sexta-feira, 3 de setembro de 2021

83 ANOS DE FUNDAÇÃO DA IV INTERNACIONAL: UMA HISTÓRIA DE PRINCÍPIOS E FRAGMENTAÇÃO REVISIONISTA 

A IV Internacional foi fundada no dia 3 de setembro de 1938 em uma conferência realizada na casa de um de seus militantes, Alfred Rosmer, localizada no subúrbio parisiense de Périgny. Reuniram-se 21 delegados, representando 11 seções na plenária de fundação. Não poderia haver tempos mais difíceis para se fundar uma nova internacional. Foi precisamente um ano antes do início da II Guerra Mundial, em plena “meia noite” do século XX. O stalinismo executara os dirigentes da revolução bolchevique nos chamados Processos de Moscou enquanto, simultaneamente, sabotava os processos revolucionários na China, França e Espanha com suas frentes populares, deixando o caminho livre para a consolidação do nazi-fascismo na Europa.

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OS PRINCÍPIOS MARXISTAS GANHAM FORMA ATRAVÉS DA COMUNA, DOS SOVIETES, DO ARMAMENTO DO PROLETARIADO, DO BOLCHEVISMO E DE OUTUBRO

Tanto a I como a III Internacionais também embrionariamente haviam nascido da convicção militante de pequenos núcleos de revolucionários nadando contra a corrente. A primeira, também chamada Associação Internacional dos Trabalhadores, nasceu em 1864, na época progressista do capitalismo (1789-1871), quando o marxismo se afirma como teoria de libertação do proletariado combatendo os socialistas utópicos e os anarquistas, teorias hegemônicas até o primeiro assalto dos trabalhadores ao poder, a Comuna de Paris. Os communards são derrotados e caçados por todo o continente europeu. 30 mil são executados e outros 100 mil presos. Tem início uma profunda reação ideológica. A Internacional desaparece completamente.

Desenvolve-se uma camada burocrática no movimento operário que passa a controlar os sindicatos, partidos da classe e a hegemonizar a II Internacional após sua fundação (1889). Pela primeira vez na história os socialistas e dirigentes operários ingressam em ministérios burgueses, se deslumbram com a eleição de seus parlamentares e passam a defender uma transição pacífica e por etapas para o socialismo. O reformismo, uma expressão da influencia burguesa sobre o movimento operário, inimigo mortal da luta pela insurreição e ditaduras proletárias, assumirá a partir de então as mais diversas roupagens (parlamentarismo, stalinismo, guerrilheirismo), como veremos mais adiante. 

Na Rússia atrasada, a revolução de 1905 apresenta ao mundo uma forma mais aprimorada do que na Comuna parisiense de uma estrutura de governo baseado na ditadura revolucionária do proletariado, os conselhos operários e populares, os sovietes que não derrotaram o czarismo no início do século e que viriam a reaparecer nas Revoluções Russa (1917), Húngara (1919), Italiana (1919-1920), Alemã (1918 e 1919)... No entanto, como comprovaram, pela positiva (Rússia) e pela negativa (todos os outros exemplos citados), por si só, e apesar de serem organismos de governo genuíno da classe, mesmo quando se instaura uma situação de duplo poder, com as massas organizadas em conselhos operários, o triunfo da revolução exige uma ferramenta especial de vanguarda como agente político ativo do assalto ao poder, um partido de revolucionários profissionais, que fora proposto por Lênin em 1903, na contramão de toda social democracia mundial.

A I Guerra Mundial (1914-1918) marca o início da era decadente do capitalismo, o imperialismo e desmascara o chauvinismo dos dirigentes da Internacional Socialista, profundamente integrados aos interesses de suas burguesias. Os líderes socialistas ajudam o patronato a promover uma carnificina usando os trabalhadores como bucha de canhão, jogando uns contra os outros, pisoteando a ideia mais elementar do internacionalismo marxista: “proletários de todo mundo uni-vos!”.

Os poucos sociais democratas que não capitularam ao patriotismo e se opuseram aos oportunistas reuniram-se nas Conferências de Zimerwald e Kienthal, onde todos os verdadeiros internacionalistas do mundo “cabiam em quatro carros”. Porém, para fundarem uma nova internacional, teriam ainda que romper com os centristas pacifistas encabeçados por Kautsky.

Em todo continente, os sociais democratas integram governos de reconstrução burguesa no pós-guerra. Na Rússia, os bolcheviques sob a orientação de Lênin e Trotsky derrotam a contra-revolução kornilovista, conquistam a maioria dos sovietes e organizam a tomada do poder contra o governo socialista burguês de Kerensky, uma clássica frente popular de conciliação de classes contra as massas trabalhadoras.

A Internacional Comunista (IC), foi fundada em 1919, tinha o lastro da revolução bolchevique, mas o refluxo da luta de classes mundial após a I Guerra, nos anos 20, não lhe permitiu dirigir a revolução em nenhum outro país. A formação de uma URSS exaurida pela I Guerra Mundial e em seguida pela batalha por expulsar os exércitos de 14 países capitalistas ansiosos por liquidar com o mau exemplo bolchevique, originou um “Estado operário com deformações burocráticas”. Isto, somado a enfermidade que levou ao afastamento de Lênin do poder, influiu para o declínio das concepções bolcheviques e possibilitou que a III Internacional orientasse uma política de conciliação de classes na Alemanha em 1923. O PC Alemão ingressou em governos burgueses regionais (Saxônia e Turingia), confundiu o proletariado e deixou passar a primeira situação revolucionária aberta naquele país após a traição da social democracia que, em aliança com a burguesia, afogou em sangue uma potencial revolução soviética de 1918 e executou Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo.

O isolamento internacional da URSS favoreceu a vitória da contra-revolução política stalinista após a morte de Lênin, em 1924, e sela a burocratização do Estado operário soviético. Para cobrir seu flanco esquerdo das críticas da oposição trotskista, a burocracia desenvolve inicialmente uma linha ultraesquerdista que por meio de um putch iria abortar o processo revolucionário das comunas chinesas de Cantão e Xangai, hostiliza o campessinato pobre russo através da coletivização forçada dos campos soviéticos e, por fim, nega-se a realizar uma frente única operária para deter o ascenso nazista. Estas tragédias convencem a oposição de esquerda que não mais está diante de uma camarilha centrista, mas já de uma incurável casta contra-revolucionária que precisa ser apeada do poder político por uma nova internacional e novos partidos leninistas através de uma revolução política proletária. O stalinismo realiza um giro em direção ao oportunismo, advogando a conciliação de classes por meio da revolução e frentes populares, a convivência pacífica com o imperialismo e a revolução por etapas.

A LUTA POR UMA NOVA INTERNACIONAL REVOLUCIONÁRIA DEPOIS DA DEGENERAÇÃO STALINISTA

A IV Internacional nasceu quando o proletariado sofria suas piores derrotas no século XX. Mas poderia ser diferente, poderia se esperar mais? Não. Seria um crime não apontar outro caminho à falência da IC stalinizada. O acontecimento decisivo que fez a Oposição de Esquerda Internacional concluir que não havia possibilidade alguma de continuar a luta pela regeneração da IC foi a negativa desta última em estabelecer uma frente única operária com a social-democracia contra Hitler. Pois, de todas as possibilidades abertas à esquerda alemã, onde, segundo Trotsky, se encontrava “a chave da situação internacional”, a guerra civil, que poderia ter impedido a ascensão do nazismo ao poder, era o caminho menos arriscado, o único que poderia ter poupado a Alemanha e o mundo do terror do III Reich e o cataclismo de uma guerra mundial. “Se não fosse por Stalin (por exemplo, a fatal política da IC na Alemanha), não haveria Hitler.” (Trotsky, A questão ucraniana, 22/04/1939). A ascensão dos nazistas ao poder em janeiro de 1933 sob a passividade criminosa do PCA representou para a Internacional Comunista uma traição à causa do proletariado semelhante ao que o voto social-democrata em favor dos créditos de guerra em 1914 significou para a II Internacional, a falência completa destes organismos para a causa revolucionária. A Oposição de Esquerda Internacional compreendia com toda justeza que o nazismo era uma criatura do imperialismo destinado a desencadear uma guerra civil internacional preventiva contra a revolução proletária.

Após ter se oposto a construir a frente única proletária para frear o fascismo, o stalinismo realiza um profundo giro em direção ao oportunismo e adota a política das frentes populares, ou seja, a conformação de governos de colaboração de classes entre os partidos operários e capitalistas, o último recurso contra a revolução proletária. “A questão das questões atualmente é a Frente Popular. Os centristas de esquerda procuram apresentar esta questão como tática ou mesmo como uma manobra técnica, a fim de poder vender as suas mercadorias na sombra da Frente Popular. Na realidade, a Frente Popular é a questão principal da estratégia da classe operária nesta época. Também oferece o melhor critério para diferenciar o bolchevismo do menchevismo.” (Trotsky, ‘O POUM e a Frente Popular’, 1936).

A DEFESA DA URSS E A CISÃO DA MAIOR SEÇÃO DA IV INTERNACIONAL

A guerra foi o primeiro teste ácido da nova internacional e suas débeis seções. O Secretariado Internacional se transferiu para os EUA, onde seu principal partido, o SWP, se vê consumido por uma dura luta fracional. Os setores mais pequeno-burgueses e intelectuais dirigidos por Shachtman e Burnham, impactados com o pacto de Stalin com Hitler e com a invasão da Polônia e da Finlândia pelo Exército Vermelho, mas no fundo capitulando à propaganda anti-soviética do imperialismo, passam a contestar a caracterização de Estado operário para a URSS e a sua defesa. A fração recusa-se a defender as bases sociais de propriedade conquistadas pela revolução adotando um abstrato terceiro campo (Nem Washington nem Moscou), rompendo assim com o materialismo histórico e a concepção da sociedade dividida em classes sociais. Por fim, aderem à teoria que define o regime stalinista como “coletivismo burocrático”, teoria originalmente criada pelo ex trotskista italiano, Bruno Rizzi que acreditava ser a burocracia uma nova classe exploradora. Os processos de restauração capitalista nos estados operários oprimidos por burocracias comprovou a inconsistência desta teoria e comprovou a plena vigência das caracterizações de Trotsky. Esta tendência anti defensista que confunde propositadamente o Estado operário e as conquistas da revolução com sua direção burocrática é um vírus reincidente em toda história da IV Internacional.

Trotsky e Cannon travam uma dura batalha (reproduzida na coletânea de cartas e textos reunidas no livro ‘Em defesa do Marxismo’, de 1940), derrotando a oposição antidefensista. Esta acaba rompendo com o SWP, arrastando consigo quase 40% do partido e aderindo abertamente à reação imperialista, uma tendência natural de vários stalinofóbicos terceiro-campistas.

Burnham torna-se colaborador da CIA, do macarthismo, se opôs ao direito de voto para os negros, defendeu que os EUA deveriam lançar uma guerra atômica contra a URSS e depois contra o Vietnã, tendo sido condecorado por Reagan pouco antes de morrer. Schachtman torna-se um burocrata sindical anticomunista, apóia a tentativa derrotada de esmagamento da revolução cubana pelos EUA através da invasão militar da Bahia dos Porcos (1961). O curso asquerosamente reacionário de Schachtman não para por aí, completamente corrompido por seu próprio imperialismo ele ainda defende também a intervenção ianque no Vietnã. Historicamente, o antidefensismo se converte no mais abjeto pró-imperialismo. Para Trotsky “o dever dos revolucionários é defender toda conquista da classe trabalhadora ainda que tenha sido desfigurada pela pressão das forças hostis. Aqueles que são incapazes de defender as posições conquistadas, nunca conquistarão outras novas.” (Em defesa do marxismo, 1940). Poderíamos acrescentar que estes renegados, como muitos schachtmanistas modernos, passam-se para o outro lado e a apoiar os que atacam e assaltam as conquistas históricas do proletariado.

O LIQUIDACIONISMO PABLISTA

Pode-se compreender o momento extremamente difícil de perseguição e pressão que sofreram os trotskistas após a morte de Trotsky, mas isto não justifica a renúncia a todos os elementos que constituíam o ABC do trotskismo, porque existia uma base teórica e programática prévia que servia para armar a IV Internacional. A geração de 40 tratou de incorporar ao trotskismo antigas concepções reformistas, como a subordinação da concepção de luta de classes pela da luta entre o imperialismo e o stalinismo ou contra as direções nacionalistas, alinhamento oportunista com os campos burgueses progressivos, negação da crise de direção, renuncia à luta pela revolução política...

Em meio a um terreno de profunda desestruturação e desmoralização emerge como principal dirigente do II Congresso (1948) da IV Internacional o grego Michel Raptis (Pablo). O III Congresso da IV (1951) consolida a revisão do programa sobre o stalinismo. Pablo, impressionado com o prestígio capitalizado pelo stalinismo após a vitória do Exército Vermelho sobre o nazismo, a criação dos Estados operários no Leste europeu e as revoluções iugoslava e chinesa, defendia a dissolução dos partidos trotskistas nos PCs para pressioná-los à esquerda, vendo o stalinismo como um substituto para a construção do partido revolucionário na luta contra o imperialismo. A IV Internacional já não se reconstruiu em nenhum Estado operário após os anos 30. Menos pela força da repressão burocrática que pelo liquidacionismo pablista. Esta política resultou em desastrosas consequências para a luta pela revolução política operária na Alemanha Oriental (1953), Hungria (1956), China (1966), Tchecoslováquia (1968), Polônia (1968, 1970, 1980), China (1989).

No III Congresso, Pablo secundarizou as teses da Revolução Permanente em favor do culto a “Frente Única Anti imperialista”, que nos anos seguintes camuflaria a submissão dos trotskistas aos movimentos nacionalistas burgueses, como o peronismo na argentina e o MNR na Bolívia.

Pablo retoma as concepções superadas pela Oposição de Esquerda Internacional no início dos anos 1930, segundo as quais o stalinismo poderia ser reformado, e decide então que os trotskistas deveriam também retroceder organizativamente fazendo entrismo nos PCs (embora em alguns países, como na Alemanha e na Inglaterra, a tática de Pablo tivesse sido aplicada à social democracia e no trabalhismo). Esta orientação significou uma capitulação à burocracia stalinista, que se estenderia também pouco depois a outras direções burguesas e pequeno-burguesas, como fizeram Moreno e Posadas na América Latina. Isto provocou a quase extinção do trotskismo na Europa e o domínio tranqüilo do movimento operário por direções populistas burguesas, como é o caso argentino em que o peronismo segue à cabeça da quase totalidade das direções sindicais nas últimas seis décadas.

A derrota da revolução na Bolívia converte-se na expressão maior da traição contra-revolucionária do revisionismo sobre a IV Internacional. O POR boliviano possuía uma grande influência sobre o proletariado, a ponto do Congresso da Federação Sindical dos Trabalhadores Mineiros da Bolívia (FSTMB), a principal organização do proletariado do país, reunida em novembro de 1946 na cidade de Pulacayo, aprovar em suas teses concepções baseadas na revolução permanente e no Programa de Transição da IV Internacional. Em 1952, o proletariado boliviano destruiu o exército burguês, constituiu milícias operárias e camponesas de poder operário e organizou a Central Operária Boliviana (COB). Mas sob a orientação de Posadas e Pablo, o POR Boliviano adotou uma linha menchevique, apoiou o governo burguês do MNR.

Por fim, o próprio Pablo abandona formalmente o trotskismo e assume um ministério do governo burguês nacionalista do antigo Ceilão, hoje Sri Lanka. A deserção de Pablo abre caminho para que Mandel assuma a vanguarda do revisionismo do trotskismo mundial vindo a fundar o Secretariado Unificado em 1963.

A partir de 1953, os seguidores de Pablo e Mandel se adaptaram ao stalinismo, ao nacionalismo, ao foquismo, ao eurocomunismo, ou seja, às diversas formas do reformismo burguês. O posadismo quase nem existe mais, foi um dos poucos ramos do trotskismo a existir no Brasil na década de 1960, mas hoje não passa de uma fantasmagórica corrente defensora dos governos da centro-esquerda burguesa latino-americanos, como Lula, Chávez, Evo, etc. Não por acaso, apesar de ainda possuírem peso político, tiveram o mesmo destino político nos quais foram parar agrupamentos fundados por Lambert, Moreno e Ted Grant.

O COMITÊ INTERNACIONAL ANTIPABLISTA

A revisão liquidacionista do trotskismo foi questionada por setores minoritários da Internacional, particularmente, pelo SWP norte-americano, pela maioria da seção francesa do Partido Comunista Internacionalista, liderada de Pierre Lambert, que logo é expulsa e acaba levando consigo a seção inglesa, Socialist Labour League (SLL), dirigida por Gerry Healy, dando origem então a primeira grande cisão da IV Internacional em 1953. Os antipablistas fundaram o Comitê Internacional (CI), uma ruptura progressiva na medida em que evitaram a desaparição programática completa do trotskismo nos anos 50.

As seções que conformaram o CI reagiram tão tardiamente ao pablismo, quanto abortaram prematuramente a luta no interior do SI, expressando suas profundas limitações em superar a crise da Internacional, o que resultou na repetição dos mesmos desvios pablistas em relação a outras direções contra revolucionárias. O antipablismo empírico se revelou mais propriamente um oportunismo stalinofóbico e predileção por fazer entrismo na social-democracia do que qualquer traço de fidelidade à ortodoxia trotskista. Apesar de se apresentar como uma alternativa ao revisionismo do Secretariado Internacional (SI) pablista, caracterizava-se pela frouxidão organizativa (eram uma mera federação de partidos sem nenhum centralismo) que na prática não assumia nenhuma tarefa pela reconstrução da IV Internacional e por incorrer nas mesmas ilusões com o stalinismo em relação a Tito e a Mao. Anos depois o SWP estende estas ilusões ao castrismo, abandona o CI e reunifica-se com o SI.

O Comitê Internacional entre Lambert e Healy acaba por se romper em 1971. Lambert e seu agrupamento francês, a OCI, lançaram o CORQUI (Comitê de Organização e Reconstrução da Quarta Internacional), conjuntamente com o nacional-trotskista POR boliviano de Guillermo Lora e Política Operária (mais tarde conhecido como Partido Obrero) da Argentina, dirigido por Jorge Altamira, tendo como eixo político a defesa da “Frente Única Anti imperialista" que na Bolívia levou o POR a reivindicar a conformação da mesma com os setores “nacionalistas” das FFAA. A OCI durante o maio de 1968 não passou de agrupamento de pressão do PS e entusiasta da frente popular encabeçada por este partido social democrata imperialista anos depois. Inversamente proporcional à sua capitulação a ala esquerda da grande burguesia francesa, Lambert impõe uma orientação sectária às seções do CORQUI, obrigando o PO e o POR a romperem com os sindicatos “burgueses”.

O CORQUI se rompe, o PO segue construindo uma organização federalista com o POR, a TQI, mas Altamira só vem a "descobrir" a traição de Lora à revolução boliviana de 1952 quando o último, em uma manifestação extrema de seu nacional-trotskismo, declara formalmente seu desinteresse em continuar construindo a TQI, em meados da década de 1980.

Poucos anos depois do fracasso do CORQUI, a OCI, rebatizada com o nome de PCI, busca uma aproximação com Moreno, recém rompido com o SU. Em 1980 formam o Comitê Paritário (CP), anunciado como o “maior fato da história do trotskismo após a fundação da IV Internacional em 1938”, mas que não dura mais que nove meses. O CP não consegue resistir à vitória eleitoral de Mitterrand na França, inicialmente apoiada por Lambert e Moreno. O PCI defende abertamente o governo imperialista de Miterrand e Moreno rompe o CP acusando a OCI de traição ao trotskismo.

A LIQUIDAÇÃO CONTRA-REVOLUCIONÁRIA DA URSS DESATA REAÇÃO IDEOLÓGICA QUE FRAGMENTA O REVISIONISMO

O Comitê Paritário foi a última aventura dos grandes ramos revisionistas por uma unificação. A partir dos anos 80 cada um dos caudilhos revisionistas da IV Internacional (Mandel, Moreno, Healy, Lambert...) trata de criar sua própria “internacional”.

Em 1993, a corrente de Lambert se autoproclama como a própria IV Internacional refundada, impulsionando como colateral o Acordo Internacional dos Trabalhadores, ACT, uma espécie de “entidade sindical” que abriga, inclusive, membros da arquiburocrata AFL-CIO ianque.

Moreno funda a LIT e sua ufanista seção argentina, o Movimento ao Socialismo (MAS), que se adaptarão mais profundamente ao programa imperialista da reação democrática contra a URSS. Como as ideias dominantes são as da classe dominante e nadar a favor da correnteza é sempre mais fácil, a “stalinofobia” do MAS rendeu muita “simpatia e votos”, e a LIT tornou-se uma das maiores correntes do trotskismo mundial na década de 80. Mas, ironicamente, na década seguinte, a ofensiva ideológica anticomunista que se seguiu à restauração capitalista na URSS e no Leste europeu produziu muita crise e desmoralização, principalmente em correntes como a LIT que euforizava sua militância afirmando que o fim dos Estados operários era uma grande vitória para a humanidade e que a falência do aparato stalinista abriria “a vez do trotskismo”. Em 2005 o balanço do período passado não poderia ser mais catastrófico: “no total a LIT perdeu entre quatro e cinco mil militantes entre eles possivelmente 80% dos quadros com mais experiência.” (Resoluções do VIII Congresso Mundial da LIT). A restauração da propriedade privada nos Estados Operários europeus e seu avanço na China, Cuba, Vietnã foi a principal derrota da classe operária desde a ascensão do nazismo na década de 1930. A ofensiva ideológica anticomunista que se seguiu não poupou nenhuma das correntes revisionistas, atingindo mais acentuadamente, os anti defensistas que prometiam a chegada da revolução socialista com a onda que derrubou o Muro de Berlim.

“A DERROTA DA URSS PODERIA PROLONGAR A AGONIA DA SOCIEDADE CAPITALISTA POR MUITOS ANOS”

Para Trotsky “a derrota da URSS colocaria à disposição do imperialismo novos recursos poderosos e poderia prolongar a agonia da sociedade capitalista por muitos anos” (Em defesa do Marxismo, 1940). A contra revolução no primeiro Estado Operário do planeta acelerou o declínio dos demais, reincorporou milhares de trabalhadores ao tacão da exploração patronal, incluindo posteriormente os chineses, expandiu os mercados e a apropriou-se de imensos recursos naturais prolongando a agonia capitalista. No plano subjetivo, a confusão ideológica e a dispersão que se processou na vanguarda acentuaram ainda mais a crise de direção revolucionária. Nestas condições extremamente desfavoráveis governos de conciliação de classes de partidos que controlam o movimento de massas, espécies de frente populares sui generis, não são mais o último recurso na luta da burguesia contra a revolução proletária, mas já se alçam como a alternativa preferencial para aprofundar os ataques aos trabalhadores.

Em meio à falência de todos os projetos reformistas, da frustração das expectativas em torno do cretinismo parlamentar e da impotência do tradeunismo surge a panacéia da autoimplosão do capitalismo a partir da crise financeira atual. Após terem renunciado historicamente a construir a única ferramenta capaz de enterrar o imperialismo, os revisionistas apostam no colapso do capitalismo e na crise financeira como sendo a onda que vai fazer reverter o refluxo do movimento de massas e alçá-los à direção física de uma insurreição eminente.

Se é verdade que a atual crise tem características próprias que a distingue parcialmente das crises anteriores devido à financeirização da economia, também é verdadeiro que o próprio capital financeiro, na ausência da ação direta das massas que lhe atrapalhe os planos, tem expedientes monetários estatais para prolongar sua agônica existência. A disjuntiva socialismo ou barbárie só será resolvida pela senda da direção revolucionária do proletariado mundial construída pelo combate ao oportunismo e ao revisionismo e não por uma mítica falência superestimada da própria classe dominante. Já está claro, por sinal, que todo estardalhaço em torno da crise tem por fim justificar gordos pacotes de investimento estatais e uma nova ofensiva para reduzir ainda mais os direitos trabalhistas e a condição de vida das massas.

Os revisionistas jogam terra nos olhos das massas de sua vanguarda lutadora recusando-se a armá-la com um programa que organize a luta direta frente a ambição dos capitalistas de fazerem os trabalhadores pagarem pela crise. O PTS caracteriza que a crise "abre novas possibilidades para os revolucionários" (Declaração da FT, 22/12/2008). Assim, a nova ofensiva abre uma conjuntura favorável, quanto pior, melhor. O PO anuncia “uma rebelião mundial” (Prensa Obrera, 1067), quando o imperialismo ianque recrudesce sua sanha belicista, com em Gaza!

Quando foi para defender a revolução política, o revisionismo capitulou ao stalinismo, renunciando à tarefa da reconstrução das seções trotskistas dentro dos Estados Operários, deixando o movimento operário sem direção. Quando setores da burocracia stalinista uniram-se ao imperialismo para restaurar o capitalismo, os revisionistas saudaram a contra-revolução como sendo a revolução política. Agora, diante de uma nova ofensiva imperialista eminente os revisionistas afirmam que o próprio imperialismo se autoliquidará!

No atual refluxo ideológico pós-URSS e diante do alijamento como nunca antes visto da vanguarda em relação à classe, os discursos demagogos dos revisionistas cada vez os confundem mais com os reformistas tradicionais que gerenciam a crise do capitalismo. O que se apresenta para as massas hoje como trotskismo se divide entre centristas e abertamente oportunistas. Entre os que apóiam ou integram diretamente partidos pequeno-burgueses que se opõem aos sovietes, a tomada revolucionária do poder pelos trabalhadores, ao armamento e a ditadura do proletariado e, principalmente, ao partido leninista de revolucionários profissionais, como o PSOL no Brasil, Respect na Inglaterra, Links na Alemanha, SA na Austrália, PAC e PT-POI na França, SSP na Escócia, BE em Portugal ou já a partidos burgueses como o Trabalhis-mo na Inglaterra, PT no Brasil, DL e os Verdes na Alemanha, PRC na Itália, IU na Espanha, PCL no Líbano, PRD no México, MDC no Zimbabwe, PSUV a Venezuela, PPP no Paquistão.

Para tentar aproximar-se das massas mobilizadas, os revisionistas tergiversam, denominam de revolução todas as mobilizações, sem organismos de duplo poder, sem programa revolucionário que reflita seus interesses históricos, sem partido e em quase todas as últimas experiências, sem a própria classe, como foram os levantes na Argentina em 2001 ou na Grécia em 2008. A impotência de todo o arco pseudotrotskista diante das explosões de fúria espontânea das massas condiz com sua extrema covardia em romper com a ofensiva que criminaliza a luta dos oprimidos e persegue toda e qualquer ação direta radicalizada ou armada das massas como “terrorismo”. Por isto, os revisionistas de todo o mundo, extremamente fragmentados por suas aspirações conflitantes de ocupar um lugar confortável no regime democrático burguês não vacilaram em somar-se à propaganda antiterror de condenação do ataque militar sofrido pelos EUA no 11 de setembro.

O fato das organizações guerrilheiras muçulmanas anticomunistas serem o principal adversário do imperialismo no terreno militar na atualidade é uma expressão extremada da crise de direção dos oprimidos do planeta que, na carência de um programa trotskista, se apega até a mais reacionária e teocrática das ideologias burguesas para reagir à ofensiva imperialista. Este fenômeno tem se acentuado a partir da revolução islâmica de 1979, embora as corruptas e impotentes burguesias árabes, persas, palestinas e o islamismo nada tenham para oferecer em favor da libertação material e espiritual dos trabalhadores e povos oprimidos de nenhuma parte do globo. Enquanto jogam terra nos olhos das massas, os revisionistas tratam de atacar e isolar de forma virulenta os genuínos revolucionários que só podem ajudar as massas a encontrar o caminho da revolução proletária apontando quais as tarefas para superar os estreitos limites do espontaneismo e das lutas contidas pelas direções tradicionais do movimento.

Em um artigo recente sobre os 80 anos da IV internacional, o dirigente do PSTU Eduardo de Almeida acusou a LBI de “seita caluniadora” gratuitamente sem sequer dar-se ao trabalho de apontar um fato, posição manifesta por nossa corrente ou testemunho de alguém,... nada que justificasse a acusação que acabava de fazer: “Utilizam com frequência o método stalinista da calúnia para atacar seus oponentes, sem nenhum compromisso com a verdade. Grupos como a LBI e LER no Brasil tem esse conteúdo.” (IV Internacional: nascimento, divisão e reconstrução, Prefácio do livro Documentos de Fundação da IV Internacional, 20/09/2008). “Sem nenhum compromisso” com a comprovação da veracidade acusação que acabava de fazer, como de praxe, a direção do PSTU-LIT, incapaz de fazer o debate programático “leal” como reivindica, usou mais uma vez o método habitual de arrastar a discussão para o terreno da moral, a fim de assim criar uma cortina de fumaça que turve a visão clara do conteúdo das divergências políticas e ideológicas, tal como assinalava Trotsky: “O centrista sensível e suscetível acredita, diante de tudo, que os bolcheviques ‘caluniam’, porque estes levam seu pensamento até as últimas conseqüências, o que eles são incapazes de fazer. No entanto, somente com esta preciosa qualidade de ser intolerante com tudo que é híbrido e evasivo, se pode educar a um partido revolucionário para que as ‘circunstancias excepcionais’ não nos surpreendam de improviso. A moral de todo partido deriva no fundo, dos interesses históricos que representa. A moral do bolchevismo, que contem a devoção, o desinteresse, o valor, o desprezo por tudo que é falso e vão - as melhores qualidade da natureza humana! - deriva de sua intransigência revolucionária posta a serviço dos oprimidos”. (Bolchevismo e Stalinismo, 1937).

É calúnia afirmar que a LIT esteve entre os principais animadores do vendaval oportunista patrocinando ilusões na restauração capitalista da URSS? Seria calúnia afirmar que para Cuba, o ponto mais alto do desenvolvimento da luta revolucionária dos trabalhadores atingido em todo o hemisfério ocidental, a LIT tenha abandonado por completo a defesa das conquistas históricas da revolução sob o cretino argumento de que elas já não existem mais? É mentira que esta corrente apresenta uma plataforma de legalização de todos os partidos políticos, um programa democratizante idêntico ao dos gusanos de Miami, supondo que na Ilha não existe mais do que uma ditadura capitalista? É calúnia afirmar que o principal eixo de construção do PSTU, a Conlutas, encontra-se em franco retrocesso, perdendo mais influência sindical do que conquistando, por não conseguir se afirmar como alternativa política e organizativa à CUT e a CTB? Tudo isto é verdadeiro, falsas são as tentativa dos revisionistas atuais de envenenarem as novas gerações com preconceitos morais para que não dêem ouvidos ao programa do genuíno trotskismo.

POR QUE O TROTSKISMO NÃO DIRIGIU NENHUMA REVOLUÇÃO PROLETÁRIA?

Numericamente, apesar de todo o retrocesso militante das últimas duas décadas, as correntes que se autoproclamam da IV Internacional reúnem de conjunto e em termos absolutos bem mais membros do que em 1938, quando os trotskistas agrupavam cerca de 2 mil militantes pelo mundo (com 1.000 nos EUA e 300 na Bélgica), após o extermínio físico da Oposição de Esquerda nos campos de concentração siberianos, “onde chegaram a existir cerca de 8 mil militantes organizados” (Os trotskistas na União Soviética, Internacionalismo #3, Lisboa, 10/1980). Mas, apesar de já terem reunido várias vezes a quantidade de militantes que possuía na década de 1930, como na década de 1980, por exemplo, o fator subjetivo dentro da IV Internacional foi a razão de não ter dirigido nenhuma revolução social em seus 70 anos de existência, mesmo em países em que foi a força política hegemônica, como no Ceilão (atual Sri Lanka), onde os trotskistas do LSSP elegeram 14 deputados em 1947 ou foram dirigentes do movimento operário e situações revolucionárias terem-lhes aberto plenas possibilidades como o POR na Bolívia em 1952. O revisionismo é a causa da destruição programática da IV Internacional a partir de seu II Congresso. Nos demais países, por não se apresentarem como uma corrente independente e intransigente contra o nacionalismo burguês, o stalinismo e a social democracia, limitou-se a ser correia de transmissão dos mesmos, coadjuvantes das traições das direções tradicionais contra o movimento operário.

Na América Latina, por exemplo, onde as correntes principais foram influenciadas pelos pseudotrotskistas Posadas, Mandel, Lambert e Moreno (temos em nível regional Altamira na Argentina e Lora na Bolívia), as organizações que se reivindicam da IV internacional já experimentaram todas as formas de seguidismo, ao peronismo, ao castrismo, ao reformismo da UP de Allende, ao lulismo e agora novamente como se não tivessem aprendido nada, ao nacionalismo burguês.

Os marxistas acreditam que as ideias por si só nada podem realizar. Para realizar as ideias são necessários homens que as executem na prática. Como poderia se realizar o programa trotskista se os que diziam defendê-lo o renegam a cada "novidade" teórica e prática? Todas as situações em que se lhe abriu a perspectiva revolucionária e o trotskismo teve alguma influência no movimento de massas, seguiu a reboque das direções tradicionais, hipotecando o apoio político da ala esquerda da vanguarda a direções e programas contra revolucionários. Isto foi a regra. Somente um genuíno partido do tipo bolchevique é capaz de orientar as massas à tomada do poder e à ditadura do proletariado. Na ausência desta ferramenta, as direções centristas e reformistas sabotam os processos revolucionários. Sob condições excepcionais (ofensiva revolucionária das massas, boicote da burguesia ao chamado a conformar a frente popular, pressão do imperialismo, crise econômica, guerra etc.) os centristas seriam capazes de ir mais além de onde pretendiam numa ruptura com a burguesia. Mas, para Moreno, por exemplo, e não por coincidência, também para toda escola pablista, é o oposto: "a variante que Trotsky qualificava de 'altamente improvável' é a única que tem se deu nestes 35 anos" (‘Teses de Atualização do Programa de Transição’, 1980). Em outras palavras, o que para Trotsky era exceção, foi tomado como regra por Moreno.

Trotsky acreditava que seus partidários lutariam pela independência política do proletariado, por isto nos recomenda que seria “inútil perder-se em conjecturas” quando analisava a “variante pouco provável”. Confiava que os futuros marxistas revolucionários combateriam de forma intransigente a social democracia, o stalinismo, o centrismo pequeno-burguês, a burguesia liberal-nacionalista e o imperialismo. Ao contrário do que se esperava, a maioria dos quadros que se disseram trotskistas nos últimos 80 anos capitularam a todas as espécies de correntes estranhas aos interesses históricos do proletariado. Mas o mais tragicômico desta questão é que depois de haver abandonado vergonhosamente os caros ensinamentos do Programa de Transição, recomendam revisá-lo porque a “variante pouco provável” é a única que se deu. Pode haver mais canalhice e cretinismo juntos?

A Liga Bolchevique Internacionalista tem aprendido a nadar contra a maré da ofensiva anticomunista, compreende que o principal desafio da IV Internacional ainda é superar a contradição da maturidade das condições objetivas e a inexistência do Partido Mundial da Revolução Socialista. Desde a morte de seu fundador até agora esta contradição, que é a mãe da crise de direção da humanidade, só fez crescer.

A luta de classes segue carente do elemento subjetivo, do partido que preserve a humanidade de cair na barbárie. Após 80 anos, a Internacional fundada por Trotsky sobreviveu apesar dos “trotskistas” pela força de seu programa. Contra os que falam da necessidade de uma nova internacional sob o argumento de que os epígonos já mancharam excessivamente o nome da IV, reivindicamos as palavras de seu fundador: “Não falemos em abandonar a bandeira socialista nas mãos dos falsários! Se a nossa geração se revelou bastante débil para construir o socialismo na terra, deixemos ao menos aos nossos filhos uma bandeira sem mancha. A luta a sustentar transcende, de longe, em importância, as pessoas, as frações e os partidos. O futuro da humanidade se decide. Esta luta será dura. E longa. Os que buscam a tranquilidade e o conforto, que se apartem de nós. Nas épocas da reação, certamente, é mais cômodo entender-se com a burocracia do que procurar a verdade. Mas àqueles para quem o socialismo não é uma palavra vã, para quem é o conteúdo da vida moral, avante! Nem as ameaças, nem as perseguições, nem a violência nos deterão. Será, talvez, sobre os nossos ossos, mas a verdade se imporá. Abrir-lhe-emos o caminho. A verdade vencerá. E sob o golpe implacável da sorte me sentirei feliz, como nos melhores dias de minha juventude, se conseguir contribuir para o triunfo da verdade. A maior felicidade do homem não está, pois, na exploração do presente, mas na preparação do futuro!” (Leon Trotsky, ‘Os crimes de Stalin’, 1937).