segunda-feira, 8 de junho de 2015


OS 10 ANOS DO “MENSALÃO”, A ATUAL OPERAÇÃO LAVA JATO E A PERSEGUIÇÃO A DIRCEU E DIRIGENTES HISTÓRICOS DO PT: COVARDIA POLÍTICA DE LULA ABRIU CAMINHO PARA A OFENSIVA REACIONÁRIA CONTRA TODA A ESQUERDA E O MOVIMENTO OPERÁRIO

No dia 06 de junho, sábado passado, completou-se 10 anos da denúncia de Roberto Jefferson (PTB) sobre o suposto esquema de compra de apoio parlamentar ao governo Lula, escândalo conhecido popularmente como “Mensalão”. Durante esta década, consolidou-se o recrudescimento da ofensiva política e ideológica reacionária contra o movimento de massas e a esquerda em geral, como vimos nas manifestações da direita e de grupos fascistas em março e abril usando como pretexto o “combate a corrupção” no governo Dilma. O alvo imediato foi o PT, mais particularmente o antigo núcleo histórico da direção do partido (Dirceu, Genoíno e Delúbio), preso após o julgamento-farsa da ação penal 470 no STF sobre o comando de Joaquim Barbosa, em uma trama urdida pela mídia, particularmente a Globo e a Veja, que imputou quase que exclusivamente ao partido o “mar de lama” das negociatas estatais como se as “comissões” (propinas) não estivesse presentes desde o nascimento da República. Não resta dúvidas que os dirigentes petistas negociaram o recebimento de percentuais para liberar a execução de obras e contratos em empresas públicas, mas este modus operandi é o centro do funcionamento do Estado burguês, os tucanos e FHC que o digam! Dirceu, Genoíno e Delúbio não foram presos por tal “delito” e sim como uma forma de desmoralizar e perseguir o conjunto da esquerda. Essa sanha reacionária se mantém até hoje com a Operação Lava Jato comandada pelo Juiz Sérgio Moro, cujo alvo é cercar o próprio Lula e deixar o governo Dilma nas cordas até 2018. Entretanto, como estamos vendo com a contrarreforma política orquestrada por Eduardo Cunha e Renan Calheiros no Congresso Nacional, o objetivo é bem mais amplo e estratégico: um ataque em toda linha as liberdades democráticas e ao direito de organização política dos trabalhadores. Como a LBI alertou desde 2012 , no começo do julgamento do “Mensalão” (enquanto PSOL e PSTU comemoravam a detenção dos petistas), a covardia e até cumplicidade de Lula, Rui Falcão, Dilma e da direção nacional do PT diante da prisão de seus quadros históricos abriram caminho para o atual quadro político, onde a reação burguesa deseja impor uma transição da atual gerência petista para um governo ultra-conservador (Alckmin) tendo por base a repressão as lutas sociais (como vimos nas greves do professores em SP e PR) e o esmagamento político do conjunto da esquerda, tarefa que é facilitada pela aplicação do ajuste neoliberal pelas mãos de Levy e Dilma. Não por acaso, segundo reportagem do Estadão (07.06), Dirceu teria dito a amigos “De que serve toda covardia que o Lula e a Dilma fizeram na ação penal 470 e estão repetindo na Lava Jato? Agora estamos todos no mesmo saco, eu, o Lula, a Dilma”, afirmação até agora não desmentida em seu Blog que acaba de publicar um manifesto de sindicalistas do PT e da CUT contra o ajuste fiscal endereçado ao V Congresso do partido que começa neste dia 11 de junho. Ora se a operação “Lava Jato” decidir indiciar todos os políticos do regime burguês por terem recebido recursos financeiros de grandes empreiteiras, terão que incluir todos os congressistas, todos os governadores desde 1982 e também todos os presidentes da república a partir de 1989! Está absolutamente claro que se trata de um “aviso” a todos os petistas que decidam fazer “oposição” a Dilma. Dirceu e outros “rebeldes” recentes como os senadores Paulo Paim e Lindbergh Farias não são “puros”, do ângulo de uma política da classe operária, foram cooptados já a algum tempo pelo “establishment capitalista” mas estão antevendo o fiasco eleitoral do PT em 2016 e 2018 e seu esgotamento político mais geral, os dois últimos inclusive junto com Tarso Genro já estão flertando com o PSOL. Segundo o Estadão, Dirceu comentou para amigos a crise eleitoral petista nos próximos anos e avalia que o processo de reorganização do PT “é coisa para 4, 6 ou 8 anos”. De fato, com a contrarreforma política em curso, tudo leva a crer que, no mínimo, os próximos dois mandatos presidenciais estejam nas mãos de um eixo político à direita do PT. Diante do esgotamento do ciclo histórico petista a burguesia nacional pretende estabilizar ao máximo esta transição através da “Reforma Política” com uma harmonização quase “perfeita” entre a gerência estatal comprometida com os desejos da Casa Branca e um outro Congresso Nacional. Tudo leva a crer que o “Opus Dei” Alckmin é o nome reacionário mais adequado para esta tarefa, mais além de pertencer as hostes tucanas. Neste sentido se aprovada em sua plenitude, é bom frisar que as votações da “Reforma” estão apenas em sua fase inicial, a candidatura de Lula ao Planalto estaria completamente descartada já no nascedouro petista em função do novo quadro eleitoral estabelecido para 2018.

A mesma reportagem, reproduzida pelo portal Brasil 247, site simpático ao petista, acrescenta que o ex-presidente do PT não esconde o temor de voltar à cadeia por causa da Lava Jato “Querem me condenar ou me colocar outra vez na cadeia. Imagine o estardalhaço”. De nossa parte, já em artigo de 23 de janeiro intitulado “José Dirceu ‘ameaça’ com a formação de uma nova tendência mais à esquerda no PT e logo foi ‘enquadrado’ pela ‘Lava Jato’” pontuamos: “Dirceu foi um dos fundadores e dirigente histórico da tendência hegemônica do PT, a ‘temida’ e burocrática Articulação, hoje denominada de ‘CNB’ (Construindo um Novo Brasil), porém desde que foi escolhido pela burguesia nacional como o ‘símbolo da antiga esquerda guerrilheira’ e cassado no Congresso Nacional foi perdendo gradativamente sua influência no PT. No curso do processo farsa do ‘Mensalão’ os seus companheiros da Articulação, incluindo neste bojo o próprio Lula, foram se afastando e migrando para a ‘sombra’ mais confortável do governo Dilma, Dirceu isolado e condenado pelos ‘togados’ do STF não recebeu a solidariedade política que esperava permanecendo calado. Agora passada a reeleição e com o agressivo curso neoliberal do governo petista, Dirceu resolveu iniciar uma nova ‘articulação’ petista (apesar das severas restrições da lei) com dirigentes e parlamentares do partido descontentes com a política econômica”. Na época denunciamos que só foi Dirceu “ameaçar” criar algum tipo de “problema” ao governo que logo Dilma ordenou aos novos “parlapatões” da operação policial “Lava Jato” que incluíssem o nome do ex-presidente do PT como “beneficiário das empreiteiras”. Para o Ministério Público Federal, há indícios de que a empresa de consultoria de Dirceu (JD Assessoria LTDA) tenha recebido recursos de empreiteiras ligadas ao esquema de “comissões” na Petrobras. Na decisão judicial consta que a consultoria recebeu, entre 2009 e 2013, R$ 3.761.000 das construtoras Galvão Engenharia, OAS e UTC Engenharia. Em seu blog, Dirceu afirma que sua empresa prestou consultoria às empreiteiras “para atuação em mercados externos, sobretudo na América Latina e Europa”. A “caça às bruxas” em curso, sob a maquiagem jurídico policial da Operação Lava Jato, está focada em paralisar o crescimento da Petrobras em áreas estratégicas como o refino industrial do óleo cru (incluindo o “Pré-sal”) e química fina, que precisam de grandes obras tocadas justamente pelas empreiteiras nacionais. Como o juiz Miro sentiu-se amplamente amparado pela venal mídia corporativa em sua empreitada contra os interesses do país e posteriormente constatou que o próprio ministro da justiça, o petista Eduardo Cardozo, não lhe impunha nenhum limite resolveu instalar um poder paralelo por cima das próprias “instituições”. Trata-se da “República de Curitiba” que agora elegeu como alvo político o PT, neste rumo Moro prendeu Vaccari e ameaça novamente José Dirceu, sendo que este já responde centralmente por outra farsa jurídica, o “Mensalão, baseado na mesma hipocrisia burguesa de que só o PT neste país recebe "comissões"...Se Moro e a Operação “Lava Jato” sinceramente pretendesse apurar a remessa de Dólares para o exterior (fruto das “comissões” generalizadas) começaria pelo escândalo do Banestado, que evadiu do país nada menos do que a soma de $20 bilhões de Dólares. Mas é claro que onde as digitais da tucanalha estejam presentes, neste caso de caciques como Álvaro Dias e Beto Richa, não haverá nenhuma investigação. Nem pensar é óbvio procurar saber onde FHC, Serra e sua gang enfiaram as “comissões” da privataria, as maiores recebidas desde a chegada de Cabral a costa brasileira.

Para Moro a corrupção estatal foi uma “invenção genuína” do PT e o que é pior aplicada atualmente no âmbito exclusivo da Petrobras. Para obter o resultado a que se propõe, “desmembrar” a Petrobras a serviço da ExxonMobil, é necessário desmoralizar o núcleo político que tenuemente pensou em alargar as fronteiras da estatal, embora ainda muito distante de um projeto radicalmente nacionalista. Por isso volta a cenário nacional a figura de José Dirceu, considerado o “capo” formulador da corrente “Articulação”, hegemônica no universo das tendências internas do PT. Sem abrir mão do nosso programa estratégico da revolução socialista, os marxistas sabem diferenciar o embuste da reação imperialista e o campo político da Frente Popular. Sabemos bem que Lula, Dilma e este governo são covardes e cúmplices diante da ofensiva direitista, entregando o comando da economia do país a um representante direto do capital financeiro internacional. Por isso mesmo é incapaz de esboçar sequer uma defesa de seus próprios companheiros. Porém nossa trincheira é inflexível e nunca estabeleceremos nenhum “bloco político” com o imperialismo em nome do combate a corrupção estatal.

Não faltam os falsos “esquerdistas” úteis a reação, que vociferam o fato de Dirceu ter elevado bastante seu padrão de vida e bens financeiros. Estes parvos afirmam que se trata de uma “disputa inter-burguesa” e para a “esquerda” tanto faz que o “corrupto” Dirceu seja novamente preso ou não. Como Lenin caracterizou brilhantemente o “esquerdismo não passa de uma doença infantil do comunismo”, e neste caso de extrema serventia política para os bandos fascistas que pululam o cenário político nacional. Não se trata agora de discutir o patrimônio acumulado por Dirceu, sabemos muito bem que está bem acima de um trabalhador qualificado, a questão que se coloca é o recrudescimento do regime político em curso, que ameaça não somente o núcleo “duro” petista mas também ao espectro da esquerda revolucionária e as próprias conquistas democráticas de conjunto. Combater o embuste da Operação “Lava Jato” assim como a LBI combateu o julgamento farsa do “Mensalão” representa neste momento unificar na mesma pauta programática a luta contra a ofensiva neoliberal que pretende subtrair nossos direitos sociais e políticos, tarefa que deve ser combinada com a defesa incondicional de todos os militantes políticos da esquerda que se postam no campo nacional, democrático e popular. A vanguarda classista deve abstrair todas as lições programáticas destes episódios e jamais empunhar a bandeira da “ética e moralidade pública” como fazem os cretinos revisionistas do PSOL e PSTU. Como afirmou Lenin, o Estado burguês não pode ser “democratizado” ou tornar-se “público”, deve ser demolido pela ação violenta e revolucionária da classe operária. A corrupção não é um fenômeno episódico no regime capitalista, faz parte dos seus próprios mecanismos de acumulação privada de mais-valor. Somente a imposição de outra ditadura de classe, desta vez de caráter proletário, será capaz de iniciar a construção de uma nova sociedade e para alcançar esse objetivo estratégico é preciso edificar um partido operário revolucionário em nosso país, que supere o PT e não seja sua reedição piorada como o PSOL.