terça-feira, 12 de agosto de 2014

Hyrlanda agita piquete do MOB na porta do Bradesco

“Organizar a greve geral pela base para derrotar os banqueiros, impor conquistas ao governo Dilma e superar as direções ‘chapa branca’ da CUT-CTB!”

O Jornal Luta Operária entrevista a bancária Hyrlanda Moreira, histórica militante Trotsquista e dirigente do Movimento de Oposição Bancária (MOB). Hyrlanda completa este ano 30 anos de militância revolucionária ininterrupta, iniciada no começo de 84 quando ingressou nas fileiras da então Convergência Socialista. Ela, hoje funcionária do Bradesco após a privatização do BEC, nos fala sobre os rumos da campanha salarial de 2014 que ocorre em pleno ano eleitoral e dos desafios da construção de uma direção classista para a categoria.

Jornal Luta Operária (JLO): A Contraf-CUT entregou nestes dias a pauta de reivindicações dos bancários a Fenaban, quais as exigências dos trabalhadores aos patrões e ao governo Dilma?

Hyrlanda Moreira (HM). De fato, no último dia 11 de agosto, o Comando Nacional dos Bancários/Contraf-CUT entregou à Fenaban a pauta de reivindicações da categoria, aprovada na 16ª Conferência Nacional da Contraf, realizada dias 25 a 27de julho. Os 634 delegados, em sua maioria dirigentes sindicais, eleitos bionicamente em fóruns viciados como as conferências regionais, definiram como eixo da campanha salarial dos bancários a reivindicação de reajuste salarial de apenas 12,5%, referente à inflação do período mais 5% de “aumento real”, além de PLR de três salários mais R$ 6.247,00, piso igual ao salário-mínimo do Dieese de R$ 2.979,25. A primeira rodada de negociação já foi marcada para os dias 19 e 20 de agosto, sobre o tema saúde e condições de trabalho. Após a entrega da minuta geral da categoria o Comando Nacional também entregou às direções do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal as pautas específicas de reivindicações dos trabalhadores das duas instituições públicas, mas que negociam seguindo os critérios de arrocho salarial e ataques ditados pelos bancos privados, como Bradesco e Itaú.

JLO: O rebaixamento da pauta foi “justificado” pelo fato de 2014 ser um ano eleitoral. Não deveria ser o contrário, explorando as divisões no seio da burguesia?

HM: A pauta vem sendo rebaixada ano após anos, entretanto, considerando que 2014 é um ano eleitoral, os burocratas sindicais da CUT-CTB aproveitaram para presentear os banqueiros e o governo da frente popular com a surrada estratégia de Mesa Única da Fenaban e uma pauta ainda mais rebaixada. Além disso, sem qualquer pudor, aprovaram o apoio à reeleição de Dilma, legítima representante do capital financeiro e do agronegócio em nosso país. Não é a toa que a lucratividade dos bancos bate recorde a cada trimestre, graças as altas taxas de juros, incrementado pela rotatividade e demissões, assédio moral, terceirização, aumento de correspondentes bancários, extrapolação da jornada de trabalho, privatizações, cobrança de altas tarifas contra a população, etc. Em 2013, os bancos lucraram R$ 60,7 bilhões e, só nesse primeiro semestre de 2014, o resultado dos três maiores bancos privados(Itaú, Bradesco e Santander) chegou a R$ 19,6 bilhões, que representa um acréscimo de 22,9% referente ao mesmo período do ano passado.

JLO: A CUT e seus sindicatos dizem que se deve apoiar a reeleição de Dilma (PT) para derrotar a direita e o tucanato, qual a posição do MOB sobre esta questão?

HM: Esta política colaboracionista da burocracia da CUT/CTB em subordinar e atrelar a campanha salarial dos bancários aos interesses do capital financeiro e ao próprio governo Dilma, inclusive apoiando sua reeleição apenas revela o grau de decomposição política dessas direções sindicais. Dilma vem aplicando a política da direita e do tucanato. Como FHC, mantém os salários arrochados nos bancos públicos (BB, CEF, BNB) e privilegia os banqueiros, que tem tido lucros recordes. Por esta razão, contra esta política eleitoralista nós defendemos o voto nulo e o boicote ativo à farsa eleitoral! Se depender deles e de seu eleitoralismo “chapa branca”, os bancários amargarão nova derrota nas mãos da gestão da frente popular e seguirão divididos através de assembleias separadas por banco, negociações específicas com pautas rebaixadas, substituição de luta pela reposição das perdas salariais e aumento real por abonos e PLRs insignificantes, submissão à justiça patronal, terceirização de piquetes etc. Longe de ser resultado de um processo amplo e democrático, essa pauta é produto de um calendário burocrático, montado para liquidar com a vontade e participação da base e, desse modo, fazer prevalecer os interesses dessa burocracia sindical parasita para preservar o governo do PT em um ano eleitoral. Afinal, uma categoria cuja base nacional é em torno de 500 mil bancários não pode permitir que 634 burocratas governistas a represente. É necessário romper com esse ciclo vicioso.

JLO: Como a vanguarda classista pode opor-se à política de colaboração de classes da CUT e da CTB? A Conlutas e a Intersindical podem ajudar nesta tarefa ou são um obstáculo à luta?

HM: Não é uma tarefa fácil, pois os trabalhadores encontram-se paralisados pelas direções chapa-branca (CUT/CTB) e pelas reformistas, a exemplo do PSTU/Conlutas e PSOL/Intersindical, que buscam apenas canalizar a insatisfação e disposição de luta dos trabalhadores para o terreno eleitoral, seja para assumir a direção dos aparatos sindicais seja para gerir o Estado capitalista e suas instituições. O MNOB/CSP-Conlutas/PSTU centraliza as maioria das oposições sindicais com uma política oportunista, inclusive chegando ao cúmulo de unificar atividades, de caráter midiático, com a burocracia governista, formar chapas sindicais com setores da CUT e CTB, privilegia o corporativismo e a divisão da categoria na defesa das mesas de negociação por banco, apoia a tática da burocracia de dividir as assembleias específicas por banco, etc. É preciso construir uma alternativa classista desde a base da categoria!

JLO: Qual programa de luta o MOB defende para esta campanha salarial bancária?

HM: Para responder as reais reivindicações da categoria que tanto sofre com o arrocho salarial, falta de isonomia salarial e de tratamento, assédio moral institucionalizado, terceirizações, metas absurdas, demissões, é preciso preparar pela base uma campanha salarial verdadeiramente unificada pela base. Só com essa política classista, defendida pelo MOB/TRS, é que os bancários podem evoluir no processo de estruturação política e organizativa de um polo de Oposição alternativo de direção classista, apesar de que o apoliticismo, provocado pela atual etapa de reação ideológica no mundo, ajuda a isolar fortemente a política de independência de classes. É preciso, portanto, que os trabalhadores entrem em cena como protagonistas das lutas, resgatando seus métodos de ação direta e empunhando suas bandeiras históricas: reposição integral das perdas salariais, escala móvel de salários, estatização do sistema financeiro, sob controle dos trabalhadores, reversão das privatizações, estabilidade no emprego, jornada de 6 horas, isonomia de tratamento, pela redução da jornada de trabalho sem redução salarial, luta contra a ofensiva imperialista contra os povos e a recolonização nacional, oposição de classe ao governo Dilma, por um governo operário e camponês, pelo socialismo!