ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NA BOLÍVIA: EXQUERDA BURGUESA PAVIMENTOU ASCENSÃO DA DIREITA INSTITUCIONAL
A derrota anunciada da exquerda burguesa nas eleições presidenciais bolivianas deste domingo (17/08) é consequência direta da atuação do MAS, abrangendo todas as alas lideradas por Evo Morales, Luís Arce e Andrônico Rodriguez (candidato pela Aliança Popular). Apesar do reformista Morales ter defendido formalmente o Voto Nulo porque foi arbitrariamente impedido de concorrer ele é co-responsável pelo desastre em curso no Altiplano. Não esqueçamos que o mesmo Morales, que critica seu ex-pupilo Arce de “direitista e entregista”, entregou Cesare Battisti para as garras do fascismo italiano em janeiro de 2019 além de não covocado a mobilização popular contra o golpe no mesmo ano.
Duas décadas de política de colaboração de classes girando cada vez mais à direta pavimentaram o caminho para a ascensão inclusive da extrema-direta institucional que havia sido derrotada nas ruas pela ação das massas que derrotou posteriormente o golpe cívico-militar de 2019 contra o covarde Morales que fugiu o país e acabou por colocar depois Arce (ex-ministro da Economia durante quase todos os seus mandatos, 2006/19) em seu lugar na presidencia. Luis Arce rompeu depois com Morales e se alinhou ainda mais ao imperialismo ianque, tento para isso o apoio de Lula.
Como o Blog da LBI denunciou no artigo “Eleições presidenciais na Bolívia após o golpe: Evo define um neoliberal como candidato do MAS excluindo líder camponês que ponteava as pesquisas de intenção de voto” (20/01/2020) afirmamos que “O partido MAS (Movimento Ao Socialismo), do reformista Evo Morales que renunciou à presidência da Bolívia no processo do golpe de Estado ocorrido após as eleições de outubro passado que renovariam seu mandato, definiu em uma plenária de dirigentes a chapa presidencial para concorrer nas eleições que acontecerão no início de maio deste ano. Encabeçando a chapa do MAS vai para a disputa eleitoral de ‘cartas marcadas’ o economista Luis Arce, ministro de Finanças do governo Morales entre 2006 e 2017 (e que tinha voltado ao cargo em 2019). Seu companheiro na chapa para ocupar a vice-presidência será o diplomata David Choquehuanca, chanceler do governo anterior, no mesmo período. Anteriormente tinha sido anunciado por Evo que a chapa seria formada pelo chanceler David tendo como vice o jovem líder sindical camponês (cocalero) Andrónico Rodríguez, de 30 anos. As pesquisas de opinião de voto, realizadas nas últimas semanas, apontavam que o sindicalista Rodríguez liderava todas as sondagens com mais de 20% dos votos, expressando desta forma o repúdio dos setores mais oprimidos da Bolívia com o governo golpista de Jeanine Añez. Luis Arce foi um dos principais artífices da política econômica neoliberal de ‘esquerda’ que deu a tônica por mais de uma década no governo ‘masista’. Parte da cúpula do MAS que se encontra na Bolívia ocupando altos cargos públicos e cúmplice política do golpe de Estado, teria vetado o nome de Andrónico para comandar a disputa eleitoral. O atual presidente da Câmara dos Deputados, Sérgio Choque, afirmou que a escolha por Arce ‘garantirá o apoio da classe média a uma política macroeconômica de estabilidade’, leia-se seguir o ‘ajuste’ ditado pelos rentistas internacionais. Na mesma linha de pensamento neoliberal, Evo declarou que Andrónico ‘seria muito inexperiente para o cargo de presidente’, bancando o nome de Arce para acalmar o mercado. Como ‘prêmio de consolação’, Evo ofereceu ao jovem dirigente dos camponeses de Chapare um posto de senador na lista do MAS. Ainda é cedo para saber se a burocrática exclusão de Andrónico poderá provocar uma cisão no interior do MAS, porém já é nítido o curso direitista e de completa adaptação ao golpe por parte de Evo e Linera. O movimento operário da Bolívia não pode esperar nada destas novas eleições que não seja uma fraude e estelionato político para legitimar o golpe e um novo governo neofascista. A tarefa dos Marxistas Leninistas será a de conduzir as massas na perspectiva revolucionária, em sua cotidiana rebelião latente contra o regime entreguista imposto no país pelo imperialismo ianque”.
No mesmo sentido pontuamos em outubro de 2020 no artigo “Luis Arce o novo ‘Lenine Moreno’ da América Latina: vitória eleitoral do MAS foi consentida pelo regime golpista e o Pentágono” que “A figura de Arce guarda toda similaridade com a de Lenine Moreno. O candidato vitorioso da ala mais a direita do MAS, foi cúmplice do golpe de Estado em todo seu processo, desde sua gênese quando questionou a lisura do triunfo de Evo Morales, passando pelos parlamentares do partido que legitimaram a posse de Jeanine, até a sua indicação interna onde inviabilizou com ameaças a postulação da liderança camponesa de Andrónico Rodríguez. Arce como Ministro da Economia dos seguidos governos de Evo, foi uma espécie do corrupto Antonio Palocci que conhecemos bem aqui no Brasil, conduziu as finanças do país para o terreno do ‘neoliberalismo de esquerda’, exportando commodities minerais um baixo preço no mercado mundial, às custas do extrativismo e devastação das terras demarcadas aos povos originários e camponeses da Bolívia. Arce logo ganhou o apoio das grandes empresas nacionais, mas sua ‘tática’ econômica de barganhar preço das commodities no ‘leilão’ das grandes corporações imperialistas, custou o próprio golpe de Estado, quando se inclinou para o mercado europeu, desagradando assim os lucros dos negócios protegidos pela Casa Branca. Arce e sua ala no interior do MAS foi responsável pela reconstrução de um novo perfil político para o partido, com uma plataforma agressiva de mercado e rompendo os vínculos com o populismo indigenista de Evo Morales, suas primeiras declarações ao estar seguro que foi bem aceito pelo regime, foram explícitas: ‘Começaremos uma nova etapa, sem olhar para o passado de erros e com os olhos no desenvolvimento da livre economia’ (Página 7, 19/10/2020). Já o ex-presidente Evo, um pouco melancólico, com a nova liderança do MAS afirmou: ‘Mais cedo ou tarde regressarei’… não se sabe quando nem como, frente ao silêncio de Luis Arce, que parece querer seguir os passos do colega Lenine Moreno, que deixou Rafael Correa amargar o duro exílio político”.
O segundo turno será disputado pela direita (Rodrigo Paz Pereira) e pela extrema-direita (Tuto Quiroga), sobre as cinzas do desastroso governo burguês de Luís Arce. O primeiro alvo de qualquer que seja o vencedor do 2º. turno será a Constituição de 2009, em especial o Título II, Capítulo 2, artigos 348-358, que tratam da propriedade estatal dos recursos naturais, entre eles as riquezas minerais. A segunda onda de ataques recairá sobre direitos sociais.
Como dizia Trostky “Ao adormecer os operários com ilusões parlamentares que paralisam a sua vontade de luta, cria as condições favoráveis para a vitória do fascismo. A política de aliança com a burguesia deve ser paga pela classe operária com anos de sofrimentos e sacrifícios, quando não com dezenas de anos de terror fascista”. Os Marxistas Revolucionários alertam que o proletariado deve abstrair todas as lições das derrotas que estão sendo provocadas pela estratégia de colaboração de classes da Frente Popular, para poder organizar de forma independente o combate à ofensiva burguesa e imperialista!
Os Marxistas Leninistas estarão na linha da vanguarda de luta contra o novo governo direitista, assim como estiveram contra Morales e Arce. Denunciando concretamente os acordos estabelecidos pelo MAS com o imperialismo ianque e combatendo nas ruas a direita fascista, os Marxistas forjarão um polo classista no seio da classe operária e camponeses, na direção da reconstrução do POR, hoje desfigurado pela liderança Lorista que apoiou o golpe de Estado em 2019.