segunda-feira, 20 de abril de 2020

GUERRA HÍBRIDA: OS “ESTRAGOS” DA PANDEMIA DO CORONAVÍRUS NA ECONOMIA CHINESA


O próximo ano marca o 100º aniversário da fundação do Partido Comunista da China, o governo Xi Jinping preparou alguns planos muito ambiciosos para celebrar a data, dobrar o PIB em relação a 2010, erradicar os últimos resquícios de pobreza no campo e construir uma "sociedade moderadamente próspera" para fins deste ano de 2020. Um desafio histórico em uma sociedade que até 20 anos atrás era taxada pela mídia corporativa internacional (e também pela esquerda reformista) como “super exploradora do proletariado”. Porém a meta dependia de um crescimento econômico de 5,5% este ano, que agora está completamente fora de alcance com a chegada da epidemia do coronavírus na província de Hubei, paralisando a produção industrial de toda a China por alguns meses. O objetivo do governo do PCC em elevar o padrão de vida dos 5,5 milhões de chineses que ainda vivem próximo da linha da pobreza será impossível, pelo menos neste próximo período.

O “estrago”’econômico da China com a pandemia não pode ser comparado ao ocorrido nos EUA, este país imperialista também castigado pelo coronavírus baseia sua economia não mais na produção industrial, e sim na especulação financeira baseada no monopólio que possui da circulação eletrônica de dados mundiais, no sentido mais amplo do que isso possa significar. Por esta razão o imperialismo ianque passou décadas transferindo grande parte do seu parque industrial para Europa, e posteriormente a Ásia. Nestas regiões o capital financeiro norte-americano “reconstruiu e construiu” economias inteiras, como a Alemanha do pós-guerra ou a Coreia do Sul no processo forçado da separação nacional. Entretanto também o gigante asiático, a China, tem as digitais do capital ianque em seu agudo processo de expansão. Mas é nos EUA que se concentra a maior parte da riqueza financeira (material e virtual) do planeta, seu Banco Central (FED) funcionam como o “cofre” do mundo e o cassino de Wall Street o “caixa das operações de lucro” de todas as empresas transnacionais do planeta. Por isso não será nada ruim para os rentistas, jogadores do cassino, que a pandemia consiga “quebrar” Estados e corporações para depois salvá-los comprando suas dívidas, sob a forma de títulos, e ainda mais com o dinheiro (trilhões de dólares)do “cofre planetário”.

Mas a economia chinesa não funciona assim, seu sistema financeiro é completamente rudimentar frente ao do imperialismo, concentrada basicamente em bancos públicos e sem a existência do grande “cassino de poker”. Milhões de empregos que serão destruídos desde a quarentena representam um enorme passo atrás para o desenvolvimento nacional chinês. Para o alto nível desemprego será necessário acrescentar um enorme subsídio estatal, com a inclusão de vários benefícios sociais, inexistentes no mundo capitalista ocidental. Na melhor das hipóteses, a pretendida "sociedade de classe média" chinesa terá que esperar. A recuperação econômica será lenta após a pandemia debelada, e os trabalhadores também irão sofrer alguma consequência, apesar do suporte estatal. Apesar de bom padrão de vida que disparou muito em apenas 30 anos, a China continua sendo um país em desenvolvimento, em pleno curso da restauração capitalista, ainda em fase de uma transição não finalizada. Somente entre janeiro e fevereiro, com a quarentena e a paralisação parcial da produção, a China acrescentou mais 20 milhões de desempregados, segundo estatísticas oficiais, o que representará uma sobrecarga no déficit das contas públicas do governo Xi Jinping.

A economia chinesa tem forte dependência das exportações, o comércio internacional terá forte retração em suas portas e não há garantia de que eles reabram muito próximo. O Nomura Bank prevê uma perda de 30 milhões de empregos somente no setor de exportação na China, ou quase um terço da força de trabalho do setor. Desemprego significa redução no consumo interno, outro dos motores do crescimento chinês.Também a falta de liquidez está afetando seriamente as médias empresas, o que irá favorecer os trustes internacionais instalados na China, que tem acesso ao crédito financeiro fartamente ofertado nos EUA.  Outras pequenas empresas não conseguiram sequer reabrir porque a quarentena não foi levantada em todas as regiões, como em vários distritos inteiros no centro de Pequim. Para acrescentar ao cenário, a retração econômica na China não começa com o coronavírus. No ano passado, o primeiro-ministro Li Keqiang já admitia uma taxa de desemprego de 5,5% nas grandes cidades, uma consequência da guerra comercial desencadeada pelos Estados Unidos. Um dos piores equívocos cometidos pelo governo do Partido Comunista da China foi subestimar o papel das pequenas e médias empresas nacionais, privilegiando a associação com monopólios estrangeiros, o que nesta crise da pandemia poderá significar o estrangulamento de setores da produção, beneficiando desta forma a possibilidade de uma retomada do protagonismo ianque no cenário econômico internacional.