sábado, 22 de fevereiro de 2014


Ucrânia e Venezuela: as flagrantes “coincidências” na estratégia golpista do imperialismo e a necessidade de uma resposta revolucionária do proletariado mundial

Obama acaba de condenar a “violência” na Venezuela e Ucrânia, acusando os respectivos governos de atacarem o que chamou de “manifestações legítimas”, apesar de estarem sendo encabeçadas por grupos fascistas armados. As palavras foram pronunciadas neste dia 19/02 em entrevista ao final de uma cúpula de líderes do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) e expressam de maneira uniforme a posição de ofensiva do imperialismo a governos não alinhados servilmente a Casa Branca. Com relação ao governo Maduro, o falcão negro ianque “amante da democracia” afirmou que os Estados Unidos “condenam energicamente a situação na Venezuela e legítima as reivindicações dos manifestantes. Junto com a Organização dos Estados Americanos (OEA), apelamos ao governo da Venezuela para que liberte os manifestantes detidos e inicie um diálogo verdadeiro”. Na mesma cerimônia, referindo-se a Ucrânia, o presidente ianque declarou: “Condeno nos termos mais fortes a violência na Ucrânia. Esperamos que o governo ucraniano se contenha e não use violência para lidar com os manifestantes”. O Departamento de Estado norte-americano anunciou sanções diplomáticas contra membros do governo ucraniano e ameaçou tomar outras medidas junto com a UE caso o governo da Ucrânia “passe dos limites”. Esta conduta dos EUA fazem parte da estratégia mundial de eliminar as forças políticas que são um obstáculo a seus planos de dominação mundial, ainda que sejam gestões burguesas. Essa tendência se reforçará ainda mais na nova gestão republicana que sucederá Obama e se apoia na fascistização da situação mundial, onde os governos de centro-esquerda ou nacionalistas burgueses tem sido incapazes, por seu caráter de classe, a se opor à cruzada reacionária do Pentágono e da OTAN que vem se recrudescendo desde a vitória da contrarrevolução na URSS!

Nesta quinta-feira, 20/02, o governo venezuelano repudiou categoricamente as declarações do presidente dos Estados Unidos. No documento, o governo da Venezuela pede explicações sobre o financiamento ianque na defesa aos opositores que “fomentam a violência na nação sul-americana”. O texto reafirma a posição venezuelana de evitar a desestabilização do país. Em entrevista à imprensa no final de uma reunião do Nafta, Obama pediu que Maduro “atenda as reclamações do povo em vez de desviar a atenção expulsando diplomatas norte-americanos”. Ele criticou a expulsão dos americanos Breean Marie Mc Cusker, Jeffrey Gordon Elsen e Kristopher Lee Clark, que foram declarados persona non grata na Venezuela. O comunicado venezuelano reponde a provocação ianque dizendo: “A declaração que esperam os governos independentes e povos do mundo é aquela em que o governo dos Estados Unidos explica por que o financia, promove e defende os líderes da oposição que promovem a violência em nossa pátria e que esclarece com que direito o subsecretário adjunto Alex Lee entregou uma mensagem do seu governo, por meio da qual tenta condicionar e ameaçar o Estado venezuelano, pela sua decisão de fazer a ordem e a justiça valer aos responsáveis pela violência dos últimos dias. Finalmente, o governo venezuelano reitera que continuará monitorando e tomando medidas para impedir que agentes norte-americanos busquem implementar a violência e desestabilização, e para informar o mundo sobre a natureza da política intervencionista das ações da administração Obama em nosso país.”

Na Ucrânia, a posição dos EUA foi idêntica a adotada na Venezuela. A ameaça de sanções foi feita desde o começo dos protestos contra o governo alinhado a Rússia. Um áudio vazou há duas semanas mostrando uma conversa entre a subsecretária do Departamento de Estado dos EUA, Victoria Nuland, e o embaixador americano na Ucrânia, Geoffrey Pyatt. Na conversa, os dois discutem a composição que preferem para o próximo governo, e Nuland se irrita por a UE não ter decidido apoiar sanções contra o governo ucraniano em caso de repressão às manifestações. Os EUA financiam diversas ONGs na Ucrânia para promover a oposição ao governo, financia a oposição e a estimula (por exemplo, com as ameaças de sanções). Agora Obama aparece condenando a violência e dizendo que punirá o governo da Ucrânia. Toda essa manobra foi planejada do começo ao fim para colocar um governo fantoche do imperialismo na Ucrânia, que entre na UE de modo que o País possa ser devidamente saqueado.

Na verdade essa política neocolonialista se fortaleceu bastante com a queda de Kadaffi na Líbia há três anos, por meio da fantasiosa “Primavera Árabe” apoiada pelo imperialismo e a esquerda revisionista (PSTU, CST, PCO, EM), orientação que também está sendo aplicada na Síria. Vejamos novamente as “coincidências”. Bandeiras dos “rebeldes” sírios foram içadas no sábado passado por fascistas ucranianos na Praça da Independência, centro da rebelião antigovernamental em Kiev, juntamente com a bandeira da Ucrânia. Os protestos contra o governo do país agora são acompanhados por bandeiras de “cunho islâmico”, da Coalizão Nacional da Síria, içadas na praça Maidan, que se converteu em reduto dos “rebeldes” que supostamente lutam por fazer com que seu país tome parte da União Europeia. A bandeira dos bandos armados sírios foi vista ao lado da bandeira azul clara e amarela da Ucrânia, e também foi içada por sujeitos que estão acampados na praça Maidan, segundo um vídeo divulgado pela emissora de televisão Ruptly TV. É precisamente sob essa bandeira que os extremistas do autodenominado Exército Livre da Síria (ELS) e vários outros grupos terroristas islâmicos têm aterrorizado e massacrado – inclusive degolando – o povo da Síria nos últimos três anos.

Como já denunciamos, a direita golpista e fascista está ávida para desferir um golpe letal contra esses governos. Esta manobra pode assumir a feição de uma falsa “mobilização democrática” tramada com a ajuda da CIA enquanto grupos abertamente fascistas atacam as forças populares, como vemos nos franco-atiradores venezuelanos e ucranianos. O apoio do imperialismo aos “insurretos” monárquicos na Líbia “vendidos” ao mundo como “amantes da democracia” foi o modus operandi que a Casa Branca vem usando novamente na Venezuela, como em 2002 e agora na Ucrânia para colocar em marcha a contrarrevolução. Apoiar os supostos “rebeldes” nestes países como faz a esquerda revisionista é o mesmo que se somar às orquestrações dos golpistas que também se dizem “inimigos da ditadura”, já que tanto em todos esses países essas forças políticas e sociais representam a contrarrevolução, assumindo o objetivo de liquidar conquistas históricas do proletariado. Por essa razão, não há espaço para disputar este suposto “movimento de massas” com as direções burguesas made in CIA, como pateticamente defendem setores da “esquerda”, em nome de “superá-las no calor da luta”.

Na Ucrânia, está colocado rechaçar as investidas da UE, dos EUA e de seus agentes. Apesar de não depositarmos qualquer confiança no governo burguês ucraniano de Viktor Yanukovych e do ex-burocrata Putin-Medvedev, cuja conduta está voltada a defender os interesses da nascente burguesia russa, as fricções com a Casa Branca objetivamente representam um obstáculo à expansão guerreirista da OTAN na região. Nesse sentido, os revolucionários devem denunciar as manifestações dos grupos pró-imperialistas e seu caráter contrarrevolucionário, voltado a fazer na Ucrânia e na própria Rússia uma “transição democrática” conservadora aos moldes da que vem sendo operada no Oriente Médio. Opomos-nos pelo vértice à política dos grupos revisionistas que depois de saudarem a farsesca “revolução árabe” agora apoiam as manifestações da direita assim como festejaram no passado as “revoluções das cores” na Ucrânia, Geórgia, Quirguistão. Tais “revoluções” nada mais eram que a segunda etapa da restauração capitalista em curso nas antigas repúblicas soviéticas, hoje convertidas a países capitalistas atrasados semicoloniais, quando o imperialismo ianque e europeu impuseram títeres nos governos que ainda estavam sob a influência do Kremlin e mantinham relações políticas e econômicas privilegiadas com a Rússia. Agora, a Ucrânia é novamente a bola da vez da reacionária ofensiva do imperialismo, que tomou grande impulso com a derrubada do regime Kadaffi pela OTAN, tendo Yanukovych como o “adversário” indesejado a ser removido do governo! Somente os genuínos trotskistas que não se deixaram levar pelo canto de sereia “humanitário” imperialista, que se mantêm firmes na luta para que os povos oprimidos assumam o controle dos recursos energéticos do planeta, pela expulsão dos abutres multinacionais e expropriação do conjunto das burguesias mafiosas, terão autoridade suficiente perante as massas ucranianas, georgianas, ossetas e russas para conduzir a luta estratégica por uma Federação de repúblicas socialistas e soviéticas livres, fundadas por novas revoluções bolcheviques!

Já na Venezuela, o proletariado deve responder à reação fascista com uma demonstração de força em defesa da ampliação das conquistas sociais da classe operária e de repúdio aos golpistas, forjando no calor da batalha um programa genuinamente comunista de completa ruptura com o nacionalismo burguês. Devemos convocar a vanguarda classista para a ação direta, contemplando uma plataforma de ocupações de fábricas, nacionalizações de grupos econômicos sob o controle dos trabalhadores e socialização do latifúndio. A tarefa que se impõe nesta polarizada conjuntura, acompanhando a evolução política das massas, é a construção do partido operário revolucionário, única forma de combate consequente ao Estado capitalista, cabendo à vanguarda do proletariado adotar uma política de “estimular” as tendências de radicalização do setor popular e camponês do nacionalismo burguês para que se choque com os limites impostos pelo próprio Maduro e a direção do PSUV a frente do governo!