domingo, 4 de novembro de 2012


Como o “fim do mundo” não ocorreu Obama será reeleito por acordo da elite ianque

Em meados de 2008 em pleno ápice da crise financeira norte-americana, com a falência do Lehman Brothers e o estouro da bolha imobiliária, um importante debate veio à tona nas fileiras da esquerda mundial. A esmagadora maioria das correntes políticas que reivindicavam o marxismo, e em particular com mais ênfase as revisionistas, afirmaram que a economia capitalista sucumbiria em poucos meses em função do fulminante esgotamento do imperialismo ianque. Naquela ocasião se desenhava um horizonte de falência de grandes corporações transnacionais, com destaque na gigante automobilística General Motors. Formava-se um “caldo de cultura” bastante fecundo para o surgimento das teorias marxianas “catastrofistas”, embaladas pelo espetáculo da mídia “murdochiana” que não inocentemente espalhava o pânico do “armagedon” com objetivo de uma intervenção estatal do tipo keynesiana. Nós da LBI sustentamos, muito isolados no interior da esquerda, a impossibilidade de um autocolapso do modo de produção capitalista por piores que fossem os níveis da crise econômica planetária e, na contramão da correnteza “catastrofista”, prognosticamos que na ausência da revolução socialista o império norte-americano iria lentamente se recuperar do crash financeiro, injetando uma enorme massa de capital estatal para alavancar os setores privados que amargaram enormes perdas no cassino de Wall Street. Os leninistas estávamos nos baseando na teoria científica das “ondas largas” de crescimento econômico capitalista (muito bem detalhada na obra de Ernest Mandel), que são entrecortadas por crises cíclicas de retração do mercado consumidor de mercadorias. Como Marx já havia apontado há mais de um século só existe uma única maneira do rompimento desta lógica de “pressurização” da economia capitalista, é a ação independente da classe operária apresentando um novo projeto histórico de sociedade. Desgraçadamente, a esquerda revisionista estava muito longe de apostar na ação revolucionária do proletariado, optando por profecias ufanistas do “fim do mundo” (onde previam o crescimento exponencial de suas organizações que nunca ocorreu) deixando a burguesia imperialista de “mãos livres” para operar de forma lenta e segura a recuperação econômica no “coração do monstro”.

As eleições presidenciais norte-americanas da próxima terça-feira ocorrem neste cenário pós-crash financeiro, onde todos os índices econômicos apontam uma pequena, mas consistente recuperação econômica. A taxa de desemprego passou de quase 13% em 2009 aos atuais 7,9%, um patamar ainda muito alto para os padrões ianques, mas apontando um viés de queda. O “melhor” desempenho da recuperação imperial encontra-se na variação do PIB que saiu de uma retração no terceiro trimestre de -9% para um crescimento de 2% no mesmo período deste ano. As gigantes montadoras como GM e Chrysler à beira da falência em 2008 já registram fortes lucros nominais em seus balancetes e o sistema bancário não corre risco de “contaminação” com a instabilidade das bolsas europeias. A receita do “milagre” de conta-gotas foi bem simples, o governo Obama irrigou com cerca de um trilhão de dólares as empresas capitalistas “deficitárias”, aumentando com esta iniciativa o déficit estatal orçamentário norte-americano que já ultrapassa a casa dos quinze trilhões de dólares. É importante registrar que mesmo no “olho do furacão” da crise internacional o Dólar nunca apresentou uma forte tendência de queda e os títulos de longo prazo do Tesouro norte-americano continuaram a ser o “porto seguro” dos rentistas (além dos principais bancos centrais de todo o mundo) que provocaram o “crash”, mas que nunca acreditaram na teoria do “colapso final”. Com a política de criar o “tsunami” monetário ianque, o FED recuperou a força do Dólar fazendo recuar seus principais concorrentes comerciais, como os BRICs, por exemplo.

A crise de 2008 serviu, na verdade, mais além de suas implicações econômicas cíclicas, para o imperialismo desatar uma enorme ofensiva global contra os povos oprimidos e o proletariado mundial, através da subtração de suas conquistas históricas. Neste contexto, o governo Obama foi um excelente “fiel depositário” das ações políticas e militares da burguesia imperialista ianque, merecendo, portanto, o prêmio de sua reeleição, apesar da renhida disputa com o candidato republicano Mitt Romney. Os “falcões republicanos” já tinham aberto mão da disputa real da Casa Branca quando deixaram de indicar um nome de sua fração mais belicosa, o Tea Party, no início deste ano. Com a capacidade demonstrada por Obama de levar a frente a chamada “revolução árabe”, uma operação da CIA e OTAN para derrubar governos nacionalistas burgueses da região, os comandantes do Pentágono resolveram reconduzir o partido Democrata por mais uma gestão, a espera da consolidação de uma nova liderança política neofascista no final desta década. As pesquisas dos “institutos” midiáticos, que apontam um “empate técnico” entre Obama e Romney na preferência popular (na realidade as eleições são indiretas em um colégio eleitoral de delegados) são apenas a cobertura de um regime bipartidário totalmente antidemocrático, onde o “eleito” já foi escolhido por um acordo da elite ianque.

A esquerda trotsquista (defensista) norte-americana não conseguiu unificar uma plataforma mínima revolucionária para a apresentação de uma candidatura publicitária, o que seria importante para a evolução programática de um setor da vanguarda de esquerda, infelizmente predominou mais uma vez o espírito de seita que prioriza debater “intrigas”. A falência política do movimento pequeno-burguês “Occupy Wall Street” não deu lugar a nenhuma expressão independente da juventude mais combativa, agora dispersa no apoio crítico a Obama. A tendência posta nesta conjuntura indica que a recondução da dupla Obama & Madame Clinton levará a um brutal recrudescimento da ofensiva ianque, tanto no plano interno como externo, cuja “primeira parada” será o ataque à soberania territorial iraniana. O “clube dos amigos da Síria” que conta inclusive com a participação dos renegados da LIT/PSTU, agora será reforçado com a fundação dos “amigos da democracia no Irã” , que tem já como sócio fundador o nazi-sionista Bibi Netanyahu.