sexta-feira, 17 de outubro de 2014


Para apoiar Dilma no segundo turno, burocracia sindical “chapa-branca” golpeou a greve nacional dos bancários em tempo recorde!

A greve nacional dos bancários, iniciada dia 30/09, foi duramente golpeada em apenas quatro dias de paralisação, quando o Comando Nacional, coordenado pela Contraf-CUT, orientou às assembleias de base do dia 06/10, portanto logo após a realização do primeiro turno das eleições presidenciais, a aprovação da nova proposta da Fenaban: reajuste de 8,5% (aumento real de 2,02%), o piso salarial em 9% (2,49% acima da inflação) e o vale-refeição em 12,2%. A maioria das assembleias, previamente divididas por banco, aprovou o acordo rebaixado, embora em algumas cidades, os bancários de bancos públicos tenham continuado a greve, de forma isolada e fragmentada, por um ou dois dias. A política da burocracia “chapa branca” foi encerrar a greve para se dedicar a campanha eleitoral de Dilma no segundo turno, ainda mais que a “gerentona” petista recebe o apoio do Bradesco para sua reeleição. Não por acaso, o presidente do maior banco privado do país, Luis Carlos Trabuco, elogiou-a recentemente declarando que “Dilma tem um plano de governo, tem um direcional, é a favor do Brasil e nós [bancos] somos a favor do Brasil” (Valor Econômico, junho/2014). Apesar da CUT e da campanha petista demagogicamente atacar durante o primeiro turno o apoio do Itaú a candidatura de Marina Silva, o Bradesco e vários pesos pesados do empresariado seguem tendo Dilma como sua candidata preferencial. Por esta razão, as direções sindicais governistas resolveram sacrificar a luta dos bancários para não desagradar aos patrões de sua candidata!

As manobras utilizadas pela burocracia governista da CUT-CTB para liquidar a greve e conter esses focos de resistência da base foram duas: embelezar as esmolas da Fenaban e quebrar a unidade da categoria, fragmentando a mobilização e dividindo os bancários em assembleias específicas por banco para isolar os setores mais combativos. Desse modo, limitaram o alcance da insatisfação da base contra a proposta dos banqueiros e as manobras dos dirigentes em enfiar goela abaixo da categoria um acordo tão pífio. Essa curta longevidade da greve dos bancários foi determinada pela expressiva polarização política eleitoral no país que colocou em xeque a reeleição de Dilma, jogando essa decisão para o segundo turno. Foi preciso, portanto, os governistas da CUT-CTB concentrarem esforços para priorizar a reeleição de Dilma em detrimento das necessidades e reivindicações dos trabalhadores, optando assim por selar um pacto com a grande burguesia que apoio a “gerentona” petista. Setores de peso da burguesia sabem que o controle do PT sobre o movimento operário é fundamental para a estabilidade do regime político. Tanto que ao lado do Bradesco, apoiam Dilma o mega-empresário Abílio Diniz, que após vender sua participação no Pão de Açúcar e Extra se tornou o maior investidor privado do país através do grupo Península Participações. Abílio Diniz, que hoje controla Brasil Foods (dono da Sadia), a maior empresa do ramo de carne do mundo, é inclusive cotado para ser Ministro da Fazendo no próximo governo do PT como uma exigência do “mercado”. Além disso, no ramo do chamado “agronegócio” o PT tem o apoio de Blairo Maggi, o rei da soja e controlador do Grupo Amaggi, um dos maiores produtores e exportadores de grãos do Brasil, que declarou “Meu compromisso é com o projeto da presidenta Dilma Rousseff à reeleição”. Como se observa, as campanhas salariais foram abortadas neste segundo semestre para que Dilma provasse na prática que seus agentes no interior do sindicatos seguem as ordens de impor a “paz social” que exige a burguesia, que em troca deu apoio financeiro bilionário a sua campanha eleitoral! 

Não é novidade que a burocracia, de forma cínica e descarada, subordine as tendências de luta independente dos trabalhadores aos seus interesses e apetites político-partidários. Não por acaso, a burocracia chapa-branca tratou de liquidar as principais campanhas salariais nacionais do segundo semestre (correios, petroleiros, metalúrgicos); depois, retardou a deflagração da greve dos bancários; chegou, inclusive, a manipular a insatisfação e a própria greve, a exemplo dos atos no Banco Central questionando a autonomia do BC e o reforço contra o Banco Itaú, para desgastar a candidatura de Marina Silva (PSB), até então, a adversária de Dilma para o segundo turno, mas que acabou sendo desbancada pelo candidato Aécio (PSDB) para concorrer no segundo turno com Dilma. As palavras do presidente do Bradesco são categóricas e revelam que os banqueiros também estão com Dilma. Em entrevista ao Valor Econômico ele foi questionado se “O setor financeiro está com a presidente Dilma ou se sente menos confortável com ela?” e Trabuco respondeu “Nós estamos confortáveis”, afirmando ainda que esta era a posição de todo o setor financeiro. O apoio de parte dos banqueiros se justifica também porque o governo da Frente Popular ampliou em outubro de 2013 por meio de decreto presidencial o limite de participação de estrangeiros (rentistas internacionais) no capital acionário do Banco do Brasil de 20 por cento para até 30 por cento.

A greve revela, mais uma vez, a enorme disposição de luta dos bancários que, infelizmente, esbarra na política de colaboração de classes de suas direções sindicais. A expressão da insatisfação e desconfiança da base em suas direções tem se revelado crescentemente na ausência dos grevistas nas assembleias, nos piquetes, no aumento dos fura-greves nos bancos públicos que batem o ponto, mas não abrem as agências ao público, atendendo de forma seletiva aos clientes de alta renda. Nessa greve, houve uma boa adesão, mas com pouca participação. Como os bancários em luta não se sentem representados por suas direções traidoras, acabam se comportando de forma contraditória, alimentando a chamada “greve de pijama”. Esta situação ainda é agravada pela ausência de um trabalho de base, organizativo e centralizado em nível nacional dos setores de Oposição, particularmente o MNOB que, preferem adotar uma política reformista de adaptação à burocracia governista, inclusive compondo chapas sindicais com tais setores, além de defender a divisão dos bancários em negociações e mesas específicas por banco, diferenciando-se apenas por economicismo vulgar e reforçando o corporativismo da categoria, inclusive, sem qualquer combate à manobra da divisão das assembleias.

Esta política só serve para fragilizar a categoria e ajudar a burocracia, aos banqueiros e ao governo Dilma a liquidar nossa mobilização, causando desmoralização e confusão na base. Portanto, é preciso que os trabalhadores abstraiam as lições dessa greve para forjar um verdadeiro polo de direção classista para a categoria bancária. O MOB (Movimento de Oposição Bancária), impulsionado pela TRS, chama os lutadores a agruparem-se sob a bandeira da independência de classe e a travarem uma clara delimitação política que, através de um sistemático e paciente trabalho de base seja capaz de desenvolver e fortalecer um núcleo de lutadores que não se vergue às chantagens da burocracia sindical governista nem ao oportunismo da burocracia de esquerda, domesticada e adaptada politicamente a acomodar  seus interesses de aparato.Esta política colaboracionista da burocracia da CUT/CTB em subordinar e atrelar a campanha salarial dos bancários aos interesses do capital financeiro e ao próprio governo Dilma, inclusive apoiando sua reeleição apenas revela o grau de decomposição política dessas direções sindicais. Dilma vem aplicando a política da direita e do tucanato. Como FHC, mantém os salários arrochados nos bancos públicos (BB, CEF, BNB) e privilegia os banqueiros, que tem tido lucros recordes. Por esta razão, contra esta política eleitoralista nós defendemos o Voto Nulo e o boicote ativo à farsa eleitoral, opondo-se inclusive ao “voto crítico” em Dilma como defende setores do PSOL em nome da política do “mal menor”! Como vimos, o PT agrega o apoio majoritário da burguesia nacional, que apesar das “queixas” midiáticas ao “intervencionismo” segue financiando  pesadamente a campanha da candidata do partido e não merece nenhum voto dos trabalhadores, não havendo diferenças substanciais do caráter de classe entre os “projetos de poder” do PT e PSDB!