terça-feira, 6 de maio de 2014


Santos apresenta a eliminação das FARC obtida pela via das “negociações de paz” como credencial ao imperialismo para garantir sua reeleição na Colômbia

“Votar pela Paz!”. Este é o principal slogan da candidatura à reeleição do genocida Juan Manuel Santos a presidente da Colômbia. Como pode se observar, ele usa as “negociações” com as FARC para garantir sua manutenção no governo, já que enfrenta em 25 de maio um candidato apoiado pelo ex-presidente Uribe, Óscar Iván Zuluaga. Santos lidera as pesquisas eleitorais com 28,3% das intenções de voto, seguido pelo candidato de Uribe com 16% e Enrique Peñalosa 15,7%, da Aliança Verde. Por último nas pesquisas está a candidatura do Polo Democrático Alternativo que se coligou com a União Patriótica (UP), Clara López, também apoiada pela ex-senadora Piedade Córdoba. A disputa deve ir para o segundo turno, polarizando o país pela direita, já que enquanto finge negociar com a guerrilha, o exército de Santos já assassinou quase 150 militantes das FARC e estabelece relações militares estreitas com a OTAN. Mas até o teatro em torno das “negociações de paz” é questionado por Uribe, eleito senador nas eleições parlamentares de março, quando o “novo” partido que criou - o Centro Democrático - alcançou uma expressiva votação, sendo a maior força isolada no Senado e a segunda na Câmara dos Deputados. Não resta dúvida que Santos e Uribe são dois lados da mesma moeda na política de eliminação física e política da FARC patrocinada pelo imperialismo ianque, sendo o atual presidente partidário de uma orientação que está sendo bem mais sucedida que a do chacal Uribe, de quem foi ministro da defesa, já que vem neutralizando tanto a guerrilha como a própria “esquerda” colombiana. Prova disso é que o Polo Democrático e a UP, apesar de na provável disputa em segundo turno declararem que não apoiarão oficialmente Manuel Santos, tendem a “liberar” seu eleitoral em um sinal explícito de simpatia pela política de “negociações de paz” levada a cabo pelo atual presidente, posição que tem o aval da própria FARC. Nesse sentido, a direção da guerrilha vem cada vez mais apostando em uma ilusória solução negociada para o enfrentamento que já dura várias décadas. Tanto que as FARC anunciaram que pretendem formar um partido político depois que for firmado o acordo de paz em negociação com o governo colombiano comandado por Santos. A história está prestes a se repetir na Colômbia, desta vez como uma segunda tragédia, posto que as FARC parece ter esquecido o desastre do passado quando se “converteu” em partido institucional, em nome da “paz” e teve a maioria de seus quadros dirigentes assassinados pelo regime burguês.

Em comunicado divulgado em 29 de abril em Havana pela delegação de negociadores da guerrilha declara-se textualmente que “Se agora estamos dialogando pela reconciliação é porque existe uma força clandestina e forte, que representa uma massa disposta a tomar, de uma vez por todas, a condução de seu destino”. No mesmo dia, o Movimento Bolivariano pela Nova Colômbia afirmou que “Aqui está o Movimento Bolivariano, vital, e pronto para tomar o caminho da paz, disposto a, caso se alcance a assinatura do acordo final, tirar a máscara que o protege (...) um partido político aberto, legal, que reúna as maiorias dissidentes para continuar a luta pela democracia, a reconciliação e a justiça social”, diz comunicado lido por Pablo Catatumbo, dirigente dos guerrilheiros no processo de paz com o governo colombiano. Sentindo esse terreno propício para a eliminação das FARC via “negociações de paz” Santos afirmou em entrevista a Efe nesta segunda-feira (05 de maio) que “o processo é complexo, repleto de dificuldades, inimigos e de contradições. Isso as FARC entendem, há vontade da parte deles. Por isso espero que, ao longo deste ano, possamos terminar este processo tão complexo e importante. Nestes quatro anos conseguimos criar muitíssimas condições para que o país avançasse no social e no econômico, e isso é parte do processo de paz, da redução da pobreza e da solidez da economia. Este país gerou mais emprego que qualquer outro da América Latina, mas a grande diferença seria colocar fim a um conflito que já está nos fazendo sangrar por 50 anos. Se conseguirmos tirar esse freio, o potencial do país, que avançou muitíssimo no meio do conflito, se multiplicaria, por isso estou tão empenhado em trazer a paz ao país”. Demonstrando os verdadeiros objetivos de sua política, Santos comentou sobre a possibilidade de ser assinado um cessar-fogo durante os próximos meses das negociações: “não há cessar-fogo. A ofensiva militar será mantida até o momento de assinarmos os acordos. Nesse momento, cessa o conflito. Definitivamente, eu não quero que isto se prolongue. Um cessar-fogo agora estimularia as FARC a prolongar a negociação e isto tem que acabar o quanto antes”. Santos lembrou que ele, primeiro como ministro da Defesa no governo de Álvaro Uribe (2002-2010) e depois como presidente, foi “quem mais duro bateu contra as FARC” e concluiu: “Estou disposto a voltar à guerra se isto fracassar, mas o que quero é a paz”. Esta é política de Santos para combater Uribe e ser o candidato preferencial do imperialismo ianque, já que há uma clara disputa interburguesa em curso. O “novo” partido do ex-presidente (que não pode ser candidato a presidente), o Centro Democrático, conquistou 20 assentos no Senado, ou 14,4% dos votos, contra 21 assentos, ou 15,4% dos votos, do Partido da Unidade Nacional, de Santos, cuja ampla coligação inclui membros do Partido Liberal, Partido Conservador e do Partido da Mudança Radical. Na Câmara, o Centro Democrático conquistou 36 cadeiras, 15,8% do total. Estavam em jogo 102 vagas no Senado e 168 na Câmara.

A centro-esquerda burguesa na Colômbia segue a linha de apoio as “negociações de paz”. Omer Calderón, presidente do partido colombiano União Patriótica (UP), anunciou que seu partido junto com o Polo Democrático apoiam as iniciativas de Santos em torno do tema. A candidata a presidente será Clara López do Polo e Aida Avella da UP concorrerá na qualidade de vice-presidente. Esta decisão foi tomada pelas duas candidatas depois dos resultados das eleições legislativas de março, onde o Polo Democrático só conseguiu cinco cadeiras das oito que tinha no Senado, enquanto na Câmara conseguiu três. A UP, por sua vez, que voltou à política ativa após mais de duas décadas, depois que o Conselho de Estado devolvesse sua identidade jurídica, não levou nenhuma cadeira no parlamento. Calderón destacou que a expectativa do povo colombiano é que as negociações de paz avancem para que prevaleça a democracia no país e que o fim das agressões a militantes populares faz parte da campanha da chapa UP/Polo. Lembremos que por conta desta mesma política suicida a União Patriótica, surgida em 1985 teve dois candidatos presidenciais seus mortos (a candidata atual, Aida, também sofreu atentado recente do qual escapou). 5 mil militantes da UP foram assassinados incluindo oito congressistas, 13 deputados, 70 vereadores, 11 prefeitos.

As “negociações de paz” entre as FARC e o governo Manuel Santos, saudadas pela esquerda reformista nacional e internacional como um grande avanço, mostraram sua real face macabra desde que começaram: mais de 150 guerrilheiros mortos desde o início. Em meio aos “diálogos” o governo anunciou novos investimentos no combate às FARC e a aproximação com a OTAN, tanto que a proposta de formalizar um cessar-fogo durante as “negociações” foi rechaçada pelo presidente colombiano, que rejeitou essa possibilidade veementemente. Como observamos, trata-se de uma farsa montada justamente para eliminar fisicamente a guerrilha, como a LBI já denunciava quase isoladamente na “esquerda” quando se anunciou o acordo costurado por Chávez e Fidel entre a guerrilha e o governo capacho do imperialismo ianque. O próprio Ministro da Defesa afirmou que “A ordem do presidente Santos foi clara: não podemos baixar a guarda em nenhum milímetro” e completou: “Em 2014 teremos um aumento de 25 mil homens, 20 helicópteros, 10 aviões e mais sistemas de inteligência”, o que significa que na verdade está em curso uma ofensiva geral contra a guerrilha no lastro do recrudescimento global da ação do imperialismo contra os povos, nações e forças políticas que são obstáculos a seus ditames, como as FARC, a Síria e o Irã, alvos imediatos da sanha imperialista.

Apesar do verdadeiro massacre de seus membros, a direção das FARC anunciou em abril que ratifica a agenda para iniciar o “processo de paz”. Em um comunicado assinalou que “O Acordo, dado a conhecimento público formalmente a partir do anúncio da primeira semana de setembro, tem um conteúdo que pode ser reafirmado” em vários aspectos. Entre eles, diz a guerrilha no texto, “o diálogo parte de um Acordo Geral que tem o propósito de terminar o conflito que é armado, político e social para construir a paz estável e duradoura, que não pode ser outra cosa que a paz com justiça social”. A “agenda de diálogo” está voltada a desarmar as FARC, o que na prática significa um verdadeiro suicídio político e militar para a guerrilha e tem seis pontos básicos, porém, pela primeira vez se discute assuntos como a desmobilização de guerrilheiros, o fim das hostilidades e a entrega de armas, assuntos que segundo o governo Santos haviam “limitado” no passado as negociações. Como se vê, tal “diálogo” está voltado a por um fim nas FARC. Isolada pelo chavismo, que chegou a entregar vários de seus dirigentes ao próprio governo Santos e suas masmorras, a direção da guerrilha dá passos concretos para fechar um acordo com o governo lacaio dos EUA na América Latina. As “negociações de paz” têm como consequência direta e prática não só o enfraquecimento político da guerrilha, mas a sua completa exterminação física, tendo em vista a experiência das próprias FARC, que na década de 80 deslocou parte de seus quadros para a constituição da Unidade Patriótica e impulsionou um partido político legal, tendo como resultado o assassinato de cerca 5 mil dirigentes pelas forças de repressão do Estado, pilar-mestre da democracia bastarda colombiana. Essa tragédia teve como base as mesmas ilusões reformistas hoje patrocinadas pela direção da guerrilha e o conjunto da esquerda. Ao narcotraficante regime burguês colombiano não interessa sequer a conversão da guerrilha em partido político desarmado, apenas sua extinção. Diante do cerco crescente da reação democrática neste momento de maior fragilidade das FARC, os marxistas revolucionários declaram seu apoio incondicional à guerrilha diante de qualquer ataque militar do imperialismo e do aparato repressivo de Santos. Simultaneamente, apontamos como alternativa a superação programática da estratégia reformista da direção das FARC baseada na reconciliação nacional com a oposição burguesa e a unificação da luta armada com o movimento operário urbano sob a estratégia da revolução socialista para liquidar o regime facistóide e organizar a tomada do poder pelos explorados colombianos. Defendemos que uma política justa para o confronto entre a guerrilha e o Estado burguês passa por aplicar a unidade de ação contra Santos, com a mais absoluta independência política em relação ao programa reformista das FARC. Ao lado dos heroicos guerrilheiros das FARC e honrando o sangue derramado pelos comandantes Afonso Cano, Manuel Marulanda e Mono Jojoy, que morreram em combate, apontamos como alternativa programática a defesa da estratégia da revolução socialista e da ditadura do proletariado, sem patrocinar nenhuma ilusão na possibilidade de construir uma “Nova Colômbia” sem liquidar o capitalismo e seus títeres!