sábado, 18 de outubro de 2014


O chamado ao Voto Nulo realmente favorece a direita? Uma resposta classista a Breno Altman

O “conceituado” jornalista Breno Altman, um dos apologistas de esquerda mais aguerridos na defesa da Frente Popular, nos brindou com um “artigo militante” onde tenta demonstrar que a campanha pelo voto nulo ou mesmo o boicote as eleições favorece objetivamente a vitória da direita e seu dileto candidato, o Tucano Aécio Neves. Os argumentos de Altman “passeiam” desde a aritmética eleitoral até a a razoabilidade política da “importância” em reconduzir o PT ao Planalto e assim evitar o retorno da direita (ou como nós definimos a “nova” direita) ao poder de Estado. Altman define desta maneira a suposta “ajuda” que os “críticos do PT” estariam dando ao PSDB: “Não se imagina que o voto em Dilma, vindo de setores críticos ao petismo, seja aval duradouro ao governo incumbente e eventualmente reeleito. Trata-se de saber, no entanto, se esses eleitores estão ou não dispostos a barrar o avanço da hipótese mais reacionária. Apesar do exemplo de desprendimento das principais lideranças do PSOL, além de outras referências sociais, culturais e políticas, que declararam seu apoio à fórmula presidencial petista, há quem continue a fincar pé no diagnóstico de que são todos farinha do mesmo saco. Mesmo sob o risco, ao votar nulo no dia 26,de estar objetivamente prestando auxílio ao candidato da direita" (Altman,OM,17/10/14). Não vamos neste contraponto as “teses” de Altman cansar o leitor com as já “exauridas” constatações que na verdade foi o governo do PT quem abriu as portas para “auxiliar” a sobrevivência política da velha e corrompida direita, como Sarney, Collor e  Maluf etc...Como diz um velho provérbio mandarim: “A verdade quando é pura  resiste as mais cortantes espadas do pensamento”, e somos obrigados em nome da verdade a reconhecer que Altman tem plena razão em sua “lógica”, afinal qualquer movimento eleitoral que neste momento não deságue em Dilma, favorecerá o triunfo da direita, com a Tucanalha de volta a presidência. Como ainda não consideramos o PT como uma representação política da direita, Altman está certo ao conferir qualquer não apoio eleitoral a Dilma como uma “equação” onde o “X” resulta em Aécio. A “correta” lógica de Altman só não contempla um elemento central para os Marxistas Revolucionários, a questão das classes sociais, onde “direita e esquerda” são a representação política da mesma classe dominante. Se não tapamos “o sol com a peneira” e afirmamos com todas as letras que o voto nulo poderá beneficiar eleitoralmente o PSDB, com muito mais vigor asseveramos que nesta conjuntura posta tanto o PT como o PSDB expressam a “esquerda e a direita” da burguesia nacional, cortada ao meio entre os dois "projetos de poder". A “gerência” estatal do PT se propõe a conduzir a burguesia a conquistar “novos” mercados (já não tão novos assim e um tanto esgotados), por outro lado a “capatazia” Tucana pretende girar a economia para a aliança tradicional com os EUA, que alardeia sua iminente recuperação. Se a opção “gerencial” colocada pelo PT já não é capaz de produzir um “esplendoroso” superávit cambial para o Estado, é mais do que “natural” que setores da burguesia agora apostem no retorno dos Tucanos. Como um militante da Frente Popular (sinônimo de governo burguês), Altman já não raciocina mais com critérios de classe e sim com as representações políticas dos patrões: esquerda versus direita. Simplesmente não leva em consideração que os segmentos mais consistentes da burguesia nacional apóiam o PT, como o Bradesco, o “consórcio” das cinco grandes empreiteiras, investidores de grosso calibre como Abílio Diniz (cotado para o novo ministério de Dilma) e o  “barão” da soja Blairo Maggi (grupo Amaggi) etc... O PSDB não fica muito atrás tendo ao seu lado a famiglia Marinho (Organizações Globo), o “conde” do aço, Jorge Gerdau, ITAÚ  etc...  Podemos atribuir a duríssima polarização que permeia o atual cenário eleitoral a própria divisão “cabeça a cabeça” na “pista de corridas” da burguesia nacional. Poderíamos até mesmo aceitar o “convite” de Altman para estabelecer um bloco com o PT, a ala esquerda da burguesia, mas não no terreno eleitoral e em outra conjuntura, onde a direita burguesa ameaçasse realmente o movimento de massas com um golpe fascista. Por ora a única ameaça concreta é a continuidade da política de “ajuste” neoliberal, que já vem sendo levada a  cabo pelo governo do PT e com a possibilidade da volta do PSDB com certeza se intensificará. Porém o proletariado não pode ser chantageado politicamente pelos “neoliberais de esquerda” para se postar contra os “neoliberais de direita”, é necessário ir além da dicotomia eleitoral burguesa construindo uma alternativa classista para a próxima etapa histórica da luta de classes.

Não estranhamos a reverência que Altman prestou “ao desprendimento das principais lideranças do PSOL” em convocar a militância para apoiar o PT, afinal este partido foi gestado no ventre da política de colaboração de classes e nunca fincou sua referência programática na perspectiva histórica da classe operária. Assim como Altman, o PSOL também pretende utopicamente “democratizar” o capital e não expropriá-lo de forma revolucionária. Por isso as categorias teóricas “pensadas” por ambos, o que também inclui o PT em seu conjunto, não pode admitir a violência de uma classe para subjugar a outra e muito menos reconhecer o Estado como um comitê gestor dos negócios da classe dominante. Os conceitos “reformistas” (no sentido clássico do termo) de Altman são incompatíveis com a luta do proletariado para impor seu próprio poder de Estado (Ditadura do Proletariado), logicamente não pela via eleitoral, e se limitam a necessidade de implementar as chamadas “políticas públicas” de inclusão social. Nesta questão sem sombra de dúvidas o PT se mostrou bem mais competente que os Tucanos, ocorre que a caricatura de um  “Welfare State” tupiniquim nunca foi uma “bandeira” socialista e muito menos proletária.

Para os Marxistas o genuíno sentido político do termo esquerda está relacionado as lutas concretas das massas proletárias e suas organizações revolucionárias, mas para os intelectuais da pequena-burguesia a esquerda ainda deve representar a antiga ala burguesa do parlamento francês, no final do século 17. Deste período até os dias de hoje quando é conveniente para a burguesia tenta-se amalgamar o termo esquerda, fazendo crer que a esquerda burguesa e a proletária tem objetivos "táticos" comuns. Porém quando se trata de reprimir a ação direta do movimento operário com a selvageria do Estado capitalista, estes mesmos "senhores" se apresentam como "democratas" e negam qualquer vínculo político com a esquerda em geral.

O fato de recusarmos o chamado para chancelar eleitoralmente a candidatura do PT "contra a direita", não nos impede de atacar impiedosamente as articulações da "nova" direita (PSDB, PSB e REDE), sempre sob o ângulo da classe operária. Fomos a primeira corrente da esquerda revolucionária a denunciar vigorosamente o embuste da "Operação Marina", quando o próprio PT ainda tentava inutilmente um "diálogo" com a candidata patrocinada pela Casa Branca. Seria oportuno lembrar a Breno que contra a ofensiva reacionária da direita, concentrada na Ação Penal 470, conhecida como "Mensalão", apesar das enormes divergências saímos em defesa dos dirigentes petistas, quando o próprio partido de Lula se acovardava diante do bombardeio da mídia "murdochiana". Agora não se trata de sucumbir a pressão democratizante do "canto suave" de uma "doce Dilma", para que logo após o termino do período eleitoral o governo petista descarregue todo o ônus da crise capitalista sobre os ombros do proletariado e da população mais oprimida socialmente. Os "deuses do sacro" mercado já tem a "promessa" absoluta de que ganhe o PT ou o PSDB seguirão acumulando o capital extraído da mais-valia operária, é esta a contradição fundamental que os Marxistas combatem por abolir.