sexta-feira, 9 de novembro de 2012


Direitona argentina leva meio milhão de pessoas às ruas contra CFK, revisionismo pede seu ingresso neste bloco reacionário!

A Argentina voltou a ser palco neste dia 08 de novembro de manifestações contra o governo de Cristina Fernandez Kirchner (CFK), impulsionadas por setores de direita com o apoio de parte dos meios de comunicação como o arquirreacionário Clarín e La Nación. Os protestos foram maiores que os “cacerolazos” de 13 de setembro, o que demonstra que está avançando a campanha pelo desgaste do governo que se diz “nacional e popular”, acusado de copiar medidas “autoritárias” adotadas pelo chavismo na Venezuela. Os revisionistas do trotskismo mais descarados, como a Izquierda Socialista, participaram entusiasticamente do protesto enquanto seus sócios na FIT (PO e PTS) chamaram um apoio envergonhado ao “cacerolazo” que tomou às ruas de Buenos Aires e outras cidades do país, buscando um passaporte com coloração mais “à esquerda” para ingressar neste bloco reacionário. Os eixos políticos da manifestação foram uma clara resposta da direita à aprovação da “Ley de Medios” marcada para entrar em vigor em 7 de dezembro. Tanto que entre os cartazes erguidos por alinhadas senhoras portenhas podia-se ler “liberdade”, “imprensa livre”, “respeito”, “não à corrupção”, “Cristina renuncie já”, “Abaixo a ditadura K”, ou seja, demandas políticas próprias da alta classe média insuflada por setores burgueses que não estão satisfeitos com o governo de Cristina e suas iniciativas populistas, principalmente devido às medidas como a estatização da YPF, um maior controle institucional dos meios de comunicação, o controle do câmbio e a aprovação da revisão constitucional que permitiu o voto opcional aos dezesseis anos. A demonstração de força da direita, que colocou meio milhão nas ruas e agrupou um amplo espectro político (Macri e sua coalizão direitista - PRO, De la Sota, De Narváez, ou mesmo a UCR, grupos neonazistas, Igreja conservadora, “sojeros” da Sociedade Rural e da Federação Agrária...) em muito se assemelha às “marchas da família com Deus pela liberdade” ocorridas no Brasil contra o governo de João Goulart em 1964... Qualquer semelhança não é mera coincidência!

O fato de a manifestação ser encabeçada por políticos opositores de direita, como Macri e De Narváez, não intimidou os revisionistas, afinal de contas estão acostumados a fazer alianças “táticas” com a reação, vide a unidade com os mercenários rebeldes pró-OTAN no Oriente Médio. A Izquierda Socialista (CST/PSOL no Brasil) logo aderiu à iniciativa: “Como em setembro, milhares estão usando o 8N para expressar sua revolta contra o governo. Será certamente outra expressão importante da classe média, junto com os setores populares contra a inflação e manipulação marca Indek, a corrupção, a impunidade, a insegurança, o abuso da propaganda oficial. O governo, diante da nova expressão nas ruas, através de Anibal Fernandez, disse: ‘O 8N é uma invenção de uma facção de extrema direita paga’. Tudo para desacreditar as justas exigências, tentando criar confusão, impedindo que milhares de novo se mobilizem contra as suas políticas” (El Socialista, 07/11). O que este canalhas não dizem é que as “exigências” dos que impulsionam os protestos são, na verdade, uma cruzada reacionária pelas supostas “liberdades” ainda maiores para os grandes grupos capitalistas e que agora contam desgraçadamente com o suporte político de uma esquerda revisionista absolutamente degenerada e corrompida ideologicamente! Já a CS argentina (associada ao MR no Brasil) nos deseja fazer crer que “mais além da participação política da oposição de direita, o protesto não expressa um ‘giro reacionário’ como caracterizam os bajuladores do governo, que o associam a Macri, Alfonsín, De Narvaez, Cecilia Pando, Sociedade Rural e os nazistas de Biondini. Portanto, a caracterização de ‘conspiração gorila’ é uma manobra para camuflar o governo como progressista ...! Como fosse progressiva alterar a já funesta lei de ART ou ‘re-nacionalizar’ parte da YPF”. A CS defende fortalecer o campo político dos privatizadores para criticar os limites da “estatização” da YPF, da mesma forma que se posta ao lado dos “amigos da Síria” auspiciados pela Madame Clinton para derrubar o regime “totalitário” de Assad! Apesar de não nutrirmos a menor simpatia política pelo governo burguês de CFK, ainda mais no momento em que este comprime os salários da classe trabalhadora através de um pacote de novos impostos, jamais nos uniremos à escória direitista como Macri, De Narvaez ou o grupo Clarín para “derrubar os K”, com métodos típicos do fascismo clerical, em sua cruzada contra o “comunismo e por liberdade”. Na verdade, ao se postaram até mesmo à direita de um governo burguês como o de Cristina Kirchner, os revisionistas mostram que perderam completamente qualquer noção de classe, repetindo a mesma “santa” aliança imperialista realizada na Líbia e na Síria contra governos nacionalistas burgueses. O combate aos ataques de Cristina ao movimento operário e sua política de colaboração de classes não se dará no terreno do apoio às iniciativas da direita, abdicando da completa independência política dos trabalhadores, mas denunciando justamente que estes “cacerolazos” patrocinados por setores de alta classe média, os “sojeros” da classe dominante rural e Clarín não são uma alternativa ao populismo de Cristina. Combatendo a direita reacionária estaremos forjando as condições para superar os “nac e pop” do kirchnerismo!

O mais tragicômico do que vem ocorrendo na Argentina é a posição do grupo El Militante ligado a Alan Woods (Esquerda Marxista/PT no Brasil) que na Líbia foi vanguarda no apoio aos “rebeldes” pró-OTAN e que agora ensaia uma “mea culpa” na Síria por pressão de sua relação corrupta com o chavismo. Já que chamou o voto em Cristina nas eleições presidenciais critica a conduta da esquerda em geral e dos outros membros da família revisionista em particular que tem a mesma posição na Argentina que a adotada pela própria CMI no Oriente Médio de aliar-se ao imperialismo contra regimes nacionalistas. Nos alerta El Militante sobre “O papel vergonhoso da oposição de ‘esquerda’: nos parece lamentável a posição de alguns setores da esquerda e do movimento sindical que parecem confusos e entrelaçados com os piores inimigos da classe trabalhadora, para sua maior vergonha e desgraça, quando colocam o governo como principal inimigo, enquanto permanecem em silêncio diante dos empresários e da oposição de direita. Tal é a política ‘operária’, ‘progressista’ ou de ‘esquerda’ de gente como Moyano e Micheli, do FAP de Binner e De Gennaro, do Projeto Sur de Pino Solanas, ou da FIT do PO e PTS. Quase todos eles, junto com o MST, o PCR e setores da FIT como a Izquierda Socialista, chegaram tão longe em sua degeneração política em apoiar os cacelorazos e mobilizações reacionárias impulsionadas pela direita e setores pró-golpistas. O mesmo papel pernicioso jogaram muitos deles no ‘conflito do campo’, onde se alinharam com os latifundiários da Sociedade Rural. E estas senhoras e senhores têm o descaramento de se indignar quando acusados de serem funcionais à direita...”. O “detalhe” é que El Militante aplicou na Líbia a mesma política que agora corretamente critica na Argentina! De fato, a manifestação foi gigantesca, levando meio milhão de pessoas às ruas, tanto que arrastou consigo vários setores que se dizem de esquerda e não por acaso quase todo o espectro daqueles grupos pseudotrotskistas que na Líbia e na Síria se postaram ao lado dos “rebeldes” contra as “ditaduras sanguinárias” de Kadaffi e agora Assad. O móvel político é o mesmo que o pregado na fantasiosa “revolução árabe”: aliar-se a setores sociais ligados ao imperialismo para desestabilizar governos burgueses que tenham algum grau de fricção com o amo do norte. Por mais incrível que pareça, os grupos revisionistas chegaram a esse ponto, em uma expressão política do grau de retrocesso ideológico que impera entre essas correntes após 20 anos da derrota histórica sofrida na URSS, não por acaso também saudada como um acontecimento revolucionário por estas mesmas organizações políticas que hoje veneram a democracia burguesa!

Cabe alertar que o PO e o PTS prestaram um apoio envergonhado ao “cacerolazo”, limitando-se a lamentar a ausência de uma intervenção “classista” estratégica dos setores que se reclamam de esquerda ao governo CFK e, mais precisamente, da própria FIT de conjunto. Desta forma, PO e PTS, pedem seu ingresso neste bloco reacionário já integrado pela IS ao pintar o “cacerolazo” como algo progressivo ainda que limitado: “A véspera do 8N transcorreu em meio a um completo silêncio das centrais operárias de oposição. O anúncio iminente de uma greve para a terceira semana deste mês, se ocorrer ficará para depois do cacerolazo. É evidente que Micheli e Moyano deixaram que o 8N - e os blocos políticos que o impulsionam – estabeleçam o marco político de uma futura greve geral e não vice-versa. O cacerolazo de quinta-feira ganhará massividade porque está montado em um conjunto de queixas populares, incluindo aquelas que afetam a classe operária como o imposto sobre o salário ou a redução dos abonos de famíliares. Mas não repudiou aos Macri, não De la Sota ou Binner que atacam a maioria do povo tal como o Kirchenerismo... A Frente de Esquerda tem a responsabilidade de postular-se como alternativa de conjunto, introduzir uma delimitação política em torno dos interesses históricos dos trabalhadores - em vez das exigidas pela agenda dos capitalistas” (site PO, Às vésperas do cacerolazo, 8/11). PO defende a piada que a FIT intervenha em um movimento de direita e o transforme em uma “revolta popular” ou um “argentinazo” quando, na verdade, o que vemos é justamente a direita e os setores econômicos a ela associados avançarem para impor ao governo o retrocesso em medidas que limitadamente afetam seus interesses em benefício de grupos burgueses aliados de CFK. Daí seu apoio “crítico” ao movimento da direitona. Já o PTS, sempre mais escorregadio, lançou justamente em 8 de novembro o artigo “Nem com Cristina, nem com a oposição patronal” aparentemente tentando manter certa distância dos “eixos” do cacerolazo da direita. Porém, quem se der ao trabalhado de ler atentamente ao artigo verá que adota a mesma linha de conselheiro como fez o PO ao declarar: “A convocatória do 8N não suscita qualquer demanda sentida pelos trabalhadores e setores populares (embora alguns indivíduos isolados falem de 82% móvel). Embora criticando o governo, nada se diz da oposição tão antitrabalhadora e antipovo como o Kirchnerismo... Queremos que a classe trabalhadora e o povo pobre pensem na vida nacional com suas próprias demandas. Desde a esquerda classista lutamos para que a saída seja dada pelos trabalhadores” (site PTS, 8/11). Em resumo, trocam-se as palavras, mas se adota a mesma política de intervir para que os “rebeldes” da direita argentina empunhem as demandas dos trabalhadores!

O movimento operário classista argentino deve compreender toda a complexidade da conjuntura aberta com o fato da direitona ter levado meio milhão de pessoas às ruas contra CFK e vergonhosamente o revisionismo trotskista em sua maioria esmagadora saudar entusiasticamente o “cacerolazo” da direita (IS, CS) ou pedir seu ingresso nesta cruzada reacionária (PO e PTS) propondo-lhe um suposto “programa revolucionário”! Os genuínos revolucionários declaram abertamente que não será entrando pelas portas dos fundos destas mobilizações direitistas de “massas” que os trabalhadores construirão uma alternativa política classista e revolucionária a CFK, sua política de colaboração de classes e o seu populismo. A tarefa de construção de um genuíno partido operário revolucionário se coloca na ordem do dia, diante do recrudescimento da ofensiva da direita na Argentina, Honduras, Paraguai e mesmo na Venezuela, sanha apoiada diretamente na atual ofensiva imperialista sobre os povos do planeta e mais particularmente no Oriente Médio e no norte da África, uma cruzada nefasta para os interesses imediatos e históricos do proletariado que desgraçadamente é apoiada pela mesma canalha revisionista que na Argentina saúda as marchas reacionárias da direita.