domingo, 19 de abril de 2020

EM 19 DE ABRIL DE 1882 NOS DEIXAVA O GENIAL CHARLES DARWIN: A TEORIA DA “EVOLUÇÃO DAS ESPÉCIES” SOB A ÓTICA CRÍTICA DO MARXISMO REVOLUCIONÁRIO


Em 19 abril de 1882 morria Charles Darwin, naturalista britânico e pesquisador. Darwin foi um dos grandes nomes da ciência mundial ao propor a teoria da evolução a partir da seleção natural. Suas pesquisas revolucionaram as ciências e a forma de olhar o mundo e as espécies. A visão de Darwin no “A Origem das Espécies” rompeu com velhas certezas. As espécies não são mais vistas como imutáveis. A vida se diversificou por um processo de divisão de espécies, a vida hoje é apenas parte de uma história enormemente longa de origens, extinções e diversificação. A evolução também continuará. Segundo a teoria de Darwin, os organismos estão razoavelmente bem adaptados a seus ambientes, mas a adaptação raramente atinge a perfeição porque os ambientes variam continuamente. Os que melhor se adaptam ao ambiente transitório sobrevivem para reproduzir e transmitir seus atributos para as próximas gerações. Vale destacar que Darwin cresceu compartilhando as visões típicas da classe privilegiada em que nasceu. Ele não era de forma alguma um evolucionista quando partiu no navio de pesquisa do Beagle, embora tenha sido profundamente influenciado pelo trabalho do geólogo Lyell e tão consciente de que a Terra é muito antiga. Ele também estava familiarizado com as ideias dos embriologistas alemães, do biólogo Linnaeus, das visões evolucionistas pouco ortodoxas dos naturalistas franceses, de Lamarck e assim por diante. Essa era a mistura de ideias que o jovem Darwin ponderou quando começou a pensar seriamente sobre a natureza. A viagem de cinco anos ao redor do mundo, juntamente com sua leitura e estudo após seu retorno, mudou tudo. As evidências da vida vegetal e animal na América do Sul, e em particular nas Ilhas Galápagos, levaram Darwin a admitir o “impossível” - que as espécies não são imutáveis. Marx leu “A Origem das Espécies” de Charles Darwin em 1860, um ano após a publicação. Em 1873, Marx envia a Darwin a segunda edição de O Capital. Dentro, um singelo bilhete escrito “Ao Sr. Charles Darwin, em nome de seu sincero admirador, Karl Marx”. No mesmo ano, Darwin envia uma carta a Marx como resposta: “Distinto senhor, agradeço-lhe a honra que me oferece ao me enviar seu excelente trabalho O Capital. Sinceramente, penso que mereceria mais o seu dom se eu entendesse algo mais sobre essa questão profunda e importante que é a economia política. Embora nossos estudos sejam tão diferentes, acredito que ambos desejamos ardentemente a disseminação do conhecimento e que, a longo prazo, isso certamente ajudará a aumentar a felicidade da raça humana. Fico muito agradecido senhor. Do seu, com afeto, Charles Darwin”. Para os Marxistas, defender criticamente o pensamento evolucionário não é apenas uma questão acadêmica, muito pelo contrário! Faz parte da luta de classes mais ampla, de armar a classe trabalhadora contra ideologias capitalistas, distorções e falsificações.  Os Materialistas Dialéticos entendem que, em qualquer estágio particular da história, há perguntas que a ciência é incapaz de responder. O conhecimento humano, como tudo o mais, tem uma história, se desenvolve o tempo todo e não há limites fixos ou absolutos. Esse artigo do Blog da LBI é dedicado a analisar brevemente a obra de Darwin desde as impressões de Marx, Engels e Trotsky no contexto em que vivemos hoje um momento em que a espécie humana é atacada mortalmente por um vírus (COVID-19) criado em laboratório como parte do bioterrorismo patrocinado pelo imperialismo ianque, cabendo aos Revolucionários defender a humanidade da barbárie por meio da intervenção da luta de classes em defesa do Programa Comunista.

Aprofundando as reflexões sobre a obra de Darwin, em dezembro de 1860, Marx escreveu a seu amigo e camarada de luta Friedrich Engels que o livro “Embora seja desenvolvido no estilo inglês bruto, este é o livro que contém as bases da história natural para nossa visão”. No ano seguinte, comentou com Ferdinand Lassalle que “o livro de Darwin é muito importante e me serve de base, na ciência natural, para a luta de classes na história”. Meses depois, em nova carta a Engels, registra uma crítica dessa obra de Darwin, tendo como pressuposto a sociedade vitoriana: “É notável como Darwin reconhece entre animais e plantas sua sociedade inglesa com sua divisão de trabalho, competição, abertura de novos mercados, ‘invenções’ e a ‘luta pela existência’ malthusiana. É o ‘bellum omnium contra ommnes’ (guerra de todos contra todos) de Hobbes, e lembra a Fenomenologia de Hegel onde a sociedade civil é descrita como um ‘reino animal e espiritual’, enquanto em Darwin o reino animal figura como sociedade civil”.

Em carta a Ludwig Kugelman, de 1866, Marx comenta que “em Darwin o progresso é meramente acidental” e A Origem das Espécies não rendeu muito “em relação à história e à política”, embora pudesse ter “uma tendência socialista inconsciente'”. Considera, porém, que tem “fraqueza de pensamento” quem queira fazer a história humana depender da expressão darwiniana de “luta pela sobrevivência”. O pensamento econômico que Darwin esposava era o de Malthus (para quem o excesso populacional era a causa de todos os males da sociedade). No Anti-Dühring, Engels aborda a influência do malthusianismo no naturalista: “Darwin não sonhou sequer em dizer que a origem da ideia da luta pela existência era a teoria de Malthus. O que ele diz é que a sua teoria da luta pela existência é a teoria de Malthus aplicada a todo mundo vegetal e animal. Por maior que fosse o deslize cometido por Darwin de aceitar, na sua ingenuidade, a teoria malthusiana, vê-se logo, a um primeiro exame, que, para se perceber a luta pela existência na natureza – que aparece na contradição entre a multidão inumerável de germes engendrados pela natureza, em sua prodigalidade, e o pequeno número desses germes que podem chegar à maturidade, contradição que, de fato, se resolve em grande parte numa luta, às vezes extremamente cruel, pela existência – não há necessidade das lunetas de Malthus. E, assim como a lei que rege o salário conservou o seu valor muito tempo depois de estarem caducos os argumentos malthusianos sobre os quais Ricardo” (David Ricardo, 1772-1823, inglês, um dos fundadores da ciência econômica) “a baseava, a luta pela existência pode igualmente ter lugar na natureza sem nenhuma interpretação malthusiana. De resto, os organismos da natureza têm, também eles, as suas leis de população, que estão pouco estudadas, mas cuja descoberta será de importância capital para a teoria do desenvolvimento das espécies. E quem, senão Darwin, deu o impulso decisivo nessa direção?”

Engels explicou também que “É precisamente a dialética que constitui a forma mais importante de pensar para a ciência natural atual, pois ela oferece o análogo e, portanto, o método de explicar os processos evolutivos que ocorrem na natureza, as interconexões em geral e as transições de uma só vez em um campo de investigação para outro” (Dialética da Natureza). Marx e Engels argumentaram que o capitalismo é apenas uma etapa do desenvolvimento da sociedade humana. Eles disseram que a sociedade de classes não é eterna, mas surgiu de condições materiais definidas, evoluindo ao longo do tempo como resultado da pressão do desenvolvimento das forças produtivas e que chegará ao fim de sua 'vida' e será bem-sucedida por um estágio superior da sociedade.

A evolução humana só foi sugerida em Origem das Espécies, mas em Descida do Homem (1871), Darwin sustentou que somos descendentes de macacos africanos. Isso era controverso na época e discutido por 100 anos, até que a ciência moderna da biologia molecular provou que Darwin estava certo. Darwin sublinhou os laços materiais entre mamíferos e a humanidade. Engels explicou que havíamos aparecido como resultado de processos materiais definidos, mas também enfatizou nossa singularidade como animal social. Que somos o único animal que, através do trabalho, interage com a natureza. Que alteramos conscientemente o mundo natural e que esse processo de usar o trabalho também muda a nós mesmos. A visão idealista do “cérebro primeiro” do desenvolvimento humano do século XIX foi contestada por Engels. Ele argumentou que o trabalho e a organização social não são o produto do cérebro, mas a causa do desenvolvimento da mão e do cérebro.

Em seu ensaio de 1876, “O papel do trabalho na evolução do Macaco em Homem” Engels, explicou como a postura ereta liberou a mão para o uso de ferramentas, e que o aumento da inteligência e da fala ocorreu mais tarde. Engels declarou “A natureza é a pedra de toque da dialética, e as ciências maternas da natureza dão-nos para esta prova um conjunto abundante de dados extraordinariamente enriquecido cada dia que passa, provando assim que a natureza se move, em última análise, nos caminhos da dialética e não nos da metafísica, que a natureza não se move na eterna monotonia de um ciclo constantemente repetido, mas percorre uma história efetiva. Antes de mais, é preciso citar Darwin, que vibrou o mais rude golpe à concepção metafísica da natureza, ao demonstrar que toda a natureza orgânica existente, plantas e animais e, por conseqüência, o homem, também é o produto de um processo de evolução de milhões de anos”.

Leon Trotsky, o fundador da IV Internacional e nosso chefe político até os dias atuais, considerou que as descobertas de Darwin foram “o maior triunfo da dialética em todo o campo da matéria orgânica”, ao revelar como um processo de mudanças relativamente pequenas se acumula para produzir mudanças qualitativas.  Na prisão em Odessa, Trotsky leu “A Origem das Espécies” de Darwin e sua Autobiografia. Anos depois, ele escreveu “Darwin destruiu o último dos meus preconceitos ideológicos... Na prisão de Odessa, senti algo como um terreno científico duro sob meus pés. Os fatos começaram a se estabelecer em um determinado sistema. A ideia de evolução e determinismo - ou seja, a ideia de um desenvolvimento gradual condicionado pelo caráter do mundo material - tomou posse de mim completamente. Darwin foi para mim como um poderoso porteiro na entrada do templo do universo. Fiquei embriagado com o seu pensamento minucioso, preciso, consciente e ao mesmo tempo poderoso. Fiquei mais surpreso quando li... que ele preservou sua crença em Deus. Recusei-me absolutamente a entender como uma teoria da origem das espécies por meio da seleção natural e da seleção sexual e uma crença em Deus poderiam encontrar espaço na mesma cabeça” (Eastman, M., Trotsky: Um retrato de sua juventude, Nova York, pp. 117-118, 1925).

Em um logo artigo intitulado “As tarefas da educação comunista” (The Communist Review , dezembro de 1922, vol. 4, nº 7) no capítulo “Darwinismo e Marxismo” Trotsky pontua que “Mesmo que Darwin, como ele próprio afirmou, não tenha perdido sua crença em Deus por toda a sua rejeição da teoria bíblica da criação, o próprio darwinismo é, no entanto, inteiramente inteiramente inconciliável com essa crença. Nisso, como em outros aspectos, o darwinismo é um precursor, uma preparação para o marxismo. Tomado em um sentido amplamente materialista e dialético, o marxismo é a aplicação do darwinismo à sociedade humana. O liberalismo de Manchester tentou encaixar o darwinismo mecanicamente na sociologia. Tais tentativas apenas levaram a analogias infantis ocultando uma apologia burguesa maliciosa: a competição de Marx era explicada como a lei ‘eterna’ da luta pela existência. Estes são absurdos. É apenas a conexão interna entre o darwinismo e o marxismo que torna possível captar o fluxo vivo do ser em sua conexão primordial com a natureza inorgânica; em sua particularização e evolução posteriores; em sua dinâmica; na diferenciação das necessidades da vida entre as primeiras variedades elementares dos reinos vegetal e animal; em suas lutas; na aparência do ‘primeiro’ homem ou criatura humana, fazendo uso da primeira ferramenta; no desenvolvimento da cooperação primitiva, empregando órgãos associativos; na estratificação posterior da sociedade, consequente ao desenvolvimento dos meios de produção, isto é, dos meios de subjugar a natureza; na guerra de classes; e, finalmente, na luta pela elevação das classes. fazendo uso da primeira ferramenta; no desenvolvimento da cooperação primitiva, empregando órgãos associativos; na estratificação posterior da sociedade, consequente ao desenvolvimento dos meios de produção, isto é, dos meios de subjugar a natureza; na guerra de classes; e, finalmente, na luta pela elevação das classes. fazendo uso da primeira ferramenta; no desenvolvimento da cooperação primitiva, empregando órgãos associativos; na estratificação posterior da sociedade, consequente ao desenvolvimento dos meios de produção, isto é, dos meios de subjugar a natureza; na guerra de classes; e, finalmente, na luta pela elevação das classes”.

Na The Communist Review, de janeiro de 1924, vol. 4, nº 9 também podemos ler sobre a polêmica entre os comunistas da época acerca do tema da crença que Darwin teve em Deus. Ali encontramos esse trecho “Caro camarada! Nosso camarada Trotsky, escrevendo na ‘Review’ (novembro, página 326 ), afirma que Darwin ‘não perdeu sua crença em Deus, etc.’ Acredito que isso esteja incorreto e ofereça algumas provas: ‘Eu gradualmente passei a descrer no cristianismo como uma revelação divina... essa descrença tomou conta de mim muito lentamente, mas finalmente estava completa’. (Autobiografia de Charles Darwin - Life and Letters, Vol. 1, páginas 308-9). ‘Eu nunca desisti do cristianismo até os quarenta anos de idade’ - e novamente – ‘estou com você em pensamento, mas devo preferir, a palavra ‘agnóstico’ à palavra ‘ateu’”.

Desde a LBI pontuamos que avanços e recuos da compreensão do mundo e da luta de classes levaram a que o marxismo deixasse de ser referência para muitos cientistas. Isso se refletiu nos que continuaram na trilha aberta por Darwin de compreensão da natureza, sem a correspondência com a compreensão das vicissitudes da história social. Mesmo pensadores progressistas e envolvidos nos debates dos grandes temas do momento, tratam a conduta moral do homem (sua religiosidade, inclusive) como um aspecto da conduta natural, biológica. Desconsideram as classes sociais e a luta e relações que elas travam entre si. As qualidades e defeitos morais seriam instintivos, encontrados tanto nos humanos como nos animais. Aliás, Darwin chegou a escrever que os animais experimentam quase todos os sentimentos dos homens, como amor, lealdade etc. Quando muito, esses cientistas, tratam do enfrentamento entre o racionalismo (ciência) e anti-racionalismo (religião, crenças, preconceitos etc.) na sociedade.

Frases como “luta pela vida” podem ser aplicáveis ​​à flora e à fauna, mas Marx reconheceu que, como explicação da sociedade humana, elas reforçavam a fantasia malthusiana de que o excesso de população era a força motriz da economia política. Marx, Engels e Trotsky observaram em certa medida as visões politicamente conservadoras de Darwin, que permitiam que os “social darwinistas” usassem essas frases em defesa da exploração capitalista. A “sobrevivência do mais apto” e a “luta pela existência” não foram usadas inicialmente por Darwin, mas depois foram adotadas por ele como metáforas para descrever sua teoria. Os darwinistas sociais argumentaram que o progresso social estava na competição econômica entre os vários proprietários de fábricas vitorianas e que as tentativas de reforma social para ajudar os pobres e os vulneráveis ​​deveriam ser condenadas como sendo contra as “intenções da natureza”.

Esta concepção tem a “fraqueza de pensamento”' apontada pelo revolucionário alemão e reafirmada por Engels. Embora reconheçam a importância das teorias de Darwin, os Marxistas são críticos a ela. “Aceito a teoria da evolução da doutrina darwiniana, mas considero o método de prova de Darwin (luta pela vida, seleção natural) apenas como uma primeira expressão provisória e imperfeita de um fato recém-descoberto.” (Engels em uma carta a Lavrov, 1875). Para os materialistas dialéticos e históricos, o homem é criador e transformador da natureza, conhece e conquista a sua própria natureza e transforma a realidade que o cerca. Por isso, a indicação de Marx de apropriar-se das descobertas de Darwin “para a nossa visão”. Daí a compreensão de conjunto apontada por Engels, no discurso diante do túmulo de Marx, em 1883: “Assim como Darwin descobriu a lei da evolução na natureza humana, Marx descobriu a lei da evolução na história humana”.