sexta-feira, 30 de maio de 2014


Com o aval das FARC, “esquerda” colombiana apoia o genocida Santos
no 2º turno da disputa presidencial!
No Brasil, PCB e PCdoB saúdam esta política vergonhosa em nome dos “acordos de paz”!

“Vou votar pela paz e quem a representa agora é Santos” declarou a ex-senadora Piedad Córdoba, dirigente do movimento “Colombianos y Colombianas por la Paz” e integrante da Marcha Patriotica. Ela foi mais longe: “Creio no processo de paz e espero que nos próximos dias o ELN também se integre a ele. Vou votar pela paz e quem a representa neste momento é o presidente Santos”. No mesmo sentido pronunciou-se a dirigente da União Patriotica (UP), Aida Avella, que foi candidata à vice-presidente em aliança com o Polo Democratico Alternativo (PDA): “Pensamos que o melhor neste momento é apoiar o candidato que abriu os diálogos e que vai pelo caminho da solução política e negociada. Nosso dever é impedir que a guerra volte a este país. Nós não somos amigos da guerra, somos amigos da paz. Acompanharemos Santos apenas no que concerne a paz” (O Estado de S.Paulo, 30/05). Em resumo, as forças políticas de “esquerda” mais próximas às FARC declararam apoio ao chacal Santos, em uma evidente decisão compartilhada com a direção da guerrilha, que preferiu pronunciar-se pela “continuidade do processo de paz” sem explicitar seu apoio a Santos para não assustar os eleitores mais conservadores do atual presidente, já que no dia 15 de junho ocorrerá o segundo turno das eleições presidenciais colombianas. A disputa ocorre entre o candidato apoiado por Uribe, Óscar Iván Zuluaga, que conquistou 300 mil votos a mais que Santos, seu ex-Ministro da Defesa. Os “atritos” entre Santos e seu mentor Uribe, na verdade, se concentram no grau de ataque as FARC, já que Uribe e Zuluaga desejam capitalizar eleitoralmente o desgaste de Santos junto aos setores mais reacionários da burguesia e do exército. Apesar disto ser evidente, nenhum dos partidos da esquerda ou da centro-esquerda burguesa chamou a organizar a campanha pelo voto nulo ou branco, ao contrário, a Marcha Patriótica declarou: “Convocamos a mobilização popular e a utilização do voto na conjuntura eleitoral de 15 de junho como uma forma de luta da esquerda em defesa da paz, da vida e em repudio ao genocídio”. Esse giro à direita ocorre desgraçadamente porque a direção da guerrilha vem cada vez mais apostando em uma ilusória solução negociada para o enfrentamento que já dura 50 anos. Tanto que as FARC anunciaram que pretende formar um partido político depois que for firmado o acordo de paz em negociação com o governo colombiano comandado por Santos e avaliza as posições que apoiam eleitoralmente o atual presidente, alegando o perigo do candidato de Uribe por um fim nas negociações. Na verdade, Santos apresenta a eliminação das FARC obtida pela via das “negociações de paz” como credencial ao imperialismo para garantir sua reeleição na Colômbia! Para os marxistas revolucionários não resta dúvida de que Santos e Uribe são dois lados da mesma moeda na política de eliminação física e política da FARC patrocinada pelo imperialismo ianque, sendo o atual presidente partidário de uma orientação que está sendo mais bem sucedida que a do chacal Uribe, já que vem neutralizando tanto a guerrilha como a própria “esquerda” colombiana!


O resultado apertado do primeiro turno aumentou a pressão sobre a esquerda e a centro-esquerda burguesa colombiana que logo anunciaram o apoio a Santos, seja diretamente como fez a Marcha Patrióoica e União Patriotica (UP), seja “liberando” seus eleitores, como anunciou o Polo Democratico Alternativo (PDA). A aliança eleitoral destas duas forças políticas conquistou 2 milhões de votos no primeiro turno através da candidatura de Clara López (PDA) que teve como vice Aida Avella da UP. A UP e a Marcha Patriotica anunciaram nesta quinta-feira, 28 de maio, que vão apoiar a reeleição do chacal Santos alegando a defesa da continuidade do “processo de paz” com a guerrilha. Já o PDA “liberou” seus eleitores enquanto seus parlamentares como o senador Iván Cepeda já está em campanha por Santos, em uma típica posição de apoio eleitoral sem um compromisso formal que possa lhe trazer prejuízos eleitorais futuros. A dirigente do PDA, Clara López, ao anunciar a posição, ressalvou que cada militante “deverá decidir por quem votar, em branco ou abstenção. É da autonomia de cada eleitor, na compreensão de que o Polo é e será opositor ao programa dos candidatos que estão concorrendo”, Santos e Oscar Ivan Zuluaga, do Centro Democrático. Ainda assim, o PDA defende “uma paz estável e duradoura, assentada sobre a democracia, a justiça social e os direitos dos colombianos e colombianas” e também a “exigência da negociação do conflito interno armado com a insurgência, a presença das vítimas [nos diálogos] e um cessar-fogo que evite mais derramamento de sangue no país.” Clara López foi candidata presidencial e ficou em quarto lugar no primeiro turno das eleições, ocorridas em 25 de maio, com cerca de dois milhões de votos (15,3%). Nesta quinta-feira,29, o senador pelo PDA, Iván Cepeda, instou o seu partido a tomar uma decisão responsável ao definir sua posição para o segundo turno das presidenciais de 15 de junho. “O Polo deve ter presente o perigo que correm os diálogos de paz do governo e da guerrilha das Farc-EP instalados em Havana,” disse Cepeda, em referência à sede da mesa de negociações, em Cuba. Cepeda afirmou que, pessoalmente, decidiu apoiar as conversações iniciadas durante o governo de Santos. “Não sou santista, mas apoio o processo de paz,” enfatizou. O parlamentar redobrou suas críticas contra a postura do candidato do Centro Democrático, Zuluaga, cujo eventual governo significaria a reencarnação do mandato de Uribe. A posição de Zuluaga será a de “tombar o processo de paz, como já afirmou”, pontuou Cepeda. “Isso custaria um alto número de vidas, não quero um país militarizado, mas um país democrático, não podemos permitir um novo inferno para a Colômbia,” enfatizou. Também Enrique Peñalosa, da Aliança Verde, adotou a mesma posição do DPA. Ainda antes do primeiro turno, Santos recebeu o apoio dos “Progressistas”, outro bloco da centro-esquerda burguesa liderado pelo prefeito de Bogotá, Gustavo Petro, ex-dirigente do PDA. Lembremos que esta mesma política foi responsável pela realização em 9 de abril de 2013 de uma marcha gigantesca patrocinada pelo governo de Manuel Santos em conjunto com Piedad Córdoba em apoio aos chamados “diálogos de paz” com as FARC.

No Brasil, o PCB integrou-se entusiasticamente a esta política vergonhosa de apoio aos “acordos de paz” levada a cabo pela direção das FARC, pela Marcha Patriótica e a ex-senadora Piedad Córdoba, na verdade uma estratégia traçada por Santos para garantir sua reeleição e voltada no fundo a eliminar a guerrilha. Tanto que na “Declaração pública da delegação da visita internacional de solidariedade pela paz com justiça social na Colômbia” assinada pelo PCB em conjunto com outras entidades internacionais e organizações no Brasil (inclusive o PCdoB!) se afirma “Nós, como delegação da visita internacional de solidariedade pela paz com justiça social na Colômbia, rogamos à institucionalidade colombiana, em particular à Presidência da República, ao Gabinete Geral da Nação, à Procuradoria Geral da Nação: Manter a mesa de diálogos de paz com as FARC-EP em Havana, assim como abrir mesas similares com o ELN e o EPL.Garantir a participação democrática direta e permanente das organizações sociais na construção de acordos de paz. Decretar um cessar fogo bilateral como condição necessária para avançar na consecução da paz com justiça social, assim como a necessária inclusão do conjunto do movimento social e político colombiano nas negociações. PELA PAZ COM JUSTIÇA SOCIAL NA COLÔMBIA” (Sitio PCB, 07/05). Consideramos uma utopia reacionária o PCB (que integrou a comitiva) defender uma “paz com justiça social” no exato momento em que esta iniciativa está baseada na política de reação democrática voltada a eliminar a guerrilha. Não por acaso, o PCdoB que também integrou a tal “delegação internacional” comemora que o “Respaldo à reeleição de Santos coloca em foco diálogos da Colômbia” (Vermelho, 30/05), enquanto o próprio PCB se limita a reproduzir um artigo escrito por um terceiro (“Eleições colombianas: O grande vencedor é a abstenção” - Carlos Aznárez, sítio PCB, 29/05) e de forma oportunista o partido não declara qualquer posição eleitoral, muito menos chama o voto nulo, branco ou o boicote ativo! Longe desta posição antileninista, fica cada vez mais claro que a única “paz” que sairá destas negociações é a dos cemitérios, já que desgraçadamente as vidas dos heroicos combatentes das FARC estão sendo sacrificadas em nome de uma política que em nada serve para a luta revolucionária e, muito menos, para libertar a Colômbia do domínio da burguesia e do imperialismo. A história está prestes a se repetir na Colômbia, desta vez como uma segunda tragédia, posto que as FARC parecem ter esquecido o desastre do passado quando se “converteu” em partido institucional, em nome da “paz” e teve a maioria de seus quadros dirigentes assassinados pelo regime burguês. Lembremos que por conta desta mesma política suicida a União Patriótica, surgida em 1985 teve dois candidatos presidenciais seus mortos (a candidata atual, Aida, também sofreu atentado recente do qual escapou). 5 mil militantes da UP foram assassinados incluindo oito congressistas, 13 deputados, 70 vereadores, 11 prefeitos.

As “negociações de paz” entre as FARC e o governo Manuel Santos, saudadas pela esquerda reformista nacional e internacional como um grande avanço, mostraram sua real face macabra desde que começaram: mais de 150 guerrilheiros mortos desde o início. Em meio aos “diálogos” o governo anunciou novos investimentos no combate às FARC e a aproximação com a OTAN, tanto que a proposta de formalizar um cessar-fogo durante as “negociações” foi rechaçada pelo presidente colombiano, que rejeitou essa possibilidade veementemente. Como observamos, trata-se de uma farsa montada justamente para eliminar fisicamente a guerrilha, como a LBI já denunciava quase isoladamente na “esquerda” quando se anunciou o acordo costurado por Chávez e Fidel entre a guerrilha e o governo capacho do imperialismo ianque. A “agenda de diálogo” está voltada a desarmar as FARC, o que na prática significa um verdadeiro suicídio político e militar para a guerrilha e tem seis pontos básicos, porém, pela primeira vez se discute assuntos como a desmobilização de guerrilheiros, o fim das hostilidades e a entrega de armas, assuntos que segundo o governo Santos haviam “limitado” no passado as negociações. Como se vê, tal “diálogo” está voltado a por um fim nas FARC. As “negociações de paz” têm como consequência direta e prática não só o enfraquecimento político da guerrilha, mas a sua completa exterminação física, tendo em vista a experiência das próprias FARC, que na década de 80 deslocou parte de seus quadros para a constituição da Unidade Patriótica e impulsionou um partido político legal, tendo como resultado o assassinato de cerca 5 mil dirigentes pelas forças de repressão do Estado, pilar-mestre da democracia bastarda colombiana. Essa tragédia teve como base as mesmas ilusões reformistas hoje patrocinadas pela direção da guerrilha e o conjunto da esquerda.

Ao narcotraficante regime burguês colombiano não interessa sequer a conversão da guerrilha em partido político desarmado, apenas sua extinção. Diante do cerco crescente da reação democrática neste momento de maior fragilidade das FARC, os Marxistas Revolucionários declaram seu apoio incondicional à guerrilha diante de qualquer ataque militar do imperialismo e do aparato repressivo de Santos. Simultaneamente, apontamos como alternativa a superação programática da estratégia reformista da direção das FARC baseada na reconciliação nacional com a oposição burguesa e a unificação da luta armada com o movimento operário urbano sob a estratégia da revolução socialista para liquidar o regime facistóide e organizar a tomada do poder pelos explorados colombianos. Defendemos que uma política justa para o confronto entre a guerrilha e o Estado burguês passa por aplicar a unidade de ação contra Santos, com a mais absoluta independência política em relação ao programa reformista das FARC. Ao lado dos heroicos guerrilheiros das FARC e honrando o sangue derramado pelos comandantes Afonso Cano, Manuel Marulanda e Mono Jojoy, que morreram em combate, apontamos como alternativa programática a defesa da estratégia da revolução socialista e da ditadura do proletariado, sem patrocinar nenhuma ilusão na possibilidade de construir uma “Nova Colômbia” sem liquidar o capitalismo e seus títeres!