terça-feira, 29 de novembro de 2016

O QUE EXISTE DE COMUM ENTRE AS ANÁLISES DOS PROFESSORES VALÉRIO ARCARY (MAIS) E FERNANDO HENRIQUE CARDOSO (PSDB) ACERCA DA MORTE DE FIDEL CASTRO?


Muito tem se dito e escrito acerca da morte de Fidel Castro, obviamente não perderemos tempo analisando as posições da direita e dos fascistas que junto aos gusanos de Miami comemoraram como hienas a morte do dirigente da revolução social cubana. Tampouco nos servem as afirmações de um setor transloucado da esquerda, neste caso específico os Maoístas, que com seus vaticínios completamente fora da realidade, caracterizando Cuba como um país dominado por latifundiários, brindaram o falecimento de Fidel com um “Já vai tarde”. Para nós Marxistas repousa o interesse da polêmica no campo político daqueles que reconhecendo os avanços da revolução cubana decretaram precocemente a morte do Estado Operário em uma falsa sintonia com a perda física de Fidel. Neste setor da “intelectualidade” encontram-se não só os Morenistas mas também toda uma gama de social-democratas e até liberais da academia, como o caso do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Para este amplo arco a morte de Fidel representa o fim de um ciclo histórico, ou nas próprias palavras de FHC: “Sua morte, marca o fim de um ciclo, no qual, há que se dizer que, se Cuba conseguiu ampliar a inclusão social, não teve o mesmo sucesso para assegurar a tolerância política e as liberdades democráticas". Em outra versão mas com o mesmo conteúdo, os Morenistas sustentam que em Cuba já não existem mais as bases do Estado Operário, sufocadas pela falta de liberdades e pela restauração capitalista, vejamos o que disse o grupo MAIS: "Reivindicamos a revolução cubana e o que representou o processo revolucionário para o povo cubano e latino-americano, ao mesmo tempo, que somos opositores da Burocracia castrista e o seu curso de restauração do capitalismo em Cuba e a falta de liberdades democráticas na ilha", para logo depois fecharem a sentença de óbito: "Aos poucos foi caindo a planificação da economia, o monopólio do comércio exterior e a propriedade estatal dos meios de produção." (site do MAIS). Neoliberais e Morenistas tem em comum a caracterização de que em Cuba vige hoje as leis de mercado, formatadas por um regime político autoritário, como o de Putin na Rússia. Não se trata aqui de debater a trajetória contrarrevolucionária do Castrismo, que entre tantas "pérolas" detém o "feito" de ter condecorado em Havana o assassino de Trotsky, Ramon Mercader, ou mesmo recordar o boicote político e material feito contra seu camarada Che Guevara na guerrilha da Bolívia. Esta é a própria natureza da burocracia stalinista, defender as bases socializadas da economia, ao mesmo tempo em que impulsiona sua plataforma de colaboração de classes em nível mundial. Porém pretendemos esclarecer o atual caráter do regime social em Cuba, que nada tem a ver com o "modelo" russo ou mesmo chinês. Neste sentido é completamente incorreto atribuir a morte de Fidel com o "fim do ciclo", pelo simples fato de que em Cuba permanecem até hoje os mesmos mecanismos econômicos elementares que foram instaurados logo no início dos anos 60. É certo que a política do Castrismo "flexibilizou" muitos pontos, realizando tardiamente uma "NEP" em direção a pequenas atividades comerciais e de serviços, que podem ser exploradas por empreendedores individuais. Com o fim da parceria comercial com a URSS também houve a necessidade de abrir setores da economia para monopólios internacionais, como o turismo por exemplo. Entretanto mais de 70% do PIB cubano continua sob o rígido controle do Estado Operário, o que permitiu manter as conquistas sociais fundamentais da revolução de 59, ao contrário do que ocorreu na Rússia. Consiste em um completo equívoco teórico asseverar que em Cuba não existe a planificação central da economia, tomando apenas como base apenas a abertura em alguns segmentos onde o Estado não possuía capacidade de investimento. Os principais meios de produção, industriais e agrários do país não estão nas mãos de grupos capitalistas em Cuba, e este é motivo fulcral para que o Congresso Norte-Americano não retire o embargo comercial imposto à ilha, apesar dos "apelos" feitos por Obama. O regime stalinista se mantém de pé e com ele as conquistas da revolução cubana sobrevivem apesar do brutal cerco imperialista, esta constatação elementar não significa afirmar que as pressões políticas pela restauração capitalista não tenham se avolumado no marco da aproximação do Estado com monopólios internacionais. O fim da URSS e a posterior crise da Venezuela, iniciada com a morte de Chavez, impuseram um freio nos dois períodos de expansão econômica vívidos em Cuba, ou seja, anos 70 e início do século XXI. A situação de recessão mundial detonada com o crash financeiro de 2008 (queda das exportações), obrigou a burocracia Castrista a renegociar novas áreas de "livre comércio" no país, as tendências políticas em favor da introdução de instituições da democracia burguesa na Ilha Operária cresceram na mesma proporção da crise econômica. Portanto seria um crime histórico para os genuínos Trotskistas darem como perdida (ou abandonarem) a luta para se manter vivas para o povo cubano as imensas conquistas da revolução, ao contrário daqueles que "cantam loas" para comemorar o "fim do ciclo" dos Estados Operários.