O Maracanã é “deles”: Sérgio “Caveirão” anuncia doação do estádio a Eike Batista, o novo barão capitalista aliado da frente popular
O governador do Rio de Janeiro, Sergio
Cabral “Caveirão” (PMDB), anunciou recentemente o projeto de privatização
branca do Maracanã através da concessão do estádio à iniciativa privada por um
período de 35 anos. Na transação o valor estabelecido para o arremate do novo
Maracanã é uma verdadeira pechincha, R$ 231 milhões dividido em 33 parcelas
anuais de R$ 7 milhões. Para se ter uma dimensão desta verdadeira mamata, só com
as reformas do Maracanã de 1999 até hoje, incluído a que está em andamento para
a Copa do Mundo, já foram gastos cerca de R$ 1,5 bilhão dos cofres (público) do
estado. O felizardo para receber a doação, garantida pela famigerada PPP
(Parceria Público-Privada), está praticamente definido, nada mais nada menos do
que o novo barão da burguesia no país, Eike Batista, avalizado plenamente pelos
seus parceiros Sérgio Cabral e Dilma Rousseff. Ainda como parte do projeto de
privatização do Maracanã está previsto a demolição de dois históricos equipamentos
esportivos, o Parque Aquático Júlio de Lamare e o estádio de Atletismo Célio de
Barros. Estão condenados ao mesmo fim uma escola municipal e o prédio do antigo
Museu do Índio, hoje moradia de comunidade indígena.
Conhecido popularmente como Maracanã,
palavra de origem tupi, nome de uma ave e de um rio que cruzava a Tijuca e São
Cristovão, o estádio Mario Filho, jornalista irmão do dramaturgo Nelson
Rodrigues, construído para a Copa do Mundo de 1950, foi por muito tempo o maior
estádio do mundo, um verdadeiro templo do futebol por onde jogaram craques do
quilate de Mané Garrincha. A grandiosidade do Maracanã era a marca emblemática
do apogeu da massificação do futebol no Brasil, fenômeno incentivado
politicamente pela burguesia, utilizando-se para isso do papal decisivo da
mídia (inicialmente o rádio e depois a TV), para construção da identidade
nacional da cultura do mono-esporte, importante instrumento ideológico de
dominação dos explorados. Todos os estádios que estão sendo construídos ou
reformados para a Copa do Mundo seguem o modelo padrão de PPP adotado no Rio de
Janeiro. Enquanto os estados e a união garantem o banquete alocando os recursos
para custear a execução das obras através de orçamento próprio ou financiamento
via BNDES, o setor privado se locupleta desde as grandes empreiteiras com o
superfaturamento das obras e até os grupos empresariais que recebem de
mão-beijada a concessão para administrar os estádios. Nessa verdadeira farra do
boi os capitalistas ganham a posse dos estádios participando financeiramente em
média nas PPPs com menos de 30% do valor total das obras, a exemplo do Maracanã
(RJ), Fonte Nova (BA), Castelão (CE), Arena das Dunas (RN) entre outros. Vale
salientar que no caso do “Itaquerão”, estádio construído como propriedade
privada do Corinthians, o clube paulista não entrou com um centavo, sendo
custeado integralmente desde o terreno até a execução da obra pelo dinheiro
público através das fartas tetas do BNDES e da prefeitura de São Paulo. Neste
caso funcionou a parceria entre as máfias da CBF, através de Andrés Sanches, e
do Palácio do Planalto comandado pelo então presidente Lula, torcedor declarado
do Corinthians.
A chamada modernização dos estádios de
futebol bancada com o dinheiro estatal é um grande negócio para a burguesia em
todos os aspectos, inclusive na valorização do futebol, enquanto mercadoria,
quer seja pelo aumento exorbitante preço dos ingressos, quer pelo crescimento
da venda dos pacotes “Pay-per-view” dos canais fechados e da audiência das TVs
abertas. Este vai ser mais um dos legados da Copa que a burguesia vai saborear,
restando ao conjunto dos explorados o ônus de pagar a conta da orgia
capitalista através do arrocho salarial, destruição das conquistas trabalhistas
e cortes dos recursos públicos para as já precárias áreas sociais como a saúde
e a educação. A doação do Maracanã a Eike é mais um capítulo deste engodo. Ele
acumulou rapidamente um patrimônio pessoal de mais de cinquenta bilhões de
reais à custa da “generosidade patrimonialista” do Estado brasileiro. Foi na
gestão da frente popular que Eike deu um salto em seus negócios, tornando-se o
empresário mais rico do país. Lula tinha um projeto de “criar” uma nova
burguesia brasileira, escapando das chantagens da decadente elite dominante da
FIESP tucanada. O “casamento” dos interesses de Lula e Eike resultou em uma
parceria para desenvolver megaprojetos bancados pelo BNDES, buscando aproveitar
o excesso de liquidez do mercado financeiro internacional. Com o BNDES na
função de seu avalista privado, Eike desenvolveu um verdadeiro império
econômico no Rio de Janeiro (estaleiros, refinarias, siderúrgicas, indústria de
motores, entretenimento etc.) que, todavia, ainda não está em pleno
funcionamento. Como contrapartida a “ajudazinha” estatal, Eike se compromete
com a fidelidade política e financeira ao PT e seus aliados mais próximos, este
é o caso do governador carioca Sergio “Caveirão”.
Diante desse quadro, é tarefa do
movimento operário entrar em cena com uma política de independência de classe
frente aos governos burgueses de plantão e organizar a luta para barrar não só
as privatizações dos estádios como o Maracanã, mas realizar uma crítica mordaz
ao futebol-mercadoria a fim de fazer avançar o processo de educação da
consciência dos trabalhadores, rechaçando todo o engodo que representa a Copa
do Mundo de 2014. A submissão de uma nação que se diz soberana a um clube de
mafiosos formado por Cabral, Eike, Aldo e Blatter, sob o pretexto de não
prejudicar a “paixão nacional” pelo futebol, é apenas um dos elementos que
marcam o caráter dependente ao imperialismo, dos governos do PT e seus aliados
“socialistas”. A privatização do Maracanã prova que nosso futebol não resiste
sequer à ingerência do país por uma quadrilha comandada por Blatter, Marín,
Cabral e seus acólitos de menor quilate. Por sua vez, os comitês populares que
vem se formando contra os desmandos da FIFA e da CBF, carecem de uma clareza
programática e permanecem reivindicando a realização de uma “outra copa”, como
se fosse possível conciliar a atual estrutura mercantil dos esportes com o
entretenimento popular do futebol. Por este motivo os marxistas revolucionários
devem declarar, sem medo da opinião pública, que nesta copa do futebol
mercenário “torceremos” pela derrota de todas as seleções (incluindo a
“canarinha”), aliando a denúncia ativa de massas das negociatas estatais da
Copa do Mundo, que só levarão mais pobreza e infelicidade ao nosso povo.