terça-feira, 7 de outubro de 2014


Urna “roubotrônica” e Rede Globo tiram Garotinho do segundo turno no RJ

O Rio de Janeiro foi o estado da federação onde a fraude eletrônica foi mais escandalosa. Apesar da rejeição a Pezão (PMDB) ser enorme, o candidato do odiado Cabral não só ficou em primeiro lugar na “abertura” das urnas como seu adversário no segundo turno será Marcelo Crivella (PRB), “escolhido a dedo para perder”. Anthony Garotinho, que todas as pesquisas indicavam ir para o returno ficou em terceiro lugar. Tamanha “surpresa” foi denunciada pelo candidato do PR: “Embora a pesquisa de boca de urna que ouviu 5 mil pessoas, às 16h, me desse 10 pontos de vantagem, cheguei com 0,5 ponto atrás do senador Marcelo Crivella, que vai disputar o 2º turno contra o candidato que juntou em torno de si as máquinas estadual e da Prefeitura do Rio, mais de 80 prefeitos, e dezenas de grupos econômicos que defendem interesses escusos junto ao Estado, a começar pelas Organizações Globo. Parabéns aos vitoriosos e a nossa luta continua, afinal na vida é melhor perder uma eleição do que perder a vergonha” (Blog do Garotinho, 05/10). Em sua tímida crítica a manipulação dos resultados, Garotinho não denunciou a fraude eletrônica porque é um político burguês que está “enquadrado” pelo respeito ao regime da democracia dos ricos. Não pode romper a regras do acordo senão cairá em desgraça eterna.  Porém os Marxistas Revolucionários não tem qualquer dúvida que ele foi “punido” por criticar a Globo ao vivo e a cores em entrevistas da própria emissora da “Famiglia Marinho”, fato que nos faz relembrar o escândalo da fraude do Proconsult contra Brizola em 1982, adversário confesso da emissora global. Esta certeza é reforçada ainda mais sabendo que a máfia ligada a Cabral e Pezão controla o TRE e pode alterar resultados via o software na totalização de votos na urna “roubotrônica” como denunciaram vários especialistas, já que não há a comprovação física do voto que possibilite recontagem manual! Como não se pode mais aferir o voto do cidadão, pela inexistência de sua materialidade, a totalização eletrônica fica a cargo de uma equipe de “técnicos” dos TREs, subordinados aos desembargadores nomeados pela oligarquia dominante em cada região. Esta é a “mágica” que tirou Garotinho da disputa no Rio, engordou os votos de Aécio em São Paulo e pode alterar os resultados em votações “apertadas” no segundo turno!

O caso de Garotinho é ainda mais escandaloso porque os próprios “institutos de pesquisa” indicavam ampla margem dele a frente do terceiro colocado, Crivella. Mas a Rede Globo em conluio com Pezão e Cabral não desejavam que Garotinho sequer fosse para o segundo turno, já que o candidato do PR seguiria nas denúncias contra os Marinho, como já havia feito no primeiro turno, como a sonegação fiscal bilionária, o apoio das "Organizações Globo" a ditadura militar e a própria manipulação midiática global. Garotinho, um político burguês que tem origem no Brizolismo mas tomou um rumo cada vez mais a direita, sabe que pagou caro por balbuciar contra o monopólio da mídia. Porém como sua candidatura faz parte do circo eleitoral simplesmente anunciou comportadamente o apoio a Crivella a fim de que “ajude a liberar o Rio de Janeiro desse grupo mafioso” e nada mais! Precavida, a própria Globo pediu que o IBOPE e a Datafolha explicassem as “divergências” entre o resultado das urnas e as pesquisas. Em seu cinismo patente o diretor-geral do Datafolha afirmou ““Há eleitores que não estão totalmente convictos do seu voto na véspera e acabam mudando no próprio dia da eleição”. Segundo o G1 “A diretora do Ibope, Márcia Cavallari, explicou que o número de indecisos foi acima da média nesta eleição e que muitos eleitores deixaram para escolher o candidato na hora de votar. A indecisão dos eleitores, segundo o Ibope, teria provocado uma distorção no resultado da pesquisa. No entanto, ela não vê necessidade de mudar a metodologia”. Em resumo, os institutos podem manipular a vontade e os “ajustes” finais ficam por conta do TRE controlado pela oligarquia dominante de cada estado. Ao lado das urnas “roubotrônicas” há a manipulação das pesquisas eleitorais, como vimos contra o candidato do PT em São Paulo, Alexandre Padilha. Neste caso, as pesquisas ajudaram a impor a vitória de Alckmin (PSDB) no primeiro turno, para projetá-lo como o homem forte do tucanato em 2018 e poupá-lo do desgaste por ser responsável pela falta de água no estado. O mecanismo das pesquisas ocorre da seguinte forma: como a maioria das candidaturas majoritárias postas pelo regime carece de base social, as pesquisas eleitorais cumprem a função de “popularizar” os postulantes do anonimato, que sempre começam a corrida eleitoral com índices muito baixos, para depois repentinamente aparecerem liderando a disputa. A exceção se faz quando se trata dos governantes que pleiteiam a reeleição, neste caso ou já partem disparados na frente (um indício de que a eleição já está definida) ou não conseguem decolar em momento algum (sinal de que perderam o apoio da burguesia). Muitos ingênuos (úteis) poderiam pensar que o IBOPE ou DataFolha realmente utilizam elementos técnico-científicos em seus trabalhos por “encomenda”, ledo engano! Estes supostos “institutos” ganharam um enorme peso político com a implantação do sistema eleitoral totalmente digitalizado, ou seja, na votação eletrônica (voto virtual) e totalização computadorizada.

A fraude eleitoral, não nasceu com a urna eletrônica nem tampouco com as pesquisas eleitorais, é um produto histórico inerente a própria democracia burguesa. Lenin há mais de um século, estudou os mecanismos do processo eleitoral, no marco da ditadura capitalista, concluindo que seus resultados expressam sempre a forma distorcida da vontade popular. Passadas várias décadas e distintas etapas da correlação de forças da luta de classes, podemos afirmar que hoje o processo político da fraude no interior das eleições representativas não só foi ampliado como tornou-se um sofisticado mecanismo da “indústria” eleitoral. Isto significa que as distorções políticas próprias da democracia burguesa, como o peso econômico dos candidatos ou o apoio que recebem da imprensa capitalista, agora são potenciados pela manipulação direta do voto popular. Casos como o escândalo do Proconsult, na eleição de 1982 no Rio de Janeiro, onde a poderosa rede Globo buscou impedir a vitória de Leonel Brizola, são considerados hoje como os primeiros “laboratórios” da fraude eletrônica. Em 1989, na primeira eleição direta para presidente após a saída de cena da ditadura militar, novamente a família Marinho atuou para derrotar um candidato considerado “adversário” de seus interesses, combinando a farsa midiática com a fraude na totalização dos votos. Com a legitimação social das pesquisas, agora ficou bem mais fácil “adequar” os boletins oficiais da justiça eleitoral, impossíveis de serem contestados por qualquer partido político ou organização da classe operária. Todos devem confiar na lisura de nossos “probos” juízes e desembargadores, já que o voto virtual não pode ser armazenado e tampouco recontado, a não ser nos programas dos computadores estatais.Em mais duas décadas do surgimento da urna eletrônica, já são inúmeros os casos mais evidentes e “patéticos” do golpe da “casadinha”, ou seja, pesquisa eleitoral e urna eletrônica atuando em conjunto, sob o comando da máfia burguesa hegemônica. Um destes episódios burlescos, marcados pela pantomima de seus protagonistas, foi a eleição do ex-governador Lúcio Alcântara em 2002, pelo PSDB-CE, quando o TRE emitiu o último boletim oficial dando a vitória ao candidato petista José Aírton, o tucano de “alta plumagem”, Tasso Jereissate, pego de “surpresa” correu até a sede da justiça eleitoral para ele próprio emitir um novo resultado (anulando o boletim já divulgado) empossando o correligionário Lúcio Alcântara.


A esquerda reformista tupiniquim vem aceitando passiva a introdução da urna eletrônica (agora com leitura biométrica para passar confiabilidade), saudando o atual mecanismo de contagem de votos como um “avanço da modernidade”, o curioso é que países na vanguarda da eletrônica e informática, como o Japão e até mesmo os EUA, não adotaram este sistema virtual, pela insustentabilidade de sua aferição material. Na verdade, para se instalar institucionalmente um mecanismo eleitoral fraudulento como o brasileiro, inclusive já exportado para outras semi-colônias, é necessário um amplo acordo político no seio das classes dominantes com o objetivo de estabilizar o regime burguês por um longo período. No caso de países imperialistas, com uma tradição republicana mais arraigada e sem um profundo consenso partidário no interior da burguesia, fica impraticável estabelecer a completa virtualidade do processo eleitoral. Como marxistas não depositamos nenhuma confiança ou credibilidade nos instrumentos e cortes da justiça eleitoral e seus “parceiros” do IBOPE... Desgraçadamente, a chamada “oposição de esquerda” seguiu o mesmo caminho do reformismo “chapa branca”, e se recusa a denunciar a urna eletrônica, como parte integrante deste grande embuste representado por este regime bastardo da democracia dos ricos e seu escopo institucional. A classe operária poderá avaliar a conveniência política conjuntural de participar ou não de um processo eleitoral burguês, mas sem nunca legitimar seus resultados cada vez mais fraudulentos e corruptos, signos da atual etapa mundial de brutal ofensiva imperialista sobre os povos e nações oprimidas.