quarta-feira, 3 de abril de 2013



Paraguai: Depois de derrubar Lugo e assassinar Oviedo, burguesia vai “empossar” narcotraficante apoiado pela Casa Branca!
Em julho de 2012 o Paraguai era manchete de Jornais e da TV no mundo inteiro devido ao golpe perpetrado contra o presidente Fernando Lugo. Hoje, às vésperas das eleições presidenciais, pouco se escuta falar desse pequeno país lantino-americano, totalmente dependente da economia brasileira. De lá para cá, em fevereiro deste ano, foi assassinado via “acidente” de helicóptero, o ex-general Lino Oviedo, que esteve asilado no Brasil e era candidato a presidente. O que se passa hoje no Paraguai? Os governos da centro-esquerda burguesa que tanto “reprovaram” em palavras o “impeachement sumário” contra Lugo, atualmente avalizam um acordo com os dois principais partidos conservadores (Colorado e Liberal) que concorrem com chances reais ao pleito, na verdade uma disputa por quem tem a preferência de seu amo do norte instalado na Casa Branca. As variações das manipuláveis pesquisas de intenções de voto não permitem apontar com segurança a vitória de um candidato nas eleições presidenciais marcadas para o dia 21 de abril. Entretanto, o controle do botim estatal deverá ficar com Horacio Cartes, do Partido Colorado. Dono de 26 empresas, a maioria delas do setor de tabaco, ele é acusado de ligação com o narcotráfico e lavagem de dinheiro, tendo sido investigado por contrabando de cigarros. Já Efraín Alegre, do Partido Liberal do atual presidente golpista Frederico Franco, tenta conquistar a posição, mas não deve ter sucesso porque as FFAA estão em peso com o Partido Colorado. Os “herdeiros” de Fernando Lugo (que concorre vergonhosamente a uma vaga no Senado) estão longe na disputa, em uma demonstração clara que o governo Dilma, que poderia ter influência na “escolha” do futuro presidente devido ao peso da economia brasileira no Paraguai, abriu mão de tal possibilidade em nome de manter as “boas” relações com o imperialismo ianque, que hoje volta com força a ter o controle do cenário político paraguaio. Horacio Cartes e Efrain Alegre são os preferidos da embaixada ianque em Assunção para ocupar o governo, já que representam o narcotráfico, o contrabando, a corrupção, o neoliberalismo, as transnacionais e a oligarquia agroexportadora e pecuarista.

O Partido Colorado deve voltar ao governo após a derrota de 2008, quando a eleição de Fernando Lugo pôs fim a 61 anos de governos ininterruptos da agremiação, 35 dos quais sob a ditadura militar. Por sua vez, o Partido Liberal busca se manter na presidência que controla depois do golpe, já que Lugo tinha sido eleito sob a base de uma composição (Aliança Patriótica) com o tradicional Partido Liberal, um dos braços políticos da oligarquia fundiária. A chamada “esquerda paraguaia” chega ao pleito totalmente dividida, devido a desmoralizante política de Lugo e da centro-esquerda burguesa. O candidato que aparece mais bem colocado nas pesquisas é Mario Ferreira, do Movimento Avança País, um jornalista e âncora de programas de televisão que defende a continuidade das políticas assistencialistas de Lugo. Entretanto, ele não conta com o apoio do ex-presidente. Lugo, que concorre ao Senado, integra a Frente Guaçú, cujo candidato é o médico Anibal Carrillo. Também disputam a eleição Lilian Soto, do Movimento Kuña Pyrendá, e Lino César Oviedo, da União Nacional dos Cidadãos Éticos. Este último é sobrinho homônimo de Lino Oviedo, que seria o candidato do partido. Não há segundo turno no país.
Como prova de que a centro-esquerda burguesa e seus governos trabalharam para não haver resistência ao golpe, o país foi simplesmente suspenso do Mercosul e agora, depois das eleições, até essa leve “penalidade” será suspensa. Essa “acomodação burguesa” se impôs porque para barrar o golpe em 2012 Lugo, com o apoio de seus aliados no continente, teria que mobilizar os trabalhadores em luta direta contra os latifundiários e o conjunto da burguesia, que inclusive se encontravam ocupando postos chaves em seu governo de colaboração de classes. Lugo e os governos da Unasul, particularmente do Brasil, foram contra essa perspectiva que, sem dúvida, derrotaria o golpe e abriria uma situação revolucionária no país, porque mais cedo do que tarde o movimento de massas questionaria a própria política de conciliação de classes do ex-“bispo dos pobres”. Não por acaso, a Polícia Nacional de Lugo, em seu último ato como presidente, foi responsável pelo massacre de Curuguaty, que deixou 11 sem-terras (carperos) sem vida quando faziam a resistência armada à desocupação do megalatifundio de um ex-senador do próprio Partido Colorado.
O máximo que a Unasul declarou à época foi sua oposição formal ao rito sumaríssimo da votação que destituiu Lugo, já que buscou uma saída de consenso com a direita, acordo hoje cristalizado nas eleições de 21 de abril. Os chanceleres da Unasul queixaram-se da ausência de um “processo justo”, o que em última instância acabaria por legitimar o golpe, já que os partidos Colorado e Liberal tem a esmagadora maioria do Congresso e resolveram atuar de forma fulminante temendo a reação popular. Orientado pelos governos da centro-esquerda burguesa, Lugo aceitou imediatamente a imposição do golpe porque tanto a burguesia paraguaia como os membros da Unasul tinham uma preocupação comum: impedir a entrada em cena do movimento de massas e de sua vanguarda classista que poderiam iniciar a resistência, avançando para a expropriação das terras e questionando o próprio poder burguês e suas instituições apodrecidas, como o parlamento corrupto. 
O quadro eleitoral do Paraguai hoje demonstra a impotência política da centro-esquerda para enfrentar a burguesia quando esta se lança decididamente para trocar seus gerentes de plantão, como agora no Paraguai ou anteriormente em Honduras. Lembremos que o próprio golpe militar na Venezuela em 2002 só não foi vitorioso porque não havia unidade no interior da própria classe dominante e nas FFAA. Ainda assim, Chávez voltou ao governo ainda mais tutelado pelo alto-comando das FFAA e pregando a “reconciliação nacional” com os golpistas. Na verdade, a Unasul desejou posar de “defensora da democracia” buscando um acordo institucional com a direita porque teme que governos de centro-esquerda mais frágeis, como o de Rafael Correa no Equador, sejam alvos de novas investidas desestabilizadoras. Esse quadro continental se torna ainda mais delicado com a morte (assassinato) de Chávez. Neste momento em que a burguesia paraguaia vai confirmar eleitoralmente o retorno da direita mafiosa ao governo e ampliar sua ofensiva reacionária diretamente sobre os trabalhadores e suas lideranças, é necessário encabeçar um processo de mobilização independente, boicotar o proceso eleitoral fraudulento e lutar por superar no curso do combate nas ruas, nos locais de trabalho e estudo a política de Lugo e da centro-esquerda burguesa do continente!