terça-feira, 14 de outubro de 2014


O “unguento milagroso” das “Jornadas de Junho” justifica até o triunfo do Opus Dei Alckmin. Para os revisionistas a “Onda Conservadora” é pura ficção política!

Muitas correntes revisionistas dentro e fora do PT, com a Esquerda Marxista (EM) ou a LER-QI escreveram artigos na tentativa de “explicar” (ou melhor, negar!) que nas eleições de 2014 houve o crescimento da direita no Brasil, entendido este espectro político como as forças burguesas mais conservadoras, como o PSDB do Opus Dei Alckmin. As “teses” apresentadas por estes agrupamentos são tragicômicas porque, antes de tudo, se especializam em negar a realidade para encaixá-la no seu esquema de que as “Jornadas de Junho” abriu perspectivas revolucionárias (ou no mínimo progressistas) no Brasil. A EM é categórica ao afirmar que “Não existe ‘onda conservadora’ no Brasil, nem em SP” (13/10) e assevera “As jornadas de junho de 2013 representaram o despertar de uma massa de jovens para a vida política. Uma massa de jovens que não conhece a história do PT, que não conheceu o PT que lutava pelos direitos dos trabalhadores, por mudanças na sociedade. Trata-se de uma juventude que passou toda sua ‘vida consciente’ sob o governo do PT em coalizão com partidos burgueses. Para esta camada de jovens, o PT não é sinônimo de mudança, mas sim de continuidade da ordem vigente. Não é de se estranhar que ao mesmo tempo em que queiram mudanças, estes jovens sejam anti-petistas. E, em meio à despolitização, podem acabar buscando expressar seu anseio por mudanças em qualquer voto contra o PT, inclusive em Aécio do PSDB no 2º turno”. A contra gosto, a própria EM é obrigada a nos confirmar que as tendências direitistas se consolidaram no país desde as “Jornadas de Junho”, na medida em que no primeiro turno foi a candidatura Marina que galvanizou politicamente o espírito das “Jornadas” e, agora, a ecocapitalista apoia o tucano Aécio, representante-mor das forças da reação burguesa na disputa presidencial! Este deslocamento ocorreu porque o fenômeno social das “Jornadas” nem de longe expressava um conteúdo revolucionário das camadas proletárias e mais oprimidas da população, ao contrário foram a manifestação de “indignação” da pequena burguesia com a precariedade dos serviços estatais. Neste processo multitudinal culparam o governo do PT por todas suas mazelas capitalistas e históricas, abrindo espaço para a entrada das forças neofascistas no movimento de “Junho”. A reeleição de Alckmin em primeiro turno em São Paulo e o crescimento do espectro reacionário no estado só confirma esta caracterização, que não é “apenas” um fenômeno eleitoral mais acima de tudo ideológico, com o fortalecimento de grupos fascistas e de extrema-direita para “combater o PT e sua ditadura comunista”, como vimos em Junho de 2013 e agora nas urnas em 2014! Mesmo defendendo o Voto Nulo, denunciado o circo eleitoral e a fraude imposta pela urna “roubotrônica” que manipulou resultados tanto no Rio como em São Paulo, não podemos fechar os olhos para esta realidade que exige dos Marxistas Revolucionários saber apontar onde nasce o Ovo da Serpente para não mensoprezar o seu perigo imediato e histórico!

Compartilhando deste mundo da fantasia, a LER-QI nos brilha com a seguinte constatação (também hilária) com relação ao resultado eleitoral dos dois mais importantes estados da federação: “Rio de Janeiro - O primeiro turno mostrou que Junho segue vivo: Nem Pezão nem Crivella!” e “Eleições em São Paulo: Giro à direita ou falta de alternativas ao PT?”. Em seu delírio revisionista, a LER afirma que “Como parte da campanha nacional em defesa do voto em Dilma não faltam ativistas nas redes sociais e até analistas em grandes meios que analisam os resultados das eleições no Rio para concluir duas coisas: Junho não se expressou ou a ‘direita’ se fortaleceu. Esta análise interessada não corresponde aos fatos. A reeleição do deputado direitista Bolsonaro e outros candidatos conservadores com votações superiores a 2010 não muda o sentido geral destas eleições: elas expressaram Junho. Em três sentidos: fragmentação e debilidade dos representantes do ‘regime’ e do governo Cabral e Dilma, aumento da crise de representatividade, grande votação do PSOL em geral e especialmente no ‘centro’ do Junho carioca (capital e Niterói)” (Palavra Operária, 10/10). Para a LER, o fato de dois candidatos direitistas terem ido para o segundo turno e haver o fortalecimento da bancada parlamentar conservadora a nível nacional demonstrou que “Junho segue vivo”! De fato! O que “convence” a LER que o espírito das “Jornadas” se fez presente nas urnas foi a votação dos ultra-oportunistas do PSOL! Por esta razão afirma “A grande votação do PSOL também é uma expressão de Junho! O PSOL conseguiu captar eleitoralmente uma parte expressiva dos votos daqueles que foram às ruas em Junho. Isso pode ser medido pelo seu aumento de votos em todos os níveis. Luciana Genro conseguiu 220 mil votos no Rio, ficando em quarto lugar atrás de Dilma Rousseff, Marina Silva e Aécio Neves. O candidato a governador Tarcísio alcançou impressionantes 712 mil votos (8,92%), e as votações para deputados federal e estadual também aumentaram muito (mais de 530 mil votos nos dois níveis” (idem). Ocorre que o PSOL já vinha crescendo eleitoralmente no Rio desde 2010 e o desgaste do PT no apoio ao governo Cabral fez com que a parcela constante do eleitorado de esquerda se dividisse entre Lindberg e o candidato a governador do PSOL. Por sua vez, os parlamentares psolistas foram apoiados por celebridades “marineiras” como Caetano Veloso e artistas globais como Wagner Moura, havendo uma aliança informal entre a candidatura de Marina para presidente e as do PSOL no estado! Em resumo o voto massivo da classe média que apoiou Marina também premiou o PSOL no Rio de Janeiro, como herdeiro parcial das Jornadas!

Com relação a SP, tanto a EM como a LER responsabilizam apenas da impotência do PT e sua política de colaboração de classes pela vitória do tucanato e não identificam um fenômeno político e ideológico muito mais amplo, baseado no retrocesso da consciência de classe dos trabalhadores em todo o Brasil (na verdade no planeta) e em São Paulo. Fazem este malabarismo porque ambas correntes caracterizam que o mundo deu um “giro a esquerda” nos últimos anos, particularmente desde o início da mal chamada “Primavera Árabe”. Porém trata-se justamente do contrário: há o fortalecimento mundial da tendência reacionária e o Brasil reflete este processo tanto no plano eleitoral como político e ideológico. Incapaz de compreender esse fenômeno, EM declara “A grande questão aqui é que o PT perdeu muitos votos. E isto não necessariamente quer dizer que seja “uma guinada do eleitorado à direita” – ainda mais com a política que o PT vem aplicando ultimamente, ampliando e aprofundando alianças com partidos burgueses. De 2010 para 2014, o PT perdeu mais de 4 milhões e 300 mil votos, mesmo com um aumento de 7 milhões de eleitores no Brasil! E para onde estes votos foram? Impossível dizer como cada indivíduo mudou seu voto”. No mesmo caminho, a LER afirma “Giro a direita ou falta de alternativas ao PT? Partindo deste quadro um pouco mais detalhado do que os dados percentuais brutos que o PT utiliza de forma interessada, podemos ver que não houve um fortalecimento da direita em São Paulo. Mais ainda, não é exagero afirmar que em meio a muitas crises, o PSDB se mantém em função da debilidade ainda maior dos seus adversários...O grande rechaço ao PT é consequência direta das manifestações de junho e da crise de representatividade que golpeia o PT duplamente, no aparato estatal e sindical. A votação do PSOL, que na reta final do primeiro turno fez uma campanha centrada nas bandeiras democráticas contra a homofobia e o machismo, em alguma medida é expressão do sentimento de junho”. Em resumo para estas correntes a “crise do PT” em SP não fortalece a “direita” e sim a “esquerda” ou mesmo ninguém! A LER vai mais longe e, novamente, sai a comemorar os votos do PSOL, que manteve o quadro eleitoral que tinha em 2006 em SP (1 deputado federal e dois estaduais)!

Só nas conclusões políticas eleitorais estas correntes divergem...aparentemente. Enquanto os pilantroskos de EM declaram que “Apesar de todas as traições da direção do PT, a classe trabalhadora ainda pode cumprir seu papel e impedir a vitória do PSDB no segundo turno, dando ao PT mais uma chance. E o PT será colocado à prova diante de toda a classe trabalhadora. É necessário que a classe trabalhadora faça a experiência até o fim com estes que reconhece como seus representantes históricos. Estará nas mãos da direção do PT continuar com a política de conciliação com a burguesia e ser definitivamente abandonada por sua classe ou virar à esquerda e reatar com as bandeiras originais do partido, de luta pelo socialismo. Somente passando por essa experiência é que o proletariado brasileiro encontrará uma saída para sua reorganização sobre um novo eixo de independência de classe. Vote Dilma, vote 13!” demonstrando que sua caracterização está voltada a chamar o voto no PT mais uma vez “contra a direita”. Por outro lado a LER declara-se pelo Voto Nulo, mais de fato não passa de um papagaio do PSOL, excitado pelo seu desempenho eleitoral! Isto ocorre porque o conjunto da esquerda revisionista (PSOL, PSTU, LER, PCO e até mesmo o neorreformista PCB), estabeleceu um verdadeiro fetiche político acerca dos acontecimentos que se notabilizaram como as históricas “Jornadas de Junho” de 2013. Para estes setores a intensa mobilização das “ruas” foi o fato político mais importante da história do país, pelo menos segundo a ótica da chamada “esquerda socialista”. O “espírito” de Junho passou a guiar programaticamente as ações do bloco revisionista ao ponto de “sonharem” com sua repetição em 2014 (o ano da Copa e eleições no Brasil), o que obviamente não ocorreu, e também com uma imensa “enxurrada” de votos em seus candidatos “herdeiros de Junho”, um delírio oportunista que não se concretizou. Para os Marxistas Revolucionários o movimento das “ruas” só poderá significar um ascenso revolucionário quando de fato estiver “colado” à organização estrutural do proletariado e suas organizações de esquerda. Neste caso as “ruas” serão a legítima expressão política do movimento organizado nas fábricas, empresas e escolas. Como a própria luta de classes e os resultados nas urnas está demonstrando, as “Jornadas de Junho” passaram bem longe da “revolução” e acabaram por “engordar” no primeiro turno uma caricatura sinistra chamada Marina, que hoje apoia Aécio! Como se observa, o espírito das “Jornadas de Junho” de 2013 e o crescimento da “Onda Conservadora” nas eleições de 2014 são dois lados da mesma moeda da reação burguesa!