sexta-feira, 10 de outubro de 2014


As eleições na América Latina expressam a fadiga crescente dos governos da “centro-esquerda” burguesa

Neste ano ocorrem as eleições presidenciais de várias países governados pela centro-esquerda burguesa como Brasil, Bolívia e Uruguai. Em 2015 a disputa será na Argentina e na Venezuela, neste último a direita golpista deve levar a frente o pedido de “referendo revogatório” contra o governo de Nicolás Maduro. A tomar como exemplo as eleições presidenciais no Brasil, onde a direita pró-imperialista avança, quadro que se repete na Argentina e Venezuela, temos claramente um impasse político no “cinturão progressista” que gerencia o Estado burguês no continente. No Uruguai, Mujica será substituído possivelmente por Tabaré Vasquez, representante da ala direita da Frente Ampla, após a realização de um segundo turno bastante disputado em novembro. Somente o governo de Evo Morales parece ter a reeleição garantida. No resto da América do Sul há um “empate” mas com tendência de derrotas futuras no próximo período. A Colômbia é governada pelo facínora Manoel Santos, reeleito com o apoio vergonhoso da “esquerda” e cuja plataforma é o desarmamento total das FARC e, no Chile, Bachelet retornou ao Palácio de La Moneda em uma apertada vitória sobre os herdeiros do Pinochetismo, pregando uma guinada bem a direita que a política de seu primeiro mandato, baseada na promessa de uma nova Constituição para garantir um “Pacto Social” com os saudosistas da ditadura militar. Assim segue o quadro político, depois que Zelaya e Lugo sofreram golpes “constitucionais” respectivamente em Honduras e Paraguai, descortinando os planos do Pentágono para a América Latina de conjunto, política reforçada com a fraude aplicada nas recentes eleições hondurenhas para presidente. Se houver uma vitória de Aécio Neves (PSDB) sobre a frente popular comandada pelo PT no Brasil teremos definitivamente o “início do fim” do ciclo dos governos da centro-esquerda burguesa no continente, já que o Brasil sempre foi o “fiador” desta aliança pela sua pujança econômica e sua importância política estratégica. Porém, independente do resultado imediato das urnas, é notório o crescente esgotamento político e econômico desse modelo de gestão estatal como vimos na acirrada disputa eleitoral na Venezuela no ano passado, tanto que o imperialismo ianque exige que ela seja substituída para incrementar o alinhamento com a Casa Branca na América Latina, retrocedendo nas relações destes países com a Rússia e a China através dos BRIC´s. Para a classe operária, que já vinha sendo atacada em seus direitos e conquistas por estes governos “progressistas” que se limitam a política de “compensações sociais” aos setores mais empobrecidos e desorganizados da sociedade capitalista, a perspectiva que se avinha é de um golpe ainda mais duro sobre suas liberdades democráticas e suas condições de vida, com ataque direto ao salário, emprego e aposentadoria. Neste marco, sem patrocinar nenhum apoio eleitoral ou ilusões nestes gerências “progressistas”, declaramos que a ofensiva pró-imperialista que avizinha deve ser combatida com os métodos de luta direta da classe operária na senda da construção de uma alternativa revolucionária de poder dos trabalhadores da cidade e do campo!

É fundamental os marxistas revolucionários terem claro este quadro político porque a tendência no continente e, em todo o planeta, é que as forças mais reacionárias se fortaleçam mundialmente, rompendo inclusive a esfera de democracia burguesa. A guerra na Ucrânia patrocinada pela OTAN contra a Rússia e a recente investida “democrática” do imperialismo ianque e europeu em Hong Kong contra a China foram lastreadas pela vitória da “Primavera Árabe” no Oriente Médio e no norte da África, que resultou na derrubada do regime Kadaffi na Líbia, no retorno da ditadura militar no Egito, na ocupação militar do Mali e na desestabilização da Síria. Este processo do outro lado do planeta tem sua “cara-metade” na América Latina através da aberta contestação dos governos da “centro-esquerda” burguesa no continente por forças reacionárias. As tendências fascistizantes se fortaleceram muito no último período na Venezuela e mesmo no Brasil, onde a burguesia e o imperialismo podem até admitir a reeleição de Dilma (cada vez mais improvável) mas já colocam 2018 como limite do “projeto de poder petista” apontando previamente Alckmin, membro da Opus Dei, como seu homem forte a partir desta data. O assassinato de Chávez e o enfraquecimento do governo Maduro, com os golpistas encabeçando manifestações de massas contra o que chamam de “ditadura bolivariana” demonstra que a direita cada vez mais se aproxima do uso de métodos de “guerra civil” para se impor politicamente.

O atual processo histórico é resultado de quase três década de seguidos retrocessos políticos da classe operária no plano internacional, particularmente desde a derrubada contrarrevolucionária da URSS. Não por acaso desde então o vetor da direita foi a “luta pela democracia e contra as ditaduras”. Foi assim na URSS e no Leste Europeu contra o “stalinismo”, no Oriente Médio e agora nas fronteiras da China e da Rússia contra o “totalitarismo”. O mesmo se observa no combate ao “bolivarianismo”, a Cuba e ao petismo! Este discurso porém, pouco a pouco, vai sendo superado (ou incrementado) por condutas cada vez mais xenófobas e anticomunistas, como vemos hoje na Ucrânia e em vários países da Europa. Na França, a Frente Nacional do fascista Le Pen já é a primeira força política, expressando uma tendência de todo o “Velho Mundo”. Os ensinamentos de Trotsky sobre a conduta que os revolucionários deveriam ter na Alemanha contra ascensão do nazismo e de Hitler se fazem cada vez mais presentes e atuais. Este combate não passa necessariamente pelo apoio eleitoral (mesmo crítico) ao governos da centro-esquerda burguesa (ainda que em algumas situações, como foi na Venezuela, este possa ocorrer) mas fundamentalmente pela política de denúncia do caráter reacionário da ofensiva em curso e do chamado a base destes partidos nacionalistas-burgueses, reformistas e social-democratas a reagir, a superarem a conduta paralítica e acomodada de suas direções, sempre ávidas por um pacto com o imperialismo. É assim que os leninistas tem agido na Ucrânia, China, Líbia, Síria e no Oriente Médio. É desta forma que se lançam na luta política e programática na América Latina, inclusive defendo frentes únicas de ação para derrotar os fascistas, como na Venezuela!

Desgraçadamente, os pseudo trotskistas (LIT, UIT, CMI, PTS...) tem atuado como sombra da direita em todos esses fenômenos políticos. No Brasil, apoiaram a farsa do “mensalão” contra o PT e não combateram Marina Silva desde o início, procurando um “diálogo” com a então candidata preferencial dos rentistas. Na Venezuela, se negaram a apoiar criticamente a eleição de Maduro para combater a direita em um caso extremo em que a luta de classe estava expressa vivamente no terreno eleitoral após a morte de Chávez. Na Argentina, somam-se a oposição de direita e seus “cacerolaços” contra ao governo de Cristina Kirchner! No plano mundial, apoiaram as “revoluções made in CIA” na Líbia e Síria e saudaram o golpe militar no Egito! Agora comemoram a ofensiva da OTAN na Ucrânia e as manifestações “por democracia” em Hong Kong! Esta orientação desastrosas mina as possibilidades de se construir uma alternativa revolucionária à esquerda dos governos da centro-esquerda burguesa e acabam favorecendo a reação fascista! De nossa parte alertamos que esse é o caminho suicida da derrota, que favorece o recrudescimento da ofensiva contra o conjunto da “esquerda”, como vimos durante as “Jornadas de Junho”, quando as hordas fascistas caçavam qualquer bandeira vermelha e o símbolo da foice e do martelo, colocando no mesmo saco de gatos, o PT e as organizações comunistas! Os que saúdam a queda das estátuas de Lenin em Kiev na Ucrânia são os mesmo que estabelecem alianças com a direita em nome de “combater o PT” como fez o PSTU e CST no caso de “mensalão”!  As eleições na América Latina estão expressando o esgotamento dos governos da “centro-esquerda” burguesa, cabe aos genuínos trotskistas estabelecer um duro combate programático mostrando as consequências desta guinada a direita em curso e a construir o Partido Revolucionário como contraponto militante a este tendência fascistizante que se avinha, chamando as bases operárias e populares que apoiam estes governos “progressistas” a responder as lutas a investida da direita, superando inclusive a política de “coexistência pacífica” com a Casa Branca, que a frente popular no Brasil e seus congêneres desejam manter no continente, enquanto o “Ovo da Serpente” vai se desenvolvendo a cada dia que passa!