sexta-feira, 16 de novembro de 2018

ASSASSINATO DO JORNALISTA SAUDITA DO WASHINGTON POST: TRUMP FECHA ACORDO COM PRÍNCIPE SALMAN (O MANDANTE DO CRIME) EM TROCA DE MAIS APOIO PARA A OFENSIVA CONTRA O IRÃ, SÍRIA E PALESTINA


Quase dois meses após o assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi a mando do governo de Riad a farsa em torno do crime não só prossegue como fica cada vez mais “interessante” exigindo uma análise mais “fina” de como funcionam as relações da Casa Branca com seus aliados da reacionária petro-monarquia saudita. As circunstâncias do crime e seus desdobramentos poderiam ser base para o roteiro perfeito de um filme policial com forte conteúdo político ao melhor estilo das obras de Agatha Christie e seu inspetor Poirot onde a arte tenta imitar a vida, a última sempre bem mais rica e envolvente. Todos os “elementos dramáticos” do submundo da geopolítica do Oriente Médio junto a seus parceiros das metrópoles capitalistas estão presentes neste caso tanto que nos fizeram elaborar sobre um tema aparentemente distante para nossos olhos, mais preocupados com as ações nefastas do neofascista tupiniquim. O assassinato bárbaro do jornalista saudita do Washington Post contou com tortura, decapitação, esquartejamento e dissolução do seu corpo em ácido no Consulado da Arábia Saudita em Istambul, na Turquia, ocorrido em 02 de outubro por ordem do príncipe herdeiro saudita Mohamed bin Salman, a um comando de 15 agentes. Estes partiram de Riad em dois aviões do reino para a Turquia com a missão precisa de matar o “inconveniente” corresponde do Washington Post, um crítico literário do regime saudita acolhido pelo periódico ianque (tinha residência fixa nos EUA) para fazer denunciais pontuais acerca da “falta de democracia no país”, um conhecido movimento de pressão de baixo impacto de setores do imperialismo ianque para com seus aliados “exóticos” pelo mundo. Como o serviço secreto saudita vinha monitorando os passos do jornalista sabia antecipadamente que ele iria ao consulado em Istambul a fim de obter documentos para seu casamento com a turca Hatice Cengiz. Do prédio consular Jamal Khashoggi não mais saiu, seu corpo nunca foi encontrado...

Como o crime correu no consulado saudita na Turquia, o governo Erdogan tratou de explorar o caso ao máximo, principalmente agora que Ancara vem se distanciando dos EUA e se aproximando do governo de Putin. Apesar de vários jornalistas serem presos e torturados diariamente na Turquia sem nenhuma nota da imprensa do país, dessa vez o governo turco agiu rapidamente, deslocando forte aparato policial e diplomático para “desvendar o caso” com o objetivo de chantagear a própria monarquia saudita, que chegou a negar sua responsabilidade na morte para depois reconhecer que foi uma “ação que fugiu do controle” de seus funcionários assim como para desmoralizar a Casa Branca que vem apenas “lamentando” formalmente o ocorrido. A Turquia alega que as explicações sauditas são “insuficientes” neste caso e insiste no caráter premeditado do assassinato. O ministro turco das Relações Exteriores, Mevlüt Cavusoglu declarou: “Este assassinato, como já dissemos, foi planejado” rejeitando a versão de que os assassinos de Khashoggi tentaram primeiro trazê-lo de volta ao país saudita. O presidente da Turquia, Erdogan, já havia aumentado a pressão sobre a Arábia Saudita, quando garantiu ter compartilhado gravações sobre a morte de Khashoggi com Riad, Washington e outros países imperialistas como Alemanha, Franca e Inglaterra, um claro jogo de pressão no cenário mundial. O próprio Erdogan havia dito que a ordem para assassinar o jornalista saudita emanou “dos mais altos níveis do governo” de Riad. O jornal The New York Times revela que uma gravação obtida pelas autoridades da Turquia e mostrada à diretora da CIA, Gina Haspel, registra o momento em que um dos assassinos do jornalista saudita Jamal Khashoggi liga para um assessor do príncipe herdeiro da monarquia do Golfo, Mohammed bin Salman. Segundo a reportagem Maher Abdulaziz Mutreb, integrante da equipe de 15 agentes, disse em árabe a expressão “Diga a seu chefe” em um telefonema na sequência do assassinato. Mutreb também teria dito “Missão cumprida”. Para agentes de inteligência turcos, essa era uma referência ao príncipe feita a um assessor seu do outro lado da linha. Autoridades de segurança da Turquia afirmam que o arquivo de áudio foi gravado pelo relógio Apple Watch de Khashoggi e foi recuperado pelo seu iPhone, que tinha ficado com a sua namorada fora do consulado e pela sua conta no iCloud. Uma das fontes ouvidas pelo jornal relatou que é possível ouvir a voz do jornalista e de “homens falando árabe” e como Khashoggi foi interrogado, torturado e assassinado. Outra fonte diz que é possível ouvir os homens batendo no jornalista. O jornal diz que a gravação está com o governo turco, que informou funcionários dos EUA e que também há um vídeo que demonstra que Khashoggi foi assassinado no consulado.

Nesta quinta-feira,15.11, o procurador-geral saudita eximiu Mohamed bin Salman de qualquer envolvimento no assassinato do jornalista Jamal Khashoggi “O príncipe herdeiro não estava a par do caso”, afirmou o porta-voz do procurador-geral. Em resumo, o verdadeiro mandante não sabia de nada, tudo foi feito a sua revelia. Segundo o mesmo porta-voz, o subdiretor dos serviços de Inteligência, general Ahmed al-Asiri, ordenou que Khashoggi fosse levado por bem, ou por mal, mas o chefe da equipe de “negociadores” enviados ao local ordenou matá-lo. Por conta desse “erro” o Promotor pede pena de morte a cinco agentes pelo assassino de Jamal Khashogg, em uma “queima de arquivo vivo” clássica. Do total de 21 suspeitos, o procurador-geral indiciou até agora 11 pessoas que terão de comparecer diante dos tribunais, todos operadores médios do crime, o alto escalão formada por generais e o próprio príncipe monarca estão obviamente a salvos em um país em que comandam com mão de ferro, atacando ao mesmo tempo países como a Síria e o Irã, adversários dos EUA na região. Em um movimento claramente combinado com seu aliado de Riad, o Tesouro dos Estados Unidos anunciou, também nesta quinta, sanções econômicas contra 17 funcionários sauditas suspeitos de vínculo com a morte do jornalista: “Os funcionários sauditas que estamos punindo estiveram envolvidos no (...) assassinato de Jamal Khashoggi. Estas pessoas que atacaram e mataram brutalmente um jornalista que morava e trabalhava nos Estados Unidos devem enfrentar consequências por suas ações", declarou o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin. Em resumo vão “sancionar” funcionários de terceiro escalão e preservar seus fortes aliados, nada de “punição exemplar” como os EUA, paladinos da “democracia”, fazem com as “ditaduras” do Irã ou da Venezuela, acusadas de serem regimes assassinos e sanguinários porque não estão aliadas ao imperialismo ianque.

O que está por trás desse acordo entre Trump e o príncipe Saudita Mohamed bin Salman é o acobertamento do crime para em troca receber mais apoio da petro-monarquia para a ofensiva contra o Irã e a Síria assim como para reforçar o apoio saudita a Israel em seus ataques contra a resistência palestina em Gaza. A Casa Branca e Pentágono irão ficar com essa “carta na manga” para exigir mais ação e disciplina da Arábia Saudita em apoio a ação do imperialismo ianque e do enclave sionista no Oriente Médio. A morte do jornalista saudita Jamal Khashoggi do Washington Post é apenas uma “moeda de troca” em meio essas negociações macabras do imperialismo e seus agentes contra a luta do proletariado no Oriente Médio.