quarta-feira, 28 de novembro de 2012


Abbas e uma ala do Hamas abrem mão da defesa do Estado palestino na ONU, suplicando que este covil imperialista aprove “status” de bantustão cercado pelo enclave sionista

Nesta quinta-feira, dia 29 de novembro, haverá a votação na Assembleia Geral da ONU para decidir se a Palestina assume o “status” de estado-observador nas Nações Unidas. Atualmente, a Autoridade Nacional Palestina (ANP) é considerada apenas uma “entidade” com direito a voz. Ao mesmo tempo, ocorrerá na mesma data a abertura do Fórum Social Mundial Palestina Livre em Porto Alegre (RS). Para ascender a esta “nova” posição, a iniciativa Palestina encabeçada por Mahmoud Abbas e avalizada pela ala Hamas ligada ao governo do Egito necessita ser apoiada pela maioria dos 193 países-membros. Países imperialistas como a França e a Espanha já anunciaram apoio à medida, enquanto os EUA, Alemanha e Israel se opõem. O Brasil e o conjunto dos BRICs apoiam a mudança de “status”. O que está por trás dessa “disputa” no covil de abutres da ONU não é a defesa da causa nacional palestina, da volta dos refugiados e da existência de um Estado palestino em seu território histórico, o que representaria contestar a própria existência do enclave terrorista de Israel. Na verdade, estamos vendo um embate por quem mantêm a influência política e econômica sobre a região, no marco que repartição das riquezas no Oriente Médio pelas metrópoles imperialistas. Neste contexto, a luta do povo palestino é parte da moeda de troca entre os bandos imperialistas, mas que entre si tem um acordo inquebrantável: impedir o nascimento de um Estado palestino pela via da destruição do enclave sionista. Não por acaso, acionaram o governo do Egito parido da (mal) chamada “Primavera Árabe” com o objetivo de negociar uma trégua entre o Hamas e Israel depois de mais de uma semana de bombardeios sobre a Faixa de Gaza, que deixou mais de 140 palestinos mortos, temendo justamente a mobilização revolucionária das massas árabes e muçulmanas que colocaria a região em luta, fortalecendo assim a posição do Irã e da Síria, alvo da investida neocolonialista!

Lembremos que em setembro de 2011, durante a reunião do Conselho de Segurança da ONU e em meio a 66ª Assembleia Geral das Nações Unidas, Mahmoud Abbas, presidente da ultracorrompida e desmoralizada Autoridade Nacional Palestina (Al Fatah), solicitou reconhecimento da ANP como Estado de “pleno direito” com assento nas Nações Unidas, sendo sua reivindicação negada. Agora, a proposta é ainda mais recuada, já que reivindica apenas ser estado-observador da ONU. O líder do Hamas no exílio, Khaled Meshaal, anunciou seu apoio à tentativa de Mahmud Abbas de obter o status de Estado observador para a Palestina na ONU. “Khaled Meshaal transmitiu em conversa telefônica com o presidente Abbas o apoio do Hamas ao processo na ONU para obter o status de Estado observador”, destaca um comunicado. Ele enfatizou “a necessidade dessa iniciativa de se enquadrar na visão e estratégia nacional para preservar os direitos da nação, com base nos bens do povo palestino, a começar pela resistência”. Ao contrário do escritório político exilado hoje localizado no Qatar depois da saída de Damasco, dirigentes do Hamas dentro da Faixa de Gaza criticaram a iniciativa de Abbas na ONU, denunciando a falta de consulta aos movimentos palestinos. O porta-voz do chefe do governo do Hamas em Gaza, Ismail Haniyeh, desmentiu em 22 de novembro ter aprovado o projeto de Abbas após conversa telefônica, como havia anunciado a agência oficial WAFA. Em compensação, em 17 de novembro, o número dois do Hamas, Moussa Abou Marzouk, exilado no Cairo, havia incitado Mahmoud Abbas a “não desistir de ir à ONU”, estimando que a ofensiva israelense em Gaza era “um aviso” israelense para desencorajar a iniciativa diplomática.

Longe de ter qualquer caráter progressista, a proposta de Abbas representava o prolongamento dos Acordos de Oslo, acrescido desta vez, com a participação de parte da direção política do Hamas para este projeto de formalização do “bantustão” palestino. Al Fatah e o setor do Hamas ligado ao governo do Cairo querem, na realidade, pressionar possíveis “aliados” internos em Israel, como o trabalhismo e a suposta “esquerda sionista” assim como a União Europeia para que tomem posição em defesa de um acordo com as direções palestinas em torno da tese dos “dois Estados”. Fazem este pedido uma vez que Netanyahu vem ampliando selvagem e violentamente à ponta de baioneta os assentamentos de colonos israelenses sobre o território da Cisjordânia, desferindo inclusive a operação “Pilar Defensivo”, o que fez as “negociações de paz” emperrarem completamente, já que a ANP “exigia” o reconhecimento de um “Estado palestino” restrito à Faixa de Gaza e à Cisjordânia. Por esta “solução”, uma ficção de Estado palestino conviveria lado a lado com a máquina de guerra sionista. Esta é a mesma “autonomia” que uma galinha teria dentro de um viveiro de raposas!

Frente à “nova” proposta vergonhosa para a Palestina assumir o “status” de país-observador da ONU, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, com o apoio do imperialismo ianque lançou a ameaça: “A ONU é como o governo das nações e estou convencido de que, como resultado da ação dos Estados Unidos em estreita colaboração com outros países, a tentativa fracassará” (G1, 25/11). Os EUA já declararam antecipadamente que está contra a medida. A Casa Branca afirma que o status do Estado palestino deve ser alcançado por meio de “negociação bilateral” e pede a volta das conversações de paz, interrompidas em 2010 em razão da expansão de assentamentos judaicos na Cisjordânia ocupada. Como se vê, o imperialismo e Israel tratam de levar a frente o plano estabelecido com o Egito via “trégua” decretada com o Hamas, porque trabalham estrategicamente com a possibilidade de uma agressão iminente ao Irã. Desejam desta forma deixar as direções palestinas presas a estre compromisso reacionário, não fazendo-lhe qualquer concessão, por mínima que seja. O Departamento do Estado ianque indicou que se a resolução for aceita não se deverá então contar com uma resposta favorável do Congresso sobre a libertação de 200 milhões de dólares de ajuda prometida por Washington à Autoridade Palestina, confrontada com a sua pior crise orçamentária desde sua criação em 1993. Já a Inglaterra afirmou que deve apoiar a proposta para que a Palestina vire um “estado observador não membro” das Nações Unidas se receber garantias de que Hamas e Fatah voltem às negociações de paz e não processem Israel no Tribunal Penal Internacional.

No Brasil, o governo da frente popular declarou seu apoio à proposta da ANP e o Fórum Social Mundial Palestina Livre irá fazer uma manifestação neste dia 29 pelas ruas de Porto Alegre (RS) em favor da reivindicação. O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), anfitrião institucional do Fórum, já declarou que o evento seguirá a política oficial do governo brasileiro de apoio à “solução dois Estados” e pela “busca da paz”, não aceitando nenhuma manifestação fora desse eixo político depois da pressão que sofreu dos sionistas no Brasil. A esquerda reformista, dentro e fora do governo, caminha por esta mesma trilha. PT, PCdoB, PSOL, MST, CUT tem hoje como princípio a defesa entusiasta deste fictício Estado, tanto é verdade que marcaram a manifestação para demonstrar seu apoio à criação desta farsa de país “soberano”. A criação de um fictício Estado palestino, tal qual propugna a ANP, é em suma, uma traição histórica à causa palestina e uma impossibilidade política, pois estará restrito a pequenas faixas estéreis de seu território original, bantustões fragmentados e sem recursos econômicos e forças armadas, enquanto os nazi-sionistas continuariam com o filão, as terras férteis, o acesso à água, a passagem para o mar e prosseguiriam com os massacres e a rapina colonialista sob as bênçãos do imperialismo ianque. Já o PSTU, que se diz a favor da Intifada palestina, apoia vergonhosamente a investida neocolonialista na região, voltada a derrubar ou desestabilizar os regimes do Irã, da Síria e o Hezbollah, justamente os principais aliados do povo palestino na região, que provem armas e logística para a resistência ao enclave sionista!

Não será a ONU, um covil de abutres responsável por autorizar a agressão imperialista à Líbia e muito menos países como França e Espanha que, junto dos EUA, apoiam os “rebeldes” pró-OTAN na Síria, que terão a capacidade de “garantir” a existência de um “Estado nacional palestino” se este continua cercado e atacado por Israel, mas a luta de seu povo contra o imperialismo e o enclave sionista através da retomada dos territórios históricos pela resistência popular. Os revolucionários defendem a existência do estado nacional palestino e não uma mera ficção político-diplomática. Portanto, a única alternativa que poderá dar uma resolução cabal à legítima reivindicação nacional do povo palestino, assim como livrar as massas e trabalhadores da região de seus gigantescos sofrimentos há mais de um século, é a defesa de uma Palestina Soviética baseada em conselhos de operários e camponeses palestinos e judeus. A expropriação do grande capital sionista, alimentado em décadas pelo imperialismo ianque, impossível de ser conquistada sem a destruição revolucionária do Estado de Israel, garantirá a reconstrução da Palestina sobre novas bases socialistas, trazendo para seu povo o progresso e a paz tão almejada durante décadas de guerra de rapinagem imperialista nesta região onde historicamente vários povos já viveram com harmonia e solidariedade.