quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

ENTREVISTA COM AS COMPANHEIRAS OPERÁRIAS DA OPOSIÇÃO SINDICAL NA GUARARAPES: “O GOVERNO LULA QUE PROMETEU ACABAR COM A FOME COMEÇA ARROCHANDO SALÁRIO E CÚMPLICE DAS DEMISSÕES NA NOSSA FÁBRICA”


O Blog da LBI entrevista as companheiras Cícera Souza e Lúcia Oliveira, operárias da fábrica Guararapes Confecções em Fortaleza, integrantes da oposição sindical que lutam contra o fechamento da planta e a demissão de 2.100 mil trabalhadores. Elas denunciam a cumplicidade do governo Lula e da burocracia sindical da CUT e CSP-Conlutas frente ao ataque patronal e chamam a resistência através da luta direta!

Blog da LBI: No começo de janeiro a Guararapes anunciou a demissão de mais de 2 mil operárias. Por que não houve resistência organizada pelos sindicatos e as centrais?

Cícera Souza: A empresa anunciou a demissão em massa logo depois do retorno das férias coletivas, em 10 de janeiro. Os trabalhadores já estavam desconfiados do ataque patronal iminente, mas o nosso sindicado ultra-pelego e cartorial, representante dos trabalhadores Alfaites e das Costureiras, não convocou qualquer assembleia para esclarecer e, muito menos, organizar a resistência. Essa paralisia foi praticada também pelo Sindicato dos Trabalhadores da Confecção Feminina (Sindconfe), filiado a Conlutas. Essa entidade, que se apresenta como lutadora, nunca disputou de verdade a base da nossa categoria com os pelegos, virando as costas para os trabalhadores da Guararapes, que chegou a ser a maior fábrica de confecções do Nordeste! Desta forma, tanto a CUT como a Conlutas foram cúmplices diante desse brutal ataque da empresa que jogou milhares de mães e pais de família no olho da rua!

Blog da LBI: As demissões ocorreram logo após a posse do governo Lula e Elmano de Freitas no Ceará. Com atuaram os governos petistas que dizem combater a fome e o desemprego?

Lúcia Oliveira: Tanto Lula como Elmano nada fizeram para impedir as demissões. Pelo que vimos estas dispensas já estavam planejadas e ocorreram dez dias após a posse de ambos. Não houve qualquer ação concreta para fazer a fábrica recuar nesse período, pelo contrário, eles deram o fechamento como fato consumado, só fizeram declarações na imprensa lamentando o ocorrido. Um governo que se diz dos trabalhadores deveria forçar os patrões a pagar o ônus da crise capitalista, estatizar a planta e colocar a empresa para funcionar mas Lula e Elmano pelo visto estão com sua política de aliança com os patrões fazendo o jogo da burguesia contra nós operários!

Blog da LBI: Além de nada fazer contra as demissões na Guararapes, Lula não vai reajustar o salário mínimo para os míseros R$ 1.320,00 e ainda vai obrigar os trabalhadores que ganham um salário mínimo e meio a pagar o Imposto de Renda. O que acha disso?

Cícera Souza: Trata-se do mais completo absurdo! Depois de demitidos ainda seremos penalizados pagando imposto de renda, pois ganhávamos em 2022 como salário, incluindo as horas extras e o cumprimento da meta produção, pouco mais de 1.900 reais! Por sua vez, os que conseguirem se empregar nas pequenas fábricas do estado do Ceará receberão um salário mínimo de fome de R$ 1.302.00 como anunciou o governo Lula em reunião com todas as centrais pelegas, incluindo a CUT e a Conlutas! Como oposição sindical nós denunciamos esse ataque e chamamos a resistência, porém os sindicatos não apoiam essa luta, são burocratas corrompidos pela Guararapes, o que dificulta enormemente ações com ocupar a empresa para barras as demissões! Seria necessário convocar uma greve de toda a categoria mas nem um ato em frente a fábrica foi realizado, nenhuma assembleia convocada!

Blog da LBI: Vocês estavam hoje conversando na porta da fábrica com as operárias que estavam fazendo a rescisão. Qual o sentimento dos trabalhadores e que passos seguir?

Lúcia Oliveira: Infelizmente o sentimento de impotência e derrota é muito grande. A Guararapes anunciou quando nos dispensou um plano de manter alguns benefícios sociais por 3 meses e deu máquinas para as costureiras. Foi uma forma de tentar impedir a luta coletiva contra o fechamento da empresa e ganhar tempo para desovar o estoque restante rapidamente. A maioria de nós agora vai trabalhar por conta-própria sem direitos sociais, sem contribuir com o INSS para se aposentar, ou seja, vamos virar mão de obra totalmente precarizada. Nosso chamado hoje é para que se realize ainda nesta semana um ato de protesto e uma assembleia geral com todos os demitidos para tirar um plano de luta. Sabemos que é uma tarefa muito árdua e difícil, pois além da patronal estamos enfrentando os governos Lula e Elmano e a paralisia imposta pelo nosso sindicato ultra pelego, pela CUT e, principalmente pela Conlutas, que tinha obrigação de colocar seu sindicato a serviço da luta mas acabou fazendo parte dessa corja corrupta vendida!