terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Leia o Editorial do Jornal Luta Operária nº 250, Janeiro/2013
Burguesia isola Lula e bate o martelo: Dilma “eleita” para 2014!
 
Como diz um salmo bíblico muito utilizado na política: “Depois da tempestade vem sempre a bonança”, assim poderia ser resumida a situação do PT (por consequência do próprio governo Dilma) após a saraivada de ataques sofridos no último período do ano passado. Com a “rendição” de Lula após assistir passivo a “degola” de seus companheiros da “Articulação” e ver atônito seu nome quase arrastado para as barras de um tribunal regional (tucano) com a operação policial “Porto Seguro”, veio enfim a “bonança”,conquistada sobre os “cadáveres” políticos da antiga direção petista. O “cachimbo da paz” foi celebrado pelo novo “cacique” do poder estatal, ou seja, a presidente Dilma, que sempre esteve nos bastidores do STF para garantir aos “ministros” togados todo respaldo do Planalto às ações arbitrárias contra Dirceu e seu grupo político. Obviamente que a ofensiva burguesa reacionária contra o PT não partiu unicamente da anturragem Dilmista, teve como mentores a família Marinho e os representantes mais legítimos do capital financeiro internacional no país, interessados na retomada do processo de privatizações, barrado parcialmente pelos “capos” da Articulação. Nos oito anos do governo Lula “apenas” o BEC foi privatizado e a reforma da previdência realizada no início da gestão foi considerada “insuficiente” pelos investidores de Wall Street. A ex-“poste” Dilma (neopetista) ao contrário dos “velhos camaradas” se mostra simpática a uma política mais agressiva de “abertura” da economia, já tendo criado um bilionário fundo de pensão dos servidores públicos federais (sob encomenda do mercado), sem ter chamado muita atenção, além de impulsionar um audacioso programa de privatizações de aeroportos e demais equipamentos públicos de infraestrutura. Com sua “carta de intenções” neoliberal para um segundo mandato, Dilma galvanizou apoios na burguesia ianque para “isolar” as pretensões de Lula para retornar ao Planalto, descumprindo assim o acordo firmado em 2010, utilizando o espetáculo dantesco do julgamento do chamado “mensalão” como balizador para forçar a aposentadoria política precoce de Lula. Logicamente que a doença inesperada de Lula, deixando-o “fora de combate” por alguns meses e semeando incertezas sobre a gravidade de sua lesão, facilitou a movimentação “traiçoeira” da presidente neopetista em direção às exigências da mídia “murdochiana” e seus provedores de Washington.
 
A tranquila e folgada eleição dos chefes do PMDB para as presidências da Câmara e Senado Federal, com o apoio resoluto do Palácio do Planalto não deixa dúvidas acerca da estabilidade política conquistada pela “gerentona” Dilma após o tumultuado período da farsa midiática que pariu o novo “herói nacional”, Joaquim Barbosa. A liderança do PT no Senado foi orientada pessoalmente por Dilma a abrir mão de uma candidatura própria à presidência da casa, mesmo tendo direito ao cargo (segunda bancada depois do PMDB) em função de uma negociação realizada envolvendo a troca do comando da Câmara dos Deputados. O governo neopetista pretende “engordar” o PMDB no parlamento além de conceder a candidatura ao governo paulista a Michel Temer, liberando assim o posto de vice-presidente a uma indicação vinda do PSB. Desta forma teríamos uma reeleição presidencial folgada sem uma “disputa pra valer”, já que a oposição Demo-Tucana não reúne chances reais de vitória, deixando para 2018 a possibilidade concreta de entrar em vigor a “cláusula da renovação democrática”, tão reclamada pelo Departamento de Estado dos EUA.
 
Parece mesmo que a Lula não será dada nem mesmo a chance de disputar o governo de São Paulo, não que tenha perdido o controle total do PT no estado, mas em função de ainda estar sendo chantageado pelo procurador geral Roberto Gurgel (através do escroque Marcos Valério) e também pelo comando da PF (via Planalto) e sua operação fajuta “Porto Seguro”. Neste cenário “mineiro” onde os atores políticos se movimentam através de “manobras de bastidores”, a burguesia mantém como “trunfo surpresa”, caso Dilma não consiga disciplinar inteiramente o “velho” PT, seu novo “pop star” midiático poderá entrar em cena para protagonizar um embate muito duro com o PT. É preciso deixar absolutamente claro que na pugna intestinal entre as duas alas petistas não há diferenças de fundo programático e tampouco corte de classe. Trata-se de discrepâncias de ritmos e das relações comerciais com a própria burguesia, além das pressões exercidas diretamente pelo movimento sindical sobre os dirigentes da “Articulação” corrente ainda hegemônica no PT.
 
O Brasil atravessa uma etapa de relativa expansão econômica, com os menores níveis de desemprego dos últimos dez anos e uma forte massa de crédito, potenciando desde os “microempreendedores” até os grandes investimentos capitalistas. A capacidade estatal de fomentar a economia nacional, através de uma folgada reserva monetária adquirida anteriormente com o “boom” do preço das commodities, em um período de recessão mundial é produto da colocação do país na divisão internacional do trabalho e do nosso próprio mercado interno. Apesar dos prognósticos “catastrofistas” acerca da pífia evolução do PIB em 2012, nossa poupança interna bateu recordes de captação, fazendo crescer o fluxo de entrada de capitais internacionais interessados na estabilidade social do país. Hoje podemos afirmar que a âncora econômica do Brasil não depende exclusivamente de sua balança comercial, ou melhor dizendo, da cotação de nossas commodities agrominerais no mercado mundial. O crescimento de um poderoso mercado interno, envolvendo economias nacionais vizinhas, dependentes de nossa posição de “entreposto” comercial do imperialismo na América do Sul, concede uma grande “gordura” cambial ao governo que passa a manejar grandes recursos em Reais para injetar na economia. Não estamos de forma alguma imunes à crise estrutural do capitalismo globalizado, mas o fato real de qualquer “pequeno comerciante” com o CNPJ “limpo” conseguir com facilidade um empréstimo de no mínimo 100 mil Reais em um banco da rede pública empresta a presidente Dilma uma enorme popularidade eleitoral que só idiotas revisionistas (iludidos com suas possibilidades parlamentares) teimam em negar.
 
Enquanto os governos da frente popular (Lula e Dilma) estabeleceram fundamentalmente sua base nos setores sociais “ascendentes”, ambos tem em comum a mesma política de arrocho salarial, lastreada na concepção neomonetarista levada a cabo pelos ministros Palocci e Mantega. Isto confere a este “tipo” de gerência estatal uma completa confiança por parte das classes dominantes, que tem a certeza que nenhuma ala do PT está disposta a romper “contratos” para beneficiar minimamente a classe trabalhadora. Com um salário mínimo miserável e vários programas de assistência social nomeados cinicamente de “transferência de renda”, como o “Bolsa Família”, Dilma vem publicitando a iminência da eliminação da pobreza extrema, agradando com esta demagogia grupos capitalistas que temem por uma radicalização da luta de classes.
 
O “pacto social” implícito é na verdade a essência do êxito político das duas gestões petistas a frente do Estado burguês, este modelo de gerência capitalista já mostra os primeiros sinais de fadiga, mas pela ausência de uma alternativa burguesa ao PT de um lado e pela fragilidade da classe operária por outro, o imperialismo deseja seguir com Dilma até 2018. A vontade popular e o próprio resultado legítimo das urnas são apenas um detalhe para as classes dominantes, que tem no instrumento da urna eletrônica um verdadeiro “corretivo mágico” para qualquer decisão soberana da população. Este é conteúdo real do regime da democracia dos ricos, onde um pequeno “conselho diretivo” das oligarquias regionais tem o poder de decisão da nação. Para assegurar a vigência da própria democracia burguesa, o proletariado não poderá ficar atado às “regras” de uma institucionalidade corrompida, somente a expropriação dos atuais monopólios de comunicação e a extinção da “urna robotrônica” como primeiras medidas básicas poderiam garantir a realização de uma eleição minimamente “democrática”, e que mesmo assim a vontade popular ainda se revelaria de maneira deformada, como já demonstrou nosso “mestre” Lenin em sua magnífica obra teórica.
 
Como a democracia burguesa é sempre um jogo de cartas marcadas, a classe operária, através de sua vanguarda política, deve superar as ilusões programáticas neste regime historicamente esgotado. Os marxistas-leninistas não devem temer a denúncia vigorosa da fraude de um processo eleitoral corrompido, esclarecendo as massas que a burguesia já bateu o martelo “elegendo” antecipadamente a gerentona Dilma, para servir aos interesses do imperialismo e seus vassalos tupiniquins. Preparar a resistência das massas à ofensiva reacionária em curso e organizar a ação direta do proletariado para forjar no calor da luta seu próprio projeto de poder, será a principal tarefa revolucionária no horizonte mais imediato da luta de classes.
 
LIGA BOLCHEVIQUE INTERNACIONALISTA