sexta-feira, 9 de janeiro de 2015


Duas criaturas do Império (Al Qaeda e EI) se apresentam como patrocinadoras do atentado em Paris, será mesmo verdade?

Durante o regime nazista na Alemanha a polícia política de Hitler não tinha muita "dificuldade" em sempre apontar os mesmos culpados para cada crime que ocorria em Berlim: comunistas e judeus sempre eram os responsáveis! Mesmo no atentado que quase tirou a vida do Fuhrer, organizado por comandantes dissidentes da própria Gestapo, os comunistas que em sua esmagadora maioria estavam presos ou mortos acabaram "assumindo" a autoria. Na atual "era do combate ao Terror" parece ocorrer algo parecido, ou seja, os responsáveis por ataques terroristas são sempre os mesmos, segundo a CIA pelo menos. O fim da Guerra Fria fez com que o imperialismo ianque produzisse outra geração de "inimigos viscerais" da "democracia americana", agora não são mais os comunistas os "vilões" que ameaçam o "American Way of Life", mas os bárbaros muçulmanos e suas organizações terroristas. O Tio Sam só "esqueceu" de dizer que os tais grupos terroristas foram criados por ele próprio para combater militarmente a antiga União Soviética. Os "jihadistas santos" do Afeganistão deram origem a atual Al Qaeda, foram treinados, armados e financiados pela CIA para derrubar um governo nacionalista e laico que mostrava simpatias pelo regime soviético. Combateram o Exército Vermelho, forçado a ocupar Kabul diante da barbárie fundamentalista, com munição enviada diretamente pela OTAN. Até então para o governo Reagan, Osama Bin Laden era um herói e aliado fiel dos EUA enviado ao Afeganistão pelos amigos da dinastia Saud que governa a Arábia. Avançando no tempo chegamos ao 11 de Setembro de 2001, quando os antigos "guerreiros mujahideen" foram declarados inimigos mortais do Império e considerados como "terroristas". Presumia-se que Washington cortaria totalmente suas relações com uma organização extremista acusada pela morte de cerca de mil cidadãos norte-americanos, certo? Errado! Não demorou muito para a OTAN "contratar" novamente os serviços militares da Al Qaeda, desta vez na Líbia em 2011, para depor o regime nacionalista burguês do coronel Kadafi. Contentes com os resultados na Líbia, onde os mercenários fundamentalistas destruíram o país para traficar o petróleo para os EUA, o governo Obama repetiu a dose e foi buscar um subproduto decomposto da Al Qaeda (o EI) para atacar o regime de Assad na Síria, só que desta vez se deram mal! Com o fiasco da Síria o EI (Exército Islâmico) acabou por se "desgovernar", acusando a Casa Branca e seus aliados políticos na região de "alta traição". Agora a CIA afirma ter provas da responsabilidade da Al Qaeda nos atentados terroristas contra o periódico Charlie Hebdo, também noticiaram que o EI teria saudado os irmãos Said e Chérif Kouachi pelo "heroísmo da ação". Segundo a "inteligência" ianque um dos irmãos Kouachi teria recebido treinamento militar no Iêmen, não por coincidência no mesmo local que a CIA formou os "combatentes" contra Kadafi e Assad. As forças de segurança da França estão mobilizando mais de 50mil efetivos na caçada aos supostos "irmãos terroristas", o estranho é que a poucos metros do palácio presidencial a ameaçada sede do Charlie Hebdo não contasse com a proteção de mais de dois policiais, ao que tudo indica sem nenhum preparo para enfrentar um ataque terrorista. O certo mesmo é que não existem elementos suficientes para apontar a Al Qaeda ou afins como patrocinadoras do covarde ataque, ainda mais quando sabemos que estas "criaturas" dos EUA são infiltradas até a medula de agentes da CIA. Por sua vez a extrema direita da França já declarou "guerra ao islamismo", indicando que as vítimas do Charlie Hebdo servirão muito bem aos seus propósitos neonazistas. O cenário político europeu vai caminhando para uma xenofobia que muito interessa aos planos do imperialismo ianque, principalmente para tentar concluir suas "tarefas" pendentes na Síria e Iraque e iniciar uma ofensiva contra o Irã, principal inimigo militar do Estado Sionista no Oriente Médio. Os atentados de Paris não são uma ameaça a suposta "liberdade de expressão", que no modo de produção capitalista só pode existir plenamente para a imprensa corporativa e seus milionários meios eletrônicos, são na verdade um grande ataque a luta das nacionalidades oprimidas (incluindo suas culturas e religiões). A partir do massacre no Charlie Hebdo, seja quem for o autor (ou os autores em parceria) a CIA ou a Al Qaeda, uma correlação de forças bem mais defensiva surgirá na conjuntura mundial, fundamentalmente para a esquerda revolucionária que combate vigorosamente a ofensiva imperial contra os povos.

Os " fatos objetivos" do ataque a sede do "Charlie" apresentados até agora pela mídia corporativa eletrônica estão sempre muito bem harmonizados com "utilização subjetiva" que o estado imperialista francês deseja processar entre a população nacional. Trata-se de um "caso exemplar" da barbárie muçulmana contra os "valores de liberdade" da sociedade ocidental. Desgraçadamente a maioria das correntes da esquerda revisionista mais uma vez "compraram" esta versão "murdochiana", reduzindo os aspectos e consequências mais amplas da violência que se abateu sobre os colaboradores diretos do periódico francês. O "Charlie " não era apenas um jornal de ácidas sátiras políticas, embora esta fosse sua origem "editorial", já algum tempo tinha se convertido em um centro de provocações e desmoralização da cultura árabe na França. Alguns ingênuos poderão afirmar que o "Charlie" também publicava sátiras do Papa ou até mesmo da direita francesa, o que é verdade, mas nem de longe na mesma proporção em que editavam suas fartas provocações que beiravam a xenofobia contra o islamismo. Portanto tinha se convertido em um "alvo perfeito" para uma forte represália de grupos fundamentalistas, não seria muito difícil "plantar" candidatos para protagonizar uma trágica ação...

Não se pode dar o menor "crédito moral" ao Regime da "V República" que já foi capaz de cometer os atos mais bárbaros de tortura e terrorismo contra cidadãos argelinos e franceses que atuaram na luta pela libertação antiimperialista. Como não reconhecer que no país que pariu a revolução democrática burguesa seus governos capitalistas contemporâneos restringem direitos elementares da força de trabalho dos imigrantes, sem falar é claro da repressão aberta a sua cultura considerada "primitiva". É neste grotesco "ambiente" de opressão nacional que certas correntes de esquerda vem declarar seu " amor" ao "paraíso das liberdades" ameaçadas por "bárbaros"! Mas a verdadeira barbárie não "cavalga na raia" das tradições culturais muçulmanas (por mais arcaicas que pareçam ser) e sim da direita neofascista que detém uma substancial parcela do aparelho do estado imperialista, capaz de cometer as mais sórdidas ações de todas as espécies possíveis (oficiais e clandestinas) para manter sua dominação.

Quando o Mossad assassinou friamente cientistas iranianos que trabalhavam no projeto nuclear de Teerã , não se "verteu uma única lágrima" na mídia corporativa internacional. O mesmo podemos afirmar quando o Gerdame sionista bombardeou recentemente as sedes de vários jornais palestinos na Faixa de Gaza, matando inclusive correspondentes da imprensa internacional. Porém a "tragédia de Paris" será uma alavanca política fundamental da guerra imperialista contra a soberania dos povos oprimidos. O frágil governo Hollande não deve se manter até o final de seu mandato, já as próximas eleições municipais devem decretar seu fim antecipado. No lugar do PSF a Casa Branca colocará no " Palais de l'Élysée" uma gerência estatal ainda mais afinada com sua estratégia guerreirista para o próximo período. Não se descarta que com o "clima islamofóbico" criado a CIA "fabrique" outros atentados terroristas na Alemanha ou Inglaterra (valendo- se ou não de suas "estranhas criaturas") para fechar um ciclo completo que justifique novas invasões militares da OTAN. O cerco econômico aos adversários globais dos EUA já começou com a derrubada do preço do petróleo, o movimento operário deve de ficar em "alerta máximo" quanto aos seus próximos passos políticos e militares nesta nova conjuntura.