Para ter a benção da burguesia em 2014, Dilma “rifa” Lula e o PT com a Operação “Porto Seguro”
Estamos vendo diariamente na mídia murdochiana uma ofensiva orquestrada contra o PT e Lula. Os jornalões, a Veja e a Rede Globo vêm preservando Dilma justamente porque querem abrir ainda mais o fosso entre a “gerentona” servil e seu doente padrinho político, um líder popular ainda forte no imaginário dos trabalhadores. Está cada vez mais claro que a estratégia é minar a imagem de Lula, “impor” ao PT a candidatura de Dilma em 2014 e preparar a transição para um outro eixo de poder político, ligado a oposição conservadora, em 2018. O fato do PSDB lançar Aécio Neves como candidato a presidente na mesma semana que estourou o escândalo envolvendo o “affair” de Lula (Rose) através da “Operação Porto Seguro” obviamente não é um acaso. A burguesia brasileira e seus barões já estão movendo as peças no jogo de xadrez da sucessão presidencial, tendo um amplo leque de opções que inclui também Eduardo Campos, Joaquim Barbosa e Marina Silva. Desejam reeleger uma Dilma completamente servil e cada vez mais frágil para assegurar esta transição “lenta, gradual e segura”, inexorável na medida em que os capitalistas pretendem desferir ataques de maior envergadura contra os trabalhadores e precisam de um governo mais à direita alinhado automaticamente com este objetivo, uma gerência que supere o acordo personificado por Lula em que a burocracia sindical cutista (e seus satélites) é intermediária do pacto de estabilidade do regime via a cooptação material e política. Este “modelo” deu certo até agora, mas a crise econômica mundial exige que o Brasil dê uma parcela maior de contribuição ao plano de ajuste e austeridade ditado pelo imperialismo, o que significa uma ofensiva mais profunda sobre direitos e conquistas dos trabalhadores.
É sintomático que já a mais de uma semana tenha estourado a “Operação Porto Seguro” e a esquerda mantenha um silêncio sepulcral. Obviamente não estamos falando do PT e PCdoB, que timidamente saíram em defesa de Lula. O PT inclusive fez uma reunião este final de semana “criticando a mídia”, mas simplesmente para marcar posição. Anunciou a eleição de sua direção nacional para 2013 e um “congresso programático” para início de 2014, onde deve selar a candidatura de Dilma a presidente, desfazendo-se dos planos iniciais de Lula voltar ao Planalto, justamente porque o ex-metalúrgico já jogou a toalha frente a última investida da PF e da Globo/Veja contra ele e seu “affair”. Estamos nos referindo a chamada “oposição de esquerda” encabeçada pelo PSOL e ladeada pelo PSTU e PCB. Ao que parece, estes partidos que apresentaram o STF como um tribunal “ético” acima das classes sociais e saudaram o julgamento do chamado “mensalão” que condenou Dirceu e Genoíno como um “marco histórico” (reclamando apenas que este também puna o PSDB o que será feito condenando possivelmente Eduardo Azeredo), esperam a mídia “fritar” ainda mais Lula e seu séquito corrupto para se somar a sanha da “oposição conservadora” (PSDB, DEM, PPS) e pedir a “cabeça” do ex-presidente, rifado por Dilma. Como desejam tirar algum dividendo eleitoral em 2014, querem ver o circo eleitoral pegar fogo para dentro das regras da democracia burguesa conseguir alguns postos parlamentares valendo-se de uma crise que esperam atinjam a popularidade do PT e o governo Dilma.
De nossa parte, os marxistas revolucionários que fazemos desde o início da gestão da frente popular, há mais de 10 anos, uma oposição de classe, operária e revolucionário aos governos Lula-Dilma, declaramos que os trabalhadores não têm nada a ganhar com esta ofensiva da mídia contra o PT. Ainda que caracterizemos que se trata de uma guerra de quadrilhas burguesas, sabemos perfeitamente que a ofensiva em curso visa estrategicamente atacar os direitos democráticos dos trabalhadores e suas parcas conquistas sociais. O engodo da “luta contra a corrupção e a moralidade pública” não passa de uma farsa para enganar ingênuos e atrair a classe média, ávida por ver alguém ser jogado na fogueira. Longe de uma “superação à esquerda” do PT como vende o PSTU ou o PSOL, a tendência na conjuntura nacional é que se fortaleçam alternativas à direita, que usando o discurso da ética na política, agrupem os setores mais reacionários, hoje debilitados no campo eleitoral.
O PT e a frente popular, até porque se converteram em sustentáculo do regime político burguês, são incapazes de enfrentar esta ofensiva. A “fuga” de Lula para a Europa, seu silêncio vergonhoso e as declarações ultra-defensivas de Gilberto de Carvalho e do Ministro da Justiça, Eduardo Cardoso, ambos afirmando que o governo Dilma e sua PF “cortam na própria carne” demostram que nunca romperão o pacto de governabilidade pontificado com a burguesia e seus barões, preferindo serem rifados a entrar em confronto com seus amos capitalistas. É tarefa dos revolucionários fazer desde já a leitura que estamos vendo por em marcha os primeiros passos da transição de um governo de frente popular para uma coalizão de centro-direita não mais sob o comando do PT em 2018. O mais importante, porém, não é “apenas” saber que a burguesia irá trocar seus gerentes como parte de um plano estratégico mais global, mas que ela prepara um ataque profundo aos trabalhadores a ser desferido já no segundo mandato de Dilma, como parte da estratégia da classe dominante do continente, que deseja ver nos próximos anos, a começar pela Argentina, ascenderem governos alinhados com esta perspectiva. O 20-N, que teve o apoio dos revisionistas do trotskismo na Argentina, reflete bem esta trágica “aliança”. O silêncio da “esquerda” que não está no governo da frente popular se deve justamente porque ela, completamente sem rumo e norte de classe, espera passiva para ver se pode entrar de carona nos planos da burguesia. O PSOL, que já ofereceu legenda a Marina Silva e “namora” com Joaquim Barbosa, é um dos candidatos reais a tentar ser escalado para esta empreitada futura. Amapá e a vitória de sua ala fisiológica que teve o apoio do DEM e do PSDB mostrou o caminho. Nossa tarefa é justamente denunciar este engodo e forjar uma alternativa revolucionária dos trabalhadores, não visando uma perspectiva eleitoral, mas como um embrião da resistência direta e classista das massas frente ao horizonte sombrio que se prenuncia!