sexta-feira, 13 de setembro de 2013


Obama recua temporariamente da agressão militar diante da fragilidade dos “rebeldes” em terra! É hora de organizar mobilizações anti-imperialistas em defesa da Síria!

O imperialismo ianque recuou temporariamente da agressão militar a Síria. A fragilidade dos “rebeldes” pró-OTAN em terra, que vem sofrendo derrotas acachapantes nos últimos meses, acabou por aprofundar a divisão interna dos grupos mercenários, cenário pantanoso que forçou a Casa Branca a suspender o ataque e sentar a mesa para discutir a proposta apresentada pela Rússia de que Assad entregue seu arsenal de armas químicas para a ONU. Por outro lado, a oposição popular a ação militar dentro do próprio EUA e na Europa deixou a Casa Branca receosa de seguir em sua aventura bélica, como se viu no veto do parlamento inglês para o governo Cameron apoiar a intervenção militar ianque. Por conta destes revezes, nesta sexta-feira, 13/08, o secretário ianque Jonh Kerry e ministro das relações exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, se reuniram junto com o mediador internacional para a Síria, Lakhdar Brahimi, para analisar a proposta de Putin de que o governo Bashar Al-Assad entregue o controle do arsenal químico sírio para a “comunidade internacional”. Muitas correntes políticas que apoiam a Síria, particularmente ligadas ao stalinismo e ao nacionalismo burguês, se mostraram simpáticos à proposta russa, já que ela conseguiu adiar temporariamente a agressão militar imperialista prevista para ocorrer nesta semana. Este espectro político chegou a declarar que Putin havia aplicado um “xeque-mate” em Obama. Ainda que consideremos que a iniciativa russa não passe de uma manobra para ganhar tempo ou mesmo que ao final das negociações Assad não venha a entregar todo seu arsenal de armas químicas, os trotskistas revolucionários que defendem a nação oprimida síria frente a iminente agressão imperialista compreendem que esta avaliação exitista não corresponde à realidade dos acontecimentos. Não nos opomos que o governo sírio e seus aliados burgueses lancem mão de medidas políticas e diplomáticas para impedir o ataque dos EUA e de seus parceiros da OTAN. Entretanto, compreendemos que a entrega integral das armas químicas sírias para a ONU de forma alguma é o melhor caminho para barrar a ação militar ianque, ao contrário, esta concessão político-militar pode permitir que o enclave sionista de Israel, que poderia ser alvo de um ataque de armas químicas da Síria, sinta-se ainda mais fortalecido para incrementar as provações contra o próprio território sírio e o povo palestino, impondo uma derrota ainda mais profunda aos seus adversários na região. Para se opor ao isolamento provocado pela odiosa e mentirosa campanha da mídia “murdochiana”, repetida pelos papagaios revisionistas do trotskismo, de que foi o governo Assad o responsável por lançar um ataque químico na periferia de Damasco, defendemos que o caminho justo para a luta em defesa da soberania nacional síria é justamente a ampla denúncia da farsa montada pelo imperialismo e seus “rebeldes”, chamando a solidariedade internacional dos trabalhadores e das nações oprimidas, assim como unidade militar em torno da defesa da Síria. Efetivamente há no planeta um amplo sentimento de rechaço a possível agressão dos EUA a Síria, entretanto faz-se necessário estimular esta tendência política não para o pacifismo pequeno-burguês como temos vista em várias manifestações “pela paz” ou em favor de uma “transição política” (que de fato signifique a rendição da Síria), mas para impulsionar a luta internacionalista do proletariado mundial no sentido da defesa da nação oprimida contra os “rebeldes”, o imperialismo ianque, Israel e as petromonarquias árabes! No caminho oposto ao apresentado por Putin, os marxistas revolucionários defendemos incondicionalmente o direito da Síria a utilizar todos seus recursos militares (convencionais ou não) em resposta a agressão imperialista à soberania de seu território, inclusive as armas químicas contra o enclave sionista de Israel!

A proposta russa veio à tona depois que o secretário ianque Jonh Kerry afirmou em entrevista que “Assad poderia entregar cada uma de suas armas químicas à comunidade internacional ainda essa semana. Entregue. Entregue tudo. E sem demora. E permita total transparência. Mas é claro que ele não fará isso, nem a coisa pode ser feita, é óbvio”. Obviamente a fala de Kerry demonstrava o temor da Casa Branca em dar curso a sua aventura militar com os “rebeldes” completamente carentes de apoio popular e debilitados no terreno militar. Imediatamente Israel apoiou a proposta de planos para pressionar a Síria a entregar suas armas estratégicas, o que, é claro, deixaria a Síria sem meios para retaliar contra ataques sionistas e impediria que estas armas caíssem futuramente nas mãos de grupos islâmicos caso Assad viesse a cair. Em seguida o ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, declarou “Já encaminhamos ao Ministro sírio de Relações Exteriores o oferecimento para que a Rússia trate dessa transferência das armas químicas, e esperamos receber resposta rápida e positiva. E estamos preparados para trabalhar imediatamente com Damasco”, sendo a proposta aceita pelo pressionado e isolado governo Assad. Apesar de defendermos a unidade de ação com o governo sírio para combater a agressão imperialista, com total independência política diante do regime Assad, não temos qualquer acordo com as decisões anunciadas por Damasco diante da pressão russa, tanto que na reunião do Comitê em defesa da Síria realizada em São Paulo no último dia 10/08 expressamos publicamente nossas diferenças. Uma prova de que a proposta russa só enfraquecerá a resistência síria a futura agressão imperialista se revela a partir das próprias declarações do secretário-geral da ONU, o ventríloquo ianque, Ban Ki-moon. Nesta sexta-feira, 13/09, ele afirmou “Acredito que o relatório será um relato esmagador, esmagador, de que as armas químicas foram usadas, embora eu não possa dizer isso publicamente antes de receber o relatório”. Ban Ki-moon acusou o regime sírio de ter cometido “muitos crimes contra a humanidade”. O relatório da equipe de inspetores-espiões de armas químicas da ONU, liderada pelo sueco Ake Sellstrom, será divulgado na próxima semana, vai determinar se armas químicas foram usadas no ataque de 21 de agosto nos subúrbios de Damasco e deve acusar o governo Assad de ser responsável por tal ataque. Na verdade armas químicas letais fabricadas pelos EUA foram utilizadas por grupos ligados a Al Qaeda no sentido de incriminar o regime Assad pela morte de crianças e mulheres, um total de 1400 vítimas fatais. Não por coincidência, alguns dias antes dos covardes atentados terroristas desembarcava em Damasco uma equipe de inspetores da ONU com a “missão” de inspecionar a utilização de armas químicas na guerra civil síria. Um pequeno “detalhe”: Ake Sellstrom foi o mesmo líder do seleto grupo de inspetores de armas químicas da ONU no Iraque, ou seja, o responsável por criar tecnicamente a farsa acerca da existência das armas de destruição em massa iraquianas que foram usadas de pretexto para os EUA atacarem o regime de Sadam Hussein...

Vale a pena citar parte do extenso artigo de Putin “Um apelo por cautela, da Rússia” publicado no The New York Times nte dia 11/08 para ter a dimensão da proposta russa. Segundo ele, “Desde o princípio, a Rússia defendeu um diálogo pacífico que permitia aos sírios desenvolver um plano de compromisso para o seu próprio futuro. Não estamos protegendo o governo sírio, mas o direito internacional. Precisamos usar o Conselho de Segurança da ONU e acreditar que preservar a lei e a ordem neste mundo atual complexo e turbulento é uma das poucas formas de impedirmos que as relações internacionais resvalem para o caos. A lei ainda é a lei, e precisamos segui-la, quer gostemos ou não. Ninguém duvida que o gás venenoso foi usado na Síria. Mas há todas as razões para acreditarmos que não foi usado pelo Exército sírio, e sim pelas forças da oposição, para provocar uma intervenção dos seus poderosos patronos estrangeiros, que estariam tomando o lado dos fundamentalistas. Denúncias de que os militantes estão preparando um novo ataque, desta vez, contra Israel, não podem ser ignoradas.. Os Estados Unidos, a Rússia e todos os membros da comunidade internacional precisam aproveitar a disposição do governo sírio para colocar seu arsenal químico sob o controle internacional para a subsequente destruição. A julgar pelas declarações do presidente Obama, os EUA veem [esta medida] como uma alternativa à ação militar”. Na verdade, o Pentágono ainda não deu o sinal verde para a ação contra a Síria, justamente porque não conseguiu conformar um comando militar “rebelde” único e confiável que dê o suporte necessário para a intervenção da OTAN. Por isso acena, para ganhar tempo, com a possibilidade de negociar com a Rússia as condições para uma rendição de Assad. Kerry e Lavrov se reuniram nesta sexta-feira em Genebra com o emissário internacional da ONU para a Síria, Lakhdar Brahimi, antes da retomada das discussões sobre o controle do arsenal químico sírio. O secretário ianque declarou nesta ocasião: “Ambos concordamos com uma nova reunião em Nova York mais ou menos durante a Assembleia Geral da ONU, por volta do dia 28, para ver se é possível encontrar uma data para a conferência”. Brahimi é responsável por preparar uma conferência internacional, conhecida como “Genebra 2”, para encontrar uma solução política ao conflito sírio.  Os abutres imperialistas estão nervosos e impacientes por um rápido desfecho na Síria, temem perder o “time”, obtido graças à farsa terrorista montada pelos “rebeldes”. Entretanto o “falcão negro” da Casa Branca aguarda ainda um desfecho das negociações com a Rússia e China para iniciar o serviço sujo, já que os mercenários em terra são muitos frágeis e vem sofrendo derrotas seguidamente.

Como se viu no caso da Líbia e agora na Síria, o governo Putin pelo próprio caráter de classe burguês gerente de um país semicolonial, é incapaz de se por ao avanço político e militar do imperialismo na Ásia, África e Oriente Médio. Diferente dos idiotas no interior da esquerda que apresentam a Rússia como uma poderosa superpotência capitalista e mesmo como um país imperialista, a verdade é que com a destruição do Estado operário soviético a Rússia assumiu o papel de semicolônia dos EUA, sem grande margem de autonomia política frente à Casa Branca. O processo de submissão da Rússia ao imperialismo ianque avançou no último período, com a assinatura em 2010 de um pacto de limitação de arsenais nucleares. Diante da política abertamente defensiva de Moscou, a OTAN anunciou que o escudo deve ser concluído em quatro fases até cerca de 2020, sob o pretexto de conter uma resposta militar do Irã, mas de fato serve para interceptar os mísseis balísticos intercontinentais russos. Mas esse objetivo só pode começar a ser alcançado de fato quando a Casa Branca eliminar o regime iraniano e voltar suas baterias de forma mais centrada para Rússia e China. No meio do caminho desse plano neocolonialista está a Síria... Obama deseja que a Rússia recue em seu apoio militar a esse país, medida fundamental para que o imperialismo possa impor seus interesses na região e avançar rumo a Ásia. A Rússia tem uma base militar na Síria, porta-aviões estacionados na costa do país além de ser parceira estratégica do programa nuclear iraniano. Ademais, se opõe parcialmente à criação do sistema de defesa antimíssil para Europa controlado pela OTAN, voltado justamente para neutralizar qualquer reação militar russa a uma possível agressão imperialista. Washington também deseja livrar-se futuramente de Putin e seu séquito para impor a sua semicolônia uma nova fase histórica, hoje travada pelos arroubos do Kremlin, que utiliza do poderio militar russo para barganhar áreas de influência regional com o imperialismo ianque. A Casa Branca pretende fazer da Rússia um apêndice militar do Pentágono, já que do ponto de vista político desde a era Yeltsin o Kremlin vem seguindo a Casa Branca em seus passos de rapinas imperiais no planeta.

Antes da proposta russa, o regime Assad havia prometido “incendiar” a região caso a OTAN interviesse, as milícias do Hezbollah já estavam prontas para atacar Israel e convocar a “guerra santa” contra os genocidas de Sion. O temor dos EUA é que a Síria use seu arsenal militar de armas químicas contra as forças invasoras. Lembremos que armas químicas letais já vêm sendo usadas fartamente pela OTAN em toda a região denominada de Oriente Médio e África, só na guerra civil da Líbia foram utilizadas mais de cem toneladas de mísseis com urânio empobrecido, com capacidade de contaminação radioativa em um raio de mais de 30 quilômetros. No próprio atentado terrorista que vitimou parte da cúpula militar do regime sírio em 2012, há fortes indícios da utilização de mísseis disparados a partir de drones norte-americanos lançados do território turco, onde existe uma base da OTAN. A Rússia e a China na verdade trabalham para operar uma transição pactuada do regime “fechado” de Assad para um governo “aberto” a investimentos imperialistas (principalmente no setor de gás e minerais) e que encerre a querela militar com o gendarme sionista. Como última opção, caso a oligarquia Assad não ceda o governo diante dos “apelos” internacionais, o imperialismo executará a intervenção militar, com resultados imprevisíveis no marco das tensões regionais já existentes. A Rússia aparece como “interlocutora” para a busca de uma “solução política” para o conflito. Na verdade, o governo russo busca um acordo global com Washington para manter sua influência política e militar na região. Até o momento Rússia e China vetavam uma agressão militar direta usando como pretexto o desejo de aplicar um “plano de paz”. No futuro é possível que Pequim e Moscou tentem fechar um acordo com Washington que permita a renúncia de Assad sem a necessidade de uma intervenção militar direta da OTAN, visando assim preservar seus interesses econômicos no país. Ainda há resistência do grosso da burguesia síria e de sua base social, incluindo o Hezbollah e a resistência palestina, a essa “saída de consenso”, que abre o caminho para novas investidas do imperialismo cujo alvo principal é o Irã. Justamente por isso, a Rússia acaba de enviar mais navios de guerra para sua base militar em Tartus, na Síria, visando barganhar um acordo com a Casa Branca em melhores condições. Vale lembrar que a Síria é a principal posição para a presença russa no Oriente Médio e Damasco comprou no ano passado o equivalente a 1 bilhão de dólares em armas da Rússia ou 8 por cento do total das exportações bélicas de Moscou.

Diante do evidente recuo da Casa Branca é hora de organizar mobilizações antiimperialistas em todo planeta em defesa da Síria! No caminho inverso ao que propõe Putin, está mais do que na hora dos países que se opõem em palavras à agressão neocolonialista contra a Síria (Irã, Rússia, China e Venezuela) forneçam armas e enviem brigadas ao país, assim como o Hezbollah e a resistência palestina ataquem Israel, que patrocina os mercenários do ELS. As milícias populares que apoiam o governo Assad ou se colocam contra a agressão ao país devem exigir, por sua vez, que o governo sírio abra os depósitos de armas e munição para os militantes nacionalistas e voluntários de outros países. Uma posição revolucionária neste exato momento passa por estabelecer uma frente única militar com as forças que estejam dispostas a lutar na defesa do atual regime, contra os rebeldes da reação imperialista, com absoluta independência de classe em relação ao governo nacionalista burguês. O único caminho para derrotar a ofensiva contra a Síria é chamando a unidade anti-imperialista em nível mundial. Como marxistas revolucionários defendemos incondicionalmente o direito da Síria a utilizar todos seus recursos militares (convencionais ou não) contra a agressão imperialista à soberania de seu território, inclusive as armas químicas contra o enclave sionista. Por esta razão nos opomos a proposta russa. Entretanto declaramos sem a menor hesitação que a nossa trincheira de combate contra a OTAN é a nação Síria, incluindo a conformação de uma frente única militar com o regime nacionalista burguês de Assad, mas sem capitularmos a ele e nem a seus aliados burgueses!