sexta-feira, 8 de setembro de 2017

HÁ 44 ANOS DO GOLPE PINOCHETISTA: ABSTRAIR AS LIÇÕES DA DERROTA DA FRENTE POPULAR CHILENA QUE ABRIU CAMINHO PARA A CONTRARREVOLUÇÃO FASCISTA


44 anos nos separam do 11 de setembro de 1973 chileno, quando os EUA orquestraram o golpe militar que derrubou o governo da Unidade Popular (UP, coalizão do PS com o PC) de Salvador Allende do Partido Socialista e instaurou o regime do carniceiro Pinochet. Mas foi a política da "via pacífica para o socialismo" da UP que desarmou política e militarmente os trabalhadores e "limpou o terreno" para o violento golpe pinochetista contra as massas chilenas que levou a limites extremos o parasitismo imperialista sobre o país. Esta trágica derrota é apontada pelos trotskistas como um exemplo clássico da traição da revolução pelos governos da frente popular. No Chile, a ascensão da UP foi o último recurso do imperialismo frente à ofensiva das massas. Toda a combatividade dos operários chilenos que criaram os cordões industriais, organismos de poder proletário, se dissipou pela ausência de um plano de ação para a tomada do poder das mãos dos traidores reformistas. O centrista MIR chileno portou-se como "conselheiro" de esquerda do governo Allende, constituindo-se como o principal obstáculo para a construção de um verdadeiro partido revolucionário. Com a queda da URSS e dos Estados operários do Leste Europeu, as lutas proletárias que já vinham perdendo força nos anos 80 sofreram uma derrota histórica, abrindo possibilidade para que o imperialismo passasse à ofensiva. Sem a pressão das massas, as direções oportunistas tornaram-se fiéis propagandistas da impossibilidade da revolução socialista. Nesta situação reacionária, nascem governos de frente popular de um novo tipo, já não são mais o último recurso da burguesia contra a revolução, e sim a primeira alternativa do imperialismo diante do esgotamento político de seus títeres tradicionais para dar continuidade à recolonização. Em virtude deste trágico aniversário, reproduzimos a seguir, em forma resumida, a Declaração do Comitê Internacional da IV Internacional (CIQI), publicada uma semana após o golpe pinochetista (18/09/1973), em que é contestada a tese muito difundida nos meios da esquerda de que a derrota do proletariado chileno era inevitável. Desta experiência histórica devem ser tiradas as lições mais importantes, que sirvam para inspirar o combate dos trabalhadores no mundo todo contra a colaboração de classes da frente popular e a favor da luta por um verdadeiro governo operário e camponês.

DEFENDER A CLASSE OPERÁRIA CHILENA! O STALINISMO E A CONTRA-REVOLUÇÃO
(18 de Setembro de 1973)

"A defesa de vossos direitos democráticos, não será feita pela Frente Popular nem pelo parlamento, mas através da derrubada do estado capitalista e estabelecendo um governo operário. Nenhuma confiança no stalinismo, na socialdemocracia, no centrismo, no revisionismo ou na burguesia liberal. Pela construção de um partido revolucionário da Quarta Internacional cujo programa será o da revolução permanente". Estas são as lições que o heroico proletariado chileno está escrevendo com sangue ao enfrentar com suas vidas os tanques e os pelotões de fuzilamento, enquanto os líderes burgueses liberais estão procurando entre as casernas um general benevolente ou se preparam para fazer as pazes com os novos amos do Chile. A classe operária nunca esquecerá a exemplar resistência dos trabalhadores chilenos, que mostraram, não pela última vez, que são a única força revolucionária do Chile capaz de enfrentar o imperialismo e os capitalistas nativos. Tampouco esquecerá da covardia política e da traição dos líderes stalinistas e dos Estados, que permitiu à burguesia chilena seguir o exemplo da Indonésia, Grécia, Bolívia e do Sudão.

Estes acontecimentos demonstram, do modo mais sangrento, a crise de direção na classe operária e os enormes perigos que enfrenta, como consequência da falência do sistema monetário mundial e das medidas que Richard Nixon colocou em prática em 15 de agosto de 1971. Foi comprovado mais uma vez que o stalinismo é o defensor mais perseverante da propriedade burguesa e do Estado burguês e o inimigo mais pernicioso da classe operária na sua luta pela defesa dos direitos democráticos.

Desde o início do regime de Salvador Allende, em novembro de 1970, a burocracia moscovita utilizou toda a sua influência para reforçar a débil e reacionária burguesia chilena e desorientar a classe operária através do aparato do Partido Comunista Chileno.

Se em 1970-71 os militares não puderam tomar o poder e tiveram que esperar três anos para executar seus planos, podemos dizer categoricamente que foi porque isto requeria a planificada e sistemática desorientação política da classe operária, que o stalinismo levou a cabo antes de criar as condições para o golpe. A arma ideológica principal dos stalinistas chilenos para preparar as condições para o golpe foi a teoria Menchevique da revolução "em duas etapas" e a concepção impotente da "via pacífica e parlamentar para o socialismo" através de frentes populares que desarmaram a classe operária e impediram sua mobilização no momento decisivo.

Sem avaliar as conseqüências da crise econômica e monetária mundial que, em primeiro lugar, facilitaram a subida de Allende ao poder, minimizando deliberadamente a reacionária natureza classista do Estado capitalista e, ao mesmo tempo, exagerando e tergiversando a inclinação reformista de um pequeno setor da burguesia chilena, o stalinismo chileno foi o verdugo da revolução chilena.

A DERROTA NÃO FOI INEVITÁVEL

Não é possível defender a classe operária chilena sem desmascarar as mentiras, as meias verdades e tergiversações totais a que os stalinistas ingleses e europeus recorreram para encobrir as causas da derrota e minimizar a magnitude de suas consequências.

Os stalinistas europeus deram uma grande contribuição ao enganar os trabalhadores chilenos, apoiaram acriticamente todos os retrocessos reformistas de Allende e agora tentam apresentar os acontecimentos do Chile como trágicos, porém, historicamente inevitáveis. A última coisa que estes burocratas reformistas desejam é uma análise sincera das causas da derrota.

O medo e o desprezo dos stalinistas pela classe operária são tão grandes que não se atrevem a fazer a mais superficial autocrítica de sua política. Ao contrário, a derrota chilena os impulsiona a continuar "a via pacífica" mais entusiasticamente...

Cada fase da catástrofe chilena esteve determinada pela crise de direção da classe operária e pelo desastroso programa do stalinismo e da Social Democracia chilena. Esse programa se expressava na sua rotunda negativa de expropriar os capitalistas chilenos e em sua completa prostração diante do Estado capitalista, disfarçada como defesa dos "100 anos de democracia parlamentar no Chile"...

As lições do Chile são universais e podem ser aplicadas com grande pertinência em países como Itália e França, onde o stalinismo domina o movimento operário e utiliza sua reacionária doutrina de "co-existência pacífica" e de "democracia popular" para apaziguar as massas e permitir que o fascismo e o estado capitalista preparem seus ataques.

O aparato de repressão, "as forças armadas", como Engels definiu a máquina estatal, cresce enormemente, atinge um tamanho exorbitante e o ataque contra os direitos democráticos elementares converte-se em uma característica onipresente do governo capitalista. Se a classe operária não consegue criar um partido revolucionário para derrubar o Estado capitalista, então a transição ao fascismo e ao bonapartismo é inevitável.

Estas são as lições da Alemanha, Itália e Espanha nos anos 30... que Allende e os stalinistas rejeitaram constantemente.

A FUNÇÃO DO EXÉRCITO

Nenhum regime popular poderia coexistir com as forças armadas chilenas, as quais estão dirigidas pelos representantes mais reacionários dos capitalistas e dos latifundiários. Cada um de seus líderes foi adestrado pela CIA como reacionário profissional.

Em vez de dissolver o congresso, o senado e as forças armadas e criar em seu lugar uma milícia popular baseada nos comitês de operários e camponeses pobres, os stalinistas chilenos foram os principais defensores da "lei e da ordem" burguesa através da Frente Popular.

Em um recente seminário organizado pela revista World Marxist Review, o porta-voz dos stalinistas chilenos, Banchero, declarou abertamente a atitude de seu partido para o Estado: "Uma característica inequívoca dos processos revolucionários no Chile é que começaram e continuam dentro do marco das instituições burguesas do passado... no Chile, onde está em curso uma revolução democrática popular antiimperialista, antimonopolista e antifeudal, mantemos essencialmente a velha máquina estatal. As repartições do governo estão dirigidas por velhos oficiais... A administração exerce suas funções sob a tutela e controle do governo popular.

As forças armadas conservam seu estatuto de instituição profissional, não fazem parte do debate político e se submetem ao poder civil constituído legalmente. Foram desenvolvidos laços de cooperação e respeito mútuo entre o exército e a classe operária em nome de converter o Chile em um país democrático, livre e desenvolvido.

Os elementos ultra-esquerdistas exigem que o socialismo seja 'introduzido' imediatamente. Mas defendemos que a classe operária de todas as formas chegará ao poder completo gradualmente. Isto coincidirá com a nossa obtenção do controle da máquina estatal e então começaremos a transformá-la no interesse do futuro desenvolvimento da revolução".

O britânico Idris Cox, que precedeu a Bachero, também reverenciou a "via pacífica"... Pablo Neruda, o poeta e embaixador do Chile em Paris, resumiu a apologia de Cox: "Quando nos referimos ao Exército, o amamos. É o povo uniformizado..."

Os verdadeiros autores desta estratégia reformista não serão encontrados na Inglaterra ou no Chile, mas em Moscou... Durante várias gerações, tem sido uma tradição dos estados latino-americanos, e inclusive de algumas seções stalinistas, tratar o exército com ódio e desconfiança, mas esta atitude entra em conflito com a política da burocracia da União Soviética, a qual reconhece e comercia com qualquer ditador militar, seja Franco na Espanha, Papadopulos na Grécia ou Lol Nol no Camboja. Por isso, num passado recente, os teóricos soviéticos estiveram ocupados treinando seus colegas latino-americanos para que colaborassem com o exército.

Da mesma forma, é necessário recordar que Stalin, em 1920, instruiu os comunistas chineses para que se submetessem ao exército Kuomitang de Chiang Kai-shek porque este era moderno, progressista e, inclusive, revolucionário. Esta teoria burocrática conduziu diretamente à maior matança de comunistas jamais vista na China — o Massacre de Xangai.

CAPITULAÇÃO DIANTE DA DIREITA

No Chile, esta questão tinha um significado adicional devido ao fato de que o Congresso e o Senado eram dominados pela direita, pelo Partido Democrata Cristão e o Partido Nacionalista que estavam decididos a derrubar Allende.

Os Democratas-cristãos, dirigidos por Eduardo Frei, candidato apoiado pela CIA, utilizou ao máximo a fraudulenta legitimidade que lhe foi dada contra o Congresso e o Senado presididos por Allende para deter e obstruir sua legislação reformista e, ao mesmo tempo, preparar um plano de ataque. Os aliados principais deste plano da direita foram os stalinistas que apoiaram incondicionalmente a consistente negativa de Allende de formar uma milícia operária. No auge da crise do governo, em setembro de 1972, Allende deixou clara sua determinação de acabar com a oposição de extrema esquerda a suas reformas fabianas, rechaçando expressamente a idéia de uma milícia popular.

"Não haverá outras forças armadas além das estipuladas pela Constituição. Quer dizer, o Exército, a Marinha e a Aeronáutica. Eliminarei qualquer outra que apareça".

Na escala da história, as exíguas reformas de Allende, que criaram grandes esperanças nos trabalhadores, nos camponeses e na classe média, pesam menos que a traição dessas aspirações que foi levada a cabo através de um respeito forçado à legalidade constitucional.

Assim, os reacionários na oposição puderam articular seus planos mais efetivamente com os "gorilas" do Exército, os credores internacionais e os monopólios expropriados. Usando sua maioria constitucional nas duas câmaras e aproveitando-se da crescente desilusão das massas diante da incapacidade de Allende em conter a inflação, a oposição colocou em prática a primeira parte de seu plano: forçou Allende a demitir os ministros radicais e substituí-los por oficiais.

Em junho de 1972, a situação estava mais tensa e as conversações secretas entre o governo e a oposição produziram outra crise na Câmara, quando Allende demitiu seu Ministro da Economia esquerdista, Pedro Vuskovic, e abandonou os planos de nacionalização. Isto previsivelmente obteve todo o apoio dos stalinistas que, da mesma forma que na Espanha em 1938, se converteram na extrema direita da coalizão. Os stalinistas acusaram Vuskovic de "destruir a confiança dos capitalistas". Ao mesmo tempo foram partidários de um "diálogo" com os Democratas Cristãos e, em vez da nacionalização, aceitaram o suspeito programa da oposição para a "participação operária".

Em agosto de 1972, a "via pacífica" sofreu um golpe repentino quando os camelôs se enfrentaram com a polícia em Santiago. Os stalinistas usaram isto imediatamente como pretexto para exigir que os grupos de extrema esquerda como o MIR no Sul fossem proscritos, com o ridículo pretexto de que as ações dos grupos de esquerda "criariam as condições para a intervenção militar".

A enorme hostilidade dos stalinistas para qualquer grupo da esquerda que não aceitasse o programa de Allende teve uma expressão bestial em agosto de 1972, quando membros stalinistas da polícia atacaram um escritório do MIR (esquerdista) nas proximidades de Santiago, matando cinco camponeses.

No fim de 1972, a reação estava preparada para sua segunda fase. A primeira operação foi a greve dos proprietários de caminhões no Sul contra a nacionalização. Em quatro semanas, Allende não só capitulou à reação, como também aceitou a introdução de três generais em sua Câmara e, pela segunda vez, demitiu outro Ministro do Interior. A nomeação mais destacada foi a do general Morio Prats, chefe das forças armadas e notável reacionário anticlasse operária. O Ministro do Interior, Del Canto, foi expulso porque permitiu que os trabalhadores "ocupassem ilegalmente" indústrias privadas. A guinada à direita era inexorável.

Isto não foi só um sinal de vitória para os reacionários, mas um avanço significativo para os stalinistas, que lutaram todo o tempo contra a ocupação de fábricas e a desapropriação de terras e se opuseram implacavelmente a qualquer luta que não estivesse controlada por eles ou por Allende.

A INSOLÚVEL CRISE ECONÔMICA

Detrás das crescentes intrigas da oposição, a arrogância dos generais, as sistemáticas vacilações de Allende e a capitulação dos stalinistas durante 1972-73, jazia a insolúvel crise do capitalismo chileno e mundial.

Quando Allende subiu ao poder, o Chile agonizava em uma grande crise econômica e financeira, a qual se aprofundou consideravelmente desde então. As reservas do Banco Central baixaram de $ 500 para $ 280 milhões e em abril de 1972 calculava-se que não havia mais de $ 60 milhões. Ao mesmo tempo, a dívida externa excedia os 3 bilhões, cuja maior parte estava sob o controle dos bancos centrais europeus.

O compromisso de Allende e dos stalinistas com os credores internacionais forneceu o estímulo à reação nativa para dar mais ímpeto à luta para impedir a nacionalização e preparar-se abertamente para a contra-revolução.

As manifestações de operários e estudantes contra a direita foram censuradas pelos stalinistas, ao passo que Allende se ocupava de elogiar os odiados carabineiros, a elite da polícia usada para atacar os trabalhadores e ocupantes ilegais de prédios.

As palavras de Allende expressam claramente a perplexidade — e também a impotência — do doutor pequeno-burguês perante a máquina do estado capitalista e sua completa falta de confiança na classe operária.

"O lema dos carabineiros é 'Ordem e Pátria'. Ordem, baseada na autoridade moral, cumprindo corretamente os deveres, que de nenhum modo supõe a negação da hierarquia. Com efeito, vocês têm um sentido de disciplina social e o uso da força pública" (Workers Press, 11 de maio de 1972). Foi precisamente este "sentido de disciplina e hierarquia" que conduziu o presidente da guarda de carabineiros a render-se quando aconteceu o golpe militar.

Em setembro de 1972, Allende descartou qualquer expectativa de golpe militar: "Creio que o meu governo é a melhor garantia para a paz. Aqui há eleições e liberdade. Noventa por cento dos chilenos não querem um confronto armado".

Não obstante, os outros dez por cento não compartilhavam com as ilusões stalinistas de Allende. Novos grupos, como a frente semifascista "Pátria e Liberdade", começaram a armar-se abertamente contra o regime, enquanto os latifundiários no Sul formavam exércitos privados para impor "justiça" sobre os camponeses.

Para 1973, a política de "moderação e reconciliação" dos stalinistas havia desiludido os trabalhadores da indústria e, pela primeira vez, os mineiros do cobre começaram a fazer greves por aumento de salário. Isto foi um sinal importante da crise, mas sob recomendação dos ministros stalinistas, Allende atacou a classe operária do modo mais depravado.

Ao retornar de Moscou, em janeiro de 1973, Allende atacou os mineiros do cobre em greve, taxando-os como "verdadeiros banqueiros monopolistas que exigem dinheiro para seus bolsos sem nenhuma consideração com a situação econômica do país".

No mesmo discurso, Allende revelou que a dívida externa havia aumentado em dois anos de $ 3 bilhões para $ 4 bilhões e admitiu, além disso, que o parlamento deveria dissolver-se de imediato. Este foi o preço da "via pacífica".

Aqui, os stalinistas também mostraram sua mão. Quando os mineiros da grande mina de cobre El Teniente, que foi nacionalizada, entraram em greve por aumento salarial durante 70 dias, os stalinistas se opuseram às propostas de Allende como "vacilação" e "completamente inadmissíveis" e incentivaram o governo a usar canhões de água e gases lacrimogêneo contra os mineiros. A província de O'Higgins — a área em greve — foi colocada sob controle militar.

Ao mesmo tempo, Allende propôs trazer de novo os generais demitidos de seus postos em março de 1973. O propósito desta ação estava claro: Allende e os stalinistas queriam utilizar o exército contra a classe operária, inclusive quando os dirigentes do partido estavam convencidos de que a oposição estava preparando o golpe para agosto ou setembro!

Em junho de 1973, a direita fez sua primeira tentativa de sublevação depois da greve do cobre. Esta tentativa do Segundo Regimento Armado falhou, mas demonstrou a vulnerabilidade do regime a um golpe militar.

Este ataque estimulou a classe operária a entrar em ação, a ocupar fábricas e a fortalecer as assembleias de trabalhadores que estavam brotando por todas partes entre outubro e novembro de 1972.

A reação do líder chileno, Luis Corvalán, ao golpe fracassado de 29 de junho atestou o pânico destes traidores quando viram que o futuro do governo de Allende estava predestinado ao fracasso. A complacência e a euforia desapareceram, mas em troca pairava uma paralisia de terror perante o Exército: "A sublevação foi contida rapidamente graças às Forças Armadas e à polícia... Continuamos apoiando o caráter absolutamente profissional das instituições armadas. Seus inimigos não estão no povo, mas no campo reacionário" (Marxismo Today, setembro de 1973).

Inclusive agora, apesar de tardiamente, a situação poderia ter mudado com uma liderança decidida e categórica... No entanto, os stalinistas chilenos seguiram um curso que não era somente falso, senão pior ainda, contraditório. Segundo Corvalán escreveu: "A consigna patriótica e revolucionária deve ser: Não à guerra civil! Não ao fascismo". Porém , o fascismo é guerra civil contra os trabalhadores e o sistema capitalista traz em suas entranhas o grande perigo de guerra civil contra a classe operária. Renunciando à guerra civil e deixando a luta nas mãos dos reacionários oficiais burgueses, o stalinismo chileno facilitou e acelerou a derrota dos trabalhadores.

O presidente anterior, Frei, chamou abertamente a atacar as "milícias operárias" que estavam se formando nas fábricas. Diante desta situação, só uma ação determinada do governo, armando os operários, dissolvendo o exército, colocando toda a classe operária em alerta e preparando-a para a luta, teria prevenido-os e abortado o golpe. O governo e os stalinistas fizeram o contrário.

Durante a crise de outubro de 1972, foi reativada uma "lei de controle de armas" para impedir o rearmamento dos trabalhadores. Na marinha e no exército, os oficiais direitistas se aproveitaram da apatia, passividade e indiferença para doutrinar as tropas e prepará-las para a insurreição. Os fervorosos chamados ao exército de Allende só serviram para aumentar a determinação dos generais em terminar rápida e implacavelmente com a experiência da "via pacífica".

O ataque final ao palácio presidencial de 11 de setembro foi a culminação de um plano concebido graças ao consentimento do governo e do Partido Comunista. Da mesma forma que Hitler e Franco, o General Pinochet venceu pela ausência de seu adversário, graças à traição do stalinismo.

A PEQUENA BURGUESIA E A REAÇÃO

Uma pergunta final deve ser dirigida aos stalinistas: Por que nenhum líder se atreve a responder as perguntas vitais que conduziram à derrota? Por que a classe média, e com ela os soldados rasos, se rebelaram tão violentamente contra o regime? Se a "via pacífica" e o "respeito à legalidade" são a única garantia para se ganhar a classe média, por que falharam tão desastrosamente no Chile?

Argumentar que esta guinada à direita da pequena burguesia se deve tão somente às intrigas da CIA ou à tendência da classe média de apoiar os regimes militares, como os stalinistas fazem entender, é injuriar o marxismo e ocultar a traição da Frente Popular. Segundo Trotsky escreveu em "Aonde vai a França?" (1934): "A pequena burguesia se distingue por sua dependência econômica e sua heterogeneidade social (...), não tem política própria. Sempre oscila entre os capitalistas e os trabalhadores. Sua camada alta a empurra para a direita, enquanto sua camada baixa, oprimida e explorada, sob certas condições, pode girar repentinamente para a esquerda". Trotsky continua, afirmando que em períodos de crise aguda e na ausência de uma direção revolucionária, "a pequena burguesia começa a perder a paciência. Adota uma atitude mais hostil em relação a sua própria camada alta. Convence-se da bancarrota e da traição de seus dirigentes políticos... É precisamente esta desilusão da pequena burguesia, sua impaciência, seu desespero que o fascismo explora... Os fascistas mostram franqueza, saem à rua, atacam a polícia e tratam de expulsar os Parlamentares pela força. Isto impressiona a desesperançada pequena burguesia".

As palavras de Trotsky descrevem exatamente a atitude da pequena burguesia sob o governo de Allende... A pequena burguesia foi a primeira vítima da coalizão política que tentou adormecer a classe operária com subsídios, enquanto prometia um aumento da produtividade aos capitalistas industriais, detendo drasticamente a nacionalização e negando-se a rechaçar o grande peso da dívida externa contraída pelo governo anterior pró-EUA de Frei.

A queda média do poder aquisitivo e a diminuição do consumo afetou principalmente as camadas baixas da pequena burguesia... Os grandes capitalistas queriam uma grande desvalorização do Escudo ou um completo congelamento de salários... Por outro lado, os trabalhadores queriam mais nacionalização, controle operário e acabar com a fraude parlamentar.

Allende e os stalisnistas rechaçaram ambas alternativas e se viram atrapalhados com suas próprias contradições. Era só uma questão de tempo antes que os imperialistas e a junta atacassem...

CONSTRUIR O PARTIDO REVOLUCIONÁRIO

Para defender a classe operária chilena é necessário assimilar as lições vitais deste período e construir uma nova direção revolucionária baseada nos princípios de Lenin e Trotsky.

Sugerimos este parágrafo de Lênin como epitáfio do governo Allende "O proletariado não pode vencer se não atrai a maioria da população para o seu lado. Mas limitar a vitória a uma maioria de votos nas eleições controladas pela burguesia ou condicioná-la a isto é uma estupidez exorbitante ou um engano absoluto para os trabalhadores. Para ganhar a maioria da população para seu lado, o proletariado deve, em primeiro lugar, derrotar a burguesia e tomar o poder. Segundo, deve estabelecer o poder dos sovietes e acabar de destruir o velho aparato do Estado, o que debilita o domínio, prestígio e influência da burguesia e da pequena burguesia acomodada sobre a classe operária não proletária. Terceiro, o proletariado deve destruir completamente a influência da burguesia e da pequena burguesia sobre as massas não proletárias e satisfazer suas necessidades econômicas de uma maneira revolucionária as custas dos exploradores."

Se o stalinismo desempenhou o papel principal na derrota chilena, é impossível analisá-la sem contar com o papel dos centristas e revisionistas que foram, querendo ou sem querer, cúmplices do stalinismo.

Os centristas do MIR (Movimiento de Izquerda Revolucionária), que contavam com o apoio considerável entre os camponeses sem-terra do Sul, não adotaram uma atitude principista em relação a Allende e geraram grande confusão entre os camponeses. Sua política de "apoio crítico" a Allende, na prática, significou capitulação perante a Frente Popular. Como o POUM na Catalunha, na Guerra Civil Espanhola, este grupo retirou sua oposição a Allende nas eleições ao Congresso em março de 1973, precisamente quando um audacioso desafio aos stalinistas, ao Estado capitalista e uma chamado para formar um governo de trabalhadores e camponeses havia atraído a maioria dos trabalhadores e camponeses pobres.

Os revisionistas do Secretariado Unificado (SU) desempenharam um papel ainda mais criminoso. The Militant (o jornal do Socialist Workers Party dos EUA), lamentava-se: "Não há, no entanto, um partido que possa tomar este exemplo (controle popular da produção) e extendê-lo através dos cordões (assembléias operárias) e através do país" (4/9/1973).

Por que o SWP não disse a seus leitores o que aconteceu com o POR (Partido Operário Revolucionário do Chile), a seção do SU, que abandonou o CIQI e se uniu ao SU, apoiando as teorias revisionistas de Mandel e Hansen, as teorias que liquidaram o trotskismo na América Latina e substituíram-no por idéias e métodos de Guevara e Castro? Por que o SWP não lembra que ele mesmo foi o principal protagonista dessa linha política?

Não é fato que o partido trotskista não foi destruído no Chile pelo stalinismo ou pela Junta Militar, mas pela aplicação consciente da teoria revisionista de que as revoluções podem acontecer com êxito sem construir um partido marxista?

De todas as formas, a derrota chilena não mudará nada no Secretariado revisionista. Em vez de aprender as lições, estes acontecimentos aproxima-os ainda mais da burocracia, da burguesia nacional e do imperialismo. Por isto, os revisionistas do Grupo Marxista Internacional na Inglaterra, por exemplo, não têm dúvida de unir-se com os stalinistas campeões da Frente Popular na manifestação contra a junta chilena... e pela Frente Popular no Chile.

Certamente, o revisionismo alcançou um novo estágio de degeneração. Marchando com a Frente Popular, apoiou as maquinações contra-revolucionárias do stalinismo e da burguesia. Lutar contra o stalinismo e o castrismo é destruir politicamente o revisionismo.

O CIQI chama a máxima solidariedade com a classe operária internacional para boicotar o comércio marítimo do Chile, exigir a liberação de todos os prisioneiros políticos e que cessem as execuções pela Junta. Ao mesmo tempo, exigimos do governo da URSS e dos regimes da Europa Oriental que rompam as relações diplomáticas com a Junta chilena e que promovam toda a ajuda possível aos trabalhadores combatentes do Chile.

• ABAIXO A JUNTA MILITAR DO CHILE!
• ABAIXO A FRENTE POPULAR!
• ABAIXO O STALINISMO!
• VIVA OS TRABALHADORES CHILENOS!
• PELA CONSTRUÇÃO DE SEÇÕES DO COMITÊ INTERNACIONAL DA QUARTA INTERNACIONAL!!

Declaração do CI-QI.
18 de setembro de 1973.