sexta-feira, 7 de junho de 2019

30 ANOS SEM NARA LEÃO: A BELA “MENINA RICA” QUE ROMPEU COM A VAZIA BOSSA NOVA E PASSOU A SER NA MPB A VOZ DA RESISTÊNCIA A DITADURA MILITAR!


Há exatos 30 anos, no dia 7 de junho de 1989, nos deixava a genial cantora Nara Leão aos 47 anos. Nara foi vítima de um tumor cerebral inoperável. Nascida no dia 19 de janeiro de 1942, em Vitória (ES), a cantora se mudou quando tinha apenas um ano de idade com os pais e a irmã, a hoje jornalista reacionária Danuza Leão, para o Rio de Janeiro. Desde cedo, ela teve contato com a música, e a casa dos seus pais era frequentada por músicos que participaram do nascimento da Bossa Nova, como Roberto Menescal, Carlos Lyra, Sérgio Mendes e Ronaldo Bôscoli, seu namorado na época. No final da década de 50, ela trabalhou como repórter do jornal "Última Hora", de Samuel Wainer, casado com sua irmã Danuza. Bôscoli também trabalhava no jornal, e o relacionamento dos dois terminou quando se aproximou afetivamente da cantora Maysa. Na década de 60, Nara passou a se interessar mais pelas ideias de esquerda e revolucionárias, começou o namoro com o cineasta moçambicano Ruy Guerra, com quem se casou um tempo depois. As obras de Ruy no chamado “Cinema Novo” influenciaram Nara. No ano de 1964 Guerra realizou seu melhor filme, Os Fuzis, ao qual se seguiram obras notáveis como Tendres chasseurs (1969) e Os Deuses e os Mortos (1970). Por sua vez, a estreia de Nara como cantora profissional aconteceu ao lado de Vinícius de Moraes e Carlos Lyra, na peça “Pobre menina rica” (1962). Sua consagração, contudo, veio após o espetáculo Opinião, juntamente com João do Vale e Zé Keti. Tratava-se de uma obra de crítica social à repressão durante o regime militar no Brasil, iniciado em 1964. Nara Leão lançou seu primeiro disco no mesmo ano que a Ditadura Militar foi instaurada no Brasil. Engajada na esquerda, a cantora participou intensamente na luta contra a ditadura dos gorilas assassinos. Na mesma época, anunciou seu rompimento com a Bossa Nova. Em 1966, cantou a música “A Banda”, de Chico Buarque, no Festival de Música Popular Brasileira (TV Record), venceu o festival e conquistou o público brasileiro. Nara ainda participou do disco-manifesto do movimento tropicalista “Tropicália ou Panis et Circensis”, em 1968. Na vida pessoal, ela se separou de Ruy Guerra e se casou com o cineasta Cacá Diegues, com quem teve dois filhos: Isabel e Francisco. No final de 69, junto com outros artistas que deixaram o país durante este período, o casal foi morar em Paris. Na década de 70, já de volta ao Brasil, a cantora voltou a estudar psicologia, se divorciou de Diegues e recebeu o prêmio de melhor cantora da Associação dos Críticos de Arte de São Paulo. Ainda nos anos 70, Nara Leão descobriu que estava doente. Apesar de ter que se afastar dos palcos durante o início da década de 80 para tratar a doença, a cantora ainda se apresentou em vários países e lançou seu último álbum antes de morrer no dia 7 de junho de 1989, vítima de um tumor no cérebro. Nara nos deixa o exemplo da evolução política, ideológica e cultural de uma mulher e cantora que de “musa” da alienante Bossa Nova passou a ser uma porta-voz da MPB engajada nas lutas contra o regime militar e também colocando sua voz para externar os lamentos do povo mesmo na democracia dos ricos!