quinta-feira, 27 de novembro de 2014


Qual o significado do Bradesco ocupar a Fazenda em um momento de esgotamento do "modelo" econômico petista? 


A confirmação nesta quinta (27) do nome de Joaquim Levy para ocupar a pasta da Fazenda suscitou uma série de reações no chamado "mundo" político e financeiro nacional, desde os setores da esquerda do PT que se mostraram absolutamente "indignados" com a escolha, até os rentistas e a mídia corporativa que festejaram a nomeação, todos ressaltaram que a missão do agora ex-diretor de recursos financeiros do Bradesco será o de impor um duro ajuste fiscal nas contas públicas. Caminhando um pouco além da obviedade, que neste caso já se declarou em números (estabelecer a meta do superávit primário em1,2 % do PIB para o próximo ano), este artigo procurará abstrair da conjuntura econômica posta na atualidade a função "vital" que correspondeu um nome do Bradesco ocupar o principal posto do estado brasileiro depois da presidência da república. Em primeiro lugar é necessário repetir mais uma vez que Levy já ocupou, no governo Lula, a estratégica secretaria do Tesouro Nacional, portanto sua presença na segunda gerência Dilma não é tão "surpreendente" assim. É certo que depois de Lula o tecnocrata neoliberal Levy serviu a outros senhores, desde a arena pública a privada, sem no entanto galgar uma função tão central como a de ministro da Fazenda. O comando do Tesouro Nacional, terceiro posto na hierarquia da equipe econômica palaciana, deu a Levy as "credenciais" necessárias para depois solidificar seu prestígio junto a rentistas e banqueiros e que agora o conduziram de volta ao Planalto. Mas os que pensam que Levy será apenas o "homem da tesoura", diante de um cenário de relativo descontrole fiscal e monetário do governo Dilma estão bastante enganados. A função "vital" de Levy na quarta gestão estatal consecutiva da Frente Popular irá além de implantar um duro arrocho econômico, seja no campo das metas fiscais ou de cortes nos investimentos diretos da União, o que os rentistas esperam do seu estafeta no governo é o "desmanche" completo dos bancos estatais, incluindo neste nicho o estratégico BNDES. Se o cumprimento das esdrúxulas metas de superávit primário, que preveem um "esforço" fiscal de 2% do PIB para 2016 e 2017, são um "generoso" presente para a FEBRABAN, garantido um abatimento recorde em apenas dois anos da dívida interna controlada pelos parasitas do mercado financeiro, a "joia da coroa" é a inação dos bancos oficiais durante os próximos quatro anos. A declaração mais importante de Levy que parece passar desapercebida, foi a de que não permitirá mais que o Tesouro Nacional repasse recursos financeiros ao BNDES, sendo que a esmagadora maioria dos fundos do banco são (por exigência legal) captados no exterior pela Secretaria do Tesouro. Como hoje o tripé dos bancos estatais (BNDES, BB e Caixa) vem movimentando cerca de 80% dos créditos para aquecer a economia, a determinação de Levy é de transferir este papel para os bancos privados, com taxas de juros é claro bem acima dos praticados pelos bancos públicos. O novo "método" adotado pela equipe chefiada Levy não permitirá que se considere o déficit líquido da União, regra adotada hoje e que exclui os repasses aos bancos estatais, daqui para frente o déficit público será considerado bruto não podendo ser "alargado". Com esta manobra "técnica" está decretada a agonia mortal do BNDES e um forte definhamento progressivo do BB e Caixa. Vem à tona da realidade que estas medidas entrarão em vigor no momento do esgotamento do "modelo" econômico petista, baseado justamente no binômio crédito/consumo, somado ao déficit da balança comercial do país. Sem as divisas cambiais e sem crédito a economia do Brasil caminhará novamente para o "paraíso " do FMI e dos braços dos EUA, parece até mesmo que Levy será muito mais do que um simples " tecnocrata do ajuste"...

A anturragem petista palaciana, como o ministro Gilberto Carvalho, logo saiu em defesa de Levy afirmando a estupidez de que “é ele quem está aderindo ao nosso projeto”. Outros "intelectuais" do PT lançaram a cínica campanha "Deixa o Levy trabalhar", cretinices a parte o certo é que os rentistas não param de festejar a "adesão" do seu "homem" ao governo neomonetarista que tem como tarefa no próximo período a desorganização do sistema financeiro estatal. O quarteto comandado por Levy, que ainda aguarda a chegada do novo secretário do Tesouro Nacional, tem pelo menos o mérito de não dissimular seus objetivos (imediatos e estratégicos), pretendem recolocar o país na rota econômica que FHC deixou em 2002.

Os apologistas do ajuste terão que explicar como farão para retomar o crescimento capitalista, aos níveis atingidos pelo governo Lula, sem a indução econômica do estado. Isto acrescido a um quadro mundial de estancamento comercial que reduz a capacidade do Brasil de gerar divisas cambiais. Com o sucateamento do parque industrial nacional (os neoliberais de esquerda e direita adoram o formato do velho "Fazendão"), incrementada pela a ausência de um projeto tecno-científico para o país, a brusca queda do valor internacional das commodities, incluindo o petróleo, nos coloca em um beco sem saída. É evidente que não conseguiremos sair da atual "sinuca" econômica com uma pauta "ortodoxa" ditada desde os "laboratórios" do cassino financeiro.

O nome Levy não é o problema em si, poderia ser ministro o patrão Trabuco ou qualquer outro "executivo" do mercado, a questão fulcral é onde quer chegar o governo da Frente Popular em seu conjunto, e ao que tudo aponta o norte parece ser Washington, D. C. Esvaziar a parceria comercial com os BRICS e privilegiar os "negócios" com os EUA é uma das metas da nova gerência Dilmista, desta forma procura uma forte âncora financeira internacional diante da recessão econômica que se avizinha. Levy será o timoneiro perfeito para esta guinada, quem insiste em qualificá-lo somente como um "burocrata sem brilho", agora subordinado aos ideais da esquerda, ficará bastante surpreso com as cenas dos próximos capítulos...