terça-feira, 26 de setembro de 2017

REVISITANDO A HISTÓRIA: VEJAM COMO O DIRIGENTE DO MAIS, FÁBIO JOSÉ, QUANDO ERA VEREADOR PELO PSTU JÁ DEFENDIA A CONCILIAÇÃO DE CLASSES COM PARTIDOS BURGUESES


VEREADOR DO PSTU EM JUAZEIRO DO NORTE (CE) INTEGRA BLOCO PARLAMENTAR COM O PT E PHS DE APOIO AO GOVERNO LULA 
(ARTIGO PUBLICADO NO JLO EM 06/08/2003)

Nos últimos meses, o PSTU tem dirigido um chamado aos parlamentares petistas que estão sendo ameaçados de expulsão do partido e ao conjunto da vanguarda classista a romper com o PT para conformar um novo partido de esquerda e socialista. Porém, onde possui alguma expressão parlamentar, o PSTU vem seguindo uma trajetória completamente oposta a que aconselha aos seus aliados da esquerda petista e aos trabalhadores.

VALE TUDO ELEITORAL E CRETINISMO PARLAMENTAR

Dos dois únicos mandatos parlamentares que o PSTU possui nacionalmente, o mais importante é o do vereador Fábio José, eleito na cidade de Juazeiro do Norte, no interior Ceará. Juazeiro é a segunda maior cidade do Estado do Ceará e em torno dela se concentra o importante pólo político da região do Cariri. Fábio foi militante do morenismo tupiniquim desde a Convergência Socialista. Foi eleito em 2000 em uma coligação entre o PT e o PSTU, que tinha como candidata à prefeita, a petista Íris Tavares. O lema da coligação frente-populista que recebeu apoio até de notórios políticos do PSDB era “quando o povo quer, Padre Cícero abençoa”, reivindicando o que há de mais reacionário na cultura local, o fanatismo religioso que tem como expressão maior o padre-coronel, símbolo da manipulação da crença popular pelas oligarquias latifundiárias e a igreja católica no Cariri. A esta arqui-reacionária coligação, o PSTU tem a repugnante cara-de-pau de chamar de “frente classista”. Iris não foi eleita prefeita, mas a tal frente elegeu dois vereadores em Juazeiro, um do PT e o próprio Fábio José. Desta forma, o PSTU foi imediatamente recompensado eleitoralmente por integrar a frente eleitoral burguesa e clerical. Nas eleições de 2002 Irís Tavares elegeu-se deputada estadual e ingressou na DS.

Uma vez eleito, o vereador do PSTU “abençoado”(termo utilizado na campanha de Fábio) por Padre Cícero conformou um bloco parlamentar liderado pelo vereador do PT Manoel Raimundo Santana, da Articulação e pelo vereador Tarso Magno, do Partido Humanista Social (PHS). O vereador do PSTU não se deteve nos marcos da frente popular com o PT e estendeu sua aliança a um partido burguês marginal.

Após seis meses do governo Lula, nenhum argumento utilizado no Jornal Opinião Socialista reivindicando a ruptura dos parlamentares radicais do PT com o governo Lula foi forte o bastante para convencer o vereador do próprio PSTU a romper com o bloco parlamentar burguês de apoio ao governo da frente popular. Tampouco tiveram importância para que o vereador Fábio viesse a mudar de posição e romper com o bloco de vereadores apoiadores do governo Lula, os ataques aos trabalhadores, arrocho salarial, pagamento da dívida externa, negociações em favor da ALCA, repressão ao funcionalismo em greve desferidos pelo governo nacional do PT mais recentemente. Pelo contrário, o bloco se mantém cada vez mais unido e homogêneo a cada nova sessão, a ponto de que em uma audiência pública no final de julho, Tarso Magno se viu obrigado a declarar categoricamente que apesar de seu alinhamento político com os outros dois vereadores, não o confundissem, seu partido ainda era o PHS e não o PT.

Mas o mandato que deveria servir de exemplo para os parlamentares petistas convidados a romper com o cretinismo parlamentar segue muito bem obrigado, vegetando na sombra da frente popular e a reboque do líder parlamentar da Articulação na Câmara Municipal, que defende ardorosamente as alianças eleitorais com as oligarquias e, entre outras maldades do governo Lula/FMI, a famigerada Reforma da Previdência.

A principal marca do mandato de Fábio e do bloco parlamentar (PT, PSTU, PHS) foi fazer uma oposição responsável, ética, ao prefeito que derrotou Íris e a seu séqüito de vereadores, no marco da moralização da Câmara Municipal. Trata-se do velho colaboracionismo de classes voltado à pressão popular sobre o parlamento, típico do reformismo parlamentar burguês, cujo objetivo é desgastar eleitoralmente o prefeito e catapultar as candidaturas da frente popular para 2004.

FAÇA O QUE EU DIGO, NÃO FAÇA O QUE EU FAÇO

O mandato de Fábio não serve aos trabalhadores para enfrentar a alienação religiosa alimentada secularmente pelas oligarquias nordestinas e, em particular, as do Cariri. Não serve como exemplo de ruptura com o governo Lula “em quem chamou a votar” e com suas reformas pró-imperialistas. Não serve de exemplo de como os revolucionários atuam no parlamento burguês, como nos ensinou o revolucionário alemão Karl Liebknecht votando contra os créditos de guerra. Mas serve como tubo de ensaio de demonstração de que a alternativa de esquerda e socialista apontada pelo PSTU em nada se diferencia do PT e não passa de uma sombra envergonhada da frente popular das “origens”.


Mas as coisas não param por aí. Fábio José não quer colocar em risco a sua reeleição, e enquanto o PSTU chama nacionalmente os trabalhadores a romper com o PT e a construir um novo partido, seus militantes em Juazeiro do Norte já convocam o PT a reeditar a “frente classista” de 2000 nas eleições municipais de 2004, tendo como candidata a mesma Íris Tavares, que junto com a DS apoia a reforma da previdência de Lula. Tamanho oportunismo serve também para demonstrar como uma tática de sobrevivência sem princípios se tornou uma estratégia e que, para garantir seu lugarzinho como vereador numa câmara municipal, o PSTU apela para a combinação entre o vale tudo eleitoral e o cretinismo parlamentar.