segunda-feira, 10 de dezembro de 2012


A presidente Dilma prepara sua transferência para o PDT?

Nos últimos dias circula rumores que a presidente Dilma estaria trabalhando com a possibilidade de retornar ao PDT. Esta variante teria ganhado força diante da reação da direção nacional petista a operação “Porto Seguro”, desatada pelo Ministério Público Federal e a PF para investigar o “affair” de Lula e suas negociatas no escritório da Presidência da República em São Paulo. Não há dúvidas que a operação foi autorizada por Dilma justamente para fragilizar a imagem do ex-presidente buscando inviabilizar a possibilidade de Lula disputar o Planalto em 2014, como era o plano original do PT. As críticas no interior do partido à conduta de Dilma e de sua corte palaciana, com direito até a atos políticos “em defesa do PT”, vêm irritando a “gerentona”. Frente a reação petista, ela tratou imediatamente de acionar seus velhos “amigos” no PDT, sua legenda de origem, para ter o partido fundado por Brizola como um plano B caso precise se candidatar a presidência da República por fora do PT.

Para facilitar esta delicada empreitada, Dilma escalou o ex-marido e amigo, Carlos Araújo, para voltar ao PDT gaúcho e ver as possibilidades da transferência futura da ex-“poste” ao partido ou como se diz nos bastidores, seu “retorno ao trabalhismo”, já que ela foi ex-assessora de Leonel Brizola e estava filiada ao PDT até 2000. Segundo a Folha de São Paulo (10/12), o “Ex-marido de Dilma Rousseff, Carlos Araújo decidiu voltar ao PDT para ajudar o ministro Brizola Neto (Trabalho) a tentar tomar o comando do partido do presidente nacional da sigla, o ex-ministro Carlos Lupi”. Como parte deste plano, Dilma já havia escolhido Brizola Neto como ministro do Trabalho no lugar de Lupi, uma indicação pessoal de Lula, mantido no governo por seu pedido até a “faxina” feita pela “gerentona” em 2011. Agora, Brizola Neto está ajudando a fragilizar Lupi, justamente para Dilma ter o controle da legenda, o que não é tarefa fácil. No interior do PDT, a pedido de Brizola Neto, Dilma apoia o deputado João Dado (SP) para líder do PDT na Câmara contra o atual vice-presidente e líder do partido, André Figueiredo (CE). Por sua vez, o Planalto cancelou a liberação de todas as emendas parlamentares do PDT, inclusive as já empenhadas, para justamente poder interferir nos rumos do PDT, hoje uma sigla oca ultracorrompida que nada tem a ver com o velho nacionalismo burguês de Brizola e Darcy Ribeiro.

Não estamos diante de simples boatos e disputas de camarilhas da política burguesa. De fato, a ofensiva de Dilma contra Lula via operação “Porto Seguro” e a fragilização do núcleo histórico petista com a condenação de Dirceu, Genoíno e Delúbio no STF, através do julgamento do chamado “mensalão”, abriram uma séria crise no PT, colocando em alerta inclusive a (mal) chamada “esquerda petista”, que saiu bastante castigada das eleições municipais de outubro. A própria Dilma não revelou em quem votou no pleito em Porto Alegre (RS), em que o PDT concorreu contra o PCdoB e o PT, saindo-se vitorioso com Fortunatti, hoje arqui-inimigo do petismo. O fato é que o PT ficou completamente paralisado e na defensiva depois da disputa municipal, apesar do bom resultado eleitoral, enquanto Dilma avalizava as investidas políticas, jurídicas e policiais ao mesmo tempo em que agradava os partidos aliados como PSB, PDT e PMDB. O vergonhoso fim da CPI do Cachoeira, quando a montanha pariu um rato, foi mais um capítulo desta tragédia petista, já que longe de colocar a “oposição conservadora” na defensiva como se vendeu na blogosfera “chapa branca” serviu para desmoralizar ainda mais o PT, revelando toda sua covardia e impotência política. O certo é que não está dada a última palavra nesta disputa, já que o PT pretende decidir sobre quem será o candidato a presidente somente em 2014. Até lá, a burguesia e o imperialismo, tendo Dilma como sua candidata preferencial, irá manter os ataques a Lula para desgastar ao máximo sua imagem de líder popular entre os trabalhadores. As gravações das conversas com “Rose” e as negociatas intermediadas por ela usando o prestígio junto ao ex-presidente, assim como as recentes denúncias de Marcos Valério sobre o financiamento dos gastos pessoais do ex-presidente, servem de munição para manter Lula completamente refém dos barões capitalistas neste jogo de poder burguês. A mídia murdochiana está escalada para ter como alvo Lula, enquanto blinda a “gerentona” vide a conduta da revista Veja e da Rede Globo.

Mesmo que a possibilidade de Dilma migrar para o PDT seja muito pequena, sendo mais viável um acordo entre as hostes petistas, ainda mais diante do débil quadro de saúde de Lula, o que se verifica é um claro choque no interior do PT, que vem sofrendo sérios golpes em pleno governo da frente popular. Ao final dessa “novela”, quem de fato decidirá os destinos de Lula e Dilma será a burguesia e seus barões, que financiam as campanhas eleitorais, tem o controle das legendas patronais, da mídia e dos meios de produção. O certo é que estes preferem um Lula aposentado, rifando-o politicamente se necessário e uma servil Dilma reeleita para fazer a transição para um novo eixo político de poder burguês em 2018, onde o PT perde força e entra em cena uma coalizão mais à direita para avançar nos ataques aos trabalhadores.