sábado, 28 de janeiro de 2023

GENOCÍDIO INDÍGENA É PRODUTO DAS RELAÇÕES CAPITALISTAS ATRASADAS NO CAMPO: NÃO É SOMENTE UM CRIME PRATICADO PELO BOLSONARISMO, MAS UMA CONSEQUÊNCIA DA POLÍTICA CRIMINOSA DE TODOS OS GOVERNOS BURGUESES INCLUINDO A DITADURA MILITAR, SARNEY, FHC E O LULOPETISMO 

O Ministério da Saúde decretou, no último dia 20 de janeiro de 2023, emergência pública na Terra Índigena (TI) Yanomami, área de aproximadamente 230.000 km² na fronteira entre Brasil e Venezuela que abriga cerca de 26 mil indígenas Yanomami e Ye’kwana. A calamidade, denunciada pelos indígenas há anos , se agravou devido ao surto de casos de malária e desnutrição severa que aflige adultos e crianças na região. A grave crise sanitária foi causada pelo avanço do garimpo, atividade à serviço do latifúndio e das grandes mineradoras que buscam ouro, cassiterita e outros minérios na área. A extração dos minérios, que apresentaram aumento no preço no mercado internacional, principalmente o ouro, é realizada com mercúrio. A substância contamina os rios, matando animais e impactando a disponibilidade de alimentos da comunidade, que sobrevive principalmente de caça e pesca. Além disso, a fim de intimidar os indígenas, grupos paramilitares a serviço do latifúndio atuam, há anos, intimidando indígenas e atacando as aldeias com armamentos de controle exclusivo pelo Exército e de uso restrito. A subnutrição de crianças Yanomamis e a fome nas aldeias é uma situação histórica do capitalismo dependente e que se arrasta há décadas, muito antes do governo da extrema direita bolsonarista.

Ainda que muito alardeada agora pela mídia corporativa, a grave situação dos povos indígenas da Amazônia só virou notícia no “consórcio murdochiano” somente para desviar atenção das primeiras medidas antipopulares tomadas pelo grupo burguês da Frente Ampla. Assim, a famiglia Marinho se apressou para enquadrar como criminosos os garimpeiros em geral, sem distinguir os camponeses pobres sem terra que são empurrados para esta atividade dos grandes garimpeiros e mineradores. Produto da condição de relações econômicas capitalistas originalmente “bárbaras”, como consequência inevitável do problema agrário do Brasil, os pequenos camponeses são apontados como vilões, omitindo que nada mais são do que camponeses pobres sem-terra obrigados, por sua condição, a submeterem-se ao garimpo ilegal como alternativa de sobrevivência, em sua luta contra a expropriação dos latifundiários.

A figura do garimpeiro tal como ela existe hoje, na Amazônia, surge com o processo de migração populacional e de capitais para a região durante os anos 70 e 80, baseado tanto na incorporação de terras quanto na mobilização de mão-de-obra como força de trabalho nos empreendimentos que iam surgindo à medida que a fronteira agrícola avançava. Apesar da promessa feita pelo regime militar de que a Amazônia seria uma ‘terra sem homens para homens sem terra’, essa população teve seu acesso à terra negado, ao passo que começou a sofrer com a falta de emprego. Acabou, então, por ocupar atividades diversas, até mesmo várias em um período de um ano.Trabalham com o que calhar de aparecer, ora no garimpo, ora em madeireiras ou empreiteiras, ora até como peões em fazendas de gado.

Pressionado pela estrutura fundiária extraordinariamente concentrada do país, o pequeno camponês se encontra encurralado pelas grandes propriedades do latifúndio. Fica, então, com a única alternativa de atuar com o garimpo dentro das áreas indígenas ou de proteção, em contradição, imediatamente, com indígenas e outros povos tradicionais, como os quilombolas e ribeirinhos. Pela atuação dos grandes latifundiários e das grandes mineradoras, não consegue prosperar, sendo empurrado para atuar na sua sobrevivência em condições precárias.

Portanto, o genocídio dos povos indígenas e a exploração “selvagem” dos camponeses pobres sem terra ou com pouca terra é uma chaga secular e permanente em toda a história do capitalismo periférico do Brasil. Essa questão só pode ser combatida e definitivamente enterrada com a destruição revolucionária do latifúndio, ou seja a revolução agrária e a entrega da terra à quem nela trabalha: indígenas, camponeses e remanescentes de quilombolas.