segunda-feira, 12 de julho de 2021

TROTSKY E A DEFESA INCONDICIONAL DE CUBA: DERROTAR O IMPERIALISMO E SEUS AGENTES INTERNOS PARA NO CURSO DA LUTA FORJAR UMA ALTERNATIVA REVOLUCIONÁRIA A BUROCRACIA CASTRISTA!

No seu livro “Em defesa do Marxismo”, Trotsky elaborou um artigo, “De um simples arranhão ao perigo de uma gangrena”, onde desconstrói na gênese a stalinofobia, tão praticada pelos revisionistas da atualidade. Para o fundador da IV Internacional: “Stalin derrubado pelos trabalhadores significava a revolução, mas Stalin derrubado pelos imperialistas representava a contrarrevolução”. Já no Programa de Transição o dirigente bolchevique escreveu: “Assim, não é possível negar antecipadamente a possibilidade, em casos estritamente determinados, de uma frente única com a parte termidoriana da burocracia contra a ofensiva da contrarrevolução capitalista.” Nesse sentido, apoiar incondicionalmente qualquer mobilização, levante, ou panaceias que tenham slogans “antiburocráticos” contra a existência das bases sociais de um Estado operário significa jogar objetivamente no campo da contrarrevolução imperialista.

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No mesmo sentido, o programa de fundação da IV Internacional já apontava a necessidade do estabelecimento da frente única entre a “fração Reiss” (referindo-se a Ignace Reiss, trotskista soviético assassinado posteriormente por Stalin) com a burocracia termidoriana do Kremlin, no caso de alguma ameaça ao Estado operário, “esta perspectiva torna bastante concreta a defesa da URSS. Se amanhã a tendência burguesa fascista, isto é a ‘fração Butenko’, entra em luta pela conquista do poder, a ‘fração Reiss’ tomará inevitavelmente, lugar no outro campo da barricada... Se a ‘fração Butenko’ se achar em aliança militar com Hitler a ‘fração Reiss’ defenderá a URSS contra a intervenção militar, tanto no interior do país, quanto a nível internacional. Qualquer outro comportamento seria uma traição” (Programa de Transição).

O veterano Leninista viveu intensamente, na vitória e na derrota, o “peso” de ser um dirigente comunista e internacionalista, pagou com a vida pela defesa intransigente de suas ideias e pelo temor que as forças adversárias das teses da Revolução Permanente tinham de seu "pequeno" partido representar a continuidade concreta das tradições de Outubro pelo mundo afora. 

Cada aspecto pessoal da vida de Trotsky, desde sua genial inteligência até seu poder de oratória, passando pela sua capacidade na elaboração e nas polêmicas, teve a marca da luta programática pelo socialismo científico, em debater sem medo com as diversas correntes políticas do movimento comunista internacional (inclusive com o anarquismo) ao mesmo tempo em que combatia intransigentemente as forças imperialistas “democráticas” ou fascistas. 

Não fugiu das polêmicas, foi intransigente nos princípios, perdeu seguidores partidários, até então leais por sua defesa incondicional da URSS (mesmo estando sob o comando do stalinismo), como dirigentes fundamentais do SWP norte-americano, parte da própria seção mexicana e a maioria dos agrupamentos que tinham aderido na conferência de fundação da IV Internacional na França em 1938.

Como prognosticava Trotsky em seu “Em defesa do Marxismo”, conjunto de documentos defensistas “malditos” que foram jogados no esquecimento pelo autoproclamado movimento trotskista, uma atitude falsa, errônea acerca do primeiro Estado operário do planeta, a mais rica experiência da luta pelo poder pelo proletariado, ameaçava com a existência de todo o partido, pois aqueles que são incapazes de defender as posições já alcançadas, nunca conquistarão outras novas.

Sob a experiência de varias batalhas no interior da IV Internacional acerca desta questão, J. P. Cannon, dirigente do SWP dos EUA, fez o seguinte depoimento: “como assinalei na conferência anterior [maio de 1929], já desde 1917 se demonstrou mais e mais que a questão russa é a pedra de toque para toda corrente do movimento operário. Aqueles que tomam uma posição incorreta sobre a questão russa deixam o campo revolucionário cedo ou tarde. A questão russa tem sido debatida inumeráveis vezes em artigos, folhetos e livros. Mas a cada guinada importante dos fatos ela vem à tona de novo. Ainda em 1939 e 1940, tivemos que lutar novamente sobre a questão russa com uma corrente pequeno-burguesa em nosso próprio movimento” (A história do trotskismo norte-americano, V Conferência: Os dias de cão da Oposição de Esquerda, 03/1944).

A revolução russa é a pedra de toque de toda corrente do movimento operário, porque a partir dela se abriu uma nova era para a humanidade, provou que é possível, não apenas por algumas semanas como foi a Comuna de Paris, mas por anos, que o proletariado conquiste em mantenha em suas mãos o poder estatal. E mais do que isto, faça-o de forma consciente, enquanto classe para si, como haviam prognosticado Marx e Engels, através de seu partido comunista revolucionário e internacionalista. Independente da degeneração stalinista posterior, que só ocorreu como subproduto da revolução russa não ter se repetido mundo afora, foi provado. É possível! Então quando a burguesia mundial aproveita-se do trabalho nefasto realizado por décadas pelo stalinismo e toma de volta o terreno que o proletariado havia lhe expropriado – em nome daqueles que “teriam que resistir até a última das trincheiras” na defesa da URSS, como diria Trotsky – os pseudotrotskistas aplaudiram como revoluções políticas (que na concepção de Trotsky é sinônimo de revolução antiburocrática socialista, soviética) a privatização dos Estados operários. 

Com esta posição os pseudotrotskistas atravessassem o rubicão como a seu momento fizera a fração antidefensistas do SWP encabeçada por Shachtman e Burnham. O fato dos shachtmanistas modernos fazerem coro mimetizando os gritos de vitória do grande capital imperialista, da socialdemocracia, do Vaticano e de toda a reação mundial mostra a que vileza e a que distância chegaram os epígonos de Trotsky de sua ideias mais elementares. “Toda tendência política que, desesperançada, diz adeus à URSS, sob o pretexto de seu caráter ‘não proletário’, corre o risco de transformar-se em um instrumento passivo do imperialismo. Evidentemente nossa tendência não exclui a trágica possibilidade de que o primeiro Estado operário, debilitado por sua burocracia, venha a cair sob os golpes mancomunados de seus inimigos internos e externos. Mas, se isto ocorrer, a pior das variantes possíveis, adquirirá enorme importância para o curso posterior da luta revolucionária, pergunta QUEM seriam os culpados da catástrofe. Sobre os internacionalistas revolucionários não deve cair nem uma sombra de culpa. Na hora do perigo mortal, terão de resistir até a última das trincheiras” (A natureza de classe da URSS, 1933).

Longe de sonhar com uma “revolução democrática” que mascarasse a restauração capitalista, Trotsky advertiu uma e outra vez sobre os perigos de confundir as bandeiras da oposição antiburocrática operária à oposição restauracionista. Assim, por exemplo, se opôs explicitamente à palavra de ordem de “Abaixo Stalin” nos anos 30. “É verdade que a consigna ‘Abaixo Stalin’ no partido como no exterior está cada vez mais popular... Não obstante, acreditamos que este ‘slogan’ é falso. Alguém pode ver uma vantagem nesta consigna, mas ao mesmo tempo, indubitavelmente, seu perigo. Assumir uma camuflagem e dissolver-se politicamente no descontentamento geral com o regime stalinista é algo que nós não podemos fazer, nem devemos fazer nem faremos” (Abaixo Stalin não é nossa consigna, Escritos, março/1933). 

Reafirmamos que é tarefa dos autênticos trotskistas resgatar o último e mais importante combate da vida de Trotsky, lutando pela defesa incondicional dos Estados operários (Cuba e Coreia do Norte), dedicando o melhor dos nossos esforços para a reconstrução da IV Internacional.