos do país. Tanto é verdade que durante o primeiro mandato de Cid Gomes (2007-2010), quem esteve à frente da diretoria comercial da Cagece foi o ex-coordenador geral do Sindiágua, Paulo Pequeno, que agora, novamente, faz parte da atual direção do sindicato. Como se isso não bastasse, até hoje a direção do Sindiágua tem um de seus principais membros, o ex-deputado Sérgio Novais, compondo o Conselho de Administração da empresa. Causa espanto, portanto, o suposto desconhecimento da direção do Sindiágua sobre o contrato da Cagece com a empresa paulista Allsan Engenharia, uma das principais integrantes do cartel Associação Brasil Medição, acusada na operação Águas Claras do Ministério Público de São Paulo por fraudar licitações em autarquias municipais e empresas de saneamento em vários estados do país, inclusive no Ceará.

Desde 2008 a Cagece mantém contratos com duas das empresas que integram o cartel chamado Associação Brasil Medição: a Allsan Engenharia e a Construtora Santa Teresa. De acordo com uma nota divulgada pelo ex-diretor comercial da Cagece, Antônio Alves Filho, o Cony, que pediu exoneração do cargo após ser acusado de corrupção no escândalo revelado pela operação Águas Claras, a primeira prorrogação do contrato com a Allsan ocorreu ainda em 2010 e a segunda prorrogação do contrato, em 2011, obedeceu “os mesmos procedimentos que sempre foram adotados”.

Estranhamente, o jornal do Sindiágua divulgado na base da categoria em meio às denúncias de corrupção na Cagece, não traz uma só palavra sobre o assunto. A única referência da direção do sindicato abordando superficialmente esse tema apareceu numa nota divulgada no jornal O Povo, em 14/11, onde se afirma: “como se não bastassem todos os problemas relativos à política de saneamento no Estado, agora vemos o nome da Cagece envolvido em escândalo de corrupção e fraudes em licitações que vieram a público a partir da operação Águas Claras, desencadeada pelo Ministério Público de São Paulo. Nunca, em toda a história da Companhia, se viu o nome da Cagece envolvido em um escândalo de desvio de verbas desta dimensão, o que demonstra que a empresa e os recursos públicos estão sendo usados para fins que não são o saneamento”.

Ao contrário do Sindicato dos Urbanitários do Piauí, que denunciou publicamente o contrato da Agespisa coma a Allsan, em janeiro de 2012, mesma época em que foi publicada a segunda prorrogação do contrato da Allsan com a Cagece, o Sindiágua manteve um silêncio complacente, que mais uma vez revela sua cumplicidade com a direção da Cagece e o governo Cid Gomes na má utilização dos parcos recursos públicos destinados ao saneamento. Somente agora que, não podendo mais ser abafado, o escândalo veio à tona, a direção do sindicato decidiu cobrar “o afastamento imediato dos nomes da diretoria da Cagece envolvidos nas investigações da operação Águas Claras”, esquecendo-se que, se as denúncias forem seriamente apuradas, a própria direção do sindicato poderá responder, devido a sua corresponsabilidade e participação direta nos órgãos de direção da empresa nos últimos seis anos, pela cumplicidade diante desse escândalo de corrupção.

Artigo extraído do Blog da Oposição Sindiágua/Ceará – Novembro/2012