segunda-feira, 28 de julho de 2014


Greve dos professores em Fortaleza: “É preciso transformar a desconfiança da categoria com as direções burocráticas em ação direta contra o governo Roberto Cláudio e seus aliados de ontem e hoje”

O Jornal Luta Operária entrevista as companheiras Aparecida Albuquerque e Lilian Caldas, ambas professoras do município de Fortaleza, militantes da TRS e da Oposição de Luta.

JLO – Como você analisa a deliberação da assembleia geral dos trabalhadores em educação pela greve a partir do dia 1º de agosto?

Aparecida Albuquerque (AA): A greve, em primeiro lugar, foi chamada de forma tardia, porque a gestão Roberto Cláudio já está há quase dois anos no comando dos ataques a nossa categoria e sobre o funcionalismo municipal sem que nada tenha sido feito até então para barrar as investidas do filhote do clã Ferreira Gomes. Somente agora a direção do Sindiute, completamente subordinada à política de colaboração de classes da direção estadual do PT aliada à oligarquia Ferreira Gomes, convocou uma assembleia da categoria. Mesmo com a presença massiva dos trabalhadores na última assembleia, mais de dois mil, a direção petista do sindicato manobrou para decretar o início da greve apenas para 1º de agosto, se valendo do surrado argumento burguês-jurídico de “respeito à Lei de Greve” e assim atrasar o desenvolvimento da luta, ou seja, atuou de forma proposital e consciente ao não elaborar um calendário de lutas, nem organizar piquetes para atuar antes e durante a greve.

JLO – A greve foi deliberada para responder à política de arrocho salarial e privatista do prefeito Roberto Cláudio contra os professores. Como está a situação dos salários da categoria, há um arrocho?

Lilian Caldas (LC): Com toda certeza! Há um grande arrocho salarial, como parte da política privatista levada a cabo pelo prefeito Roberto Cláudio, pois deveríamos ter recebido um aumento de 13%, mas o pupilo dos Gomes concedeu um pífio reajuste de 8%. Exigimos desta forma, os 4,9% do piso salarial retroativo a janeiro, aumento do vale alimentação e o pagamento imediato dos anuênios atrasados, direitos que a prefeitura quer nos tomar à força.

JLO - Vocês estão afirmando que há um arrocho salarial e um profundo ataque às condições de vida dos trabalhadores em educação, mas ao mesmo tempo há dificuldades para levar adiante a greve nas escolas, regionais e no Impha, apesar da massiva presença de dois mil professores na assembleia?

AA: Apesar do imenso descontentamento existente no seio de nossa categoria, e a assembleia do dia 24 espelhou um pouco isto, há sim certa dificuldade real. Isto se deve porque gestão após gestão todas atacaram diretamente as condições de vida dos professores, o que provocou diversas mobilizações, com adesão quase que espontânea da categoria. No entanto, mesmo com a forte disposição de luta, as direções burocráticas jogam tudo para esmorecer a vontade da categoria, para no final dos enfrentamentos nos traírem vergonhosamente e que aceitemos passivos a “derrota”, o que vem acontecendo com frequência desde a administração petista dirigida por Luizianne Lins. A nossa mobilização tem que ser forte, para evitar novas traições da canalha sindical perante Roberto Cláudio. Não podemos deixar que vigore o sentimento de insegurança e receio de aderir a greve, devemos transformar a indignação com a política de colaboração de classes em uma luta de enfrentamento aberto com os ditames da prefeitura e a corja capitalista do PROS, PT e PMDB.

JLO – Diante destas dificuldades expostas, como está a reação dos professores em sala de aula, nas escolas, como você analisa esta situação?

LC: Para mim, o conjunto dos professores apresenta uma justa desconfiança em relação à burocracia sindical, não mais confiam nas direções do Sindiute. Mas como colocou a companheira Aparecida, é preciso transformar esta desconfiança em ação direta contra o governo Roberto Cláudio e seus aliados de ontem e hoje, para que não tenhamos que nos submeter a um absurdo e massacrante calendário de reposição de aulas no período pós-greve. Um passo fundamental para nossa vitória é que as correntes políticas de oposição rompam com a direção chapa branca do sindicato e formem uma frente de luta e um comando de greve ativo, cujo desfecho deve ser plenárias sem interferência da burocracia para organizar nossas intervenções no processo paredista. Afinal, quem deve pagar é a prefeitura e não os trabalhadores com o sacrifício e suor de seus rostos!

JLO – Em nome do Núcleo de Oposição dos Professores da LBI, quais são as tarefas do ativismo classista nesta semana como preparação da greve que se inicia dia 1º de agosto?

AA: É importante chamar a atenção que esta greve não foi chamada apenas em função do arrocho salarial, que já é uma dura realidade, mas em decorrência da retirada de direitos e conquistas da nossa categoria, muito mais como consequência da paralisia imposta pelas direções chapa branca encasteladas no Sindiute. Precisamente por isto a tarefa a que estamos incumbidos neste momento é colocar para o ativismo classista e combativo a denúncia das manobras e da falta de vontade política dos burocratas sindicais em mobilizar pela base a categoria, com cartazes, faixas, carro de som nas portas das escolas, organização de piquetes, enfim que o sindicato ponha para rua toda sua estrutura. Para tanto, é necessária a nossa pressão política para que o sindicato rompa com a sua paralisia e impulsione piquetes em cada local de trabalho e agitações em frente as escolas. Este é o nosso caminho para a vitória!