quarta-feira, 25 de setembro de 2013


Obstinação presidencial de Campos pode fraturar gravemente o PSB

A executiva nacional do PSB deliberou no final da semana passada por entregar os cargos que o partido detinha no primeiro escalão do governo Dilma, quais sejam o Ministério da Integração Nacional e a Secretaria dos Portos (que detém status de ministério). A inesperada decisão dos “socialistas” partiu da obstinação pessoal do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, em lançar a todo custo sua candidatura ao Planalto em 2014. Mesmo contrariando a maioria do PSB, que prefere seguir com o apoio a uma tranquila reeleição da presidenta Dilma, Campos impôs sua vontade ao partido baseando-se no controle que tem da maioria dos diretórios estaduais e da executiva nacional. Mas a “jogada” de mídia do governador pernambucano, que sem dúvida alguma “iluminou” temporariamente sua obscura postulação, sequer será efetivada plenamente, pois o PSB continuará ocupando cargos estratégicos no segundo escalão do governo como as presidências da CHESF e CODEVASF. Também o Secretário dos Portos, Leônidas Cristino provavelmente não deixará o governo, seguindo o caminho dos “padrinhos” da oligarquia Ferreira Gomes que deverão deixar o PSB. Já o ministro Fernando Bezerra só aceitou pedir demissão da pasta da Integração Nacional mediante a promessa de Campos de que ele seria o candidato do PSB ao governo de Pernambuco, decisão que está levando a um “racha” na cúpula do partido no estado. Por outro lado os governadores “socialistas” do Piauí e Espírito Santo declararam que terão muita dificuldade em “trabalhar” o nome de Campos em oposição à candidata do PT à presidência da república. Campos já interveio no diretório regional do Rio, destituindo o prefeito de Duque de Caxias (favorável a Dilma), também está consciente que não contará com o apoio do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda comprometido até a medula com o Tucano Aécio Neves. Como já alertou o secretário geral do PSB, Roberto Amaral, a vaidade política do neto de Miguel Arraes pode levar a destruição do PSB histórico ou mesmo sua vinculação com a direita mais recalcitrante do país, mas isto parece não preocupar o “jovem” Campos. Pelo contrário o atual rumo político do PSB é de distanciamento da Frente Popular, que integrou desde a gênese em 1989 ao lado do PCdoB, a prova “material” deste fenômeno de direitização dos “socialistas” foi a recente filiação da asquerosa oligarquia Bornhausen ao partido.

Mas sem sombra de dúvida a maior perda eleitoral para PSB será a saída dos Ferreira Gomes, que controlam um governo estadual e a prefeitura de Fortaleza, além de influenciarem pelo menos meia dúzia de deputados federais e o dobro de estaduais. Os irmãos Gomes devem “comprar” a legenda vazia do PROS, recém legalizado pelo corrupto TSE, sendo a sexta troca de partido do poderoso “grupo” de novos coronéis do Nordeste. Ciro está de olho não só na manutenção da Secretaria dos Portos mas fundamentalmente em sua possível indicação para o Ministério da Saúde, recheado de verbas e vacante com a saída de Padilha para a disputa do governo paulista. Neste cenário de “troca-troca” da burguesia especula-se que a ex-prefeita petista Luizianne Lins, dirigente da corrente revisionista DS, desembarque no PSB para poder disputar o governo do Ceará, já que seu partido foi “alugado” regionalmente pela oligarquia dos Gomes.

Apesar da intensa movimentação “suicida” de Campos em direção a sua candidatura presidencial, ainda não é totalmente certo que o PSB venha mesmo a disputar o Planalto. O próprio Lula tem afirmado que seria conveniente deixar as “portas abertas” para o PSB, o que significa na linguagem da politicagem burguesa não retirar todos os cargos do PSB no governo federal. Tudo irá depender da capacidade (financeira) do PSB em atrair outras legendas de aluguel para seu arco de alianças em 2014. O recém-fundado SOLIDARIEDADE do deputado Paulinho da Força Sindical já colocou seu novo partido a venda, comenta-se nos bastidores de Brasília que o preço está muito “salgado”, fazendo até mesmo com que os Gomes (inicialmente interessados) desistissem da transação. Com o caixa reforçado do ITAÚ parece mesmo é que será o REDE que irá comprar o “passe” do SOLIDARIEDADE, isto se conseguirem o registro do TSE a tempo de disputarem as eleições em 2014. Até agora somente as coligações do PT e PSDB dispõem de um tempo minimamente suficiente no horário de propaganda gratuita, fazendo inflacionar o mercado da venda de legendas para a soma de minutos na exposição da TV.

A conjuntura nacional aponta na direção da reeleição da “gerentona” Dilma, revigorada após a plena sobrevivência política durante as turbulentas “Jornadas de Junho”. Mas o pano de fundo das próximas eleições indica que a real disputa será mesmo em 2018, onde a Frente Popular será obrigada a ceder sua “gerência” do Estado capitalista para outro agrupamento político da burguesia. Neste sentido a disputa em 2014 será na verdade para cacifar o candidato preferencial das classes dominantes para suceder a gestão da Frente Popular. Este elemento explica em grande parte a obsessiva movimentação política de Eduardo Campos, que mesmo sem chance alguma no momento e sob ameaça de debilitar seu próprio partido insiste em levar adiante sua candidatura.

Até o momento a chamada “Frente de Esquerda” tem se mantido calada diante das mudanças do quadro partidário. PSOL e PSTU tem marcado formalmente a posição de candidatura própria em 2014, embora nutram grande simpatia e afinidade política com Marina Silva. Na verdade esperam uma definição do REDE acerca do rumo que poderá tomar, se mais à “esquerda” procurando uma composição com os revisionistas, ou mais à “direita” coligando-se com partidos fisiológicos. De toda maneira enquanto aguarda a decantação do cenário político, a Frente de Esquerda evita estabelecer a denúncia da candidatura de Marina Silva como a principal representante da ofensiva imperialista ianque contra os povos e nações periféricas.