segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015


Golpe parlamentar para derrubar Dilma ou ofensiva neoliberal do governo contra os trabalhadores: Qual a ameaça real a combater?

O dia 15 de março, data onde eram empossados os governadores e presidentes "eleitos" indiretamente pelo Colégio Eleitoral da ditadura militar, foi simbolicamente escolhido como o "start" da campanha pelo impeachment da presidenta Dilma. Estão sendo convocados atos políticos nas principais capitais do país, e obviamente a grande expectava se concentra na capacidade da oposição demotucana em mobilizar pessoas na cidade de São Paulo, considerada hoje o centro da reação nacional. A mídia "murdochiana" começa a entrar forte na campanha da direita, liberando seus executivos e "estrelas" para reforçarem a convocatória. O pano de fundo desta operação política de emparedar o governo logo nos seus primeiros dias do novo mandato está assentado na ofensiva institucional da "Lava Jato", sob o comando do ultraconservador juiz federal Sérgio Moro. O campo político de sustentação da Frente Popular, incluindo de contrabando neste bloco "chapa branca" o PCO, logo saiu a denunciar que a burguesia nacional teria como seu eixo de intervenção no próximo período a derrubada (via um golpe parlamentar) do governo Dilma. Porém uma análise mais profunda e marxiana da conjuntura aponta em outra direção, embora a chantagem do impeachment esteja presente no cenário. O que realmente está passando quase que completamente desapercebido do conjunto da esquerda (tanto das alas oficialista e oposicionista) é o fato da verdadeira dimensão da operação "Lava Jato", ou seja, uma grande manobra do imperialismo para destruir a principal indutora do desenvolvimento da infraestrutura nacional: A Petrobras! Este é o foco das forças políticas alinhadas a Washington, que povoam desde o interior do PMDB, PDT, PSB até a tucanalha e os moribundos do Dem. Quebrar as empreiteiras nacionais é o primeiro passo para paralisar as obras estatais do país e logicamente colocar uma "camisa de força" nos planos de expansão da Petrobras. O objetivo posterior da Casa Branca é fazer aprovar neste Congresso corrupto a eliminação das restrições legais para que mega construtoras norte-americanas possam ter acesso a licitação das obras públicas e participar dos projetos das estatais brasileiras, principalmente na área de energia. Medidas similares já foram adotadas pelos parlamentos do Chile e México, para liberar o "trabalho" das empreiteiras ianques. Nestes dois países considerados como paraísos para a iniciativa neoliberal, as construtoras locais foram simplesmente eliminadas do mercado para ceder espaço aos trustes imperialistas. Os arautos da "livre concorrência" internacional irão afirmar que nossas empreiteiras são todas corruptas (pura verdade!) e que é justo que seus executivos estejam presos pela "Lava Jato". Acontece que a mira política do juiz Moro não é prender por muito tempo os barões das empreiteiras, depois do carnaval midiático serão todos soltos. O justiceiro da "República do Paraná" pretende falir parte das empresas para depois desmoralizar os dirigentes petistas, estes sim correm risco de ficar encarcerados por um bom período. Além de paralisar a construção das novas refinarias da Petrobras, causando demissão em massa de operários, a "Lava Jato" já conseguiu inviabilizar o setor dos estaleiros nacionais responsáveis pela fabricação das plataformas e navios (sonda e de transporte) da estatal. Não precisa ser muito inteligente para concluir que sem conseguir extrair grandes quantidades de óleo cru a Petrobras não consegue se sustentar diante da forte queda na cotação Internacional do petróleo. Portanto nesta etapa de intenso ataque econômico não interessa a burguesia nacional apear do poder sua principal aliada política, a presidente Dilma. As empreiteiras respondem por uma fatia considerável do PIB nacional que somada ao agronegócio e bancos constituem o tripé da economia brasileira. Podemos afirmar que este "trio de ouro" da burguesia integra o governo do PT e não está interessado na desestabilização do regime político. Isto não significa que não existam pesadas turbulências nesta etapa, onde o atual "modelo" de crescimento capitalista do governo petista está praticamente esgotado. Neste sentido surge a necessidade dos "ajustes" orquestrados por Levy e comparsas, que pretendem descarregar o ônus da crise do "modelo" nas costas dos trabalhadores. O verdadeiro "impeachment" está sendo executado nos cortes dos programas sociais do governo, no conluio para destruir a Petrobras e na subtração das conquistas históricas dos trabalhadores.

Agora a Operação "Lava Jato" espera ser potencializada com a instalação da CPI da Petrobras no Congresso Nacional, será o binômio necessário entre a investida jurídica do juiz Moro e a ofensiva política do PSDB, que por enquanto afirma não defender oficialmente o impeachment de Dilma. Os Tucanos esperam que a "Lava Jato" possa produzir provas consistentes contra o alto escalão do governo ou mesmo do PT e a partir deste "factoide" iniciar o processo do impedimento constitucional da presidenta. A mídia corporativa tenta a todo custo fabricar um escândalo contra o PT desde os cárceres de Curitiba, todos os dias promessas de liberdade são feitas aos executivos presos para que "dedurem" alguém do governo. O esgoto da revista "Veja" chegou a anunciar uma "bomba" para depois do carnaval, pressionando o dono da construtora UTC a vincular a figura de Lula ao esquema de "comissões" vigente na Petrobras. Mas por enquanto nenhuma denúncia "colou" diretamente em Dilma ou Lula.

A eleição do "fundamentalista" Eduardo Cunha para presidir a Câmara Federal deixou o governo com as "barbas de molho", embora o pemedebista tenha até recebido um discreto apoio de última hora vindo do Planalto. Mas Cunha atuará em conformidade com a quadrilha dirigente do PMDB (Renan, Cabral, Temer, Eunicio, Braga etc ...) que está estreitamente vinculada a cargos centrais do governo Dilma. Também o inchaço parlamentar do PSD do ministro das Cidades Kassab, que ocupa uma posição privilegiada no "baixo clero" da Câmara, fornece uma proteção extra ao governo. O que não se pode confundir é que estes "aliados" de Dilma não apoiarão nenhuma iniciativa política de "esquerda" no Congresso Nacional, sustentarão o governo na proporção de seus interesses de oligarquia e da pauta neoliberal contra o proletariado.

É natural que sob um bombardeio midiático setores da população acabem apoiando a prisão de empreiteiros, com a maquiagem de uma inédita medida contra "barões" que ostentam um patrimônio bilionário às custas de seus negócios a décadas com o Estado Brasileiro. Porém o fulcro desta operação "Lava Jato" passa bem longe da ética e moralização do "erário público". Se Moro estivesse disposto a "caçar" corruptos começaria com o governador do seu próprio estado, seu amigo íntimo Beto Richa. A "caça às bruxas" de Moro está orientada contra as liberdades democráticas e mais cedo do que tarde se deslocará dos empreiteiros para os quadros da esquerda. Mas nem mesmo o novo "moralizador" da vida nacional (que entrou em cena para substituir o farsante Joaquim Barbosa) tem como "inimigo central " a presidenta Dilma, parece mesmo que busca incriminar figuras importantes do PT e a própria liderança maior de Lula, que deve ser tirado do caminho a todo custo para deixar a "trilha limpa" dos Tucanos em 2018.

Não faltam alguns idiotas úteis no seio da esquerda para defender o "impeachment" do governo petista, entre os quais a CST (PSOL) e o grupo revisionista "MNN". Sob uma fachada do falso "radicalismo" se colocam no mesmo "campo de luta" da reação e do imperialismo. Representam o outro lado (sectário) da mesma moeda das correntes reformistas que visualizam um golpe de estado "dobrando a esquina". O movimento de massas deve rechaçar tanto a política do "fantasma" do golpe para fazer recuar nosso combate a ofensiva neoliberal, como a do emblocamento com a direita e a tucanalha entreguista. O momento é delicado e impõe aos revolucionários uma linha justa de atuação que priorize a ação direta do proletariado sem ilusão alguma neste Congresso das elites dominantes. Também não passa de uma "ingenuidade" muito suspeita a crença de que nesta conjuntura de correlação de forças adversa será possível lutar por "reformas populares" (incluindo neste bojo uma reforma política progressista) vindas da iniciativa deste governo. A frente única dos explorados que precisa ser construída amplamente deve ter como norte inicial a derrota do "ajuste" fiscal, monetário, trabalhista e salarial que está em pleno curso, somente com a mobilização permanente das massas será possível obter a vitória. Quanto as "reformas populares" só poderão vingar efetivamente no marco de um novo poder político do proletariado, que deve ser construído no processo de cada embate concreto de nossa classe.