quinta-feira, 20 de agosto de 2015


ALGUÉM AINDA LEMBRA DO "FORA DELFIM!" NA ÉPOCA DO REGIME MILITAR?

O genial Marx afirmou em seu livro O 18 Brumário de Luiz Bonaparte que "A história se repete a primeira vez como tragédia e depois como farsa", pois bem a militância de esquerda que viveu o último período do regime militar no Brasil deve ainda se lembrar da polêmica instalada no movimento com a defesa da bandeira do "Fora Delfim!" em 1983, quando este crápula da ditadura era o então todo poderoso ministro do Planejamento no governo do general Figueiredo. O bloco reformista da época, composto pelo PCB, MR8 e PCdoB, deliberou que a palavra de ordem mais adequada não seria mais o "Abaixo a Ditadura", afinal para eles Figueiredo era um "aliado tático" na luta pela redemocratização do país, o general teria promovido a "Anistia Geral" e estava inclinado a convocar uma constituinte "meia boca" que apontasse as eleições diretas para presidente em 1989. O foco de "todo mal" para os reformistas seria Delfim, apologista da recessão econômica e dos compromissos draconianos com o FMI, diziam estes senhores que o ditador Figueiredo ao delegar o controle da economia para o ministro do Planejamento não seria mais o responsável direto pelo arrocho salarial e desemprego que se alastrava pelo Brasil em meados dos anos 80. Passados mais de 30 anos deste momento histórico do país, assistimos hoje uma versão mais "elaborada" deste bloco reformista (que permanece ainda com o PCdoB) defender o "Fora Levy" no sentido de preservar a presidenta Dilma da responsabilidade política pelos covardes ataques que vem desfechando contra a classe trabalhadora. O distracionismo atual do reformismo soa como uma farsa completa, Dilma está ameaçada por um golpe... e o estafeta dos rentistas Levy agiria como se fosse membro de um outro governo fictício, talvez o "Shadow Cabinet" na tradição britânica. Seguindo esta lógica da esquerda " chapa branca" deveríamos gritar o "Fora Aécio e leve junto seu ministro Levy!" Acontece que no mundo real Levy, Temer (Articulação Política), Monteiro, Katia Abreu etc... são ministros do governo do PT e não do PSDB. Se Dilma implementa a mesma plataforma econômica tucana a responsabilidade principal é dela que foi eleita e depois de sua anturragem neoliberal nomeada. Quanto a risível tentativa de golpe, quem sabe preparado pela GLOBO, UDR, FIESP, Casa Branca e os banqueiros muito insatisfeitos com seu governo... Seria melhor pelo menos respeitar a figura de um Jango, deposto por suas tentativas de controlar a remessa de lucros de empresas multinacionais e realizar uma tímida reforma agrária. Dilma não merece respeito algum, abandonou a própria sorte seus companheiros de PT, primeiro no processo do "Mensalão" e agora na "Lava Jato", selou um pacto de governabilidade com o que há de mais podre e corrompido na política burguesa, desmantelou a Petrobras paralisando as sondas e refinarias em construção, suprimiu conquistas e direitos sociais dos trabalhadores mais humildes para remunerar o cassino dos rentistas , privatizou estradas e aeroportos e por último pretende acabar com o SUS depois de liquidar com as universidades federais... a lista é maior porém seria enfadonho prosseguir. Os reformistas criaram o fantasma do golpe, que igual o da ópera é uma completa burla, para defender o "Estado Democrático", favor não confundir com defesa das liberdades democráticas que estão sendo suprimidas por este mesmo governo em harmonia com Congresso do BBB, ver a aprovação da chamada lei antiterrorismo ou a reforma política ambas contando com o apoio dos parlamentares do PT. Mas para os arautos da Frente Popular é possível fazer a demagogia da "luta contra o ajuste" apoiando o mesmo governo que promove bem mais do que um ajuste fiscal, na verdade um programa monetarista de submissão de nossa economia ao cardápio do capital financeiro internacional. E não venham mais falar que a culpa é da crise capitalista e que "Dilma faz o que pode já que com Aécio seria pior" ... Na crise estrutural do capitalismo o governo burguês do PT optou por gerenciar o Estado na perspectiva de preservar e manter a acumulação financeira das grandes corporações e descarregar o ônus da crise nas costas do proletariado. Somente uma esquerda corroída ideologicamente e venal pode sustentar tamanhos disparates contra o marxismo revolucionário, não por coincidência foi este mesmo setor "chapa branca" que no passado apoiou a ofensiva imperialista contra as conquistas operárias da antiga URSS. O suposto "golpe" não passa de um estelionato político para traficarem o apoio envergonhado as medidas neoliberais deste governo, desarmando a resistência operária e popular aos ataques do capital. As classes dominantes darão base social ao governo Dilma até que se complete o "desmonte" do Estado Nacional (e não simplesmente o ajuste levyano), após este limite farão o que a presidente fez com seus velhos companheiros na luta contra a ditadura... a abandonarão a fúria leonina da direita fascista!

Fica então uma pergunta no ar, porque organizações populares e de esquerda, como o MTST e o PCO, que não tinham um passado "manchado" pela cooptação estatal passaram subitamente a difundir o conto de fadas do "golpe iminente" como desculpa política para apoiarem o governo que decreta as medidas de austeridade que dizem combater? A resposta obviamente não se encontra em nenhum "erro teórico" de avaliação por parte destas organizações, a razão do repentino governismo é produto da atração material exercida pelo Planalto, diante do seu extremo isolamento social e político. A liderança maior do MTST, Guilherme Boulos, tem criticado duramente a política econômica conduzida pelo governo mobilizando setores populares atingidos pelo ajuste. Saudamos toda genuína ação direta das massas independente de sua direção política reformista, porém depois de mais de uma década de governos da Frente Popular e particularmente uma gerência já exercida por Dilma, bancar o "conselheiro de esquerda" nesta dramática conjuntura de retirada de direitos sociais nos parece totalmente abominável.

O PCO que ao contrário do MTST não detém influência alguma no movimento de massas, acaba de ser expulso do SINTECT de Minas Gerais, soma-se tardiamente a um parceiro que jurou por décadas condenar: o PCdoB. Quem não se lembra dos stalinistas pró-albaneses considerando nos anos 80 CUBA e CHINA como capitalismo de estado, ao mesmo tempo que diziam combater o social-imperialismo da antiga URSS no Leste Europeu. Da noite para o dia "descobriram" que existia uma ofensiva imperialista mundial contra as conquistas operárias, passando a defender a democracia como "valor universal". Nesta "transfusão de sangue" coletiva se uniram ao PT e PCO para em bloco visualizar um golpe militar em marcha contra um governo bancado politicamente por Washington, o grande promotor de quarteladas na América Latina. Para o PCdoB não é propriamente uma novidade a "fabricação" de golpes, afirmaram que os militares queriam derrubar Sarney quando este lançou o Plano Cruzado, muito contraditoriamente hoje governam o Maranhão em aliança com os "golpistas" do PSDB... Oportunismos a parte é que a realidade histórica vem obrigando estes agrupamentos a praticarem as mais exdrúxulas piruetas políticas, desde o "Fora Lula" do PCO até o "Fica Sarney" do PCdoB.

A Vanguarda classista não pode se deixar enganar pelas manobras de "esquerda" do bloco reformista que tenta ocultar o caráter de classe do governo Dilma, atribuindo só aos seus ministros rentistas, latifundiários e industriais a concentração de "toda a maldade" contra nosso povo. Rechaçar e combater a ofensiva reacionária no Brasil e no mundo nada tem a ver com emprestar apoio político aos governos neoliberais da esquerda burguesa, que seguem à risca a cartilha imposta pelo capital financeiro internacional. É urgente e necessária a construção de uma alternativa de poder dos trabalhadores diante da barbárie capitalista que se aproxima cada vez mais!